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domingo, 10 de maio de 2015

Máximas em mínimas: António José da Silva, o Judeu




Depois de ler António José da Silva (1705-1739), o tal que foi vítima no mesmo auto-de-fé que acabou com a personagem Baltasar Sete-Sóis de Memorial do Convento, de José Saramago, o tal que foi cognominado "Judeu", ficam algumas verdades retidas a partir de Anfitrião, que tem o subtítulo de "Júpiter e Alcmena" (Col. “Clássicos Inquérito”, 14. Lisboa: Editorial Inquérito, s/d):

Amor – “Amor é como a Fénix que, para renascer mais belo, é preciso que, de quando em quando, se abrase nas chamas de um arrufo.”
Ausência – “Não há pior mal que o da ausência, pois ao mesmo tempo que acrescenta a saudade também acrescenta o tempo.”
Casamento – “Marido sem ser amante é o mesmo que corpo sem alma. Que importa que o matrimónio ligue o corpo se o amor não une as almas?”
Desejo – “Sempre a boca fala tarde quando madruga o desejo.”
Impossível – “Os impossíveis só se fizeram para os que verdadeiramente amam.”
Juiz – “Um juiz, para ser bom, há-de ser como um espelho: aço por dentro e cristal por fora. Aço por dentro para resistir aos golpes das paixões humanas e cristal por fora para resplandecer com virtudes.”

domingo, 26 de maio de 2013

Paulo Morais em luta contra a corrupção, por um imperativo cívico

Paulo Morais, autor de Da corrupção à crise (Gradiva, 2013), fundador da Associação da Transparência e Integridade, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto na equipa de Rui Rio, é entrevistado na “Revista” do Expresso de ontem (nº 2117, pp. 46-52). Uma entrevista a ler, que explica muitos dos mistérios com que vamos sendo brindados no quotidiano. Uma entrevista a ler, porque temos de saber. Deixo alguns excertos.

A sedução como corrupção – “Um político não se pode deixar contaminar, ou cair na sedução do croquete. Há a corrupção material, comprar pessoas, e há uma corrupção aparentemente menos grave mas gravíssima, que é a da sedução. Convites para jantar, fins de semana, quinzenas de férias, bilhetes, etc.”
Dominar o líder – “Os poderosos ou eliminam o líder ou dominam o líder. Foi o que aconteceu com Passos Coelho, que entrou relativamente solto.”
Dos mercenários – “Os que andam com a mão na massa, na sujidade, os mercenários, são 10 ou 15%. Mas são 15% que mexem em 90% do Orçamento. São pessoas que se sentem seduzidas pela função, vereadores, deputados, etc. Pelas borlas. Pelas facilidades e empregos.”
Corrupção em Portugal a aumentar – “A corrupção em Portugal está a subir. Nos indicadores internacionais, entre 2000 e 2010, passámos de 23º para 33º. Somos o país que mais caiu na transparência no mundo. O que mais regrediu. (…) Se a corrupção diminuir o país melhora.”
Partidos e (des)emprego – “No litoral, ou nas áreas metropolitanas, estar ligado a um partido é garantia de emprego. Nos pequenos municípios, no interior, não estar ligado é garantia para o desemprego.”
Da justiça – “Na justiça, para notificar um cidadão para prestar declarações, em vez de se fazer um telefonema manda-se uma carta registada assinada por um procurador a fazer de escrivão e vai um polícia fazer de carteiro. Kafkiano. Medieval. Justiça agressiva, medieval. A justiça é gongórica, muita pompa e circunstância. Togas e becas, frases bombásticas, e o tecto a cair da sala.”
As pontes sobre o Tejo, em Lisboa – “Expropriação, já, da ponte Vasco da Gama. Não é um negócio, é uma mentira. (…) Percebi ao fim de não sei quantos anos que os privados entraram com pouco mais de 20% do valor da ponte. E ficaram não só com aquela ponte como com a outra e com as travessias do Tejo.”
Resgate, qual resgate? – “Da troika prefiro nem falar. Devíamos ter tido uma intervenção externa se tivéssemos tido de facto um resgate. Mas não tivemos um resgate, tivemos uma intervenção para garantir que o Estado português continuava a pagar os empréstimos à banca. Um resgate é outra coisa. Existem resgates nas empresas, os chamados acordos de credores. Processos de reestruturação da dívida em que se isola a exploração do problema da dívida. Isto é um resgate. (…) Quando a primeira das despesas a efectuar é dívida, isto não é um resgate, é um sequestro. Não vale a pena dizermos que não vamos pagar, o que faz sentido é fazer um resgate a sério. Reestruturar a dívida.”
Gastar acima das possibilidades – “A história de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades é o maior embuste. São as três maiores mentiras. Essa é uma, outra é de que não há alternativa à austeridade. E a terceira é a mania dos desvios, cada governo que vem diz que havia um desvio do governo anterior. (…) Na Administração Pública não pode haver desvios, as pessoas não têm a noção disto mas a despesa pública carece de orçamentação. (…) Dizer que há desvios é brincar com as pessoas.”
BPN e Alves dos Reis – “O caso BPN está para este regime como o caso Alves dos Reis para a I República. (…) Se houver uma investigação competente, conseguem identificar toda a gente. E confiscar os bens.”
Da censura e da intervenção social – “Acho que podemos criar uma forte censura social para dar a volta. Em Itália, durante a operação Mãos Limpas, os políticos entravam nos restaurantes e as pessoas atiravam-lhes moedas. O meu maior combate é contra o medo.”

quinta-feira, 25 de abril de 2013

D. Manuel Martins: um outro 25 de Abril

Contra a "ditadura do medo" e por um 25 de Abril promotor da "paz e justiça" são as ideias fortes da comunicação do Bispo Emérito de Setúbal D. Manuel Martins, um olhar atento sobre a sociedade e uma voz da denúncia, em declarações que podem ser lidas aqui.

sábado, 13 de agosto de 2011

Ivan Cankar: a procura da justiça

Data de 1907 esta história A Justiça de Yerney (Col. “Nova Europa”. Lisboa: Cavalo de Ferro Editores / Grande Reportagem, 2004), construída pelo esloveno Ivan Cankar, e, apesar de mais que centenária, mantém a frescura da parábola, abordando a prática e a ética da justiça.
A narrativa estende-se por dúzia e meia de capítulos, depois de, como abertura, se ler um parágrafo como este: “Vou contar-vos esta história tal como aconteceu, com toda a sua injustiça e com toda a sua enorme tristeza. Não encontrareis nela períodos bem elaborados, nem ficções, nem hipocrisia.” Fica então o leitor a saber que A Justiça de Yerney é uma história sobre a injustiça.
Enterrado o velho Sitar, dono de vasta propriedade, quando ainda a família se recompunha do funeral, o feitor Bartholomew, tratado por Yerney, recebeu ordem do herdeiro e sucessor no sentido de abandonar as propriedades e as suas funções. Incrédulo e esmagado pela secura do novo patrão, Yerney inicia uma peregrinação no sentido de ser praticada a justiça, de defender os seus direitos, sem que ninguém tenha de ser castigado. Em causa estava a sua velhice e o facto de ter sido o seu trabalho que deu vida, durante mais de quatro décadas, à propriedade de Sitar. Como, pois, podia ser escorraçado sem direito a mais nada que não fosse uma trouxa com a roupa e umas botas que teria de carregar aos ombros durante a sua peregrinação?
A partida de Yerney é comovente, com um narrador que, logo desde início, toma o partido desta personagem – “Não havia um punhado de terra que não tivesse as marcas da labuta das suas mãos, do suor da sua fronte. Um homem vive um ano, dez anos, quarenta anos numa casa e nota que a casa se torna semelhante a ele como um irmão, e existe um laço de amor entre eles. E se, em obediência a uma ordem cruel, ele é obrigado a ir para um local distante, vai chorar mais por aquela casa que por um irmão, ou ainda mais do que chorou noutro tempo pela sua mãe.”
O calvário de Yerney arrasta-se de porta em porta, sempre contando a mesma história em busca da justiça em que acreditava, mas só uma figura desamparada e sem abrigo como Gostach, que aparecia de vez em quando, o adverte para o risco da empreitada – “Yerney, não discutas acerca de direitos e injustiça das leis dos homens e dos mandamentos de Deus. Já o fiz e olha: agora sou vagabundo e não tenho amigos.” Terá sido este o único sábio que o velho feitor encontrou (reconhecê-lo-á mais tarde), surgindo-lhe logo no início da caminhada, mas a que não deu importância pois tinha esperança e acreditava na justiça.
O roteiro de Yerney passa pelo Presidente da Câmara, pelos camponeses, pelas crianças, pelo tribunal de Dolina, pelo tribunal de Ljubljana, pela tentativa de apresentar a sua questão ao imperador em Viena (a Eslovénia integrou o império austro-húngaro até 1918), pela conversa com um padre. São tantos os interlocutores quantas vezes a história é contada, sempre na mesma versão, invariavelmente exigindo o mesmo – defendendo o seu direito a estar na casa que construiu, sem que o castigo seja aplicado a ninguém. Pelo caminho, Yerney faz-se acompanhar pela sua verdade, pela sua esperança e pelos diálogos que vai tendo com o Deus em quem acredita. Mas, em todas as portas a que bate, recebe o castigo da desconsideração, sendo preso duas vezes e encarcerado com criminosos, não tendo chegado a ver o imperador, sendo menosprezado e exposto ao ridículo. Quando achava que iria encontrar a justiça junto de um padre, o que ouviu, no meio da discussão em que questionava a existência de Deus, foi a ordem “Fora, blasfemo!”
O último capítulo é o da justiça praticada por Yerney, assim justificando o título da narrativa. Em terra onde faltava a justiça, o velho feitor constrói a tragédia e é vítima do incêndio que ateou e do ódio dos camponeses que com ele tinham trabalhado. Destruição dantesca, que surge ainda mais fulminante porquanto a justiça se mostrou pelo seu lado negativo. E, em jeito de parábola, para que o leitor entenda a lição, o narrador conclui: “Isto passou-se em Betajnova. Deus tenha misericórdia de Yerney, dos seus juízes e de todos os pecadores.”
A escrita de Cankar conforma aqui as marcas do romance psicológico, com o leitor a acompanhar o drama pessoal de Yerney segundo a sua sensibilidade, perante a insensibilidade dos outros. Por outro lado, esta busca da justiça é também uma sátira à forma como ela é praticada, haja em vista que é nos tribunais que Yerney é mais humilhado e mais incompreendido, onde vê mais hipocrisia. O leitor deixa-se impressionar pela força que jorra desta personagem, um Yerney sobretudo espiritual, que, com cada passo que dá, mais se vai aproximando do seu martírio, imposto quando a esperança lhe morreu.

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Lamento – “O lamento é como uma semente que produz mil vezes mais. Logo que cai sobre o coração multiplica-se tão rapidamente que o coração fica sufocado, tão sufocado que a esperança não pode irromper.”
Caminho – “O caminho pode ser muito longo, o trilho pode ser muito difícil e juncado de pedras e espinhos. Mas, um dia, o caminho terá o seu fim; um dia, a porta abrir-se-á. Deus não escondeu a Sua Justiça como um avarento esconde o seu dinheiro.”
Justiça – “A justiça é uma senhora severa e exigente e não gosta que lutes contra a sua vontade. Se, apesar de estares inocente, ela te acusar de homicídio – então é porque mataste: não há dúvida alguma; se te acusa de roubo – então, é porque roubaste com ambas as mãos. Podes jurar que não mataste ou não roubaste – será um infortúnio. É mais prudente confessares-te culpado: confessar algum crime imaginário, algum roubo imaginário, pois deste modo mostrarás quão humilde és e como estás arrependido… Essas são as almas de que gosta a justiça, apesar de poderem pertencer aos mais cruéis pecadores. A justiça não gosta de corações empedernidos; ela não aprecia a inocência.”
Coração – “O coração fica mais calmo quando chora do que quando ri, e todos os pecados, todas as injustiças são levadas pelas lágrimas.”

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Direito ao copianço

Na disciplina de Investigação Criminal e Gestão do Inquérito ministrada no Centro de Estudos Judiciários, terá havido copianço no teste e houve a decisão de a todos os candidatos ser atribuída a nota 10, segundo os jornais de ontem.
Depois disto, vemos as justificações: “não fazer nada e branquear a situação não era razoável”, “repetir o teste era praticamente impossível”, “houve um conjunto extenso de alunos que não copiou”, “excluir toda a gente do curso era inimaginável”. Quatro razões para a atribuição de 10, devidas a um responsável do CEJ, reproduzidas no Jornal de Notícias.
A decisão colheu adeptos. E um representante da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, ainda segundo o mesmo jornal, explicou que esta opção “equivaleu a anular a função classificativa do teste e não deixou de obrigar as pessoas a prepararem-se para o teste.”
Com estes argumentos, nem valeria a pena haver testes! Só pelo facto de os formandos estarem inscritos e irem às sessões já deviam ter, no mínimo, 15 (na escala de 0-20), imagina-se! É por argumentos destes que apetece não insistir na honestidade ou na verticalidade, sob pena de sermos considerados retrógrados… e é o convite a este facilitismo que domina a sociedade, ainda que, paradoxalmente, depois se não acredite em quem se formou à custa destes esquemas…
Afinal, copiar num teste ou num exame é ou não é fraudulento? E a fraude é ou não é punível?
O mais curioso é isto passar-se justamente no âmbito da justiça, onde nem devia ser imaginado! Com tais exemplos, qualquer aluno de 9º ou de 12º ano que, a partir do dia 20, esteja em exames tem direito a reclamar o direito ao copianço a troco da positiva mínima. É a lei da analogia… Ah, mas esses não podem, porque a norma dos Exames Nacionais diz que…
Por outro lado, o argumento do representante da ASJP, segundo o qual “pode ter havido algum equívoco, da parte [dos candidatos], sobre a natureza individual do teste”, também não colhe – é que até os jovens do 9º e do 12º anos têm de saber que os testes são individuais (tenham ou não cruzinhas) e não se confundem com trabalhos de pares ou de grupo!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Só é pena ter demorado 9 anos!

A notícia que transcrevo tem a assinatura da LUSA e está divulgada em vários sítios da net. Os únicos comentários merecidos têm a ver com o tempo que se demorou a ser feita justiça e com o teor das desculpabilizações apresentadas e feitas para constar. Bem podem argumentar com cumprimentos de prazos e com voltas e reviravoltas, mas não está certo que se espere tanto tempo, não é justo que se espere tanto tempo; quanto aos argumentos utilizados para explicar as reacções havidas, só provam que tudo vale para justificar o injustificável e que a sociedade é assim porque se pensa que pode ser assim, sem respeito. Ainda bem que a justiça foi no sentido em que foi, apesar de ter tardado!

Almada - Pai de aluna condenado a pagar 10 mil euros a professora por injúrias

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a condenação do pai de uma aluna da Escola Secundária Anselmo de Andrade, em Almada, a pagar uma indemnização de 10 mil euros a uma professora, por injúrias.

Os factos remontam a 7 de Março de 2001, quando, numa reunião naquela escola, o encarregado de educação apelidou a professora de História da Arte e Oficina de Artes de "mentirosa", "bandalho", "aberração para o ensino" e "incompetente".

A reunião fora solicitada pelo encarregado de educação, alegadamente para obter esclarecimentos acerca das muitas faltas da professora. Num trimestre, a docente faltara onze vezes por ter fracturado uma perna.

Além daqueles insultos, o pai acusou ainda a professora de falta de profissionalismo, de "mandar bocas" à filha, de terminar as aulas "10 minutos antes do toque e pedir aos alunos para dizerem aos funcionários que estavam a sair de um teste" e de na véspera dos testes dizer aos alunos "ipsis verbis" a matéria que iria sair. Aconselhou ainda a professora a procurar tratamento psiquiátrico "urgente".

A professora, com 20 anos de profissão, pôs uma queixa-crime em tribunal, acabando o encarregado de educação por ser condenado pelo crime de injúria agravada. A docente avançou também com uma acção cível, pedindo uma indemnização de quase 19 mil euros por danos patrimoniais e de 15 mil por danos não patrimoniais.

O tribunal decidiu fixar a indemnização em 10 mil euros, mas o arguido recorreu, alegando que as expressões foram proferidas por "um pai preocupado e protector", num contexto de "nervosismo e tensão". Alegou ainda que "não era previsível que as suas palavras desencadeassem um processo contínuo de sofrimento, stress e tristeza além do sentimento de desvalorização pessoal e da dignidade e reputação" da professora. Defendeu igualmente que as consequências das suas palavras para a professora "devem mais ser consideradas como incómodos ou contrariedades do que verdadeiros danos".

Mas o tribunal manteve a condenação ao pagamento de 10 mil euros, considerando que a professora, face às "graves ofensas" de que foi alvo, ficou afectada na sua dignidade e reputação, o que lhe veio a causar um "rol de enfermidades", dele resultando "um quadro clínico de acidente vascular cerebral, acompanhado de síndrome depressivo grave, com oclusão da vista esquerda, com risco de cegueira". O STJ considera mesmo que a indemnização de 10 mil euros "é um nada", já que "a dor de alma é, sem receios de exageros, incomensurável". 11.05.2010 - 15:48 Por Lusa

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mário Soares em entrevista

Foi a primeira de uma dúzia de entrevistas que o Público divulgou hoje. Objectivo? "Reflectir sobre o futuro do país, num mundo em profunda mudança". O primeiro a dizer de sua justiça e de sua sabedoria foi Mário Soares, entrevistado por Teresa de Sousa. Eis algumas das reflexões, postas por ordem alfabética dos temas que não pela ordem sequencial da entrevista.
BLOQUEIOS – "Em primeiro lugar, na Justiça. Sem uma Justiça séria e eficaz não podemos avançar. Depois, é indispensável lutarmos contra as desigualdades sociais, a pobreza, o desemprego, o trabalho precário. E só a seguir importa controlar o défice, diminuir o despesismo, acabar com a impunidade dos corruptos, responsáveis pela situação em que nos encontramos. (…) Temos de encontrar e criar empregos para os jovens. O drama do desemprego juvenil tem a ver com o desespero e a depressão. Temos de perceber que a coesão social pode ser posta em causa. Se não fazemos as reformas sociais, estamos, inconscientemente, a criar revoltas, difíceis de controlar."
CRISE(S) – "Estamos hoje a viver no mundo uma crise do capitalismo financeiro-especulativo, política, social e de civilização. (…) Só se fala de quê? Das crises, das nossas fragilidades, do derrotismo nacional, que entrou em moda. E, obviamente, das escutas ilegais, dos escândalos, das roubalheiras. Mas não se discute como é possível combater tudo isso... (…) Carecemos de princípios éticos estritos e obrigatórios para que um capitalismo diferente, com dimensão social e ambiental, possa sobreviver..."
ESPANHA – "Deveríamos entender-nos a fundo com a Espanha nesse sentido. Fazer da Península Ibérica, cujo papel na história universal não é preciso recordar, um centro de reflexão, de ideias novas - e de iniciativas - para o futuro da Europa, como agente global na cena internacional. Temos boas condições para que as relações entre os dois Estados ibéricos se articulem nesse sentido. Devemos ter políticas europeias convergentes. Temos de pôr a Península Ibérica a falar e a fazer-se ouvir."
EUROPA – "Sou um europeísta convicto, como muito bem sabe. Defendo os Estados Unidos da Europa. Penso que deveríamos estar a avançar nesse sentido. Mas não estamos. Tenho hoje muitas dúvidas acerca do futuro da Europa. Os actuais dirigentes europeus não têm visão de futuro. Não sei se reparou que a maioria deixou de falar de construção europeia, como se a União fosse um projecto acabado. Não é. Ninguém se interessa em saber para onde vamos. Aos líderes europeus interessa manter o statu quo, que é a situação que mais lhes convém para se manterem no poder. Não querem reformas nem querem acreditar que o mundo deixou de ser unilateral, que o Ocidente deixou de ser o que foi. O mundo é hoje multilateral e passou a ser global. (…) O ideal da construção europeia é tão rico, significou um tal avanço para o mundo inteiro, que, a perder-se, seria uma verdadeira tragédia para a humanidade."
JUSTIÇA – "Não é aceitável que os juízes, que tinham antigamente uma distância necessária em relação aos outros cidadãos, que os tornava uma referência, se banalizem, ocupem em força as televisões para ver quem lá vai mais vezes e diz maiores dislates. Só para dar nas vistas. Convencidos de que se prestigiam muito, porque vão ao barbeiro ou ao café e as pessoas conhecem-nos. Viram-nos nas televisões..."
NOTÍCIAS E BANALIZAÇÃO – "Repetir as mesmas notícias, mostrar as mesmas imagens, dizer sempre o mesmo, durante dias seguidos. É a banalização! Se, em vez da Madeira, for outra desgraça que nos emocione - uma criança que desapareceu, um incêndio, a morte de um pescador - é a mesma coisa. Só se fala disso. À saciedade. Sem critério. Não porque não haja novidades e outros assuntos mais interessantes a relatar. Mas por ser mais fácil. Repetir mil vezes a mesma coisa, alimentando as audiências e as páginas dos jornais. Se for um escândalo, ainda melhor."
OBAMA – "Obama está a fazer o que pode, apesar das dificuldades imensas que enfrenta. Está-lhe a cair em cima o peso do mundo. Tem uma oposição interna extremamente aguerrida. Há quem comece a gritar contra Obama, porque os decepcionou. Como se pudesse fazer milagres. Não pode. É preciso ajudá-lo, sobretudo a Europa. É um suicídio se o não faz."
PARTIDOS – "A política, hoje, quase está resumida à actividade dos partidos que fazem uma guerrilha artificial entre si. Não se discutem ideias nem se alimentam relações de cordialidade entre os líderes. (…) Não vejo razões para esta luta feroz entre os partidos continuar. Todos têm culpas no cartório. São comportamentos vazios de conteúdo, artificiais. Os nossos líderes - todos -, para se imporem e serem respeitados pelo eleitorado, têm de mudar. Ser mais flexíveis, tolerantes e menos dogmáticos. Ninguém - nenhum partido -, por si só, é o exclusivo detentor da verdade ou do patriotismo. Têm que se entender e respeitar mutuamente. A democracia vive da alternância. E durante as crises - mormente tão graves como a actual - os partidos e os políticos devem fazer um esforço de entendimento. É o que desejam os eleitores. E são os meus votos muito sinceros."
POLÍTICA HOJE – "[Há] uma certa degradação da política - a sua mediatização, a sujeição ao marketing... Dominada pelo dinheiro, sem princípios éticos, nem visão global. (…) A crise política em que hoje vivemos é, em grande parte, artificial. Decorre directamente da forma como os partidos se digladiam. A ambição do poder pelo poder ultrapassa tudo o resto. Ironicamente, numa altura em que o poder político - ao contrário do que devia - é e continua a comportar-se como um poder menor em relação ao poder dos interesses, das grandes empresas multinacionais e nacionais e dos bancos. (…) A política virou-se contra si própria, ajoelhou-se perante o "bezerro de ouro" e afastou-se do jornalismo sério. A ideia de que os políticos não prestam, são venais, só querem tratar das suas vidas, está generalizada ma2s não corresponde à verdade. Há casos conhecidos em que é assim, mas não são generalizáveis."
POLÍTICA E NEGÓCIOS – "A política e o mundo dos negócios devem ser completamente separados. Deve ser um ponto de honra para qualquer político. O Estado não tem que fazer negócios. Deve ocupar-se da segurança, da Justiça, das questões sociais, dos problemas de cidadania, da posição de Portugal no mundo, da defesa das instituições democráticas, da coesão e unidade dos portugueses. E dar confiança ao país. Não somos um país pequeno e sem recursos. Temos uma história que nos honra, uma língua em expansão, a terceira mais falada na Europa. Hoje, há 250 milhões de seres humanos que falam português, em todos os continentes. Se juntarmos a isso os 500 milhões que falam espanhol, percebemos o que a Península Ibérica pode - e deve - representar no mundo: uma força."
POR UMA OUTRA POLÍTICA – "A política sem ideias e sem causas não tem sentido. É preciso mudar as coisas para melhor. Sabe, estou convencido de que é como nos vinhos: há anos bons e anos maus. Na política, passa-se o mesmo: há gerações boas e há outras menos boas. (…) Quando falo das gerações, boas e más, como o vinho, é para me dar a mim próprio a alegria de pensar que o mundo muda e muda para melhor. As actuais gerações de políticos, formados na escola do neoliberalismo, não serão excelentes, com as devidas excepções. Mas vão vir outras, seguramente melhores. A necessidade obriga. Acredito nisso. E acredito que, por efeito da crise actual, as novas gerações serão diferentes. A que foi contemporânea dos dois mandatos do Bush foi ensinada a pensar que o importante, na vida, é ganhar dinheiro. O que é importante na política, é o marketing. O que é importante é parecer, mais do que ser... Foi, em parte, esse delírio do lucro fácil que conduziu à crise mundial. As pessoas perderam a sensibilidade para os valores morais e para perceber a importância do que é essencial para o futuro dos seres humanos. Só sentem a necessidade de ganhar dinheiro, de qualquer maneira..."
VERGONHAS – "É a maior vergonha que temos: as desigualdades sociais, as manchas de pobreza, o crescimento do desemprego. São a prioridade para a mudança. Mas isso não nos deve transformar em profetas da desgraça. Já temos muitos... Ouve-se muita gente a dizer que estamos perdidos, que não vamos recuperar, que o país não tem conserto. Se, pelo menos, essa gente fosse capaz de apresentar ideias e soluções. Mas não. Dizem mal e vão para casa, todos satisfeitos. Desabafaram..."

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Questões do dia

Telemóveis: Nem imaginava que fossem tantos! Espantei-me ao ouvir nas notícias da rádio que as três operadoras de telemóveis vão ter uma lista negra de clientes, confidencial, constituída por quem não paga e tem débito a partir de 450 euros. Para começar, a lista vai ter 200 mil nomes. Feitas as contas, são, pelo menos, 90 milhões de euros em débito, para já. Acontece com isto como sucede com a facilidade de crédito. Depois, quando a cabeça não tem juízo… além daqueles que são “experts” em saltar de uma operadora para outra deixando o débito atrás de si… Espantoso!
Justiça: Há dias, falava com um amigo, munícipe em Oeiras e apoiante de Isaltino de Morais. Que não sabia se ele era ou não culpado, mas que era um óptimo candidato porque tinha sido um excelente presidente! Percebo. Mas entendo também que, nesta história de Isaltino de Morais com a Justiça, alguém fica manchado: ou Isaltino ou a Justiça. E os Portugueses precisam de poder confiar mais nos seus candidatos a autarcas, bem como necessitam de poder acreditar mais na Justiça. Sem uma coisa ou sem outra ou sem as duas em simultâneo é que não pode ser!