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domingo, 29 de dezembro de 2013

A LOJA “LIBERDADE” NO FUNERAL DE CÂNDIDO DOS REIS E DE MIGUEL BOMBARDA

 

"Fotografia muito curiosa do funeral de Cândido dos Reis e de Miguel Bombarda, a 16 de Outubro de 1910. Nela se vê a delegação da Loja Liberdade, do Grande Oriente Lusitano Unido

[A Loja “Liberdade”, nº 197, do REAA foi instalada em Lisboa em 1896 (cf. A.H.O.M., Dicionário de maçonaria Portuguesa, II). Loja do GOLU, foi Capitular e Areopagita nesse mesmo ano e Consistorial em 1909. Acompanhou a dissidência do Supremo Conselho de Grau 33 (Grémio Luso Escocês) em 1914. Regressou à Obediência em 1920 (em 1922, funcionava no RF, e o seu Venerável era José Bernardo Ferreira – cf. Anuário do GOLU para 1922. José Bernardo Ferreira era, em 1912, Venerável da Loja, pertencia ao Conselho da Ordem, sendo membro efectivo do Supremo Conselho do Grau 33º), mantendo-se durante a clandestinidade]

, com o respectivo estandarte. Foi uma das raras Lojas que chegaram até ao 25 de Abril de 1974.

 A ela pertenceram durante a clandestinidade, entre muitos outros, Raul Rego, Armando Adão e Silva, Vasco da Gama Fernandes [iniciado na Loja “Magalhães Lima, em 1931, com o n.s. Giordano Bruno], Francisco Marques Rodrigues, Nuno Rodrigues dos Santos [tinha sido iniciado na Loja “Magalhães Lima, em 1935, com o n.s. Danton], Carlos Ernesto da Sá Cardoso, António Marcelino Mesquita – antigo tarrafalista - e Gustavo Soromenho"

[António Ventura Facebook - sublinhados e acrescentos nossos]

J.M.M.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

NO FUNERAL DE MIGUEL BOMBARDA



FOTO 1: A Loja "Liberdade" participando no cortejo fúnebre [foto de Benoliel, in Ilustração Portuguesa, nº 244, 24 de Outubro de 1910];

FOTO 2:DISCURSO NO FUNERAL DE MIGUEL BOMBARDA [16 de Outubro de 1910] proferido por Francisco José Gomes de Carvalho, n.s. Malthus, da "Loja Irradiação", nº 315, de Lisboa, da qual Miguel Bombarda [n.s. D’Artagnan] era obreiro - clicar na foto para ler;

Os funerais nacionais de Miguel Bombarda e de Cândido dos Reis – os mártires da República - foram grandiosos e de um civismo exemplar. Os cidadãos de Lisboa mostraram a sua solidariedade, desfilando durante várias horas (saiu às 13 horas) desde o Largo do Município [com o Terreiro do Paço, Rossio e as ruas circundantes repletas], passando pelo Largo de Camões, Rossio, Avenida da Liberdade, Rotunda Marquês de Pombal (onde houve lugar a discursos vários), até ao cemitério de Alto de São João, onde chegou às 18 horas].

Presentes entre civis e militares [com um vasto corpo de elementos da Armada e outras forças militares], lentes da Escola Médica, médicos e empregados hospitalares [o caixão de Miguel Bombarda foi transportado pelos empregados do Hospital de Rilhafoles], dezenas de bandas e charangas de diferentes associações sociais e recreativas [Academia Instrutiva dos Operários do Norte, Alunos do Asilo Maria Pia, Clube Recreativo Musical 6 de Setembro, Grupo Juventude Alma Nacional, Tuna Democrática António José de Almeida, Banda dos Operários da Fábrica Portugal, Academia Recreio Artístico, Grupo Dramático dos Combatentes, Sociedade Alunos Esperança, Grupo Musical Baltazar da Aldeia Galega, Banda 1º de Dezembro da Aldeia Galega, Sociedade Filarmónica Recreio Almadense, Grupo Musical Feio Terenas, Sociedade Alunos de Apolo, Banda Setubalense, Concentração Musical 21 de Agosto, Tuna da Sociedade Ordem e Progresso, Grupo União Capricho, Grupo Recreativo Santa Marta, Tuna Juventude Chelense, Sociedade Filarmónica Chelense, Filarmónica Piedense, Academia do Museu Geral de Artilharia, Estudantina João Maria Coelho, Academia João Xavier Pinheiro, Academia Musical 1º de Julho, Sociedade Musical de Paço de Arcos, Filarmónica de Carnaxide, Grupo Lusitano Clube, Sociedade Recreio do Beato, Academia Recreio Operário Beatense, Filarmónica de Sintra, Sociedade de S. Pedro de Sintra, Tuna Instrução de Almada, Sociedade Recreio Familiar, Bombeiros da Porcalhota], sócios dos grémios & Grupos [Grémio França Borges, Grémio Excursionista Victor Hugo, Grémio Excursionista Liberal, Associação do Registo Civil, Associação José Estêvão, Grémio José Fontana, Escola Liberal de Setúbal, Sociedade Harmonia e Esperança, Sociedade Cultura Social, Grupo Democrático 1º de Março, Sociedade do Bem, Grupo Revolucionário dos Olivais, Centro Justiça e Liberdade, Comissão Humanitária do Castelo, Associação O Futuro, Associação Igualdade, Luz e Harmonia, Grémio Republicano de Alcântara, Grémio Popular, Grémio Lusitano, Revoltosos do 31 de Janeiro, Comité Revolucionário dos Correios e Telégrafos (presença de Aníbal Lameiro Fernandes, António G. Ferreira, Balduíno da Matta, Ernesto Queiroz, José Dias Ferreira, José Ramos Júnior, João Nascimento Dias, Jacinto Henriques, Júlio Martins Pires, Moisés Feijão e Ricardo Lambert), Grupo Revolucionário Peixinho], dos Centros Escolares e Republicanos [Centro Escolar Capitão Leitão de Almada, Centro Republicano António José de Almeida, Centro Republicano Tomás Cabreira, Centro Republicano de Santa Isabel, Centro Escolar Republicano da Amadora, Centro Civil do Monte, Centro Escolar Afonso Costa, Centro Escolar Alberto Costa, Centro Republicano José Estêvão do Lumiar, Centro Escolar Alferes Malheiro do Campo Grande, Centro Republicano Elias Garcia, Centro Eleitoral de Carnaxide, Centro Republicano João Chagas no Beato, Centro Escolar Henriques Nogueira, Centro Escolar Botto Machado, Centro Escolar Elias Garcia, Centro Escolar de Santos, Centro Escolar Republicano de Queluz, Centro Bernardino Machado, Centro Escolar e Comissão Paroquial da Amadora, Centro Democrático de Valbom, Comissão Municipal Republicana do Porto, Junta Paroquial da Ameixoeira, Junta Paroquial do Lumiar, Academia de Estudos Livres, Albergue das Crianças Abandonadas, Casa Pia, liceu Passos Manuel, Escola Elementar do Comércio, liceu da Lapa, Instituto Comercial Pereira de Sousa, Instituto Industrial, Sociedade de Geografia, Sociedade Promotora de Educação Popular de Alcântara, Escola Benfeitores de Crianças Pobres, Missões Elias Garcia, Escolas da Voz do Operário, Liga Republicana das Mulheres, Centro Republicano de Alhandra], de muitas agremiações operárias [Associação dos Carpinteiros Navais, Ass. Sapateiros de Setúbal, Ass. dos Ferros Velhos, Ass. dos Calafates de Lisboa, Ass. Manipuladores do Pão, Sociedade Cooperativa Almadense, Cooperativa da Costa da Piedade, Ass. Calceteiros Municipais, Cooperativa A Phenix, Ass. Sapateiros Lisbonenses, Ass. Vendedores de Vinhos e Petiscos, Confeiteiros, Ass. Empregados do Estado, Encadernadores, Empregados dos Hotéis e Restaurantes, Cooperativa Construção Predial, Cooperativa Persistente, Vendedores de Vinho a Retalho, Ass. das Costureiras e Ajuntadeiras, Ass. Socorros Mútuos, Caixa Económica Operária, empregados da Casa Grandela, Bombeiros de Odivelas, pilotos da Barra de Lisboa, Cooperativa dos Estofadores, Ass, Maleiros e Caixoteiros, dos Cozinheiros, operários Cervejeiros, construtores de “macadam”, Guardas-nocturnos, Ass. Operários Mecânicos de Madeira, operários refinadores de Açúcar, Torneiros, Ass. Impressores Gráficos, Ass. Compositores Tipógrafos, pessoal do Arsenal do Alfeite, fabricantes de cal pedreiros e estucadores, União dos Pintores da Construção Civil, Canteiros, Caminhos de Ferro, Ass. dos Soldadores, dos Vendedores de Jornais, carpinteiros navais, corticeiros de Setúbal, guarda-freios e condutores, marítimos, jardineiros, alfaiates, chauffeurs, vendedores de carvão, agricultores e horticultores, corticeiros, Fogueiros, Manipuladores de Tabaco de Lisboa e Porto, corticeiros de Almada, cocheiros, Ass. Moços de Fretes, pessoal dos carros Jorge, União dos Empregados do Comercio, Ass. dos Lojistas, empregados do comercio de Évora, de Setúbal, Ass. Actores Portugueses, Ass. Empregados do Caminho de Ferro, Cooperativa do Poço do Bispo, Cooperativa de Braço de Prata, União Marítima, Cruz Vermelha, várias delegações dos Bombeiros Voluntários], Centros Socialistas e Lojas Maçónicas [abrindo com a “Gil Vicente e fechando o núcleo do Grande Oriente”], com as suas bandeiras, estandartes e pendões.

Discursou o Pres. da CML, Anselmo Braamcamp Freire, António José de Almeida, o ministro da Marinha, o dr. Eusébio Leão (em nome do Directório Republicano), o dr. José de Castro (Grão-mestre Adjunto do GOLU) na Rotunda do Marquês. Depois, no cemitério do Alto de São João, discursaram, muitos já à luz de archotes, Teófilo Braga (pelo Governo), dr. Silva Amado (pela Escola Médica), o dr. Alexandre Braga (pelos deputados republicanos), Marinha de Campos (em nome dos revolucionários), Faustino da Fonseca (pela Junta Liberal; foi Venerável da Loja Irradiação, a que pertencia Miguel Bombarda), José Nunes da Matta (director da Escola Naval), dr. Augusto de Vasconcelos (pelos médicos dos hospitais civis), etc.

[in A Capital 16 de Outubro de 1910]

J.M.M.

domingo, 2 de outubro de 2011

CENTRO ESCOLAR REPUBLICANO ALMIRANTE REIS



LIVRO: "Centro Escolar Republicano Almirante Reis (CERAR). Subsídios para a sua história" (176 p.);
AUTOR: Célia Oliveira Pestana;
EDITOR: Fonte da Palavra.

"O Centro Escolar Republicano Almirante Reis (CERAR) - Subsídios para a sua História é a primeira tentativa de fazer a história de uma destas Instituições que constavam no projecto dos republicanos e visavam eliminar uma percentagem de 75% de analfabetos e de elevar o seu nível de cidadania de modo a obter um voto consciente e responsável. Instrumento de Mudança, o CERAR implantou-se não casualmente numa Mouraria que já acolhera os socialistas, que ainda se iluminava a gás mas já reclamava a electricidade e com inúmeras carência de equipamentos escolares e sanitários. O percurso do CERAR foi corajoso e tenaz. E pela participação na vida pública do país mereceu a honra de ser explicitamente citado na História de Portugal do Professor Oliveira Marques, por ter cedido o salão de festas para a reunião do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945. Como reconhecimento do percurso honroso desta notável Instituição foi-lhe atribuído em 1987 o título de Membro Honorário da Ordem da Liberdade" [ler AQUI]

J.M.M.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CARLOS CANDIDO DOS REIS (Parte II)


Na tarde do dia 3 de Outubro de 1910, ao saber-se que o então chefe do governo, Teixeira de Sousa, tinha sido avisado do golpe republicano e pusera de prevenção as tropas leais à causa monárquica, a maioria dos chefes republicanos propôs um adiamento do golpe, ao que se opôs o Almirante Cândido dos Reis. Dado que era o chefe militar e principal dinamizador da revolta, a sua posição levou a que esta ocorresse. Antes dos primeiros momentos da revolta, a 3 de Outubro de 1910, o Dr. Miguel Bombarda, um dos chefes civis do golpe e senhor de muitos dos seus segredos, é atingido a tiro por um doente mental do Hospital de Rilhafoles. Com receio da descoberta da conspiração a maioria das unidades militares comprometidas no movimento não chegou a revoltar-se e muitos oficiais do exército, julgando tudo perdido, haviam abandonado o entrincheiramento da Rotunda. Cândido dos Reis, pensando estar o golpe frustrado, não quis seguir para bordo de um dos navios que estava implicado no movimento. Libertou os camaradas de armas dos compromissos assumidos e dirigiu-se ao local onde estava instalado o quartel-general da revolução. Terá procurado saber informações acerca do decurso da revolta, mas a falta de notícias concretas e a desorganização instalada terão provocado mais desespero e descrença no sucesso de mais esta tentativa de revolta dos republicanos.

Despediu-se dos oficiais da Marinha mais próximos e horas depois, cerca das 6 horas da manhã era encontrado morto na Azinhaga das Freiras, tendo-se suicidado em consequência não só dos factos, mas também do seu temperamento hipocondríaco que lhe proporcionava crises de entusiasmo e de depressão frequentes.

Pertencia à Carbonária e horas antes de ser dado início ao movimento revolucionário, apesar de parte dos conspiradores defender o seu adiamento com receio do seu malogro, bateu-se energicamente pela execução do plano tal como este havia sido delineado sem alterações ou adiamentos, tendo conseguido vingar a sua opinião.

Na madrugada de dia 4 de Outubro, embora a revolução estivesse já na rua, convence-se que tudo está perdido e suicida-se. O golpe acabou afinal por triunfar e poucas horas depois é proclamada solenemente a República do alto da varanda da Câmara Municipal de Lisboa.

A República prestou-lhe sentida homenagem. Considerado um dos mártires da revolução de 5 de Outubro, a vereação da Câmara Municipal de Lisboa, atribuiu o seu nome à antiga Rua D. Amélia em 13 de Outubro de 1910 [Cf. Maria Calado, Lisboa. Roteiros Republicanos, CNCCR, Quidnovi, Matosinhos, 2010, p. 85]

Era tido como uma pessoa prudente, mas corajosa e sobretudo com muito mérito na sua área de actividade, tendo por isso recebido vários louvores e condecorações. Apesar de ter sido agraciado com o grau de oficial da Ordem de Avis e a de Cavaleiro da Torre e Espada pelos seus feitos na marinha, foi desde muito novo um adepto republicano de firmes convicções, tendo participado activamente na luta antimonárquica.

O nome do Almirante Carlos Cândido dos Reis foi utilizado não só em ruas e avenidas, mas também para substituir o nome de "D. Carlos I"[2] no principal cruzador da esquadra portuguesa. Sobre os funerais de Cândido dos Reis e de Miguel Bombarda mereceram a publicação de um decreto, de 13 de Outubro de 1910, que procurava plebiscitar a República recentemente implantada. Os seus funerais, organizados civilmente “foram os primeiros a merecerem honras nacionais. O novo poder apoderou-se dos corpos para os homenagear, e o povo republicano da capital deu ao acontecimento uma amplitude inusitada” e acrescenta que se procurava “consagrar civilmente dois heróis póstumos de uma revolução que ali mesmo buscava o seu reconhecimento popular” [Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, Minerva, Coimbra, 1999, p. 167].

O cortejo fúnebre foi longo e carregado de simbologia. Tudo foi pensado na lógica do novo regime, mostrando todo um conjunto complexo de relações e leituras ideológicas e políticas. A organização do préstito e a disposição dos vários grupos de republicanos criando uma hierarquia de valores, estabelecendo uma parada de vitória, com o desfile simbólico das forças sociais e políticas que tinham assumido o poder em Portugal. A cerimónia visava, com toda a encenação que foi preparada, procurar legitimar o poder republicano [Fernando Catroga, idem, p. 319].

Uma personalidade fundamental a história da implantação da Republica, que o Almanaque Republicano homenageia, com este pequeno tributo, na semana em que se assinala o seu nascimento, a uma personalidade que desempenhou um papel fundamental na preparação da revolta de 5 de Outubro de 1910.

A.A.B.M.

CARLOS CANDIDO DOS REIS (Parte I)


Na semana em que se assinalou o nascimento daquele que foi um dos mártires republicanos da rvolução de 5 de Outubro de 1910, lembramos o Almirante Cândido dos Reis, que a toponímia republicana se encarregou de espalhar pelo País com grande prodigalidade, porque muitas são as terras onde o seu nome surge e muitas vezes poucos sabem sequer quem foi.

Carlos Cândido dos Reis nasceu em Lisboa a 16 de Janeiro de 1852, entrando como voluntário para a Armada aos 17 anos. Em 1 de Outubro de 1870 é guarda marinha. Promovido a capitão-tenente em Dezembro de 1892 e a capitão-de-mar-e-guerra em Dezembro de 1901. Em 9 de Julho de 1909 requereu a aposentação com o posto de vice-almirante. Durante a sua longa carreira na Marinha foi comandante das canhoneiras Bengo e Quanza. Comandou a Escola de Alunos Marinheiros do Porto, a Escola de Torpedos Fixos e foi comandante da 2ª e da 4ª divisão do corpo de marinheiros. Foi ainda instrutor da Escola Prática de Artilharia Naval e instrutor da aula profissional na dita escola. Foi ainda nomeado vogal das comissões de aperfeiçoamento de artilharia naval.

Apesar de uma carreira brilhante, quer no comando de vasos de guerra, quer na direcção de estabelecimentos escolares navais, é passado à reforma, no posto de vice-almirante, em 9 de Julho de 1909.

Convictamente republicano, toma parte activa na luta antimonárquica, sendo membro destacado da Junta Liberal, proferindo conferências de cariz anticlerical na Associação dos Lojistas. É o autor dos planos para a malograda 'intentona do elevador da Biblioteca', em 1908. Dessa tentativa nos dá conta Brito Camacho:

aí pela meia-noite, lívido, com um ligeiro tremor na voz, aparece-nos Cândido dos Reis, a perguntar o que se devia fazer. Respondemos-lhe que nada havia a fazer senão esperar. Mas ele era de outra opinião e francamente no-la expôs com a firmeza e decisão que punha sempre nas suas palavras.

- Não, alguma coisa há a fazer. Vou ao corpo de marinheiros e senão me estoirarem logo à entrada, venho com eles para a rua. Depois será o que for.

Respondemos-lhe simplesmente – Isso seria apenas uma loucura, se não fosse também um crime, porque toda essa gente seria fuzilada pela municipal e os regimentos continuariam aferrolhados nos quartéis.

Cândido dos Reis ficou por instantes calado numa concentração de espírito que tinha alguma coisa de terrível, porque era toda a sua alma elaborando um pensamento trágico.

- Bem nesse caso vou fazer saltar os miolos.” [Cf. Brito Camacho, “Dr. Miguel Bombarda e almirante Cândido dos Reis”, Almanaque d’A Luta, Lisboa, 1911, p. 143]


O fracasso de 1908 fez aumentar o empenho de Cândido dos Reis “na sua actividade contra a Monarquia; para ter os movimentos mais livres, e porque se tornara altamente suspeito às autoridades, passou à reforma” [Cf. David Ferreira, “Carlos Cândido dos Reis”, Dicionário de História de Portugal, vol. V, Dir. Joel Serrão, Livraria Figueirinhas, Porto, 1992, p. 266-267].

Pertencia à Maçonaria tendo sido iniciado com o nome simbólico de Pêro de Alenquer, em 1909, pelo Grão-Mestre Sebastião de Magalhães Lima e integrou a Loja José Estêvão, de Lisboa. Em 1910 atingiu o grau de Mestre [Cf. A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. II, Editorial Delta, Lisboa, 1986, p. 1217-1218.].

Após o fracasso da tentativa de 28 de Janeiro de 1908, retoma a sua actividade como conspirador, integrando a Carbonária, com o nome simbólico de Marceau. Conhecem-se as suas estreitas relações de amizade com José de Castro, o ilustre advogado que presidia à Comissão de Resistência da Maçonaria. A revolução que se preparava devia ter como chefe o próprio Cândido dos Reis.

Desde Outubro de 1909 que existem notícias do avanço da organização revolucionária militar que conduziria ao 5 de Outubro de 1910. Nela encontramos desde o início as referências a Cândido dos Reis e aos membros da Carbonária que dinamizaram as reuniões preparatórias em casa de Magalhães Lima e onde participavam António Maria da Silva, Machado Santos. Neste círculo restrito participavam João Augusto Fontes Pereira de Melo, o coronel Ramos da Costa, Afonso Palla, Amaro de Azevedo Gomes, Aníbal Sousa Dias, Carvalho Araújo, Duarte de Almeida e Castro Morais entre outros oficiais [Cf. João Augusto Fontes Pereira de Melo, A Revolução de 4 de Outubro (Subsídios para a História). A Comissão Militar Revolucionária, Guimarães Editores, Lisboa, 1912 ou ainda a agenda detalhada de João Chagas que Carlos Olavo publica em Homens, Fantasmas e Bonecos, Portugália Editora, Lisboa, 1950 ?, p. 34 e ss]

Eleito deputado pelo círculo de Lisboa, na lista republicana, em Setembro de 1910, não chegou, devido à queda do regime monárquico, a tomar assento nas Cortes. Participa activamente nos preparativos do movimento revolucionário do 5 de Outubro de 1910, sendo o responsável pela sua componente militar. Na tarde desse dia 3 de Outubro, Cândido dos Reis participou com Brito Camacho numa festa de propaganda republicana efectuada no Centro Pátria, em Algés [Cf. Brito Camacho, “Dr. Miguel Bombarda e almirante Cândido dos Reis”, Almanaque d’A Luta, Lisboa, 1911, p. 144].

[Em continuação]

A.A.B.M.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quinta-feira, 19 de julho de 2007

MIGUEL BOMBARDA E CÂNDIDO DOS REIS


Miguel Bombarda e Cândido dos Reis

Dr. Miguel Bombarda ["Vítima da Reacção”] e Cândido dos Reis ["Sacrificado pela Pátria"]

J.M.M.