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sexta-feira, 21 de abril de 2017

"Portugal Futurista": um número de uma revista que é marco na cultura portuguesa



"Vida complexa e admirável a de hoje. Novas ambições e mais largos desejos. O homem como um divino génio do mal emancipa-se da tutela vergonhosa do Passado e da Tradição, liberta-se de si próprio e ele que tinha a cobardia da vida e a cobardia da morte - porque não sabia viver a grande Vida e não sabia morrer, ignorando que a morte é uma renovação - emancipado e liberto, audacioso e revoltado, agressivo e febril, sobe a todas as alturas, vai a toda a parte, reduz distâncias, detém a marcha do tempo e iguala-se a Deus, e ultrapassa Deus ainda...
Vida de agitação e velocidade... Correr, correr, correr vertiginosamente, não para chegar depressa ao fim, mas para que o fim não chegue tão depressa... Correr é criar a sensação e multiplicar a nossa vida... E a vida é longa não pelos anos que conta, mas pelas sensações que contém.
Todo o homem que sabe viver e quer viver desdobra-se, multiplica-se... O automóvel, o telefone, a telegrafia sem fios, os grandes transatlânticos, o cinematógrafo, o gramofónio, o aeroplano, modificaram o organismo humano, dando-lhe a omnividência e a ubiquidade. Os seus sentidos geraram novos sentidos..."

O leitor lê e, por momentos, pensa que está perante uma reflexão contemporânea, feita neste tempo; depois, à medida que avança a leitura, começam a surgir sinais de que o tempo de produção não será este, mas um outro que nos precedeu. É um texto actual, mudássemos-lhe nós os aparelhos e as máquinas com que finaliza a citação. Pois é: são os parágrafos iniciais do texto "O Futurismo", assinado por Bettencourt Rebelo, composição que se debruça sobre a "vida de hoje", o "homem dominador" e outras questões da época - um "hoje" que diz respeito a 1917, ano em que foi publicado o primeiro e único número de Portugal Futurista, revista dirigida por Carlos Filipe Porfírio, que teve assinaturas de Almada Negreiros, de Guillaume Appolinaire, de Mário de Sá-Carneiro, de Fernando Pessoa, de Blaise Cendrars e outros e desenhos de Santa-Rita Pintor e de Amadeo de Sousa Cardoso. Uma revista que, apesar de ser número único, ficou na história da literatura e da cultura portuguesas, em 42 páginas que constituíram uma pedrada no charco e que mereceram a apreensão das autoridades.
Está-se na celebração do seu centenário e o Público, em associação com a editora A Bela e o Monstro, fez sair hoje uma edição facsimilada da revista, uma obra a ler/ver e a guardar. As justificações podem ser muitas e abranger várias áreas do saber - Nuno Júdice, no Público de ontem, escreveu uma página sobre a história da revista, suficientemente esclarecedora e apelativa quanto ao interesse. Mas, para quem queira saber mais, pode-se recomendar, também de Nuno Júdice e de Teolinda Gersão, os textos introdutórios à edição facsimilada desta mesma revista, saída em 1981 (Lisboa: Contexto Editora). Se já não conseguir a edição saída em 1981, aproveite, pelo menos, a que veio com o Público de hoje...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Para a agenda (e para leitura) - Revista "Devir" no seu terceiro número








O terceiro número da revista Devir, que que reúne autores ibero-americanos, vai ser apresentado em 18 de Outubro, em Lisboa, na Galeria Carlos Carvalho. Nesta edição, além de portugueses, há também poetas brasileiros, espanhóis, peruanos, argentinos, colombianos e cubanos, com destaque para os seus textos até aqui inéditos. De valorizar também é o dossiê referente a Nuno Júdice, que inclui entrevista àquele que já recebeu o Prémio Rainha Sofia da Poesia Ibero-Americana (2013) e que, já em 2016, obteve a distinção "alla carriera" no Prémio Internacional de Poesia "Europa in Versi" e ganhou o Prémio Literário António Gedeão (Outubro). O índice desta terceira edição da Devir pode ser consultado aqui.

sábado, 25 de junho de 2011

Nuno Júdice em entrevista

A revista “Única”, que saiu com o Expresso de hoje, traz uma entrevista com Nuno Júdice feita por Clara Ferreira Alves, que vale a pena ler. Por lá perpassa o mundo e o compromisso do escritor, o papel das livrarias na leitura, a literatura actual, os valores da literatura portuguesa e os seus nomes esquecidos, o acordo ortográfico… São palavras de poeta, de professor, de teórico, de leitor e de pensador aquelas que Nuno Júdice nos deixa e de que destaco alguns exemplos.
Livrarias – «As livrarias perderam a função de estimular o leitor, encaminhá-lo para a escolha apropriada, pela qualidade do livro. Os livreiros dantes tinham esse conhecimento da vida literária.»
Liberdade – «Nunca vivemos tão livres, mas o pensamento é hoje muito pouco livre.»
Cânones – «Hoje, o cânone é o do mercado. O que obedece a uma construção a que o leitor estará habituado. Se o escritor quiser vender (…) embora muitos desses livros até possam ser bem construídos. Coerentes. São superficialmente obras literárias, mas estarão para a literatura como o McDonald’s está para a gastronomia. O que estamos a consumir como literatura são produtos em série. Nada a ver com a invenção, a criação literária. O que o escritor tem de fazer é romper com as normas, ir além das normas. Como aconteceu antes.»
Leitura e literatura – «A literatura desapareceu da terminologia do português. Tem de haver um mínimo de leitura obrigatória que corresponda a uma ideia de história da literatura. Ler só contemporâneos não faz sentido, porque se perde o que está por detrás, o fio condutor.»

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Nuno Júdice vai dirigir a "Colóquio-Letras"

«Nuno Júdice é o novo director da revista Colóquio-Letras, na sequência da decisão do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian de nomear uma nova direcção e um conselho editorial para a revista, de modo a garantir a sua publicação regular e os compromissos assumidos perante o público e os assinantes. O conselho editorial da Colóquio-Letras será presidido por Eduardo Lourenço.» A informação foi divulgada hoje em nota da Fundação Calouste Gulbenkian.
A revista Colóquio-Letras, publicação de referência na área da literatura em Portugal, surgida em 1971, teve como directores anteriores Hernâni Cidade, Jacinto do Prado Coelho, David Mourão-Ferreira e Joana Varela.
O último número que saiu (nº duplo 168/169) finalizou a publicação dos textos de "Imagens da Poesia Europeia", de David Mourão-Ferreira. A Colóquio-Letras surgiu em substituição da revista Colóquio (1959-1970) e coexistiu com Colóquio-Artes (também criada em 1971 e já extinta), Colóquio-Ciência (criada em 1988) e Colóquio-Educação e Sociedade (surgida em 1992).
Nuno Júdice é professor universitário, poeta e ensaísta e foi já director da revista Tabacaria, da Casa Fernando Pessoa (números 0 a 8, entre 1996 e 1999).

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dia dos Namorados (3) - Num poema de Nuno Júdice

Variação sobre rosas

Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar.

Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama-se no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.

E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta.

Nuno Júdice. Pedro, Lembrando Inês (2001)