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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TRINDADE COELHO: CORRESPONDÊNCIA


Numa louvável atitude do Prof. Hirondino Fernandes, foi publicado, como noticiamos AQUI, um conjunto de epistolográfico de José Francisco Trindade Coelho. Serviu este intento para assinalar o centenário do falecimento do ilustre autor mogadourense. Hirondino Fernandes depois da copiosa e abundante biobibliografia de Trindade Coelho publicada no número anterior da Brigantia, também por nós divulgada, retirada da sua Bibliografia do Distrito de Bragança aventurou-se na pesquisa da correspondência do referido autor. Localizou, tratou e publicou 511 cartas, muitas das quais inéditas.

Pesquisou ao longo de mais de um ano nas bibliotecas de Coimbra, onde reside, na Biblioteca Nacional, e conseguiu, com a ajuda de alguns amigos, localizar cartas em diferentes instituições como: a Biblioteca Municipal de Leiria, o Museu de Camilo, o Museu João de Deus, o Arquivo Histórico Municipal de Elvas, entre outros.

Com uma nota a ressalvar tudo isto, não foi só compilar e ou transcrever as cartas, em alguns casos teve que desembolsar quantias significativas para instituições da cultura nacional lhe facultarem o acesso à informação que necessitava. Por outro lado, outras houve que, recebendo as suas solicitações, nunca se dignaram a dar resposta nem a ceder o material solicitado. Infelizmente, uma atitude lamentável mas recorrente de alguns dos nossos responsáveis pelas nossas instituições culturais. Facto este que também contribuiu para o atraso do presente número da revista e que o autor lamenta.

Para quem, como nós, conhece o Prof. Hirondino Fernandes, sabe da paixão que ele nutre pela investigação sobre os autores da sua região e para a particular afeição para a personalidade de Trindade Coelho. Foi esta paixão que o fez chegar ao fim, mesmo com as dificuldades e obstáculos inesperados com que se foi deparando.

Quanto ao trabalho agora publicado, só podemos felicitar o autor. O Prof. Hirondino da Paixão Fernandes começa com uma tábua cronológica que estabelece paralelos entre a vida de Trindade Coelho e a vida nacional, para melhor se compreender algumas das circunstâncias que rodearam o Homem do século XIX. A primeira carta reproduzida data de 5 de Novembro de 1873, contava Trindade Coelho doze anos, mostra as preocupações de um jovem que estudava afastado da família e da terra que conhecia. Uma entre várias cartas intimistas, onde o autor manifesta a sua ligação à família, reflecte os costumes e tradições dos jovens da burguesia rural enviados para as cidades do litoral, a cargo de outros familiares ou amigos, onde eram recebidos durante algum tempo para receberem a educação que se exigia na época. Com curiosas e interessantes referências à vida quotidiana da época (instrumentos/utensílios, hábitos, tradições), por outro lado a grande regularidade na troca de correspondência com o Pai e irmãos.

As primeiras trinta e oito cartas são todas dirigidas ao pai e correspondem ao período em que estuda no colégio de S. Carlos, no Porto. Depois, temos uma primeira carta dirigida a Silva Cordeiro, já em 1883, com várias referências a José Caldas. Seguem-se depois um outro núcleo de cartas trocadas com José Leite de Vasconcelos, com diversas referências à actividade literária e a personalidades da vida cultural do século XIX. Adiante encontra-se outro núcleo de cartas trocadas com Camilo Castelo Branco onde se dão conta de alguns aspectos da vida privada e profissional de Trindade Coelho.
Existe ainda um núcleo de cartas trocadas com António Torres de Carvalho, aquando da permanência de Trindade Coelho em Portalegre.
Encontram-se ainda múltiplas missivas trocadas com diferentes personalidades da época (Luís de Magalhães, Eugénio de Castro, Júlio de Lemos, Paulo Osório, António Correia de Oliveira, entre muitos outros). Através das cartas, relatam-se aspectos mais pessoais, situações particulares, problemas de carácter mais íntimo, como a relação que se estabeleceu entre Trindade Coelho e Louise Ey.
Vale a pena ler com atenção algumas das cartas trocadas entre Trindade Coelho e a feminista alemã, para se compreender como era uma relação de duas pessoas com personalidades diferentes, algo instáveis emocionalmente e que se refugiam na escrita entre si para manter mais ou menos ocultos sentimentos que, hoje, nos parecem tão óbvios. A delicadeza e subtileza destas cartas, as mensagens “afectuosamente intelectuais” (como dizia Trindade Coelho na carta nº 363) trocadas entre ambos, onde ele reconhece “eu vi através das suas cartas o seu coração, - e o meu foi para ele instintivamente” e conclui-se que a paixão entre ambos, foi cada vez mais um problema a atormentar o autor que se sentia crescentemente dividido.

Um trabalho de grande fôlego, resgatando a intimidade do escritor de Mogadouro, mas dando a conhecer facetas e aspectos fundamentais que permitem compreender um pouco melhor a decisão do suicídio em 1908. Como seria importante encontrar outros núcleos de cartas de outros escritores portugueses e conseguir publicá-las, como fez o Prof. Hirondino Fernandes. Com o seu rigor e esforço, para fazer o melhor que sabe e pode, embora cometendo, como qualquer simples mortal, pequenos lapsos que não retiram a importância da obra, antes pelo contrário só enaltecem e mostram a sua perseverança e capacidade de pesquisa. Mais um trabalho de referência sobre Trindade Coelho que se recomenda e se divulga junto de todos os interessados.

O nosso amigo Hirondino Fernandes conseguiu transpor para a via tradicional (suporte em papel) aquilo que hoje seria quase impensável, encontrar alguém que ainda escreva cartas e faça da escrita uma arte que pode ser sempre aperfeiçoada. Infelizmente, nos nossos dias, em especial, os nossos políticos, com a vulgarização da utilização do mail, que raramente é impresso, muita informação se vai perder neste mundo cada vez mais virtual.

Agora que se aproxima o centenário da República, era fundamental conhecer a correspondência trocada entre alguns dos seus principais vultos. Lembramos por exemplo Bernardino Machado, Afonso Costa, António José de Almeida, Manuel de Brito Camacho, Basílio Teles, Estêvão de Vasconcelos, José Relvas, Duarte Leite, Teófilo Braga, entre muitos outros, para se conhecer os meandros do poder, as relações que existiam, as lutas que se travavam, as personalidades, os gostos, a vida privada e a vida pública. Esperemos que alguns investigadores e instituições lancem mão a esta temática, por vezes algo esquecida, mas fundamental, e que nos parece em risco de desaparecer nos nossos dias.

A.A.B.M.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

BRIGANTIA 2009


Por amabilidade do Prof. Hirondino Paixão Fernandes, foi-nos oferecido o vol. XXVIII-XXIX, correspondente a 2008-2009, da revista em epígrafe.

Este número especial, dedicado ao Centenário de Trindade Coelho, resulta de um trabalho aturado e persistente de recolha, pesquisa e inventariação de cartas de Trindade Coelho dirigidas às mais diversas personalidades. Hirondino Fernandes conseguiu reunir mais de meio milhar de cartas (511) deste autor transmontano, entre 1873 e 1908.

Do sumário do presente número da Brigantia, dirigida por Ana Maria Afonso, retira-se o seguinte:
- In Limine, por Ana Maria Afonso;
- Prefácio, por Aníbal Pinto de Castro;
- Entre Quem É (À guisa de Introdução), por Hirondino Fernandes;
- Tábua Cronológica, por Hirondino Fernandes;
- Cartas (organização, leitura e notas), por Hirondino Fernandes;
- Referência das Gravuras, por Hirondino Fernandes;
- Bibliografia, por Hirondino Fernandes;
- A Sete Chaves (À guisa de Nota Final), por Hirondino Fernandes;
- Índices (Assuntos, Prosónimos, Topónimos, Destinatários), por Telmo Verdelho e Hirondino Fernandes

Ao longo de 768 páginas, bastante ilustrado com fotografias das cartas, gravuras da época e das personalidades com quem trocou correspondência.

Sem dúvida a homenagem que José Francisco Trindade Coelho merecia por parte dos seus comprovincianos.

A.A.B.M.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

CENTENÁRIO DE TRINDADE COELHO




A Hemeroteca Digital de Lisboa apresentou o programa evocativo do Centenário da Morte de Trindade Coelho. Assim, avizinham-se mais três conferências de grande interesse para o estudo da personalidade multifacetada de José Francisco Trindade Coelho:

1ª No dia 16 de Outubro, Ernesto Rodrigues, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tratará de Trindade Coelho, Ficcionista.

2ª no dia 28 de Outubro, Luís Bigotte Chorão, do Centro de História da Universidade de Lisboa/CEIS20, abordará o tema de Trindade Coelho, Jurisconsulto.

3ª no dia 30 de Outubro, Alexandre Perafita, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tratará a questão de Trindade Coelho, folclorista.

Para a consulta dos dados completos sobre estas iniciativas deve ler-se mais aqui.

A.A.B.M.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CENTENÁRIO DA MORTE DE TRINDADE COELHO NA HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA




COLÓQUIOS & CONFERÊNCIAS
Trindade Coelho, Vida e Obra Cem Anos Depois (1908-2008) -
Ciclo de Conferências


Mais uma iniciativa importante, para recordar o papel de José Francisco Trindade Coelho, a realizar-se na Hemeroteca Municipal de Lisboa, desta vez através de um conjunto de conferências para analisar e compreender a importância deste escritor no contexto da sua época.

Nesta primeira conferência, o convidado é o jornalista e ilustre homem de letras, António Valdemar, membro da Classe de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, que se propõe analisar e mostrar o papel de Trindade Coelho enquanto personalidade ímpar no exemplo de participação cívica. Envolvendo-se na vida política do seu tempo, a sua acção pedagógica através da publicação de manuais escolares, mesmo a actividade literária e jornalística mostram essa preocupação que iria culminar na sua morte prematura, fruto das incompreensões e do desalento que com cada vez maior frequência o invadiam, conforme se pode constatar na leitura de alguma da sua epistolografia conhecida.


1.ª Conferência: "O Magistério Cívico de Trindade Coelho - No Centenário da
Morte do Escritor e da Publicação do Manual Político do Cidadão Português",
por António Valdemar (Academia das Ciências de Lisboa)

24 Setembro: 18H | Hemeroteca Municipal de Lisboa _ Sala do Espelho

A.A.B.M.

domingo, 31 de agosto de 2008

TRINDADE COELHO


Trindade Coelho: obra jornalística na colecção da Hemeroteca

No Centenário da morte de José Francisco Trindade Coelho (e que no Almanaque Republicano temos dado o devido e merecido relevo) a estimada Hemeroteca Municipal de Lisboa apresenta uma

"mostra bibliográfica que visa evidenciar o que mais marca a produção jornalística do escritor e jurisconsulto, isto é, a sua diversidade e o seu envolvimento com temas ou assuntos que lhe servem de matéria-prima. Inclui, entre outro documentos, as 'Cartas Alentejanas' publicadas no Diário Ilustrado, crónicas de Trindade Coelho publicadas na Revista Ilustrada e no Branco e Negro, contos editados em diversos jornais e revistas, textos jornalísticos sobre a sua actividade como político e jurisconsulto, e o impacto da morte de Trindade Coelho na imprensa da época"

Inauguração: 1 de Setembro. Em exibição até 14 de Outubro.
Local: Átrio e Escadaria da Hemeroteca

J.M.M.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O OCCIDENTE


A Hemeroteca Municipal de Lisboa continua a prestar um excelente serviço à comunidade, agora disponibilizando online a colecção completa da revista O Ocidente, uma das mais importantes revistas que se publicaram em Portugal entre os finais do século XIX e inícios do século XX.

Uma revista ilustrada, com uma imensidade de gravuras e mais tarde fotografias, que mostram um retrato dos acontecimentos em Portugal. Publicou-se entre 1877 e 1914, portanto 37 longos anos, somando 1296 números. Como se pode ler na ficha histórica da publicação, criteriosamente elaborada por Rita Correia:

Outro ponto forte deste projecto era, naturalmente, a qualidade dos seus colaboradores, que tanto brilhavam no campo literário, como no científico ou
técnico. O Occidente é uma revista muito diversificada no que toca a conteúdos, pois no seu horizonte está um amplo espectro de públicos em matéria de interesses, até porque contempla os dois géneros. Não quer isto dizer que trate de assuntos femininos clássicos, como a moda ou os lavoures.
Pelo contrário, a mulher idealizada pel’ O Occidente seria moderna, intelectual,interessada na vida social das altas personalidades, nas artes, na literatura, na história, quiçá por algumas curiosidades científicas e suas aplicações práticas,marcando a marcha do progresso civilizacional. Mas menos por política.


Um óptimo trabalho que pode ser consultado integralmente aqui e que se recomenda a todos os estudiosos e curiosos da História de Portugal, da imprensa e da cultura portuguesa dos finais do século XIX até ao início da República em Portugal.

Mais novidades surgirão em breve neste serviço público que consideramos de grande qualidade, entre elas destacamos a realização de um conjunto de conferências dedicadas a José Francisco Trindade Coelho, cujo centenário da morte passou completamente despercebido pela imprensa e pela comunidade científica, a única excepção que temos conhecimento foi a cerimónia realizada pela Câmara Municipal de Mogadouro, terra de onde era natural Trindade Coelho e um dos escritores portugueses a entrar no esquecimento e umas referências no IX Congresso Associação Internacional de Lusitanistas que decorreu no Funchal entre 4 e 9 de Agosto de 2008.

A.A.B.M.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

LIGA NACIONAL DE INSTRUÇÃO



Esta associação, fundada em 1907, com amplo apoio e dinamizada por importantes figuras da Maçonaria, teve como principais impulsionadores José Francisco Trindade Coelho e Manuel Borges Grainha.

Esta associação tinha a sua sede em Lisboa, mas criou núcleos em diversos pontos do País, tinha como objectivo combater o analfabetismo que existia em Portugal. Criaram-se núcleos nas seguintes localidades: Leiria, S. Martinho do Porto, Peniche, Óbidos, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Alcobaça, Montemor-o-Velho, Figueira da Foz, Alhadas, Quiaios, Covilhã, Viana do Castelo, Aveiro, Soure, Coimbra e Santarém. Para além disso, conseguiu estabelecer-se na colónia portuguesa de Angola (Bié e Benguela).

Organizou ao longo do tempo vários congressos pedagógicos para debater os problemas do ensino em Portugal, como os de 1908, 1909, 1912 e 1914.

Veja-se o que era importante para a Liga Nacional de Instrução em 1908:




Note-se a preocupação com as questões que envolviam o problema do analfabetismo. Por outro lado, procurava-se "elevar o ensino nacional em todos os ramos e criar uma verdadeira educação cívica e social". Entre os ambiciosos fins desta associação encontramos alguns que, passado um século, ainda continuam por realizar, como se pode observar nos vários pontos do artigo 2.

Fica a questão para reflexão: a que distância ficamos de atingir as metas propostas e formuladas pela Liga Nacional de Instrução? Mesmo que cem anos depois tenhamos consciência de que muitas ainda estão por realizar.

A.A.B.M.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

DESTAQUES NA BRIGANTIA


Como já dissemos aqui, e após uma rápida leitura deste volume, três artigos nos suscitam maior interesse. Os dois primeiros sobre a figura de José Francisco Trindade Coelho, a que já fizemos referência aqui, e o terceiro sobre uma polémica entre Guerra Junqueiro e o Padre Sena Freitas.
No artigo de José Maria Cruz Pontes, intitulado Trindade Coelho. Cartas para António Corrêa d'Oliveira dá-se continuidade a um trabalho já iniciado no número anterior e que transcreve a epistolografia de Trindade Coelho para o poeta Corrêa d'Oliveira. Neste artigo analisa-se o conteúdo das cartas trocadas entre ambos e as sugestões que Trindade Coelho realizava ao trabalho do poeta Corrêa d'Oliveira. Concluindo com o paralelelismo entre a vida de ambos os escritores, os problemas pessoais, as dúvidas e sugestões, as questões profissionais e literárias.

Uma artigo muito interessante e fundamental para conhecer melhor as duas personalidades em questão. Reconhecendo o papel de Trindade Coelho ao ter descoberto e protegido Corrêa d'Oliveira durante algum tempo, empenhando-se na sua valorização enquanto poeta. Um trabalho que inclui a publicação de cartas que podem servir para a realização ou avanço de outras investigações, porque a epistolografia é fundamental para estudar a personalidade de alguém e as pesosas com quem se vai relacionando, permitindo descobrir facetas diferentes daquelas que muitas vezes se mostram em público.

De seguida, o vastíssimo e valioso trabalho de investigação e prospecção biobibliográfica realizada pelo professor Hirondino Fernandes, sobre a figura de Trindade Coelho. Este vai ser, em nossa opinião, um trabalho marcante e fundamental para quem quiser estudar a personalidade de Trindade Coelho. Seria mesmo merecedor de uma publicação autónoma, em livro, caso alguma editora o tivesse descoberto atempadamente.

Neste artigo é possível encontrar, se não toda, quase toda a produção literária e jonalística de José Francisco Trindade Coelho. Mais, teve a preocupação de agrupar a produção deste autor por anos e descobriu os diferentes pseudónimos que utilizou ao longo do tempo. Após uma breve nótula biográfica, inicia propriamente a descrever a bibliografia activa com os documentos manuscritos que se encontram no Museu do Abade de Baçal. Parte depois para o levantamento de todos os documentos impressos que foi possível encontrar desde 1878/1879, muitos deles acompanhados de pequenos excertos, que mostram a minúcia da sua pesquisa. Consultou centenas de publicações periódicas e livros, bem como o espaço imenso que a Internet coloca à nossa disposição. Recolheu uma imensa quantidade de informação que agora fica disponível para outros investigadores poderem avançar em novas direcções. Elaborou também uma extensa bibliografia passiva sobre o autor ordenada alfabeticamente. Recolheu ainda uma utilíssima secção intitulada "Ecos da Imprensa" onde se encontram referências extremamente relevantes para os estudiosos de Trindade Coelho e da sua época. Pesquisou também as referências a Trindade Coelho na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Pares. Encontrou ainda referência a uma curta metragem sobre a personalidade em apreço. Finalmente, também não poderia ser esquecida a iconografia, com um conjunto de imagens de Trindade Coelho, algumas delas muito pouco conhecidas que agora ficam a ilustar este valiosíssimo contributo para a cultura portuguesa.

Este artigo que se insere no seu projecto mais vasto de elaborar a Bibliografia do Distrito de Bragança, projecto ambicioso que há algum tempo temos tido oportunidade de vir a acompanhar. As longas décadas de trabalho de investigação e os milhares de páginas já escritas são um património importantíssimo para os transmontanos e, particularmente, para os brigantinos. Façam favor de não o deixar perder!!!
A amizade que começamos a construir nas nossas deambulações pelas bibliotecas, compulsando e recolhendo em jornais e revistas (muitas vezes a desfazer-se entre os dedos), procurando realizar um trabalho que nada nem ninguém recompensa, e, muitas vezes, só com o gozo de conseguir encontrar algo que já se pensava perdido e esquecido por todos. Ele procurando autores do seu distrito e nós pesquisando sobre autores do "Meu Algarve", tentando realizar um projecto semelhante para esta região.

Por fim, permitam-nos destacar o artigo da autoria de Henrique Manuel S. Pereira, intitulado Polémica entre Sena Freitas e Guerra Junqueiro, porque aborda uma polémica sempre presente entre republicanos,livres-pensadores e maçons face aos católicos. Neste caso representados por duas figuras de relevo num e noutro campos, numa polémica pouco conhecida entre o padre José Joaquim de Sena Freitas, que teria celebrado uma missa aquando do falecimento de Émile Littré (1881) onde criticou o seu pensamento ao que Abílio Guerra Junqueiro respondeu com a publicação de uma poesia onde insultava de forma clara o eclesiástico com "Littré e o Padre Sena Freitas" publicado no jornal portuense Folha Nova em Julho de 1881. O autor analisou os ecos na imprensa desta polémica e as suas várias leituras, bem como as referências que encontrou sobre esta questão em diferentes autores ao longo do tempo. Muito interessante para compreender a evolução do pensamento de Guerra Junqueiro e o anticlericalismo de muitos dos autores ligados ao Partido Republicano.

A.A.B.M.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

TRINDADE COELHO (Parte III)



Notas para uma bio-bibliografia de Trindade Coelho.

Obras publicadas:
O Marquês de Pombal. Discurso pronunciado no comício anti-jesuítico no Teatro Académico de Coimbra no dia 7 de Maio de 1882, 1882 [folheto muito raro, com 15 páginas];
Os Meus Amores, 1891;
Toireiros e Toiradas, de António Ferreira Barros, 1896. [Pref.de Trindade Coelho; com retratos]
Liberdade de Imprensa. Proposições apresentadas ao Congresso da União Internacional de Direito Penal, 1897;
Recursos finais em processo criminal: de polícia correccional, correccional e ordinário, 1897;
Campo de flores. Exame da chamada edição autêntica e definitiva, 1897 [Alfredo Carneiro da Cunha com colaboração de Trindade Coelho].
Dezoito Anos em África. Notas e Documentos para a Biografia do Conselheiro José de Almeida, 1898;
ABC do Povo, 1901;
A Minha Candidatura por Mogadouro (Costumes Políticos em Portugal), 1901;
Recursos em Processo Criminal das Decisões Finais e Interlocutórias, 1901;
In Illo Tempore, 1902;
O Primeiro Livro de Leitura (manual escolar), 1903;
Anotações ao Código Penal e à Legislação Penal em vigor, 1903;
Incidentes em Processo Civil, Explanação prática dos artigos 292 a 356 do Código do Processo Civil (seguido de um formulário), 1903;
O Segundo Livro de Leitura (manual escolar), 1904;
Pão Nosso ou Leituras Elementares e Enciclopédicas para uso do Povo, 1904;
O Terceiro Livro de Leitura (manual escolar), 1905;
Manual Político do Cidadão Português, 1906;
Comunicação Dirigida à Maçonaria Portuguesa, 1906;
Carvões (versos), 1907; [por lapso, esta obra era referida nas nossas fontes como sendo de José Francisco Trindade Coelho, quando na realidade era do filho Henrique Trindade Coelho, pelo facto pedimos as nossas desculpas]
Roteiro dos Processo Especiais – Exposição Prática dos Artigos 406º a 776º do Código de Processo Civil, 1907;
Parábola dos Sete Vimes, 1900 [veio a público sem o nome do autor, folheto muito raro];
Primeiras Noções de Educação Cívica, s.d.[?];
Remédio Contra a Usura, s.d. [?];
Cartilha do Povo, s.d.[?];
Elementos de Educação Cívica, s.d. [?];
Terra Mater, [???];
Loas à Cidade de Bragança, para que não entregue o seu mando senão aos seus filhos, s.d. [folheto muito raro deste autor]

Obras póstumas:
Autobiografia e Cartas, pref. De Carolina Michaelis de Vasconcelos, 1910;
O Senhor Sete - Dispersos Folclóricos e de Doutrina Literária, 1961;

Colaborações em periódicos:
[em alguns casos conseguiu-se a indicação do período em que o autor colaborou, noutros apontou-se simplesmente o período de publicação das mesmas quando foi possível determinar]

Actualidades, Artes, ciências e letras, Lisboa, 10-08-1906 a Dezembro de 1907;
A Alvorada, Revista mensal literária e científica, Vila Nova de Famalicão. 16 de março de 1887. [Número de homenagem a Camilo Castelo Branco no dia do seu 61.º aniversário natalício]
Arquivo Literário, Lisboa, Outubro/Novembro de 1922 a Janeiro/Junho de 1928;
A Associação, Lisboa, 1902, [Número comemorativo do XXX aniversário da Associação de Empregados do Comércio de Lisboa];
O Ateneu, Ciências, Artes e Letras, Revista Quinzenal, Portalegre, 15-12-1887 a 15-06-1888;
Aurora do Minho, Ano 2.º, 09-12-1888. N.º 80. Braga.[Número dedicado a António Fogaça]
Beira e Douro. Homenagem a Suas Majestades, Lamego, 15-08-1882.
A Boémia, Revista literária, biográfica e de crítica social, Porto, Outubro de 1901 a Fevereiro de 1902;
Boletim Parlamentar do Distrito de Bragança, Lisboa,
Brasil - Portugal, Revista quinzenal ilustrada, Lisboa, 01-02-1899 a 16-08-1914;
O Campeão, Semanário de literatura, crítica e de sport, Porto, 05-11-1899 a 15-04-1901;
O Comércio do Porto Ilustrado, Porto, 1893 a 1941;
Consagração, Lisboa, Dezembro de 1904[nº único dedicado a Sebastião de Magalhães Lima];
Contemporâneo, Coimbra, dir. Trindade Coelho, 1883-1884.
Correio de Aveiro, Aveiro,
Correio Nacional, Lisboa, 1892-
Correspondência de Portalegre, Portalegre,
Diário Ilustrado, Lisboa, [assegurava a secção “Cartas Alentejanas”, quando estava colocado em Portalegre]
Fraternidade militar, 30-04-1887. Coimbra, 1887 [Número único];
Gazeta Ilustrada, Coimbra, 29-05-1901 a 23-11-1901;
Gazeta de Portalegre, Portalegre [Tradução de “Pescador de Islândia” de Pierre Loti]
Gente Nova, Quinzenário portuense de literatura, sport e teatro, Porto, 08-04-1922 [nº único];
Ilustração Moderna, Revista de literatura e arte, Porto, 01-07-1898 a 30-06-1903;
Ilustração Transmontana, Arquivo pitoresco, literário e científico das terras transmontanas, Porto, Janeiro de 1908 a Dezembro de 1910;
Ilustração Universal, Portugal a Espanha, s.l., s.d.;
O Imparcial de Coimbra, Coimbra, 25-12-1884 [nº dedicado à comemoração do plebiscito literário];
O Instituto, Jornal científico e literário, Coimbra, Abril de 1852 a 1981;
Limiana, História, literatura, etnografia, Viana do Castelo, Julho de 1912 a 1917;
Lisboa Elegante, Música, literatura, teatros, sports, biografias, etc., Lisboa, 01-02-1902 a 20-04-1902;
A Literatura, Revista Quinzenal Literária, Lisboa, 01-08-1891 a 15-10-1891;
Mala da Europa, Lisboa, 8-03-1895, [nº de homenagem a João de Deus];
Mocidade, revista mensal, Lisboa, 01-03-1899 a 02-1905;
Nova Alvorada, Revista mensal literária e científica, Vila Nova de Famalicão, 01-05-1891 a 1903;
O Ocidente, Revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, Lisboa, 01-01-1878 a 10-06-1915;
Panorama Contemporâneo, Coimbra, 01-11-1883[dirigiu esta publicação até ao nº 5, 1-02-1884; utilizou o pseudónimo de Belisário];
A Porta-Férrea, Coimbra, 13-11-1881;
Portugal, Lisboa, [utilizava o pseudónimo Ch. A. Verde]
Portugal-Espanha, Março de 1885 [nº único dedicado às vítimas dos terramotos de Granada e da Andaluzia];
O Progressista, Coimbra, [Trindade Coelho utilizou também o pseudónimo Belisário neste jornal em 1882];
Repórter, Lisboa, 1893-1896 [o Cancioneiro Transmontano foi publicado entre Janeiro a Março de 1893, na secção Ecos, sob o pseudónimo de Ch. A. Hysson];
Revista de Direito e Jurisprudência, onde era secretário de redacção, Lisboa, 1898-1899;
Revista Ilustrada, Lisboa, 1889 [Trindade Coelho colabora a partir de Março de 1892]
Revista Nova, Lisboa, Novembro de 1893 a
O Rosmaninho, revista quinzenal, Porto, 15-04-1900 a 15-08-1900;
A Semana Literária, suplemento ao Correio de Lisboa, Lisboa, 02-04-1893;
Sociedade Futura, Revista quinzenal de arte, Lisboa, 01-05-1902 a 01-03-1904;
A Tradição, Revista mensal de etnografia portuguesa ilustrada, Serpa, Janeiro de 1899 a Junho de 1904 [O Senhor Sete foi publicado parcialmente entre 3-Março de 1900 a Abril de 1901];
Tribuna, Lisboa, 01-01-1899;
Diário de Notícias, Funhal, 1876 - ?[Trindade Coelho colabora entre 1885-1886 ?];

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
CABRAL, Alexandre, Dicionário de Camilo Castelo Branco, Caminho, Lisboa, 1988;
CABRAL, António, Homens e Episódio Inolvidáveis. Cartas Inéditas de Camilo; O Berço de Eça; Páginas de Memórias Políticas, Livraria Bertrand, Lisboa, 1947, p. 117-132.
CAYOLLA, Lourenço, Revivendo o Passado, Imprensa Limitada, Lisboa, 1929, p. 239-261.
CHORÃO, Luís Bigotte, O Periodismo Jurídico Português do Século XIX, col. Temas Portugueses, INCM, Lisboa, 2002, p. 286-287.
DIAS, Augusto da Costa, A Crise da Consciência Pequeno-Burguesa. O Nacionalismo Literário da Geração de 90, Portugália, Lisboa, 1962.
MARQUES, A. H. de Oliveira, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol.I, Editorial Delta, 1986, col. 355.
MONTEIRO, Ofélia Paiva, “Carolina Michaelis e Trindade Coelho. O encontro de dois humanistas poetas”, Revista da Faculdade de Letras Línguas e Literaturas, vol. XVIII, Porto, 2001, p. 49-62 [ Pode ser consultado aqui].
PIRES, Daniel, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do século XX (1900-1940), Grifo, Lisboa, 1996.
RODRIGUES, Ernesto, Mágico Folhetim. Literatura e jornalismo em Portugal, Editorial Notícias, Lisboa, 1998.
SILVA, Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico Português [curiosamente nesta obra clássica da bibliografia portuguesa não existe um verbete sobre este autor, embora se encontrem referências esparsas sobre o mesmo];
VIEIRA, Célia; NOVO,Isabel Rio, Literatura Portuguesa no Mundo, vol. III, Porto Editora, 2005.

A.A.B.M.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

TRINDADE COELHO (Parte II)




Ao longo de toda a sua vida Trindade Coelho vai escrevendo e publicando com regularidade. Conhecem-se alguns pseudónimos por si utilizados nos diferentes periódicos onde colaborou, entre os quais: Cojo Elhose, Belisário, Ch. A. Hysson, entre outros.
No início da sua vida literária enviou um manuscrito à Associação de Jornalistas de Lisboa que acabaria por ser premiado, o que lhe abriu alguns caminhos no desenvolvimento da sua vida jornalística e literária durante o século XIX.

A sua obra-prima, Os Meus Amores, foi publicada em 1891. O segundo livro mais conhecido, In Illo Tempore, uma espécie de livro de memórias da vida estudantil de Coimbra, sai em 1902. Dedica parte importante da sua obra à produção de opúsculos de carácter jurídico, doutrinário, cívico e pedagógico. A educação do povo merece-lhe uma série de folhetos. Em 1902 escreve uma Autobiografia, dedicada a uma amiga de Hamburgo, Louise Ey. Este texto dá-nos pistas para a compreensão tanto da sua vida como do seu carácter e também da sua obra. Só seria publicada em livro em 1910, num volume que incluía também alguma epistolografia, mas passaria a integrar Os Meus Amores a partir da 9ª edição.

Trindade Coelho pertence ao grupo de cultores do chamado conto rústico, com alguma tradição na literatura portuguesa do séc. XIX e ainda no séc. XX. O seu protótipo em Portugal é O Pároco da Aldeia, de Alexandre Herculano. A defesa da matriz rural do nosso país, que se opõe, em parte, aos excessos do positivismo filosófico, idealizando a vida tranquila do campo como alternativa à vida desumana das grandes cidades. Segundo se conseguiu apurar o seu autor favorito era Pierre Loti (1850-1923), autor francês que traduziu para a Gazeta de Portalegre.

O seu livro mais conhecido, Os Meus Amores, é daquelas obras que continua a editar-se e a ler-se, mesmo nos nossos dias. Consta de uma colectânea de contos que marcaram a Literatura Portuguesa. Trata-se de um conjunto de quadros descritos de forma simples e acessível a todos. Alguns textos marcam pela emoção com que o autor os descreve, o que induz facilmente a empatia do leitor.

Nos escritos de Trindade Coelho encontram-se diversas referências à sua região e às terras onde cresceu. Em A Minha Candidatura por Mogadouro (Costumes Políticos em Portugal), onde recorda a tentativa do ministro da Justiça para o convencer a aceitar ser deputado por Portalegre.
Num dos seus Folhetos para o Povo intitulado Loas à cidade de Bragança, para que não dê o seu mando senão aos seus filhos, exortando esta cidade a que não se submeta a Vila Real. Trindade Coelho coloca-se do lado dos que defendiam no Jornal de Mirandela, de 10 de Novembro de 1900, que em Bragança se deve fazer política «com os seus vizinhos (vizinhos da porta: o contrário de vila-realenses) e nunca com os adventícios [inimigos da sua terra] (os tais marinheiros do couraçado Aléu)», numa referência a Teixeira de Sousa que era natural de Vila Real.

Pertenceu à Maçonaria, tendo sido iniciado em 1906, pertenceu à loja Solidariedade de Lisboa com o nome simbólico de Renovador.

Lourenço Cayola, que com ele conviveu e trocou algumas cartas, descrevia-o da seguinte forma: De estatura um pouco baixa, peito largo, cara redonda, bigode farto, olhos muito luminosos, mas com o brilho embaciado pelo uso constante da luneta e uma voz de trovão, a primeira impressão que se colhia ao fitá-lo, não era das mais agradáveis. Trocadas porém com ele algumas palavras essa impressão desvanecia-se e substituía-a uma outra inteiramente diferente.

Por seu lado, António Cabral recorda: Veio o ano terrível de 1907. O ministério presidido por João Franco tinha entrado, para desgraça do País, em aberta ditadura, tão estéril como violenta, a que pôs termo o assassínio vil do grande rei D. Carlos e do malogrado Príncipe Real, D. Luís. Em 21 de Novembro desse ano de 1907, foi publicado o decreto que sujeitava os processados políticos à alçada do juiz criminal, para serem julgados pela lei de 13 de Fevereiro de 1896, contra os anarquistas – a lei celerada, como lhe chamavam os avançados.
Trindade Coelho não se conformou com esta determinação governativa. Para não ter que a aplicar, como agente do Ministério Público, pediu a demissão do seu cargo, sem olhar a interesses pessoais, sem considerar que o seu lar ficava sem o pão de todos os dias. Confiava, o pobre ingénuo, em que lhe viria a ser dada a devida reparação …Sempre fantasista e crédulo! … Nunca lha deram.


Num domingo, pelas cinco horas da tarde, no quarto andar do nº 20 da Rua de S. Roque, em Lisboa, Trindade Coelho suicidou-se com um tiro de revólver no coração. Aos 47 anos desaparecia um dos grandes valores da literatura portuguesa dos finais do século XIX que ainda hoje permanece algo esquecido.

Porque não recordar Trindade Coelho no centenário da sua morte que se assinala no próximo ano de forma condigna, ou na sua terra natal (Mogadouro) ou com iniciativas dos Departamentos/ de Literatura das Universidades Portuguesas?
Sabemos que está em preparação um estudo do Prof. Hirondino Fernandes sobre Trindade Coelho, onde se publicará alguma correspondência do escritor acompanhada de importantes apontamentos bio-bibliográficos, na senda do trabalho que este investigador apaixonado pelos autores do distrito de Bragança tem vindo a desenvolver ao longo de décadas. Ficamos à espera de outras novidades neste domínio.

[a continuar]

A.A.B.M.

J. F. TRINDADE COELHO


J. F. Trindade Coelho

"Nasci num atoleiro e hei-de morrer nele! Portugal é um país perdido, miseravelmente abandonado pelos seus filhos, à espera talvez de morrer (...)

Desde que regressei ainda não acendi a luz do meu gabinete, e procuro matar o tempo a ler algum romance todo ou … a dormir. Isto há-de passar, pouco a pouco. Já estive muito pior, e revivi. Mas estou muito doente, e apoderou-se de mim uma descrença absoluta! Nem no trabalho confio já. E não podendo, por temperamento, converter-me num pulha, tendo de aceitar que sou um condenado, à mercê dos maus … Isto é deles, dos maus! Não vale a pena trabalhar por ideais irrealizáveis! Só uma causa estranha poderá inaugurar uma era de redenção – mas nem esse fenómeno surgirá
"

[Trindade Coelho, in Autobiografia e Cartas, 1910]

J.M.M.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

TRINDADE COELHO (Parte I)



José Francisco Trindade Coelho nasceu em 18 de Junho de 1861, em Mogadouro. Seu pai, João Trindade,pequeno comerciante, tinha uma loja que ficava junto ao Convento de São Francisco.

José frequenta a escola régia de Mogadouro, em 1868, e prosseguiu no ano seguinte em Travanca, aldeia do mesmo concelho, a cerca de 15 km da sede, com o professor régio, em cuja casa se hospedou, juntamente com o irmão Abílio, também estudante. A morte da mãe, aos seis anos, entretanto ocorrida, obrigou ao regresso dos dois irmãos a Mogadouro, onde frequentam então as aulas de latim.
Em 1873, Trindade Coelho parte para o Porto prosseguindo os estudos, no Colégio São Carlos, que ficava na Rua Fernandes Tomás. Foi um estudante algo rebelde. No Porto viu pela primeira vez um artigo seu “Cepticismo” impresso num jornal, o que constituiu a sua iniciação na actividade jornalística, que exercerá intensamente pela vida fora. É também no Porto que escreve os primeiros trabalhos de índole propriamente literária: os contos “O Enjeitado”, e “Trovoada”.

Em 1880 encontramo-lo em Coimbra a estudar Direito. Mas logo nesse primeiro ano se entrega à sua paixão pelo jornalismo, colaborando em diversos jornais e inclusivamente fundando outros, e à boémia estudantil, de tal modo que não conseguiu passar de ano. Em Coimbra, começou a assinar trabalhos jornalísticos com o apelido do pai, Trindade. Este facto levou o pai a cortar-lhe a mesada no ano seguinte, pelo que teve de assegurar a sua subsistência com a pena. No 4º ano, já casado e com um filho, morre-lhe o pai, que era o único amparo de que dispunha. A vida corre com grandes dificuldades, que pouco se alteram quando, por influência directa de Camilo Castelo Branco, que intercede junto de Lopo Vaz de Sampaio e Melo, e é feito delegado do procurador régio no Sabugal. Conclui o curso em 1885.
De facto, a penúria de recursos acompanhá-lo-á até ao termo dos seus dias, constituindo uma causa de amargura que poderá ter tido também o seu peso no desfecho final.

De Sabugal passa a Portalegre, e daí a Ovar, acumulando experiência e conhecimento dos homens e, ao mesmo tempo, um sentimento de repulsa pelas injustiças e pelos golpes de baixa política que ia testemunhando e dos quais procurava manter-se afastado, por imperativo ético, já que procurou sempre ser um magistrado íntegro e apostado em repor a justiça onde ela não tivesse sido feita.
Tornou-se um jurista com alguma reputação e participou na elaboração do texto da Lei de 21 de Julho de 1899, que reprimia o anarquismo. Foi ainda responsável pela redacção do Regulamento do Ministério Público.
O próximo passo da sua carreira foi o lugar que ele próprio classifica de antipático de velar pelo cumprimento da chamada Lei das Rolhas, imposta à imprensa na sequência do Ultimato Inglês. Colocado em Lisboa desde 1889, passa por um tribunal fiscal; transita por África de forma breve, sendo depois transferido para Sintra; e finalmente, em Novembro de 1895, é colocado como delegado do procurador régio da 3ª Vara do 2º Distrito de Lisboa, cargo de que pede a demissão em 1907 [ou de que foi demitido ???], durante a ditadura de João Franco, voltando a sentir por esse facto grandes dificuldades económicas, que precipitaram a sua morte.

Apesar de ser “alegre como uma romaria e pequenino mas tesinho”, no dizer de Eugénio de Castro, Trindade Coelho era sujeito a ataques de neurastenia que o fragilizavam. A sua desilusão com a política e com a justiça, bem como o espectro da pobreza sua e dos seus (mulher e filho), amarguram-no. Foi na sequência de um desses momentos de desespero que se suicidou em Lisboa, em 9 de Agosto de 1908.

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A.A.B.M.