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sexta-feira, 8 de abril de 2016

"REALIZAÇÕES E UTOPIAS: PATRIMÓNIO CULTURAL E ARTÍSTICO DAS CALDAS DE MONCHIQUE NA CENOGRAFIA DA PAISAGEM TERMAL" E APRESENTAÇÃO DA PROMONTÓRIA MONOGRÁFICA, Nº2 - MONCHIQUE

Realiza-se no próximo sabado, dia 9 de Abril de 2016, em Monchique, pelas 15 horas, a apresentação do livro "Realizações e Utopias: património cultural e artístico das Caldas de Monchique na cenografia da paisagem termal", da autoria de Ana Maria Lourenço Pinto, publicado pela Fundação Oriente.

Pode ler-se na nota de divulgação do evento:
As Caldas de Monchique encerram uma paisagem única na região algarvia, com uma estreita relação entre o património natural e edificado. 
A sua água termal tem sido utilizada desde há pelo menos dois mil anos, numa história vasta e rica em projectos de edifícios e obras de arte, realizados em contextos muito diferentes. Por outro lado, são também revelados neste trabalho outros tantos projectos que não chegaram a concretizar-se, constituindo as utopias de importantes arquitectos e artistas para este cenário, até à atualidade. 
O livro, agora editado pela Fundação Oriente, constitui a publicação da tese de mestrado de Ana Lourenço Pinto em Arte, Património e Teoria do Restauro, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e conta com os apoios da Direção Regional de Cultura do Algarve, Município e Junta de Freguesia de Monchique.
Através do estudo do património das Caldas de Monchique, a autora, com raízes familiares em Monchique, propõe uma estratégia de dinamização do potencial cultural e paisagístico deste destino turístico de Saúde e Bem-Estar.



O segundo número da revista Promontoria Monográfica, da série dedicada à história da região algarvia, intitula-se “Fragmentos para a História do Turismo no Algarve”, e é coordenado por Alexandra Gonçalves, diretora regional da Cultura, António Paulo Oliveira, docente da Universidade do Algarve, e Cristina Fé Santos, mestre em História da Arte pela mesma Universidade.
Podem encontrar-se os contributos de vários autores, através de áreas do saber tão distintas como a cultura, museologia, história, saúde, arqueologia, imprensa e economia, e em que se inserem dois artigos dedicados a Monchique.
A Promontoria é editada pelo Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (CEPAC) da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, tendo como objetivo principal a divulgação de trabalhos de investigação nesta área, cujo âmbito geográfico se centre no sudoeste peninsular.

Relembramos o índice do presente número da revista Promontória Monográfica:

Índice
Cultura e turismo
Vitor Neto
A experiência turística e os museus a Sul
Alexandra Gonçalves
Portimão - O Desafio Museológico Entre Turismo e Património
José Gameiro I Ana Ramos
Património Arqueológico e Turismo na Região Algarvia
João Pedro Bernardes I António Faustino Carvalho
A institucionalização do Turismo - Contributos para o estudo dos primórdios do Turismo no Algarve
Artur Barracosa Mendonça
A primeira acção de propaganda externa do Algarve - A visita dos jornalistas ingleses em 1913
Luís Guerreiro
O Algarve e o turismo da região na «Revista de Turismo» (1916-1924)
Miguel Godinho
Contributo para o estudo do Turismo de Saúde no Algarve
Cristina Fé Santos
O Património Histórico-Artístico das Caldas de Monchique na valorização
do destino turístico algarvio

Ana Lourenço Pinto
Os primeiros Operadores Turísticos no Algarve
Alberto Strazzera
O turismo balnear em Albufeira: Uma história recente
Patrícia Batista
As vias de comunicação terrestres no Algarve e a sua evolução nos últimos 170 anos
Aurélio Nuno Cabrita
Estrada da Fóia - Da vila ao coropito
José Gonçalo Duarte
O aeroporto de Faro como infraestrutura principal do desenvolvimento
turístico da região

António Correia Mendes
O Turismo como fator de Crescimento Regional: a noção de “BeachDisease”
João Romão I João Guerreiro I Paulo M. M. Rodrigues

A acompanhar com toda a atenção.

A.A.B.M.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O CONGRESSO REGIONAL ALGARVIO DE 1915 E OS SEUS REFLEXOS NO CONCELHO DE MONCHIQUE (I)


Com a devida autorização do autor, trazemos hoje o artigo de José Rosa Sampaio, no Jornal de Monchique, datado de 12 de Outubro de 2015, acerca de uma temática que várias vezes temos aqui abordado desde o passado mês de Agosto. Neste caso sobre as incidências do Congresso Regional Algarvio de 1915 e o seu impacto no concelho serrano de Monchique.

Fez 100 anos no dia 3 de Setembro de 2015 que teve início na Praia da Rocha o 1.º Congresso Regional Algarvio, um importante acontecimento que iria impulsionar o turismo no Algarve.

Recuando no tempo lembramos que o concelho de Monchique esteve desde cedo na vanguarda do turismo algarvio, oferecendo como atractivos as suas riquezas naturais e monumentais, as termas das Caldas de Monchique, da Malhada Quente e da Fornalha, a sua serra com os afamados picos da Fóia e da Picota, o Barranco dos Pisões, as suas aldeias típicas, os seus inúmeros miradouros, as cascatas, as suas quintas que acolhiam veraneantes vindo de fora, os seus produtos agrícolas e artesanais e a sua rica gastronomia.

Enaltecido nas suas belezas naturais pelos inúmeros viajantes que aqui afluíram nos séculos XVIII e XIX, foi sucessivamente esquecido pelas estâncias governamentais, incluindo os três sítios termais, que também nunca foram suficientemente aproveitados.

Todavia, já no início do século XVII, Henrique Fernandes Serrão enaltecia este rincão de Silves, recordando que aqui «veio muitas vezes el-rei D. Sebastião, e lhe chamou Nova Cintra (…)», afirmando que «por ser de tanta frescura, muitos homens nobres vão no verão folgar e tomar seus passatempos a este lugar».

No início do século XIX, o militar George Landmann aclamava o Banho e os seus arredores: «Os banhos de Monchique tornaram-se agora passeio da moda que atrai muitos visitantes, sem contar os que ali vão por necessidade, de maneira que na temporada dos banhos a sociedade é naquela estância numerosa e muito agradável. Os que residem dentro do estabelecimento obedecem a um regulamento que proíbe os ruídos e obriga a entrada à noite a hora certa, mas nos outeiros arborizados que cercam os banhos, há algumas casas de campo que podem alugar-se no todo ou em parte, a menos que se pretenda estar mais próximo dos banhos. Os passeios nos arredores têm muito encanto para os admiradores dos sítios montanhosos e incultos; todas as tardes grupos de banhistas e dos seus amigos se reúnem nos lugares mais sombrios dos flancos da montanha e aí se regalam com frutas e refrescos e quando o sol deixa de lançar os seus raios ardentes por todo este vale feliz, as desfalecidas cordas da guitarra distante, como de harpa eólica, ora se ouvem, ora se perdem nos ecos dos vales, depois de novo as ouvimos com maior intensidade, confundidas com tristes cantos como se viessem a aproximar-se, até que os sons se esvaecem ou são dispersos pela branda brisa, que sopra dos outeiros vizinhos e como estes sons morrem ao longo do profundo vale que corre lá em baixo, os murmúrios distantes dos riachos que se despenham em cascatas fazem-se ouvir e embalam o espírito dos estrangeiros numa esquisita e agradável melodia. Assim no meio destas fantásticas cenas, os cuidados do mundo suspendem as suas doridas pulsações e por um tempo nós ficamos libertos das penas da vida, mas ai de nós, cedo somos chamados pelo toque das ave-marias, anunciando a hora das orações da tarde».

Em Maio de 1864 estavam em andamento os estudos para a construção da nova estrada entre Portimão e Monchique e pedia-se que ela entroncasse com a que estava em construção entre Lagos e Portimão.

Como se sabe, o Algarve só muito tarde despertou para o fenómeno do turismo, sobretudo devido ao eterno problema das vias de comunicação, que faziam com que esta província fosse intransponível e se parecesse com uma ilha.

Manuel Teixeira Gomes, no seu Carnaval Literário lembra a «viagem aventurosa», que por volta de 1870 se fazia de Lisboa a Portimão: comboio até Beja; diligência de Beja a Mértola; descida do Guadiana em vapor até Vila Real de Santo António; e novamente diligência até Portimão.
A ponte sobre o Rio Arade só seria inaugurada em 1872, ano que as comunicações ficaram mais facilitadas.

O Casino das Caldas aparece pela primeira vez na época balnear de 1873, com o Dr. Francisco Lazaro Cortes na direcção do Banho, altura em que a imprensa anunciava uma nova era para a estância termal, agora com estrada a partir de Portimão, a nova hospedaria, serviço médico permanente, melhoramentos higiénicos, e salão de recreio com música, bilhar e outros jogos e distracções.

Acompanhando a estância termal das Caldas estava a Praia da Rocha, onde se realizavam algumas iniciativas pioneiras de empreendedores locais como a construção do primeiro casino que aqui abriu e é detectável em Março de 1874, o Casino da Praia do Vau e também o Hotel Viola, que abriria no ano de 1903, pela mão do «conhecido hospedeiro das Caldas de Monchique».

Entretanto, a estrada tinha recebido um tapete a macadame, que chegaria às Caldas em 1877, e a Monchique no ano seguinte, tendo ficado como mais um dos milagres do Fontismo, recebendo a designação de Estrada Distrital n.º 76. Esta importante ligação permitiu aos monchiquenses ver pela primeira vez as ricas seges e depois os primeiros automóveis dos fidalgos e burgueses ricos, que aqui vinham veranear e embevecer-se dos ares da serra.

Nesse tempo as belas paisagens do concelho eram motivo dos clichés de alguns fotógrafos. Em Fevereiro de 1979 o concelho recebeu a distinta fotógrafa eborense, D. Maria Eugénia Reya de Campos, que aqui captou alguns belos clichés. Também o monchiquense Francisco Águas Serra Júnior captava no início do século «primorosas fotografias» (postais), que eram vendidas a 300 réis.
Joaquim Ferreira Moutinho fala em 1890 da necessidade de uma via-férrea que levasse os turistas e visitantes até às termas das Caldas. E acrescenta que «A estação do caminho-de-ferro denominada de “Monchique” estava edificada numa montanha completamente deserta, a cinco ou seis léguas distante desta vila, sem estrada que as ligue».

Também o escritor naturalista Júlio Lourenço Pinto, que aqui esteve durante a preparação do seu livro O Algarve (1894) subiu à Fóia guiado por um burriqueiro e montado no «espinhaço traiçoeiro» de um burro, que descreveu como tendo uma «aparência humilde e bonacheirona».

Um atractivo promocional de peso deu-se a 13 de Outubro de 1897, quando a vila foi honrada com a visita do rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, que depois do almoço em casa do comendador José Joaquim Águas subiram à Fóia a cavalo, pelo itinerário do Barranco dos Pisões.

Alguns postais fotográficos do princípio do século XX imortalizam algumas dessas burricadas junto ao marco geodésico da Fóia. Noutros postais estão presentes locais aprazíveis como a Cascata do Penedo do Buraco, a «Avenida do Pé da Cruz», a estrada de Sabóia, o Barranco dos Pisões, o Convento, a estrada da Fóia, as Caldas de Monchique, etc.

Com a inauguração da «Estação de Portimão», no actual apeadeiro de Ferragudo-Parchal, a 15 de Fevereiro de 1903, as viagens para Monchique seriam bastante encurtadas e menos cansativas para os monchiquense que viajavam, ou para turistas que aqui afluíam.

João Arruda visitou o concelho no primeiro decénio do século passado, tendo-nos legado um interessante fresco no seu livro de viagens, onde fala da abundante oferta hoteleira, que o levou a hesitar na escolha, quando visitou as Caldas em 1906, facto que ele aponta no seu livro de viagens. E adianta: «A permanência em Monchique, obriga a uma ascensão à Fóia. É indispensável, porém, aparelhar os burros que não estão ali à mão de semear. Há o “Russo” do Ti Manel da Jaquenita, o burrinho preto, esperto d’orelha, que o Zé Piscalho mercou na feira de Loulé, a jumenta branca da comadre Mari Formiga… Basta! Não é preciso mais nenhum desses filósofos que Victor Hugo considerou mais sábios que Platão e George Sande asseverava terem mais raciocínio que uma academia. Lá vamos subindo a montanha ao chuto dos asnos, que a solicitude de seus donos ataviou em grande gala: sobre o albardão esbeiçado, (…) branqueja o lençol com iniciais em ramalhete, a linha vermelha; rescende a pêro camoez porque foi agora tirado do grande arcaz de sicupira onde se guarda o bragal caseiro».

Ainda no mesmo ano de 1906 João Bentes Castel-Branco escreve que «A abundância e variedade de vegetação mantida por numerosas fontes de água cristalina, e o acidentado dos terrenos polvilhados de acanhadas casas onde residem os pequenos cultivadores faz de todo o concelho de Monchique, como um bocado da Suíça, igualmente digno de ser visitado e admirado nos seus múltiplos pontos de vista que encantam, umas vezes pelo pitoresco, outras pela extensão do horizonte».

A Sociedade de Propaganda de Portugal seria criada também no ano de 1906 e desde o seu início tomou em mãos iniciativas como a criação de postos meteorológicos, a promoção do turismo nacional e estrangeiro, o incentivo à construção de unidades hoteleiras e estruturas de divertimento, e a valorização e a divulgação dos monumentos e sítios de maior interesse.

Por esse tempo, o barítono portimonense Alfredo Mascarenhas fazia furor nos jornais. «Depois de cantar no Cairo, passou para Alexandria onde cantou os Palhaços, a Boémia e a Ébria, seguindo depois para Atenas, para cantar uma ópera nova de um canto grego». No prosseguimento da sua carreira a sua presença seria habitual na Praia da Rocha, onde actuou várias vezes no casino, a partir de 1913.

O cientista alemão Erich Kaiser, que aqui esteve a estudar as rochas do maciço, em 1907, referiu-se na sua obra à «boa estrada para Monchique» e também ao serviço postal «bastante bom», para além dos elogios às acomodações existentes nas Caldas.

Gérard de Beauregard e Louis de Fouchier, dois viajantes franceses que estiveram em Portugal antes de 1908, deixaram no seu livro algumas impressões interessantes sobre o concelho: «Monchique é um sítio admirável e centro muito próprio de vilegiatura e excursões e tem nascentes termais eminentemente curativas, cujo acesso deveria ser facilitado no interesse de todos».

Um pouco pela mesma altura, Victor Moigénie diz que o melhor hotel do Algarve se encontrava nas Caldas de Monchique, acentuando que era um «óptimo hotel».

Com a implantação da República os atractivos do concelho tornaram-se apetecidos pela burguesia republicana, como vemos na imprensa: «Tem estado animadíssima a época deste ano nas Caldas de Monchique, continuando todos os dias a chegar forasteiros. Prepara-se nas mesmas Caldas lindíssimas festas».

Com o aproximar da época estival de 1912, «nas estações de turismo que se estabeleceram pelo país», seria autorizada «a liberdade do jogo», sobretudo no casino das Caldas de Monchique e nos casinos da Praia da Rocha e Praia do Vau.

Algumas burricadas à Fóia ficaram famosas por envolverem pessoas distintas, geralmente participantes em visitas oficiais, ou políticos em campanha, que assim ficavam a conhecer melhor o concelho.

Foi assim que em Março de 1913 subiram ao alto da serra os membros da Sociedade de Propaganda de Portugal, que também estiveram noutros locais aprazíveis, como o convento dos Franciscanos e o Penedo do Buraco. Ainda no mesmo ano, a convite desta mesma agremiação tinham estado em Monchique 25 jornalistas britânicos.
CONTINUA

O nosso agradecimento pela autorização na utilização do texto. O mesmo artigo pode ser encontrado no jornal supra referido AQUI.

A.A.B.M.

domingo, 3 de outubro de 2010

CENTENÁRIO DA REPÚBLICA EM MONCHIQUE



Vai ser apresentado, em Monchique, no próximo dia 5, a obra de José Rosa Sampaio intituada Monchique na Primeira República, a par da inauguração da exposição Monchique Republicano.

Uma actividade a acompanhar com toda a atenção.
A.A.B.M.