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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Setúbal homenageia Almeida Carvalho nos 200 anos do seu nascimento


Lápide de homenagem a Almeida Carvalho descerrada na tarde de hoje

Os dias de sexta-feira e de sábado, 8 e 9 deste Setembro, são ocupados pela memória e homenagem a João Carlos de Almeida Carvalho, um dos mais extraordinários coleccionadores de informações sobre a história de Setúbal e fundador do jornal O Setubalense, nas instalações do antigo Quartel do 11.
Com organização do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), da Associação dos Municípios da Região de Setúbal (AMRS), da Câmara Municipal de Setúbal, do Arquivo Distrital de Setúbal, da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA) e da Universidade Sénior de Setúbal (UNISETI), os dois dias são dedicados ao “Encontro de Homenagem a Almeida Carvalho”, tendo incluído a sexta-feira um momento para o descerramento de uma lápide evocativa na casa em que nasceu Almeida Carvalho, mesmo em frente ao antigo Quartel do 11.
As sessões de sexta-feira foram, sem favor, profícuas e de grande qualidade. Na parte da manhã, Fátima Ribeiro de Medeiros falou sobre as “Referências literárias em Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense, de Almeida Carvalho”, uma leitura atenta a todas as alusões literárias nessa obra de Almeida Carvalho que foi publicada na década de 1960, reunindo um (restrito) conjunto de notas do vastíssimo acervo deste investigador; seguiu-se Maria João Pereira Coutinho, que abordou o tema festivo sob o título “Do cerimonial religioso ao aparato régio: o contributo de Almeida Carvalho para o estudo das celebrações em Setúbal na Época Moderna”, comunicação em que a autora perpassou sobre o contributo dos registos de Almeida Carvalho para se conhecer um conjunto de elementos do quotidiano festivo em Setúbal; Carlos Mouro apresentou “Notas sobre a indústria de curtumes setubalense” para falar sobre a designada “Fábrica da Sola”, hoje esquecida, a demonstrar que a industrialização em Setúbal não tem ligações apenas com as conservas; Ernesto Castro Leal interveio com uma leitura sobre “Estado liberal e poder municipal: Almeida Carvalho e a Reforma Administrativa de 1855”, perpassando pelos editoriais assinados por Almeida Carvalho em O Setubalense e pelas críticas que este investigador fez à anexação de Palmela e de Azeitão no concelho de Setúbal em 1855; João Costa fez o ponto da situação do seu estudo sobre “O Tombo da Câmara de Palmela (Séc. XIV-XIX): Da arqueologia dos documentos à arqueologia a partir dos documentos - Um contributo de João Carlos Almeida Carvalho”, salientando o contributo importante de Almeida Carvalho para a reconstituição do Tombo de Palmela naquele período (haja em vista a perda e desaparecimento de muitos documentos alusivos à história de Palmela); Rogério Palma Rodrigues analisou “A Casa da Roda dos Enjeitados”, destacando o contributo dos elementos recolhidos por Almeida Carvalho para um estudo sobre este fenómeno na região de Setúbal.
A tarde teve os contributos de Carlos Tavares da Silva, ao falar sobre “Arqueologia e esboço paleográfico da Baixa de Setúbal”, em que resumiu as investigações arqueológicas levadas a cabo, contributos importantes para atestar a construção e o crescimento de Setúbal; Tânia Casimiro apresentou “Rituais de inumação em Almada (Sécs. XV-XVIII): Os casos de Murfacém e Igreja da Misericórdia”, em que deu conta das investigações levadas a cabo nestes dois pontos; Eurico Sepúlveda falou sobre “Cerâmica de paredes finas de Salacia Urbs Imperatoria - Recolhas de prospecção arqueológica”, apresentando resultados de descobertas alcacerenses; Pedro Miguel Lage surpreendeu com o estudo “Antigas Quintas de Setúbal: Espaços físicos e sociais”, dando nota da sua investigação em curso sobre as mais de 170 quintas da região de Setúbal que tem em estudo, estabelecendo relações familiares e patrimoniais nesse emaranhado por conhecer; Isabel Macedo contou a história sobre “A Casa da Comenda de Raul Lino: De torre medieval a residência de veraneio”, passando pelas várias fases daquele espaço da antiga freguesia da Ajuda; Fernando António Baptista Pereira estudou “Almeida Carvalho e o Convento de Jesus” para chamar a atenção para a necessidade de ser trabalhado o espólio legado por Almeida Carvalho.
Um programa intenso e de qualidade, que continuará amanhã, assim se assinalando o segundo centenário do nascimento de Almeida Carvalho (1817-1897).

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Bocage no seu mês - 250 anos depois (14)



Lápide evocativa da passagem de Bocage pelo então Regimento de Infantaria de Setúbal, ali colocada em 1980 (depois das obras no edifício, foi substituída)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Para a agenda - Lápide bocagiana regressa ao antigo Quartel do 11, em Setúbal



As antigas instalações do designado “Quartel do 11”, onde esteve alojado o respectivo Regimento de Infantaria e que albergam hoje a Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, vão voltar a exibir na fachada principal a lápide alusiva ao ingresso de Bocage no então Regimento de Infantaria de Setúbal, ocorrido em 1781.

A lápide, ali colocada inicialmente em 1980 por iniciativa do capitão José Rebelo, foi retirada durante as obras de remodelação do edifício. A LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) tomou a iniciativa da sua recolocação, ainda que numa réplica, acto que vai ocorrer pelas 11h00 de 21 de Dezembro, dia em que se assinala a morte de Bocage (em 1805).

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mistérios que o tempo resolve: a lápide que lembrava Tomás António Santos Silva, em Setúbal

Em 28 de Fevereiro de 2001, o Jornal da Região (na sua edição de Setúbal e Palmela) publicou um texto meu sobre o poeta Santos Silva, que se iniciava da forma seguinte: «O nome de Tomás António dos Santos e Silva não dirá muito à maioria dos setubalenses, apesar de constar na toponímia da cidade. O jornal A Mocidade, de 1 de Março de 1909, disse ter sido este poeta cruelmente perseguido pela fatalidade e, se isso foi verdade em vida, não foi menos verdade depois da sua morte. Com efeito, a memória tem tido tendência para apagar o nome de Santos e Silva: por um lado, o largo que tem o seu nome e onde se localizava a casa em que nasceu é incaracterístico e de escassa circulação; por outro lado, a casa foi demolida há anos, surgindo no seu lugar um edifício de vários andares; a acrescer, houve ainda o facto de a lápide que estava no exterior da casa que foi berço do poeta ter sido removida com a demolição e não ter havido a iniciativa de assinalar a ligação do poeta ao dito arruamento; finalmente, a sua obra não está divulgada, tendo o poeta sido remetido para o rol dos esquecidos.»
O tempo desvenda-nos sempre alguns mistérios e a edição de O Setubalense de hoje mostra aos leitores o destino da dita lápide numa reportagem sobre alguns sem-abrigo que usam a divisão de um prédio renovado, na Rua Francisco José da Mota. Segundo o jornal, as obras de recuperação terão abrangido também o prédio traseiro, onde nasceu, em 1751, o poeta setubalense Tomás António dos Santos e Silva, amigo de Bocage. A lápide que existia nessa casa, alusiva ao poeta ali nascido, terá ficado abandonada no chão e um morador arrecadou-a e preservou-a, “devido ao seu significado histórico”. O mesmo morador lamenta ao jornal que a lápide “não tenha sido devidamente conservada e afixada na fachada da renovada casa”.
Pois ainda se está a tempo, assim haja conjugação de vontades! A memória desta terra agradeceria o gesto da reposição.
Aqui reproduzo a fotografia de O Setubalense com a lápide encontrada, cuja inscrição é a seguinte: "N'esta casa nasceu em 12 de Abril de 1751 o distincto Poeta Thomaz Antonio dos Santos Silva na Arcadia Thomino Sadino /A redacção de A Mocidade por subscripção publica mandou collocar esta lapide no anno de 1909".
Uma lápide pela memória, em 1919
Foi no seu número centenário, em 1 de Março de 1909, que o quinzenário sadino A Mocidade, em artigo sobre o poeta Santos e Silva, lançou o seguinte repto aos leitores e à população de Setúbal: "sendo hoje conhecida a casa onde este poeta nasceu, bom seria tratar-se da colocação de uma lápide comemorativa de tal facto, para que de futuro se não perca a indicação desta casa célebre".
A ideia teve logo adeptos e, ao longo de vários números, o jornal foi publicando listas de subscritores, informando, no número do início de Abril, que já obtivera de António João Guerreiro, proprietário da casa, autorização para a colocação da lápide. Tal manifestação aconteceu em 30 de Dezembro de 1909, tendo a lápide sido descerrada por José Maria da Rosa Albino, vereador representante da Câmara Municipal, com os seguintes dizeres: "Nesta casa nasceu em 12 de Abril de 1751 o distinto poeta Tomás António dos Santos e Silva - na Arcádia, Tomino Sadino. A redacção de 'A Mocidade' por subscrição pública mandou colocar esta lápide no ano de 1909".
O trabalho de cantaria foi da responsabilidade de João Gomes e a colocação da lápide deveu-se ao mestre de obras Francisco Augusto Martins, que ofereceu os trabalhos. Na subscrição, foi conseguida a verba de vinte mil e quinhentos réis, de que foram gastos dezoito mil réis para pagar a pedra e o trabalho de cantaria. Quanto aos dois mil e quinhentos réis sobrantes, por iniciativa do jornal, foram parar direitinhos "ao estimado poeta popular Sr. António Maria Eusébio, o Cantador de Setúbal", como referia a edição do jornal do dia 15 de Janeiro de 1910.
Tomás António Santos Silva:
notas para uma biografia
Em 12 de Abril de 1751, nasceu numa casa que se situava no Largo do Cemitério, mesmo em frente da porta do Cemitério da Misericórdia, o filho de Manuel António dos Santos e de Francisca Inácia. A criança recebeu o nome de Tomás António dos Santos e Silva.
A casa tinha, no princípio do século XIX, o nº 2 sobre a porta e o largo tem hoje o nome de Santos e Silva e apresenta uma configuração incaracterística, estando reduzido a dois becos, ambos a sair da Avenida Jaime Cortesão, com circulação restrita. Tendo a casa sido demolida, hoje pode ser vista através de postais que circulavam no início do século XX ou por meio de reproduções fotográficas.
Os pais de Santos e Silva eram pobres e a criança apresentava deficiências nos pés logo à nascença. A família cedo reparou que Tomás tinha inclinação para as letras e, graças à protecção do seu padrinho, o desembargador Tomás da Costa de Almeida Castelo Branco, o jovem estudou, tendo chegado a frequentar a Faculdade de Medicina coimbrã. No entanto, devido ao falecimento do seu protector, os estudos foram abandonados e o jovem dedicou-se à escrita, pois já versificava desde os 15 anos e dominava várias línguas. A marca do desgosto não o largou e a morte roubou-lhe a mulher com quem estava para casar.
Com cerca de 30 anos, vivia já em Lisboa, onde se dedicava à literatura dramática. Integrou a academia "Nova Arcádia", onde escolheu o nome de Tomino Sadino, numa evocação da sua terra, tal como o fizera Bocage, conterrâneo com o qual Santos Silva privou e de quem foi amigo. Com 45 anos, adveio-lhe a cegueira e passou a viver no Hospital de S.José, graças à protecção dos enfermeiros-mores D.Lourenço de Lencastre e D.Francisco de Almeida Melo e Castro. Porém, a administração seguinte retirou-lhe os privilégios e não lhe deu abrigo. Santos e Silva voltaria para o hospital, em 1814, já aniquilado pela doença, falecendo em 19 de Janeiro de 1816.
Depois de ter cegado, Santos e Silva não parou na escrita e socorreu-se de amanuenses que lhe preparavam os seus textos e com quem repartia o pouco que tinha. Num texto com cunho autobiográfico, que serve como introdução à sua epopeia Brasilíada ou Portugal Imune e Salvo (1815), Santos e Silva fez alusão às circunstâncias em que escrevia, considerando que muita gente não as supunha: "Nesta Casa [o Hospital], eu entrei totalmente cego, estropiado, em uma idade já provecta; e nela eu me conservo sem outro auxílio mais que o proveniente de meus tais ou quais escritos, de pouco ou nenhum momento em dias tão calamitosos, e a Caridade, que diariamente recebo, da qual me vejo comummente obrigado a repartir com os meus amanuenses, aproveitando-me dos primeiros que me aparecem, qualquer que seja o seu préstimo". Para Santos e Silva, a urgência era escrever e tal desejo e as suas possibilidades não eram compatíveis com grandes escolhas quanto aos amanuenses. Aliás, noutro passo do mesmo texto, referiu não ter possibilidades de grande revisão, publicando o poema a partir "do seu primeiro borrão".
Nessa mesma memória, Santos e Silva revela profundos conhecimentos sobre autores clássicos e sobre as mais recentes sumidades e sobre as características da epopeia, antecipando uma defesa quanto a eventuais críticas ao poema épico de uma dúzia de cantos que editava.
Os antecedentes do poema Brasilíada (que teve 314 subscritores, conforme lista apresentada no final do volume) são curiosos e reflectem o sentir do início do século XIX. Santos e Silva era admirador de Napoleão e, depois da batalha de Austerlitz (ocorrida em Dezembro de 1805), iniciara um poema em honra do corso, intitulado "Napolíada". Mas, em 1807, devido à primeira invasão francesa com Junot, Santos e Silva rasgou o poema e compôs Brasilíada com o objectivo de manifestar o seu "zelo e amor da Pátria".
Entre outras obras, Santos e Silva deixou Écloga de Tomino e Laura (1781), Estro de Tomás António dos Santos e Silva Cetobricense (1792), Por Ocasião do Sempre Deplorável Falecimento do Excelentíssimo Senhor D.Pedro Caro e Sureda (1806), Silveira (1809) e El-Rei D.Sebastião em África (póstumo, 1817). Um dos seus poemas mais conhecidos, com várias edições, é "Sepultura de Lésbia - Poema em 12 Prantos", em memória da noiva falecida.
João Reis Ribeiro. Histórias da região de Setúbal e Arrábida (vol. 1).
Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2003, pp. 72-76.
[Fotos: Lápide na actualidade (trissemanário O Setubalense, de 03.Set.2008); Tomás António Santos Silva, por Luís Resende e F. T. de Almeida (1815); rostos de Poesias Originais e Traduções (1806) e de Brasilíada (1815)]