LIVRO: “Portugal. A Flor e a Foice";
AUTOR: José Rentes de Carvalho;
EDITORA: Quetzal, 2014.
“No ano em que se comemora o 40.º
aniversário da Revolução dos Cravos, a publicação de Portugal, a Flor e a
Foice, até aqui inédito em Portugal, promete dar que falar.
Escrito em 1975, em cima dos
acontecimentos que então convulsionavam Portugal (e que eram acompanhados com
entusiasmo e apreensão pela Europa e o resto do Mundo), Portugal, a Flor e a
Foice é a observação pessoal que um português culto e estrangeirado faz do seu
país em mudança.
Nesta apreciação aguda e de tom sempre
crítico, todos os mitos da História Portuguesa são, senão destruídos, pelo
menos questionados: o Sebastianismo, os Descobrimentos, Fátima; denunciadas
instituições como a Monarquia e a Igreja; e impiedosamente escalpelizado não
apenas o antigo regime mas também, e sobretudo, o 25 de Abril. Com acesso a
círculos restritos nos anos que antecederam e sucederam a Abril de 1974, e a documentos
ainda hoje classificados, J. Rentes de Carvalho faz uma História alternativa da
Revolução e das suas figuras de proa, em que novos factos e relações de poder
se conjugam num relato sui generis, revelador e, no mínimo, desconcertante” –
AQUI
“[…] De inicio, não houve interesse em
publicá-lo [“Portugal. A Flor e a Foice”] porque a minha visão do que se estava
a passar era considerada desagradável e incómoda. Mesmo na Holanda, teve uma única
edição pequena, e só saiu uma crítica ao livro num jornalzeco belga. Por causa
do meu pessimismo, chamaram-me filho da puta, vendido ao capital e mais não sei
o quê (…)
Há um continuum de falhanços. É a nossa
tragédia (…) O povo é a única força verdadeira. Representa as nossas virtudes e
o que temos de mais fraco, ou mau. Mas é consistente na sua atitude. As elites
portuguesas nunca foram consistentes. Ou só foram num aspecto: ganho pessoal.
As pessoas que têm fortuna sentir-se-iam envergonhadas [na Holanda] se não contribuíssem
de alguma maneira para a sociedade, apoiando um museu, uma orquestra, uma escola,
seja o que for […] Costumo dizer que no Museu da Janelas Verdes só há arte que
foi roubada dos conventos, mas não há nada oferecido pelas famílias ricas, que,
podendo contribuir para o bem comum, nunca o fizeram. É triste, mas é mesmo
assim …” [“Voltar a Abril”, entrevista de José Mário Silva a J. Rentes de
Carvalho, in Expresso /Atual, 22/03/2014]
J.M.M.