EXPOSIÇÃO “Escritores. Memórias e Olhares” – Fernando Bento
DIAS: 8
de Novembro de 2019 a 2 de Fevereiro de 2020;
LOCAL: Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz ;
ORGANIZAÇÃO: CMFF | CAE | Apoio da APE ! Antena 1
► “ … Estes rostos de escritores, propostos por Fernando Bento, suscitam um encadear
de ideias e até um eternizar de memórias. Por detrás de uma fisionomia humana
há sempre uma história e uma memória. Se pensarmos assim, percebemos que o fotógrafo
de que falamos não se limita a fixar e a reproduzir imagens. Ele capta, para além
da máscara, a expressão dos gestos, revelando sentimentos e identificando emoções.
No visor da sua máquina escolhe o melhor ângulo, enquadra, surpreende a autenticidade
e só depois dispara. Resultado final: verdadeiras fotografias com alma, cunho
pessoal e aquele rebeldismo a que já nos habituámos a admirar.
Escolher 25 fotografias, entre largas centenas de imagens, não foi fácil
[…] Nesta viagem onde o passado e o presente transportam memórias para o futuro,
estes Escritores - grandes referências da portugalidade - constituem uma importante
afirmação da nossa identidade cultural […]
[Luís Machado – O Curador & secretário-geral da APE - in Fotografar com Alma (do Catálogo da Exposição) ]
► “A exposição de Fernando Bento no Centro de Artes e Espetáculos da
Figueira da Foz integra uma serie de retratos de escritores portugueses contemporâneos
da segunda metade do século vinte. A força e a irradiação das imagens, que resultam
da sagacidade do olhar, do poder de análise e de síntese, transpõem o circunstancial
imediato e mobilizam a nossa atenção.
Apesar de algumas ausências, não faltam personalidades de referência. A exposição
fica, portanto, circunscrita ao trabalho realizado para a Associação Portuguesa
de Escritores, desde 1995 e ao percurso de Fernando Bento, iniciado nos anos 80,
concretamente, após janeiro de 1988 quando adquire a carteira profissional de jornalista.
É a partir de então - e estando na posse de uma formação em técnicas fotográficas
da imagem e no conhecimento estético da obra de pintores, escultores, ceramistas
e cartunistas de gerações tão diversas - que se afirma com visibilidade crescente
o fotógrafo e o editor fotográfico, Em 30 anos de ofício exercido em tempo inteiro
predomina, contudo, o repórter.
[…] A presença do repórter ganhou projeção em realizações promovidas pela
Associação Portuguesa de Escritores. Alguns exemplos: o ciclo Herculano 200 anos
depois; as comemorações dos 150 anos do nascimento de Raúl Brandão; a evocação
de Aquilino Ribeiro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, E neste contexto
o levantamento fotográfico dos cafés lendários e de outros locais relacionados
com a vida e a obra de Aquilino nos dois exílios políticos, em Paris - um, no
final da Monarquia; outro, na luta contra a ditadura militar que levou Salazar
ao poder,
Destacam-se, entretanto, as sucessivas reportagens de Fernando Bento das
tertúlias organizadas por Luís Machado no Café Martinho da Arcada, com a participação
das maiores figuras literárias, artísticas e políticas. Tudo isto poderia ter ficado
perdido na efeméridade das palavras e no acaso dos gestos e das atitudes. Mas restam
dessas sessões memoráveis, a gravação das intervenções e o registo das imagens que
permitem reconstituir testemunhos inéditos e revelações inesperadas para a clarificação
de equívocos e para a reposição da história.
Felizmente, perduram nesta exposição de Fernando Bento e também nos livros
de Luís Machado "Conversas à Quinta-Feira" e "Rostos da Portugalidade".
Assim como os diálogos inseridos noutro livro de referência: "Amália, Confissões
em Noite de Primavera".
Fernando Bento também fica ligado aos tratamentos de imagem do universo de
Fernando Pessoa para exposição permanente no Martinho da Arcada. Outro trabalho
que demonstrou os seus recursos técnicos assinala-se em "Ministros do Reino
à Administração Interna" que inclui governantes desde 1834 até à atualidade,
para a exposição, na sede do Ministério da Administração Interna e, depois, repetida
nos Governos Civis de todo o país.
Tem como curador Luís Machado, esta exposição constituída por mais de vinte
"memórias e olhares" a preto e branco, selecionadas de reportagens das
atribuições de prémios literários, de festivais de poesia e outras homenagens que
decorreram em Lisboa, em Tróia e na Figueira da Foz. Uma das singularidades da
exposição reside essencialmente no facto de Fernando Bento, sem procurar efeitos
sofisticados, ter captado em flagrante - com o faro visceral do repórter - personalidades
tão diversificadas, na sua autenticidade humana e na evidência da sua relação
quotidiana.
Os olhos e a intuição do repórter Fernando Bento - já consagrado a nível nacional
e internacional - fixaram os rostos, as mãos, o perfil de figuras conhecidas de
todos nós e que, na poesia, na ficção, no ensaio, aprofundaram e de modos tão diferentes,
a paixão e os sonhos, as ambições e os terrores que denunciam o tempo em que viveram.
Fernando Bento teve a capacidade de surpreender em cada rosto, o que existe para
além das aparências.
António Valdemar - in Memórias e Olhares (do Catálogo da Exposição)
J.M.M.