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domingo, 23 de março de 2014

PORTUGAL. A FLOR E A FOICE - J. RENTES DE CARVALHO


EDITORA: Quetzal, 2014.
 
No ano em que se comemora o 40.º aniversário da Revolução dos Cravos, a publicação de Portugal, a Flor e a Foice, até aqui inédito em Portugal, promete dar que falar.
 
Escrito em 1975, em cima dos acontecimentos que então convulsionavam Portugal (e que eram acompanhados com entusiasmo e apreensão pela Europa e o resto do Mundo), Portugal, a Flor e a Foice é a observação pessoal que um português culto e estrangeirado faz do seu país em mudança.
Nesta apreciação aguda e de tom sempre crítico, todos os mitos da História Portuguesa são, senão destruídos, pelo menos questionados: o Sebastianismo, os Descobrimentos, Fátima; denunciadas instituições como a Monarquia e a Igreja; e impiedosamente escalpelizado não apenas o antigo regime mas também, e sobretudo, o 25 de Abril. Com acesso a círculos restritos nos anos que antecederam e sucederam a Abril de 1974, e a documentos ainda hoje classificados, J. Rentes de Carvalho faz uma História alternativa da Revolução e das suas figuras de proa, em que novos factos e relações de poder se conjugam num relato sui generis, revelador e, no mínimo, desconcertante” – AQUI
 
[…] De inicio, não houve interesse em publicá-lo [“Portugal. A Flor e a Foice”] porque a minha visão do que se estava a passar era considerada desagradável e incómoda. Mesmo na Holanda, teve uma única edição pequena, e só saiu uma crítica ao livro num jornalzeco belga. Por causa do meu pessimismo, chamaram-me filho da puta, vendido ao capital e mais não sei o quê (…)
Há um continuum de falhanços. É a nossa tragédia (…) O povo é a única força verdadeira. Representa as nossas virtudes e o que temos de mais fraco, ou mau. Mas é consistente na sua atitude. As elites portuguesas nunca foram consistentes. Ou só foram num aspecto: ganho pessoal. As pessoas que têm fortuna sentir-se-iam envergonhadas [na Holanda] se não contribuíssem de alguma maneira para a sociedade, apoiando um museu, uma orquestra, uma escola, seja o que for […] Costumo dizer que no Museu da Janelas Verdes só há arte que foi roubada dos conventos, mas não há nada oferecido pelas famílias ricas, que, podendo contribuir para o bem comum, nunca o fizeram. É triste, mas é mesmo assim ” [“Voltar a Abril”, entrevista de José Mário Silva a J. Rentes de Carvalho, in Expresso /Atual, 22/03/2014]
 

J.M.M.