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sábado, 3 de fevereiro de 2024

Ana de Castro Osório e Paulino de Oliveira lembrados



As figuras do setubalense Paulino de Oliveira (1864-1914) e de Ana de Castro Osório (1872-1935, nascida em Mangualde), sua mulher, mereceram obra biográfica recente, assinada por Giovanni Licciardello sob o título Ana de Castro Osório e Paulino de Oliveira - Percursos Políticos e Literários (2023).

O trajecto e análise feitos nesta monografia estão dominados pela relação familiar do autor - sua esposa, Ana Leonor Osório de Castro, entretanto falecida, era trineta dos pais de Ana de Castro Osório, e as várias facetas destas figuras sempre foram partilhadas nas histórias familiares. No texto introdutório, a sobrinha-bisneta recordou as memórias que lhe chegaram do casal: “Desde muito pequena os nomes de Ana de Castro Osório e de Paulino de Oliveira sempre me foram familiares. Eram e ainda são chamados pelos vários membros que compõem a minha família, de ‘tia Ana’ e ‘tio Paulino’, mesmo ao fim de todos estes anos. No que diz respeito ao tio Paulino, (...) era, sobretudo, um homem de fortes convicções pessoais e políticas e um republicano dos sete costados. (...) Relativamente à tia Ana, habituei-me aos seus contos, ao longo de toda a minha primeira infância (...). Mais tarde na juventude, bem como actualmente na idade adulta, nunca dispensei a leitura regular da sua vasta e fecunda obra.”

Giovanni Licciardello constrói este livro segundo dois vectores: por um lado, a relação familiar já indicada e, por outro, a necessidade de conhecer a obra dos antepassados, num contributo para a construção da memória e de partilha das descobertas (o autor chega a confessar que o seu conhecimento sobre os dois “era manifestamente pouco”). O segundo aspecto será, aliás, responsável por alguns excursos (sobretudo relacionados com relatos históricos e opinião sobre os factos) que, embora em relação com as personagens biografadas, são muito mais caracterizadores das épocas e prova de procura de informação sobre as mesmas, desviando, por vezes, a atenção sobre estes protagonistas (de que são casos a exposição sobre o conceito e a importância das biografias, os acontecimentos em torno do Ultimato ou as considerações sobre a Grande Guerra, por exemplo).

A primeira personalidade abordada é a de Paulino de Oliveira, podendo o leitor seguir a sua intervenção contra o Ultimato no início de 1890 (que o chega a levar para a prisão), a defesa do ideal republicano, o envolvimento na revolta do Elevador da Biblioteca (1908) e consequente fuga para o Brasil, a intervenção cultural (em torno de Garrett, de António Maria Eusébio e do centenário bocagiano de 1805), a vida e os compromissos depois da instauração do regime republicano (com a situação de desconforto que criou ao agredir à chibatada várias mulheres da indústria conserveira que operavam na fábrica de uma sua familiar, situação que, mesmo explicada por carta ao director do jornal O Germinal - onde assumiu ter cometido um “estúpido crime” -, não colheu a desculpa), o assumir do cargo de cônsul no Brasil. A parte dedicada ao seu legado, em áreas como o jornalismo ou a poesia, careceria de mais amplo olhar, mesmo porque as suas obras não são de fácil acesso, continuando-se por cumprir aquilo que Fernando Pessoa lhe augurou: os seus “poemas ficarão” e “não deixarão de ser incluídos na Antologia Portuguesa definitiva”.

Quanto a Ana de Castro Osório, acompanha o leitor o seu trajecto desde a sua chegada a Setúbal em 1893 (casariam cinco anos depois), passando por momentos como a história da relação amorosa recusada a Camilo Pessanha (em troca de uma promessa antiga a um António de Meneses), o trabalho desenvolvido no âmbito da literatura para as crianças e da promoção de valores culturais locais e nacionais, a intervenção cívica (luta pela criação de um Museu Regional, defesa do papel da mulher na sociedade, activista em diversas organizações feministas, defensora da educação básica, produção panfletária em defesa das suas convicções). Relativamente à memória de Ana de Castro Osório, há ainda uma resenha de bibliografia passiva e a indignação por o seu nome ter desaparecido da lista de patronos de escola em Setúbal, num processo que não terá primado pela clareza.

Com esta obra, Giovanni Licciardello tornou viva a memória destas duas figuras (pelo seu significado local e nacional), homenageando-as de uma forma que poderia ter sido enriquecida se incluísse uma pequena antologia de textos de ambos, assim permitindo que as suas vozes fossem ouvidas e os leitores mais se aproximassem de dois nomes que não devem ser esquecidos.

* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1230, 2024-01-31, pg. 10

 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sobre o auditório do Largo José Afonso, em Setúbal

Num número dedicado à "requalificação urbana", a revista Arquitectura Ibérica, de Janeiro de 2007 (nº 18), consagrou artigo à Praça José Afonso, em Setúbal, dizendo, sobre o projecto dos arquitectos Manuel Salgado e Marino Frei: "O projecto tem como objectivo a requalificação da Praça, mantendo, dentro do possível, as valências existentes. O palco efémero, que aqui era montado regularmente, é substituído por um edifício definitivo, um grande arco cénico que alberga um auditório ao ar livre com capacidade para 2500 espectadores e as infra-estruturas de apoio necessárias para a realização de espectáculos."
Duvidosa tem sido a adesão da cidade à obra implantada na Praça José Afonso. Uma dúvida que, de resto, tem vindo desde início. Recordo que, em 9 deJaneiro de 2006, o jornal O Setubalense iniciava assim uma peça sobre o auditório construído naquela praça: "Desde Novembro que muitos setubalenses têm vindo a criticar a falta de utilização do anfiteatro do Largo José Afonso, onde ainda não se realizou qualquer espectáculo desde a sua inauguração. Mas, afinal, não foi uma inauguração. A cerimónia que marcou o final da obra de requalificação do Largo José Afonso foi apenas a entrega da obra e a verdadeira inauguração terá lugar em Abril".
Vários meses se passaram, assim, entre a entrega da obra e o primeiro acto público ali realizado. Mas a questão da adesão da cidade ao empreendimento tem-se mantido e prova disso é o texto que Giovanni Licciardello assina em O Setubalense de hoje, sob a forma de carta aos leitores, onde é passado à forma escrita aquilo que muita gente diz e desabafa em conversas de rua. Deixo a transcrição.