O Setubalense: 29 de Outubro de 2012.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Memória: Vítor Wladimiro Ferreira (1934-2012)
Quando,
há dois dias, o telefone tocou e vi que era uma chamada da Ângela, o filme
começou a correr. A conversa confirmava a suspeita. O Vítor Wladimiro, o pai da
Ângela, tinha partido. Ao mesmo tempo que a saudade e a tristeza, agarrava-me a
alegria de ter conhecido o Vítor e de termos construído uma amizade de 26 anos,
com início da história numa tarde de sábado de 1986, graças a uma boleia de
Beja para Lisboa, sugerida pelo Miguel, também filho do Vítor e meu companheiro
no serviço militar no Regimento de Infantaria local, viagem em que vinha ainda
a Ana Maria, esposa do Vítor.
A
partir daí, tive o privilégio do convívio com uma pessoa extraordinária: no seu
saber e na sua cultura, na sua disponibilidade para os outros, na sua amizade,
na sua frontalidade e sinceridade, na sua liberdade. (Recomendo a leitura do
postal que o Miguel publicou ontem sobre o pai, uma biografia que em nada exagera
o retrato e com um percurso que eu testemunhei em muitas ocasiões.)
Foram
muitos os nossos encontros. Alguns tinham como pretexto o trabalho (numa dessas
ocasiões, conheci o Nuno, o outro filho), já que o Vítor Vladimiro me convidou
para integrar alguns dos projectos que coordenou. Todos tiveram o condimento da
amizade.
Bom
conversador, de palavras certeiras e análise camiliana, muito aprendi nestes
encontros e na correspondência que trocámos. Aproximámos famílias, de tal forma
que os meus filhos com frequência me perguntavam pelo amigo Vítor, tão
cuidadoso era ele em mandar sempre uma saudação ou um alegre dizer para a
rapaziada!
Nunca
esquecerei uma viagem que fizemos, em Junho de 2005, até S. Miguel de Seide, à
casa de Camilo, itinerário de um dia, a matar saudades do seu parente afastado
e eu a ver Camilo por um mais próximo olhar, dia ainda enriquecido por uns rojões
que minha mãe nos aprontou, polvilhados por um gosto que o Vítor recordaria
várias vezes… (Ironia do destino: o Vítor Wladimiro desapareceu quando se estão
a celebrar os 150 anos do camiliano Amor
de Perdição!...)
Há
cerca de um mês e tal, quando o visitei pela última vez, vim com a tristeza a
querer invadir-me, mas também com a ligeira esperança de que ainda iríamos ter
mais encontros. Enganei-me, claro! E o telefonema da Ângela provou-o.
Tive
sorte por ter conhecido o Vítor Wladimiro Ferreira, de quem era difícil não se gostar.
Estou muito contente por essa possibilidade que se me proporcionou. Tenho
muita, muita pena por não poder continuar a contar com ele, com a sua presença,
com o seu saber e sentir. Presto-lhe a minha homenagem.
[na foto: Vítor Wladimiro Ferreira, em 24 de Junho de 2005, em Seide, na casa de Camilo]
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Evocar Rui Serodio um ano depois... (2)
Quase acabado de chegar da homenagem prestada ao Rui Serodio no final da noite de ontem... em que o auditório da Casa da Cultura, em Setúbal, foi pequeno para tanta gente. Por lá se sentiu o conforto da solidariedade, por lá se sentiu a homenagem colectiva e individual que cada um lhe quis fazer. E, um ano passado, tivemos a sensação de que o Rui nos tinha visitado a relembrar umas histórias de que quase nos esquecêramos.
Bem andou a organização desta actividade! Muito bom foi o filme-documentário que saudou a memória do Rui! Bem andaram aqueles que emprestaram a voz a textos do Rui, cheios de humor - do humor do Rui, fino e certeiro, aristocrático! - e de amor - à simplicidade e à paz da vida! Bem andou o coro "Afina Setúbal", criança a crescer a partir dos primeiros ensaios e ensinamentos do Rui!
Todos ouvimos o Rui e recusámos a despedida, que se transformou num "até sempre". Ficamos agora à espera do que há-de vir: a história, as estórias e as músicas do Rui, tudo envolvido naquele carinho e exactidão em que o Jorge Calheiros sabe transformar as coisas em que se mete. Je suis le pianiste contar-nos-á Rui Serodio. Algures no próximo ano. Com a memória a deixar-se invadir pelas palavras e pelas músicas com que o Rui nos brindou.
Foi boa a homenagem. Singela. Sentida. Forte e intensa. Como acho que o Rui gostaria que fosse...
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domingo, 21 de outubro de 2012
Evocar Rui Serodio um ano depois
É já amanhã que passa um ano sobre a
partida de Rui Serodio, uma ida “sem aviso”, como refere o Jorge Calheiros na
missiva que distribuiu por amigos vários.
A Câmara Municipal de Setúbal
decidiu assinalar a data com um pequeno evento que ocorrerá na Casa da Cultura,
pelas 21h30, em que colaboram o Núcleo de Poesia de Setúbal e amigos do Rui. É uma oportunidade para relembrar o
Rui, a sua música, o seu humor fino e o grande ser humano que sempre foi!
No entanto, a grande homenagem a Rui
Serodio acontecerá em 2013, evento sob o patrocínio da autarquia setubalense,
em que será apresentada a obra Je suis le pianiste – A vida e a música de Rui
Serodio, acompanhada por uma colecção de cinco cd que reúnem as músicas do
compositor, ambos os registos organizados por Jorge Calheiros e que merecerão
um olhar atento, quer pelo que contam, quer pela descoberta que constituirá a
audição das peças de Rui Serodio.
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sábado, 20 de outubro de 2012
Memória: Manuel António Pina (1943-2012)
HOMENAGEM
A MANUEL ANTÓNIO PINA
Uma nuvem carregada de palavras escuras, negra sombra ao cabeçalho do jornal,
Um poeta morreu, palavras secas, o negro do céu num amarelo triste como o
entardecer, pálido,
Quando um poeta morre secam-se fontes, murcham as flores silvestres, e as
outras, calam-se os pássaros,
Carrega-se o céu de chumbo e a alma de tristeza, fogem os anjos, tapam-se as
musas de luto de inverno,
Choram as crianças e não sabem porquê, os velhos sentem-se mais sós, vê-se o
amor pelo fio líquido caído pelo rosto,
Está morto, o poeta, e as suas palavras caminham pelas bocas e arrepiam as
nucas, percorrem-nos os fios de cabelo, até por onde o pensamento as levou,
Cegam-nos o interior ilusório e não nos deixam sonhar, porque quando morre um
poeta, morrem com ele todos os sonhos dos nossos mundos fingidos,
Órfãs, as palavras do poeta recolhem-se ao cunho eterno do vento soprado pelas
bocas com fome das outras palavras que lhe faltaram, ao poeta, escrever,
Baú vazio, repleto de páginas negras, por nelas, o poeta, jamais poder de novo
pousar a sua pena, porque morreu, reflectindo a nossa outra pena, a pesarosa, a
que com ele repousa, da treva a prosa.
José Nobre
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
No estado a que Portugal chegou, é difícil encontrar melhor...
Concordo com Henrique Monteiro na sua crónica "Vamos falar a sério do próximo governo". Com efeito, já basta de falta de habilidade política, de massacre sobre as consciências dos portugueses, de derivas e desnortes, de incompetência na liderança, de avanços e recuos, de soluções impensáveis porque impraticáveis, de demagogia (seja ela oriunda da política, da finança ou de outra área qualquer). Já fizeram terramotos que chegassem. Já desmotivaram e desmoralizaram qb. Há que optar por outra solução porque a presente já não merece que se acredite.
Das várias encenações inventariadas por Henrique Monteiro, a última parece-me também a menos má. Por isso, a transcrevo:
«Remodelação do Governo atual - É, claramente, a minha opção preferida. Melhor ainda se o Presidente da República conseguir um acordo entre os três partidos subscritores da troika para a reforma do Estado (extinção de autarquias, institutos, observatórios e etc.), a relação com as PPP, revisão constitucional e uma política orçamental estruturada naquilo que foi aprovado (2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita). Para isto, apenas basta que saiam do Governo alguns ministros (como Relvas) que são mais problema do que solução, entrando outros com mais peso político. Seria também necessário que o Presidente usasse a sua influência positivamente, que o primeiro-ministro soubesse governar sem impor e que o líder do PS se sentisse à vontade para entrar neste jogo, controlando a deriva demagógica de alguma esquerda do seu partido. Devido a estas exigências de responsabilidade, é provavelmente a solução mais difícil.»
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sábado, 13 de outubro de 2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Entre os avanços e os recuos... e o respeito que merecemos
Avançar e recuar... Avançar e recuar...
Percebo que, como truque de jogo, possa funcionar para ludibriar o adversário. Não entendo que os governantes o andem a fazer com os governados. É certo que os "erros" se devem corrigir; mas não é menos certo que haver Primeiro-Ministro e Ministros que anunciam coisas publicamente, em hora de grande audiência, com as implicações e os pesos conhecidos, para, no(s) dia(s) seguinte(s), retrocederem... ou é trabalho de casa mal feito ou é imaturidade ou é levar o descrédito ao máximo ou é querer gerar instabilidade social ou é banalizar as comunicações oficiais ou é tudo junto. Os governantes não se podem pôr na pele de comentadores nem conjugar os verbos do "achismo"; exige-se-lhes outra responsabilidade e outra forma de sentir que seja para os governados que lhes pagam e que os mantêm lá.
O pior é que esta crise dos "avanços" e "recuos" tende a alastrar a muitas áreas. Veja-se o que aconteceu, por exemplo, com as matérias dos exames do 12º ano!... Não eram necessários mais grãos de areia na engrenagem, não eram!
Tantas coisas que os governantes têm dito e que, depois, desdizem, ainda que sob a forma de "recuo", de "progressão", de...
Esta mania de tornar o sério banal; esta falta de pensar, de sentir os portugueses, de amadurecer, de decidir contando com o número máximo de variantes... tudo tem feito naufragar a confiança ou que resta (ou podia restar) dela!
Somos um povo que, como os outros povos, merece respeito! Só!
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sábado, 6 de outubro de 2012
Bandeira nacional ao contrário, um sinal dos tempos?
Há uns meses, em Lisboa, na Praça dos Restauradores, apareceu um sinal informativo com a indicação "Portugal" escrita de pernas para o ar. Fenómeno estranho aquele!... Ontem, foi a bandeira nacional, pela mão de duas personagens importantes no contexto do país, a ser içada ao contrário.
Não me interessa saber o porquê de tal ter acontecido. Interessa-me a simbologia dos tempos, talvez movida pelo acaso: uma imagem de país e uma "vingança" do que fizeram (ou vão fazer) ao feriado do 5 de Outubro (quando podiam ter sido omitidos, suprimidos ou suspensos outros feriados)!
A propósito: ficam indiferentes quando ouvem os responsáveis por esta supressão a falar da ética republicana e da comemoração do 5 de Outubro no futuro? Que ética é essa?
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sexta-feira, 5 de outubro de 2012
O último feriado de 5 de Outubro?
Um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala a
fundação do seu regime político (quando poderia ter optado por outros feriados)
ou um poder que omite, suprime ou suspende o feriado que assinala o início da independência do país e do povo que governa (quando poderia ter optado por outros feriados) respeita os fundamentos histórico-culturais do país que dirige?
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Dia Mundial dos Professores 2012
“Os professores (…) definem (…)
a nossa capacidade coletiva para inovar, para inventar, para encontrar soluções
rumo ao futuro. Nada substituirá nunca um bom professor. Nada é mais importante
do que apoiá-los.” (Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, mensagem para este
dia)
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quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Do discurso do Ministro das Finanças
O
Ministro das Finanças de Portugal deu hoje conferência de imprensa que ouvi na
rádio. Apreciei o tom académico, técnico, que utilizou. Não duvido da eficácia
deste tipo de discurso perante os seus pares. Não duvido sequer da sua
competência na área. Duvido da sua capacidade política porque, queira-se ou
não, um ministro tem de ser um político também. E, no caso do Ministro das
Finanças, não foram as alusões à liberdade e ao princípio da independência com
que concluiu o seu discurso que salvaram o tom tecnocrático e elaborado (mesmo
com metáforas da economia), nada vocacionado para os contribuintes saberem,
afinal, umas coisas simples: quanto vão ter de pagar mais, o que resolvem estes
aumentos, quais foram os erros cometidos nos princípios que têm vigorado, o que
fica para fazer, por quanto tempo a situação vai ser esta de nos confrontarmos
com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, o
que vai ser feito para não se repetirem eventuais erros, quais as razões que levam a sacrificar a educação, a segurança social e a segurança interna?
Nada
disto foi dito. Nenhum português pode pensar, depois da conferência de
imprensa, na forma como vai gerir a sua casa, a sua família, a sua vida. Nenhum.
Apenas se sabe que é uma carga “enorme” (adjectivo do Ministro), mas isso não
basta para fazer contas nem para se adivinhar em nome de quê. Rematar com a
liberdade, a democracia e a independência é poético, mas não é objectivo. E a
esses remates já o Almada Negreiros respondia no célebre Manifesto anti-Dantas…
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Uma visita ao tempo da Romanização, incluindo passagem por Tróia (aqui, na margem esquerda do Sado)
Um
passeio no quotidiano da Romanização é o que nos propõe o mais recente número
da revista Visão – História (nº 17,
Setembro.2012), saído na semana passada, sujeito ao tema “Portugal no tempo dos
Romanos”.
Por
uma centena de páginas, o leitor tem imagens de reconstituição de espaços e de
cidades, uma introdução que analisa vários vectores desse período histórico
(não faltando uma tabela cronológica) e três partes respectivamente intituladas
“A chegada” (com a sugestiva apresentação “O ‘Portugal’ que os Romanos vieram
encontrar”), “A civilização” (entrando por áreas como a cidade, o campo, a
religião, a economia, o quotidiano, entre outras) e “Os locais” (com visitas a
Conímbriga, Braga – Bracara Augusta –, Chaves, São Cucufate, Algarve e Tróia).
Neste
último grupo, destaque-se o roteiro sobre a história de Tróia, intitulado “A
grande fábrica”, numa alusão ao complexo de produção de salga de peixe que ali
existiu e de que hoje se podem ver os restos, assinado por Inês Vaz Pinto, Ana
Patrícia Magalhães e Patrícia Brum, arqueólogas responsáveis pelas ruínas de
Tróia. Um espaço que mereceu visita régia, que teve o patrocínio da primeira
sociedade arqueológica portuguesa (século XIX) e que tem passado por fases
muito diversas no interesse que lhe é votado!
Dizer que
este é um número indispensável torna-se redundante pois todos os números que
esta revista tem publicado se revestem desse elevado grau de interesse. Podem-se,
no entanto, destacar como motivos determinantes a acessibilidade da linguagem e
a quantidade de informação, bons ingredientes para esta viagem a um tempo
anterior à Nacionalidade de que ainda hoje existem muitas memórias…
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