No plano das efemérides, o dia de hoje pode receber as cores de dois quadros, um e outro relacionados com momentos históricos bem conhecidos, ambos repletos de energia e de significado quanto ao que o poder tem de mais enérgico ou de mais macabro, os dois pintados quase sobre o momento dos acontecimentos (no mesmo ano em que sucederam, numa leitura que distou dois a três meses dos factos evocados).
A revolução decorrente dos acontecimentos de 1830 em França encontra expressão no quadro "A Liberdade guiando o Povo", de Delacroix (1798-1863), pintor romântico, nascido em 26 de Abril. Os acontecimentos a que o quadro respeita ocorreram em Julho e, poucos meses volvidos, no outono desse ano, Delacroix passava à tela a sua interpretação heróica, por vezes considerada panfletária também.
A outra tela escolhida é de Picasso e está relacionada também com um acontecimento histórico, muito triste acontecimento, diga-se. Também em 26 de Abril, mas em 1937, a população de Guernica foi bombardeada durante mais de três horas, com o apoio alemão, um ataque sob o regime franquista de que ainda hoje parece não haver certezas quanto ao número de mortos. Picasso (1881-1973), a viver em Paris na altura, fora convidado pelo governo espanhol no início do ano para pintar um mural que representasse a Espanha, com o objectivo de ser exposto na Exposição Universal de Paris, que se realizaria nesse ano (abertura em 12 de Julho). A ideia original de Picasso era pintar um elogio à arte; porém, ao saber dos acontecimentos em Guernica, mudou de opinião e o quadro que apresentou, cheio de movimento e de contrastes entre preto, cinzento e branco, teve o título de "Guernica", homenagem ao sofrimento e à dor, grito contra a destruição pela guerra.