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quarta-feira, 6 de junho de 2012

A reorganização da vida na escola e o Despacho Normativo 13-A/2012


O Despacho Normativo 13-A/2012, do Ministério da Educação e Ciência, ontem publicado, provocou um bombástico título na imprensa de hoje: o dito normativo iria revolucionar a vida das escolas no próximo ano lectivo, graças a novas regras de organização do serviço docente.
Vale a pena ler o Despacho mencionado e ver até que ponto a imaginação pula e avança no sentido de tornar tudo algo estranho e muito complicado. É a reorganização da escola ou é a desconfiança sobre a escola? É a autonomia ou o controlo sem peias? É a igualdade de oportunidades ou é a dificuldade na organização do trabalho, com desconfianças sobre o trabalho dos professores?
Lê-se o normativo e fica-se a perceber o porquê de já ter sido anunciado que os directores das escolas vão ter reuniões com as direcções regionais de educação para explicação do normativo… É suposto que a lei careça de explicações adicionais para se saber o que quer dizer e como é aplicada? Onde fica o cidadão que deve conhecer a lei e usá-la convenientemente?
As escolas serão incompetentes ou o normativo está feito para criar dificuldade?
Termino com as palavras aqui lidas, devidas a José Alberto Quaresma: «Evoco, com nostalgia, um académico sensato e presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática durante sete anos, que parecia transpirar segurança em furtivas aparições televisivas e saber de um rumo para a Educação. Agora, não sei se por maus conselhos, de ministros, aplica receitas autocráticas, não ouve ninguém, e despacha à pressa.»

sábado, 23 de outubro de 2010

O valor de educar, o valor de instruir

A Fundação Francisco Manuel dos Santos editou (Outubro, 2010) o volume colectivo O valor de educar, o valor de instruir, participado por nomes como Fernando Savater, Ricardo Moreno Castillo, Nuno Crato e Helena Damião, que reúne o essencial das comunicações que, sob o mesmo título, os autores apresentaram em Lisboa e em Faro há poucos dias, num acontecimento organizado pela própria Fundação e sujeito ao mesmo título, num mais amplo debate sob a designação de “Questões-chave da educação”.
Antes de mais, diga-se que esta preocupação que a Fundação Francisco Manuel dos Santos, presidida por António Barreto, tem com a área da educação é algo que só devemos louvar, por várias razões: em primeiro lugar, porque, sendo a educação um domínio que toda a gente acha que tem condições para discutir, tal é a sua importância na sociedade, muitas das coisas que por aí vão sendo ditas não passam de vulgaridades e de praticamente nenhum rigor de análise; em segundo lugar, porque a educação tem sido discutida em Portugal na sua faceta mais imediata e simplória, no âmbito das medidas, sem que se discutam os princípios, sem que se procure uma filosofia da educação para o país.
O texto de Fernando Savater, “O valor de educar”, chama a atenção para a humanização da educação, uma tarefa que não exclui ninguém (família e sociedade incluídas) e que se afigura como uma revolução “que não destrua, mas que conserve o positivo, que transforme”. Queiramos ou não, a educação integra, forma, determina o civismo e, como o autor dizia na conferência de Lisboa, “o problema é quem vai educar”, para concluir que “os bons educadores devem chegar antes dos maus educadores”. Este alerta pode parecer óbvio; mas é nisso mesmo que reside a sua importância: a educação ensina a tolerância e não a resignação ou a indiferença; a educação ensina a liberdade e impede que a ignorância destrua a democracia.
Ricardo Castillo, ao traçar o retrato dos “Problemas da educação em Espanha”, dá algumas ideias para aquilo que se passa em Portugal. Afinal, as coisas não estão assim tão separadas!... O trabalho necessário para o estudo, o quão pernicioso têm sido as teorias dos especialistas da banalidade que têm invadido a pedagogia (uma falsa pedagogia, diria), as discussões em torno da autoridade (da escola e do professor) que apenas demonstram o que foi feito da autoridade que nunca deveria ter sido posta em causa… são questões que passam pela crítica severa de Castillo, que reprova o disparate reinante em muitas teorias da educação e que chega a afirmar que os professores devem “ensinar a lição, como sempre se fez, sem complexos e sem medo de parecerem professores obsoletos, caducos ou nostálgicos e dar má nota a quem não sabe”. É evidente que, num tempo em que o que interessa são as estatísticas do sucesso, mesmo que ele seja mascarado, adulterado ou fingido, as palavras de Castillo tocam fundo e deviam fazer pensar. Afinal, ainda aqui, estamos a falar de filosofia da educação e não de estarmos a tratar de saber se todos os estudantes devem estar ou não no caminho do sucesso… obviamente que devem!
Em “Algumas ideias dominantes na educação em Portugal”, Nuno Crato fustiga os princípios peregrinos da motivação como “base de todo o estudo e de toda a escola”, do objectivo do ensino que é “a compreensão crítica das matérias” e do ensino que se deve orientar “em torno das vivências e do ambiente cultural dos estudantes”. Não serão estes princípios contestados por Crato aqueles que têm posto em causa o valor da instrução e até o valor e o papel da escola?
O quarto ensaio incluído nesta antologia, sobre “A (in)dispensabilidade de ensinar”, assinado por Helena Damião, acentua o valor da instrução como determinante para a prosperidade das sociedades, bem como o papel dos professores nos níveis de aperfeiçoamento que a Humanidade tem conseguido atingir, algo que se conjuga com um princípio basilar que, infelizmente, muitas vezes tende a ser esquecido: “a imprescindibilidade de se ensinar para que se possa aprender”.
Não sei se a leitura destes quatro ensaios é obrigatória para professores, pais e educadores. Se a tanto não conseguimos chegar, é, pelo menos, obrigatório atingir que a educação que queremos deve ser pensada, da mesma maneira que temos de pensar para que tipo de sociedade queremos caminhar. São questões básicas, eu sei; mas, exactamente por isso, têm de ser pensadas, sob pena de se prosseguir nesta alucinação que é a desvalorização de tudo o que tem feito a Humanidade, no vício de que a tradição ou o passado são princípios a rejeitar, na vertigem de que tudo tem de ser reformulado pelo simples facto de que tudo tem de começar sempre de novo… As consequências, como se sabe, estão à vista!
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1. "Quem sinta repugnância pelo optimismo deve deixar o ensino e não pretender pensar em que consiste a educação. Porque educar é crer na perfectibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber que a anima, no haver coisas que podem ser sabidos e que merecem sê-lo, na possibilidade de nos podermos melhorar uns aos outros por intermédio do conhecimento." (F. Savater)
2. "A educação é um direito, mas a sua violação não é considerada um delito." (R. Castillo)
3. "Os bons professores sabem há muito que o ensino estruturado é importante, que não se pode esquecer a motivação dos alunos nem a pressão para o estudo, que a tabuada e a mecanização das operações são necessárias, que a ortografia não deve ser desleixada e que a compreensão dos bons textos literários é crucial. Os bons professores sabem há muito o que os teóricos da pedagogia romântica querem que eles esqueçam." (N. Crato)
4. "A tarefa de ensinar é nada menos do que fundamental, e isto a dois níveis: a um nível mais restrito, das aprendizagens de cada sujeito, facultando-lhe a aquisição de conhecimentos e o aperfeiçoamento de capacidades; e a um nível mais amplo, dos desígnios da sociedade e da civilização a que todos pertencemos, mantendo o seu legado e, não ficando por aí, procurando novos saberes que o ampliem." (H. Damião)

sábado, 4 de setembro de 2010

Seis revisitações da escola (e outras tantas dicas)

A revista “Única”, que integra o Expresso, teve como tema da edição de hoje “Voltar”, entrando também na área da educação, em que seis personalidades portuguesas foram convidadas a um regresso à escola onde estudaram para falarem desse tempo, o que as levou a, inevitavelmente, considerações sobre o presente. Aqui deixo alguns excertos, que tocam em algumas das questões que estão (ou deviam estar) em discussão no presente.
Rita Ferro, escritora, estudante no Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Jesus: “Considero os programas actuais autistas relativamente ao perfil do aluno do terceiro milénio, mais sensorial e imediatista, mais áudio-visual do que leitor, menos estimulado em casa. Exauridos e falidos, os pais só querem que os filhos passem de ano. (…) Tolerância zero à indisciplina, com penalizações inflexíveis a incidir sobre as notas, as propinas, a própria frequência. Tolerância zero à interferência histérica e abusiva dos pais na sobreprotecção dos meninos. E maior crivo na contratação dos professores. Um povo deseducado e culturalmente desfavorecido sem segurança para interferir na política, é uma crucifixão cartológica.”
Medina Carreira, advogado e ex-ministro, estudante nos Pupilos do Exército: “Não há melhor avaliação do que quando um estudante está pressionado como se estivesse na vida. Negar estas exigências da vida é de gente tola.”
Nuno Crato, professor universitário, estudante no Liceu Pedro Nunes: “Havia os maus e os bons [professores]. Mas em todos transparecia respeito pelo conhecimento e pela cultura. Talvez o que mais me tenha marcado foi esse espírito geral de gosto pelo conhecimento e gosto pela racionalidade. (…) É necessário instituir seriedade na avaliação dos estudantes (…) e é preciso maior seriedade na formação científica dos futuros professores.”
António Câmara, professor universitário, estudante no Liceu Pedro Nunes: “Tanto no secundário como na universidade, ainda não se percebeu a importância da criatividade. O ensino em Portugal é convergente e raramente divergente. (…) A internet mudou e baralhou tudo. E começa a ter consequências no ensino. A linguagem vídeo, por exemplo, é absolutamente crucial e ainda não chegou devidamente ao sistema de ensino. Os professores precisam de adaptar-se. Tem de haver disciplinas e cadeiras muito mais abertas. A nossa taxa de insucesso escolar é em primeiro lugar o insucesso do sistema de ensino.”
Eduardo Marçal Grilo, administrador e ex-ministro, estudante no Liceu Nun’Álvares: “As escolas precisam de lideranças fortes. Não impondo modelos, mas no sentido organizativo e de objectivos de cada escola. Faz sentido que haja um condutor da escola. (…) Importante é saber quem são os alunos, de cada escola, de cada região. Só desta forma se combate o insucesso escolar: aluno a aluno. (…) Têm de ser definidas metas, patamares de conhecimento. Esses patamares têm de integrar a escola e a família, que hoje em dia se demite da educação dos filhos.”
Irene Fulsner Pimentel, historiadora, estudante no Charles LePierre: “O problema não está na reprovação, está no insucesso escolar. E a discussão deve centrar-se aqui. (…) Eu sou de esquerda, toda a gente sabe. Mas a esquerda teve algumas culpas no nosso sistema educativo. Houve uma altura em que se passou a achar que a educação devia ser uma coisa lúdica. Sou muito a favor da avaliação. Dos professores e dos alunos. A escolha criteriosa dos professores seria um bom começo.”

domingo, 20 de abril de 2008

Máximas em mínimas (23)

Decorar, memorizar
"(...) A dicotomia que se criou há uns 30 anos que considera um horror decorar a tabuada, ou as estações de comboio, e que o importante é apenas perceber, é uma dicotomia que tem sido muito prejudicial. O que é bom é decorar e compreender, e ambas se reforçam. Mais: às vezes é útil decorar alguns automatismos sem os perceber, só os vindo a entender mais tarde. Não é preciso que a criança saiba o que é a corrente eléctrica para nós lhe ensinarmos que não pode colocar os dedos na tomada. No ensino há muitas coisas assim. (...)"
Nuno Crato. Entrevista in Público. 20.Abril.2008