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domingo, 24 de abril de 2011

CRUZADA NUN’ÁLVARES – PARTE II


Inspirada e tutelada por Martinho Nobre de Melo [1891-1985, ministro da Justiça de Sidónio Pais, prof. de Direito, embaixador e director do Diário Popular], a Cruzada Nun’Álvares contará nas suas fileiras com personalidades tão diferentes entre si como os cruzados Abel de Andrade, Afonso Lopes Vieira (monárquico integralista e autor da letra da "Canção da Reconquista"), Afonso Lucas, Afonso Miranda (da Vanguarda Nacional, 1936), Alberto Pinheiro Torres (no Porto), Alfredo Pinto Sacavém (Lisboa), Almeida d’Eça, Anselmo de Andrade, Anselmo Braamcamp Freire (foi presidente da Direcção Geral em 1921), Antero de Figueiredo (no Porto), António Bivar de Sousa, António Homem de Gouveia (no Funchal), António Pereira de Matos (presidente), António Teixeira Lopes (escultor), Armindo Monteiro (Vice-presidente), Assis Gonçalves (secretário de Salazar e antigo vogal da Cruzada), Beleza dos Santos (em Coimbra), Caeiro da Mata, Canto e Castro, Carlos Malheiro Dias, Costa Lobo (foi presidente), Cunha e Costa, Egas Moniz, Farinha Beirão (general), Ferreira do Amaral, Filomeno da Câmara, Fortunato de Almeida (em Coimbra), Gomes da Costa, Gonçalves Cerejeira (em Coimbra), Henrique Trindade Coelho (fundador e um dos seus principais obreiros), Hermano José de Medeiros (Unionista), Hipólito Raposo (da sua Junta Consultiva), Jacinto Nunes, João de Barros, João de Castro Osório, João de Deus Ramos, José Alberto dos Reis, José Nunes da Ponte (no Porto), José Pereira de Sousa (nacional-sindicalista), Manuel Rodrigues (Vice-presidente), Mário Pessoa da Costa (Estremoz), Oliveira Salazar (pertenceu à distrital de Coimbra), Óscar Carmona, Pacheco de Amorim, Pequito Rebelo (presidente), Pinto Coelho, Schiappa de Azevedo, Sidónio Pais (membro honorário), Tamagnini Barbosa, Tomas de Mello Breyner, Zuzarte de Mendonça (fundador), entre muitos outros – ler uma análise detalhada da sua estrutura dirigente, e ao longo das diferentes fases da organização, AQUI]

Percorrendo diversas fases na sua expansão, a Cruzada Nun’Álvares, vai conseguindo uma ampla convergência entre republicanos e monárquicos, tornando-se numa poderosa organização elitista conservadora, em que a palavra de ordem era o velho ideário de "ressurgimento nacional" [lema muito antes enunciado pelo Congresso Nacional – incentivo à intervenção cívica das elites sociais para superar a crise. De referir que este "intervencionismo elitista" não é, como bem refere Miguel Dias Santos (“A Contra Revolução na I República”), um exclusivo do pensamento indígena, podendo encontrar-se em pensadores tão diferentes como Tocqueville, Spengler, Maurras ou Schmitt - promovido pela Liga Naval Portuguesa, em 1910, e posteriormente avançado pela União Patriótica (1913, promovida por Lino Neto, Pereira de Matos, Costa lobo, entre outros), pela Liga Nacional (1915-18, com Aires de Ornelas, Luís de Magalhães, adeptos da “democracia aristocrática” e do “governo de competências”), Liga de Acção Nacional (1918-19, onde pontificavam António Sérgio e Ezequiel de Campos), depois pela Cruzada Nuno Álvares, pelo Núcleo de Ressurgimento Nacional, pela União Cívica ou, mais tarde, pela própria União Nacional – ver Ernesto Castro Leal, ibid].

O ódio à democracia [“essa enfermidade do século”], o esquecimento da “soberania divina” e os “deveres para com Deus”, a defesa da “tradição” [tradição providencialista] e da “raça” ou o “regionalismo” fizeram escola entre os movimentos católicos [em especial o Centro Católico], os integralistas e (neo)monárquicos [atente-se em José Fernando de Sousa (Nemo), Pacheco de Amorim, Pinheiro Torres, Pinto Coelho, Luís de Magalhães, Aires de Ornelas, Alfredo Pimenta, Cunha e Costa, António Sardinha, Almeida Braga, Caetano Beirão, Homem Cristo Filho, Vasco de Carvalho, João de Almeida, Paiva Couceiro, Azevedo Coutinho ou Sinel de Cordes – ver Miguel Dias Santos, op. cit.] e, deste modo, o pensamento antimoderno assim espargido faz ressuscitar os teóricos da contra-revolução [Marquês de Penalva, padre Agostinho de Macedo, Fortunato de S. Boaventura, José da Gama e Castro, por exemplo], trazendo consigo o reforço do autoritarismo, a opção ditatorial e a propaganda do fascismo.

A Cruzada Nun’Álvares foi, sem margem para dúvidas, um desses pólos aglutinadores da construção ideológica autoritária e fascista do Estado Novo. Dela se ocupou Raul Proença (já a partir de 1921 e até 1926), que nas páginas da revista Seara Nova antecipadamente (e solitariamente) a combate [”O Manifesto da Cruzada Nun’Álvares", de 4/5 Dezembro 1921; “O Fascismo e as suas repercussões em Portugal”, de 6 de Março 1926; “O Fascismo”, artigo de 15 de Abril 1926; ou “Uma apologia do Fascismo”, datado de 13 de Maio desse ano], polemizando com os “nacionalistas fascizantesFilomeno da Câmara, Trindade Coelho e Martinho Nobre de Melo, que lhe responderam no Diário da Manhã [Trindade Coelho, Resposta ao sr. Raul Proença, de 13 Dezembro de 1921] e na Reconquista [ver p. ex. Martinho Nobre de Melo, O sr. Raul Proença e as minhas ideias, nº1; ou O Antifascismo de Raul Proença. Crocodilos Humanitários, nº5], entrando curiosamente na polémica o inefável monárquico integralista Leão Ramos Ascensão ao publicar o opúsculo “O Fascismo e o Anti-Fascismo e a Monarquia Hereditária” (Coimbra, 1926), onde Raul Proença é apodado de “enraivecido adversário do fascismo” [ver sobre todo este assunto, João Medina, Os Primeiros Fascistas Portugueses, separata da Vértice, Coimbra, 1978].

FOTO: "Delegados da Confederação Académica e da Cruzada Nuno Álvares, com o sr. presidente da República", em 24 de Março de 1927 - viaTorre do Tombo.

[a continuar]

J.M.M.

terça-feira, 8 de maio de 2007

REVISTA "ORDEM NOVA" [1926-1927]


Ordem Nova

Revista Mensal Anti-Moderna, Anti-Liberal, Anti-Democrática, Anti-Burguesa e Anti-Bolchevique. ORDEM NOVA Contra-Revolucionária; Reaccionária; Católica, Apostólica e Romana; Monárquica; Intolerante e Intransigente; Insolidária com Escritores, Jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da imprensa. Lisboa, Ano I, nº 1 (Março de 1926) ao nº 12 (Fevereiro de 1927). Director: Marcello Caetano.

Redactores fundadores: Albano Pereira Dias de Magalhães e Marcello Caetano. Secretario e editor: J. Fernandes Júnior. Redacção: Rua do Norte, 57, Coimbra. Administração: Largo do Directório, 8, 3º, Lisboa. Propriedade de José Fernandes Júnior

Colaboração: A. Rodrigues Cavalheiro, Adriano Pimenta da Gama, Afonso Domingues, Afonso Lopes Vieira, Albano Pereira Dias de Magalhães, Alberto Baptista Alvares, Albino Neves da Costa, Amadeu Pereira, António Gonçalves Rodrigues, António Sardinha, César de Oliveira, Domingos de Gusmão Araújo, José Augusto Vaz Pinto, José Luís da Silva Dias, José Manuel da Costa, Leão Ramos Ascenção, Marcello Caetano, Manuel Múrias, Mário de Albuquerque, Nuno de Montemór, Pedro Teotónio Pereira, Ribeiro da Silva.

"E para que não restem duvidas nenhumas sobre o que nos queremos, parece-nos oportuno formular o mais claramente possível as directrizes da nossa acção.
A atitude política da 'Ordem Nova' – Entendemos que a mudança de regime só é possível e será fecunda quando haja um escol capaz de impor à Nação os princípios salvadores, - isto é, capaz de estender a todos os benefícios que nos espíritos seleccionados tenha produzido a reforma intelectual e moral em que andamos empenhados.
Não escondemos a nossa simpatia pelo ‘Integralismo Lusitano’ cujas doutrinas inteiramente perfilhamos. Sustentamos, no entanto, que só depois de constituído o núcleo central, só depois de conseguida a minoria inteligente e activa, se poderá adoptar a fórmula 'Em primeiro lugar, a política' (...)
” [A. Neves da Costa, Pensamentos, palavras & obras, nº 1, Março de 1926]

"O conservador tem da ordem unicamente o conceito policial e, conhece só os efeitos da desordem, porque a sofre fisicamente no seu corpo e haveres, mas infelizmente não tem o conhecimento correlativo das causas que geram a desordem. Por isso o conservador é o homem que preconiza a politica de panos quentes e de papas de linhaça, de preferência a uma politica cirúrgica de bisturi, é o homem que barafusta sobre a situação actual e não dá um passo para sair dela porque não está orientado para isso (...) Este bom burguês acredita em tudo que seja meias-tintas, tem horror ao que ele chama estupidamente o extremismo e mal aparece no seu horizonte uma besta superior em quantidade, logo salta de satisfação, chamando-lhe seu salvador, pondo-se de joelhos na sua frente, servindo-o e admirando-o babado de gozo.
É principalmente esta fauna conservadora que cria e sustenta os Messias que para aí aparecem (...)" [José Luís da Silva Dias, nº 2, Abril de 1926]

"Violou-se a lei [Constituição de 1911, derrubada pelo 28 de Maio de 1926] sem hipocrisia, sem máscara. Ninguém pode negar aos ditadores uma coragem moral e um desassombro que os partidos políticos nunca tiveram (...) É por isso que aplaudimos a violação de quantas leis sejam necessárias violar, conquanto que se faça justiça ..." [Marcelo Caetano, nº 11, Janeiro de 1927]

J.M.M.