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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

LUÍS DE MELO E ATAÍDE (1863 – 1925) - NOTA BREVE


Luís de Melo e Ataíde nasce em Lisboa a 29 de Agosto de 1863. Assentou praça em 24 de Novembro de 1878 (tinha 15 anos), no Regimento de Infantaria 16, tendo sido promovido a alferes a 26 de Dezembro de 1895, a tenente em 22 de Junho de 1900 [in Revista Militar, 1925, Julho-Agosto, nº 7-8], terminando a sua “veneranda” figura no exército português como coronel [ibidem; ver, ainda, jornal A Luz, Junho de 1925]. Serviu na Secretaria da Guerra, comandou tropas e teve a seu cargo, já no fim da carreira, o comando do Regimento de Infantaria da Reserva nº 16. Passou à reserva em 1923.

Luís de Melo e Ataíde tinha uma sólida cultura literária e militar. Porém, não cursou, “por circunstâncias independentes da sua vontade” [ibidem], a Escola do Exército, e só mais tarde frequentou com aproveitamento o Curso Superior de Letras. A sua colaboração periodística é curiosa: foi proprietário e redactor do jornal Marte; teve colaboração no Diário Popular (de Mariano de Carvalho), no jornal Tempo (de Dias Ferreira), no Diário Popular (de Mariano Presado); foi o director do importante periódico maçónico A Luz [1918-1928; editado pelo Grémio Luso-Escocês, mais tarde pelo Grémio Lusitano; esteve na sua direcção até ao seu nº 166, Ano VI – ver AQUI]; colaborou na Revista de Infantaria e foi, ainda, sócio efectivo, director-gerente e secretário da conceituada Revista Militar.

Nessa época a sua actividade era o estudo de “técnicas militares”, tendo publicado vários artigos e opúsculos: Programma para exame de cabo esquadra, ordenado no capítulo quinto do regulamento para o serviço dos corpos do exército (1880); História do fogo da infantaria e da sua influência sobre as formações tacticas e resultado dos combates por M. J. Ortus (Gazeta Militar, 1885-86); Estudos Tacticos dum subalterno d’infantaria, II tomos (Typ. Universal, 1902 e 1904), trabalho distinguido pelo então ministro da guerra; e o trabalho Combate de Infantaria contra a Cavalaria (1904), premiado como 2º prémio no concurso promovido pela antiga Revista de Infantaria.

Em 1906 afastou-se da imprensa política, arrendou uma propriedade urbana e rústica, dedicando-se à agricultura, ao mesmo tempo que cumpria “pontualmente” os seus deveres no Ministério da Guerra. Os seus estudos sobre agricultura estão espalhados na imprensa da especialidade, tendo-lhe sido atribuído, em 1909, a comenda de Mérito Agrícola [A Luz, ibidem].

Em 1910 faz uma comissão de serviço (“julga-se a seu pedido”) na África Ocidental, como capitão-mor das Ganguelas e Ambuelas e comandante da 13.ª Companhia Indígena de Infantaria, ali permanecendo até Março de 1912, regressando à metrópole, sendo colocado em Chaves e depois vindo para Lisboa. Nesse período escreveu vários artigos sobre Angola [veja-se, principalmente, “O Perigo de Despovoamento de Angola”], no Diário de Notícias e no Boletim da Sociedade de Geografia

Luís de Melo e Ataíde era republicano, situando-se na área do partido evolucionista de António José de Almeida. Foi iniciado na maçonaria na poderosa loja Liberdade [Oficina de Lisboa instalada em 1896 e que acompanhou a dissidência do Supremo Conselho do Grau 33 – ou Grémio Luso-Escocês, como foi conhecido no mundo profano – tendo regressado ao GOL em 29 de Maio de 1820, mantendo-se ativa durante a clandestinidade] em Julho 1913 e, como já dissemos, foi o principal fundador, orientador e diretor do jornal A Luz, tendo apresentado (1917) a proposta da sua publicação - como “órgão de combate à reação” - nos trabalhos do Grémio Liberdade, não sem algumas dificuldades e muitas descrenças. Fez Melo e Ataíde inúmeras e importantes conferências sobre estudos filosóficos e livre-pensamento (como a que teve o título “Equação da Felicidade”), deixando escrito, sob o nome de Luiz de Camões (possivelmente o seu nome simbólico), o opúsculo “Aspirações de um Maçon” (Tip. Comércio e Industria, 1915, p. 34) e “Primeiros Passos”. Foi diretor do Asilo S. João, criando o Prémio em homenagem ao benemérito [Augusto Frederico] Gazul dos Santos.

Luís de Melo e Ataíde faleceu no dia 2 de Junho de 1925. O seu funeral partiu da sua casa na Rua da Saudade, 13, para o cemitério Oriental de Lisboa. Tinha a comenda de Avis e a medalha de ouro da classe de Comportamento Exemplar.

J.M.M.

sábado, 15 de agosto de 2020

ÁLVARO SOARES ANDREA (1864 – 1939) - NOTA BREVE


“… Álvaro Soares Andrea acredita ter aprendido a navegar antes de o mar ter nascido. Durante décadas vagueou ao longo da costa africana e desbravou rios que estão ainda por nomear. E foram tantas as viagens que não há noites que bastem para contar as suas aventuras. Daí o seu desdém pelos caprichos de Mouzinho de Albuquerque.

- Quem sabe do mar sabe dos céus -proclama o comandante enquanto percorre, para cá e para lá, toda a extensão da sua corveta.

Está alvoroçado, não pregou olho toda a noite. Foi visitado por sonhos, estranhos presságios. Sonhou que se tinha convertido num prisioneiro negro e que viajava no porão do seu próprio navio. No mesmo sonho, Mouzinho desamarrava-lhe os pulsos e agitava um caderno em frente do seu rosto: É isto que andas a escrever contra mim, meu filho da puta? No cano das botas ia roçando uma nervosa vergasta. Depois ia roçando uma nervosa vergasta. Depois atirava-lhe o caderno para o colo. Queria que o lesse em voz alta. Andrea segurava as folhas com mãos trémulas. Dava conta de que aquela era a sua caligrafia. Mas logo se apercebia de que escrevera tudo aquilo numa língua que não entendia. Parecia-lhe zulu, não tinha a certeza. E despertava, estremunhado.

- Quem sabe do mar sabe dos céus -repete Andrea, como se o mote o ajudasse a permanecer desperto. Volta a olhar as nuvens escuras por cima do oceano. Sujeita-se, enfim, ao comando das insondáveis forças da natureza. Confia mais nessa estrela interior - que alguns designam de intuição - do que em mapas e bússolas que se mostram imprestáveis nos mares tropicais …”

[Mia Couto, in As Areias do Imperador – Livro Três. O Bebedor de Horizontes]

 


Álvaro Simões de Oliveira Soares Andrea nasce em Lisboa em 31 de Agosto de 1864. Era filho do contra-almirante liberal Tomás José de Sousa Soares de Andrea (1824-?) e de Maria Luísa Virgínia de Sequeira e Oliveira. O avô paterno, Tomás José de Sousa Soares de Andrea (1777-1826) era oficial do exército e esteve a Guerra Peninsular e lutado ao lado das forças liberais durante a guerra civil, comandando os esquadrões do Regimento de Cavalaria N.º 7 de Vila Viçosa, tendo morrido por ferimentos em combate em 1826 [ver livro de Álvaro Soares de Andrea, O Systema decimal mundial e o Relogio decimal, Typografia e Papelaria Corrêa & Raposo, Lisboa, 1909].

Álvaro Soares Andrea foi um distintíssimo oficial da marinha, servindo nas Colónias, onde participou (1895) na Campanha de Gaza, em 1895 e no Combate de Macontene (1897, Moçambique). Foi na campanha de Moçambique que se distinguiu, principalmente na operação e prisão de Gungunhana, o último imperador de Gaza, comandando a Capelo.

Tinha elevadas condecorações: o Colar da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; era Cavaleiro e Oficial da Ordem Militar de Avis, Oficial da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa; tinha as Medalhas de Valor Militar, de Comportamento Exemplar, e da Campanha do Tungue (1889), de Moçambique (1894-1895), e do Niassa (1899).

Em 1905 é iniciado como maçon, na Loja Simpatia e União, com o nome simbólico de Tomás Andrea [possivelmente em memória do seu avô]. Pertenceu à Carbonária, sendo na época um republicano radical, integrando, após o 5 de Outubro, a denominada Federação Republicana Radical. Em 1910, no levantamento do 5 de Outubro, teve Soares Andrea uma importante intervenção, na tomada do Quartel de Marinheiros, de Alcântara.

Reformou-se a 18 de Novembro de 1910. Participou, a 27 de Abril de 1913, no que será a primeira revolta republicana, de civis e militares [Curiosamente a revolta integrava vários elementos da maçonaria] contra o governo da Republica, então dirigido pelo dr. Afonso Costa. Foi preso e enviado para os Açores com residência fixa.

Morre a 14 de Agosto de 1939, estando sepultado no cemitério dos Prazeres. Era casado com Elisa Sofia Pinto Andrea.
 
J.M.M.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA – MEMÓRIA (1890-2013)



LIVRO: Escola Prática de Cavalaria – Memória (1890-2013);
AUTORES: António Xavier Pereira Coutinho | António Eduardo Queiroz Martins;
EDIÇÃO: Fronteira do Caos, 2018, 282 pp.

“A Escola foi detentora de um excecional percurso histórico ligado aos destinos de Portugal, em momentos relevantes e decisivos da nossa História. Desde a Primeira Guerra Mundial, passando pelo papel decisivo na alteração do regime político em Portugal e na defesa de Portugal em África, bem como mais recentemente, na participação em missões internacionais, os Cavaleiros escreveram páginas de honra, lealdade e bravura, individual e coletiva, demonstrando uma notável disponibilidade para bem servir o Exército e a Nação em todas as circunstâncias.

A Escola Prática de Cavalaria sempre soube adaptar-se às sucessivas evoluções dos assuntos militares, introduzindo em cada época os ajustes necessários às exigências estratégicas de Portugal. De forma constante manteve o espírito do Cavaleiro, aquele que domina o animal ou controla a máquina, com o seu rasgo de iniciativa, bravura e audácia, suportado no forte espírito de corpo, na abnegação e no sacrifício.

Este livro é, assim, uma afirmação de que hoje, tal como ontem, a nossa Cavalaria continua a alicerçar a sua força e coesão em valores e tradições intemporais, em idiossincrasias próprias, fatores que associados à criatividade, dinamismo e ambição dos seus militares, lhe confere serenidade e confiança face ao futuro”.

(Da Nota de Abertura pelo CEME General Frederico Rovisco Duarte)


J.M.M.

terça-feira, 17 de junho de 2014

I GUERRA MUNDIAL: PORTUGAL EM ÁFRICA (1914-1918) - DAS CONTRADIÇÕES DA "NEUTRALIDADE" DE PORTUGAL AO "ESFORÇO DE GUERRA" PORTUGUÊS

O Centro de História da Universidade de Lisboa e a Revista Militar realizam no próximo dia 19 de Junho de 2014 um colóquio dedicado à questão da Grande Guerra e à participação de Portugal na frente africana.

Contando com a presença de várias personalidades ligadas ao meio militar, e não só, com formação histórica que abordam a questão da participação portuguesa na I Guerra Mundial. Entre os participantes contam-se:
- A. Matos Coelho (Maj. General/Revista Militar), O Expansionismo Alemão em África;
- Pedro Aires Oliveira (IHC-FCSH UNL), Portugal, a Inglaterra e a Guerra em África (1914-1918): cooperação e tensão;
- José António Rodrigues Pereira (Cap. de Mar-e-Guerra),  A Marinha na mobilização militar para África;
- Aniceto Afonso (Coronel/IHC-FCSH UNL), Grande Guerra - a República e a questão colonial.

No final da sessão realiza-se a apresentação do novo número da Revista Militar conforme se pode verificar consultando AQUI, particularmente dedicado às dificuldades e combates travados pelas tropas portuguesa na frente africana, onde os confrontos e combates se iniciaram logo em 1914 e se arrastaram até 1918.

Uma interessante sessão, inserida no âmbito das Evocações do Centenário da Grande Guerra que vale a pena acompanhar e divulgar.

A.A.B.M.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A OPOSIÇÃO POLÍTICO-MILITAR AO ESTADO NOVO NO INÍCIO DO 3º QUARTEL DO SÉCULO XX

Hoje, 12 de Dezembro, pelas 18.30h, vai ser apresentada a obra A Oposição Político-Militar ao Estado Novo no Início do 3º Quartel do Século XX, nas instalações da antiga Cooperativa Militar, situada na rua de São José nº 24, em Lisboa.

O interesse desta obra reside muito particularmente na questão da abordagem a alguns acontecimentos ainda com pouco tratamento histórico como o Golpe da Sé, a Abrilada de 1961 e o Assalto ao Quartel de Beja. Segundo consta no convite na apresentação desta obra estarão presentes alguns dos protagonistas destes acontecimentos.

Esta obra resulta da compilação de testemunhos e reflexões apresentadas na conferência sob o mesmo título realizada em 2007.

Este evento conta com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa.

Uma obra que se recomenda aos interessados no tema.

A.A.B.M.

sábado, 8 de setembro de 2012

ALFREDO DE MORAES - "SOLDADO INFANTARIA PORTUGUESA"


ALFREDO DE MORAES - "Soldado infantaria portuguesa" (Bilhete Postal)

ALFREDO JANUÁRIO DE MORAES nasceu a 19 de Setembro de 1872, em Lisboa, e foi um dos mais “prolíficos ilustradores portugueses”. Estudou na Escola de Belas Artes, foi "chefe de litografia da Imprensa nacional e um dos fundadores da Sociedade Nacional de Belas Artes, onde ensinou gratuitamente durante vinte anos" [cf. Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, Época de Ouro, 1999, pp.89-90].

"Com um frasquinho de tinta-da-china e uma caneta na algibeira, percorria as tipografias e, ali mesmo, desenhava o que fosse necessário. Embora laureado como aguarelista, no estilo de Alfredo de Moraes o mais impressivo é a concisão e o poder descritivo do traço nos desenhos a caneta" [ibidem].

Ilustrou (capas, desenhos e cartoons) para vários periódicos, como o Amigo da Infância (1894-1940), Branco e Negro (1896), Brasil-Portugal (1899), O Século, O Século Cómico (1913), O Mundo, o Diário de Notícias, a Folha do Povo ou o Diário da Manhã; ilustrou folhetins de aventuras e mistério [como o Capitão Morgan, Texas Jack, Sherlock Holmes, Jim Joyce, Raffles, Miss Carter, …] no ABC-zinho (1922), os Ridiculos (1905), O Carlitos, Pim-Pam-Pum, Acção Infantil.

Fez ilustrações para livros e fascículos (hoje disputadíssimos, raros e de colecção) como a 1ª edição dos “Serões no Japão” de Wenceslau de Moraes ou para a tradução de D. Quixote. Desenhou um conjunto apreciável de desenhos para livros escolares, vinhetas e postais. Figurou na V Exposição do Grémio Artístico (1895), na I Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes (1901), foi galardoado com a medalha de honra da SNBA e a medalha de ouro no Rio de Janeiro, encontrando-se representado em vários museus, como o Militar, Museu do Chiado, Museu Regional Grão Vasco. Trabalhou, graficamente, em parceria com Roque Gameiro. Utilizou nalguns trabalhos o pseudónimo de Fauno.

Morre a 6 de Fevereiro de 1971, em Lisboa.

FOTO via Memória da República, com a devida vénia.

J.M.M.

domingo, 7 de novembro de 2010

RELATÓRIO DO GRUPO CIVIL QUE ASSALTOU O QUARTEL DOS MARINHEIROS EM ALCÂNTARA



RELATÓRIO (cópia) do grupo civil que assaltou o quartel de marinheiros em Alcântara, na noite de 3 para 4 de Outubro de 1910, para a proclamação da República em Portugal.

Trata-se do importante Relatório da tomada do quartel de marinheiros em Alcântara na noite de 3 de Outubro [23,30 horas], por um grupo de civis & carbonários [como João Sardinha, Acácio Bonito ou o grupo chefiado pelo cidadão Andrade] e um grupo de militares [como o tenente Ladislau Parreira, os 2.º tenentes José Carlos da Maia e Aníbal Sousa Dias, os comissários Henrique da Costa Gomes e Guilherme Rodrigues, mais tarde o tenente Tito de Morais] e AQUI DISPONÍVEL ONLINE na Torre do Tombo.

J.M.M.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ANTÓNIO XAVIER CORREIA BARRETO – NOTA BREVE


António Xavier Correia Barreto nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1853. Aos 17 anos (2 de Abril de 1870) integra, como voluntário, o RI16 (Regimento de Infantaria nº16). Em 1874 é promovido a alferes, ao mesmo tempo que frequentava a Escola Politécnica. Em Outubro desse ano transfere-se para a Escola do Exército, para concluir o Curso da Arma de Artilharia [cf. Dicionário de Educadores Portugueses, ASA, 2003, p. 134]. Revelando grande competência, tem uma ascensão rápida na carreira militar, tendo chegado a general em 1914 [ibid.; vide tb. "As Constituintes de 1911 e os seus Deputados" – Nota: não foi possível consultar a sua biografia, publicada recentemente pelas Edições Parlamento, a cargo de Paulo Mendes Pinto et al, e para a qual remetemos desde já o leitor. Diga-se, no entanto, que é o próprio Paulo Mendes Pinto quem faz o verbete para o Dicionário, atrás referido, sob coordenação de António Nóvoa].

Ainda em 1885 (como capitão) é "incumbido de estudar um novo tipo de pólvora, sem fumo, no sentido de acabar com a dependência que o nosso país tinha da pólvora inventada por Nobel em 1863" [Dicionário, 2003]. O êxito foi total, no que resultou pela sua "novidade" chamar-se a essa nova pólvora, a "pólvora barreto". Curiosamente o livro de química por ele editado, "Elementos de Química Moderna" (1874), teve reedições sucessivas, levando mais tarde, por isso mesmo, a ser chamado para o estudo sobre a pólvora, que referimos. Resulta dos seus estudos sobre material de guerra, um conjunto de reformas importantes, desde logo a transferência da fábrica de armas para Chelas, tendo sido seu director.

António Xavier Correia Barreto foi iniciado na maçonaria, em 1893, na Loja Portugal nº 178 do RF

[instalada em Lisboa, justamente em 1893, e que abateu colunas em 1911. Fizeram parte da Loja outros militares, como o capitão José Afonso Palla (participou na rebelião do 31 de Janeiro) e o tenente-coronel Duarte Fava]

com o nome simbólico de "Mercúrio", passando, depois, a integrar a Loja Cap. Acácia, nº 281 (a 26 de Maio de 1911), tendo atingido o grau 7, em 1918 [cf. A.H.O.M] e sendo seu Venerável-Mestre (1911-12).

[a Loja Acácia, em Lisboa, foi criada em 1908 e elevada a Capitular ainda nesse ano. A Loja, onde se destacava o comerciante e republicano José Cordeiro Júnior (n.s. Lutero), teve lugar de relevo na Comissão Executiva de Lisboa, uma das estruturas revolucionarias do 5 de Outubro e onde estavam presentes elementos republicanos, carbonários e maçónicos, sendo que o seu representante foi Manuel Martins Cardoso ("Elias Garcia", n.s.), ele próprio integrando a Comissão de Resistência da Maçonaria, assim como o citado José Cordeiro Júnior].

Já no posto de coronel (1909) aparece no Directório do Partido Republicano e faz parte do Comité Organizador do 5 de Outubro de 1910, juntamente com Cândido dos Reis, Sá Cardoso e Carlos da Maia. Após o 5 de Outubro foi nomeado Ministro da Guerra do Governo Provisório, que mantém até 2 de Setembro de 1911, exercendo de novo a pasta em 1912-13 [16 de Junho, governo Duarte Leite] e, depois, em 1922. No exercício de Ministro da Guerra, em 1910, rodeou-se de um grupo de oficiais, muitos vindos a Loja Portugal, e que constituíram o chamado grupo dos "Jovens Turcos", como Alfredo Sá Cardoso (Alaíde, n.s.),  Álvaro Poppe, Américo Olavo ou Álvaro de Castro. Foi, ainda, constituinte em 1911, tendo sido eleito deputado pelo círculo nº7 de Chaves.

Ainda em 1910, como Ministro da Guerra, inicia a educação e reforma das Forças Armadas e suas instituições militares, sendo de registar alterações importantes no seu aspecto educativo. Para o efeito nomeia uma Comissão [de que fizeram parte, João de Barros e João de Deus Ramos] para elaborar "um projecto de regulamento de instrução militar preparatória" [ibid.], fundando escolas primárias "em todos os Regimentos", valorizando o aspecto educativo ["muito próximo do suíço"], surgindo, assim, em Maio de 1911, sob sua responsabilidade política, o "Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar", ou Instituto de Pupilos do Exercito, com evidente vocação pedagógica e de ensino profissional. Nomeou, então, como professor perceptor Álvaro Viana de Lemos, o padre António de Oliveira, João Lopes Soares.

Exerceu, ainda, os cargos de Director do Arsenal do Exército, Comandante-Geral da Guarda Republicana. Em 1913, ocupa o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Foi candidato à Presidência da República em 1915 e em 1919, mas nunca foi eleito. Foi eleito senador em todas as legislaturas e Presidente do Senado, entre 1915 e 1926. Estava, portanto, como Presidente do Senado quando, na sequência do golpe de 28 de Maio, recebeu uma "deputação de oficiais” que vinha encerrar o Parlamento e lhe foi pedido que o abandonasse. Refere o Diário de Lisboa [15-08-1939], o seguinte: “Mandou buscar o chapéu e a pequena bengala que nunca se separava e veio até ao átrio, onde se despediu, comovidamente, de muitos dos seus correligionários. Depois desceu as escadarias, recebeu o último ‘apresentar de armas’ da sentinela e tomou o carro para a sua residência"

Morre em Sintra a 15 de Agosto de 1939.

J.M.M.