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domingo, 20 de março de 2011

JORNAL DO CENTRO PROMOTOR DOS MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS


AQUI tivemos ocasião de referir uma das associações que pugnaram pela "emancipação operária", o Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas (fundado em 1852), não obstante ter colaborado, por diversas vezes, com as organizações patronais ou ter sido mesmo órgão consultivo do governo. O Centro Promotor preocupou-se, de facto, com o desenvolvimento educativo, cultural e político dos associados; foi, depois, pela aprendizagem e o debate político, uma organização de ruptura social; na verdade, o Centro Promotor, era uma colectividade onde coabitavam liberais, republicanos, socialistas, maçons [como José Fontana, João Bonança, Antero de Quental, Felizardo Lima, Jaime Batalha Reis, Sousa Brandão, Eduardo Maia, Nobre França, Teófilo Braga - ler AQUI, p.18], e, não por acaso, das divergências de antanho em torno do debate sobre a "luta operária" nasceram a secção portuguesa da AIT [Associação Internacional dos Trabalhadores] e o futuro Partido Socialista [10 de Janeiro de 1875]. Publicou o Centro Promotor o "Jornal do Centro Promotor", que é um importante repositório para o estudo do inicio do movimento operário em Portugal. Na altura tivemos ocasião de abrir um verbete sobre o Jornal. Agora com a sua total digitalização pela Biblioteca Nacional é possível fazer os respectivos aditamentos e correcções. Daí esta nova entrada remissiva.

JORNAL DO CENTRO PROMOTOR DOS MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS - I série1 (12 Fevereiro 1853) ao nº 32 (29 de Outubro de 1853); II série, nº 1 (16 de Maio 1854) ao nº3 (1 de Julho 1854), Lisboa; Administração e Redacção, Rua dos Mouros, 21, Lisboa; Imprensa da Praça de D. Pedro, 100, Lisboa [ao nº5, Imprensa Rua da Condessa, nº3, 2º andar]; publica-se aos sábados; 1853-54, 35 numrs,

Colaboração/textos: A.[António] R.[Rodrigues] Sampaio [foi presidente do Centro Promotor], A. Ribeiro da Costa, Alcântara Chaves, António Feliciano de Castilho, António Joaquim de Oliveira (operário tipógrafo), António Maria Baptista, Botelho de Vasconcelos, Brito Aranha, Cristiano Schuster, Eduardo Napoleão Silva, F. J. Ferreira de Matos, [Nicolau Maria] Ferreira da Conceição (operário alfaiate), Francisco de Paula e Silva (operário tipógrafo conimbricense), Gonçalves Teixeira (operário alfaiate), J. M.[Maurício] Veloso, João José dos Santos (operário gravador), João Maria Nogueira, João Urbano Franco de Seixas, Joaquim Baptista Leone, Joaquim Maria Baptista, José Maria António Nogueira, M. B. Teixeira Marques, M. [Miguel] J. B. Cobellos, Manuel Gomes da Silva, Olímpio Nicolau Rui Fernandes (sócio nº73 do Centro), Pedro C. Chaves (operário tipógrafo), Silveira Lopes, [Francisco Maria de] Sousa Brandão (na II série), [Francisco Maria] Vieira da Silva Júnior(importante operário tipógrafo, que foi presidente do Centro. Colaborou, anteriormente, no "Ecco dos Operários", fundado por Sousa Brandão e Lopes de Mendonça em 1850, órgão da Associação dos Operários de Lisboa. Morre a 10/06/1868).

o Jornal do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas digitalizado AQUI [via Biblioteca Nacional]

J.M.M.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A COMUNA DE PARIS





[via La Commune de Paris, com a devida vénia]

"... Depois de ouvir o alarido das greves e o estrondo das batalhas, acordou de sobressalto, levantou-se e, estendendo os olhos pelo horizonte, viu ao longe um clarão imenso: eram as chamas ateadas pela Revolução Operária de Paris, nos Paços do Poder momentaneamente derrubado.

O operariado já não deve ser como o irracional, a que soltam do trabalho só o tempo necessário para dormir e refazer-se das forças, e a que dão o alimento indispensável somente para não morrer. O operário deve ser um homem com os meios precisos para viver bem; com o tempo suficiente para se instruir e descansar; deve ser um homem no pleno gozo do seu trabalho e no uso perfeito das suas faculdades e dos seus direitos. No mundo social vai, necessariamente, dar-se uma transformação extraordinária, porque não é possível continuar o escândalo absurdo dos trabalhadores morrerem de fome e dos ociosos morrerem de fartura ..."

[in Manifesto do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, 1872]

J.M.M.

domingo, 1 de julho de 2007

MANIFESTO DO CENTRO PROMOTOR DE MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS


"... Depois de ouvir o alarido das greves e o estrondo das batalhas, acordou de sobressalto, levantou-se e, estendendo os olhos pelo horizonte, viu ao longe um clarão imenso: eram as chamas ateadas pela Revolução Operária de Paris, nos Paços do Poder momentaneamente derrubado. O operariado já não deve ser como o irracional, a que soltam do trabalho só o tempo necessário para dormir e refazer-se das forças, e a que dão o alimento indispensável somente para não morrer. O operário deve ser um homem com os meios precisos para viver bem; com o tempo suficiente para se instruir e descansar; deve ser um homem no pleno gozo do seu trabalho e no uso perfeito das suas faculdades e dos seus direitos. No mundo social vai, necessariamente, dar-se uma transformação extraordinária, porque não é possível continuar o escândalo absurdo dos trabalhadores morrerem de fome e dos ociosos morrerem de fartura. Quais serão, porém as causas de tamanha calamidade? Nos debates que se deram a respeito do pleito social, o Centro apurou as seguintes causas:

- Opressão, porque só o filho do operário, porque não tem dinheiro para remir-se, serve a Pátria na qualidade de soldado;
- Falta de autoridade, porque o trabalhador não é admitido na administração das coisas públicas;
- Falta de ciência, porque o operário não tem tempo para se instruir, e porque a ciência é monopolizada de modo a que fica só ao alcance dos abastados;
- A má interpretação da propriedade rural, que obriga, aos trabalhadores rurais, a irem para a América a substituir os escravos, ficando inculta a terça parte do País;
- O predomínio, exagerado do dinheiro, que diminui consideravelmente o produto do trabalho individual; e
- A fraqueza individual.

A primeira causa destrói-se pelo serviço militar obrigatório, sem exército permanente; a segunda fazendo derivar a autoridade administrativa do sufrágio universal; a terceira pela liberdade do ensino, sendo o primário gratuito e obrigatório; a quarta não consentindo que alguém seja dono de terrenos incultos, entregando-os estes ao município, obrigando-os a cultivá-los e a empregar os produtos em utilidade pública; a quinta pela troca de serviços e produtos, de sociedade com sociedade, evitando, quanto possível, o uso de numerário (moeda), e a sexta pela associação que produz a força, desenvolve e facilita os recursos ..."

[Manifesto do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, 1872]

J.M.M.

sábado, 30 de junho de 2007

CENTRO PROMOTOR DE MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS (PARTE II ) - O JORNAL DO CENTRO


Publica o Centro Promotor, em 1853, o "Jornal do Centro Promotor" [saía aos sábados]".

I série nº 1 [12 Fevereiro 1853] ao nº32 (29 de Outubro de 1853); II série, nº 1 ao nº3 (16 de Maio 1854-1 de Julho 1854) [cf. Vítor de Sá, Roteiro da Imprensa Operária e Sindical, 1991 - ver Aditamento AQUI].

Colaboradores: Alcântara Chaves, António José Oliveira, C. Fernandes, Ferreira da Conceição, J. M. Baptista, João Maurício Veloso, José Maria António Nogueira, José Máximo Veloso, Manuel Gomes da Silva, Francisco Maria Vieira da Silva [importante operário tipógrafo, que foi presidente do Centro. Colaborou, anteriormente, no "Ecco dos Operários", fundado por Sousa Brandão e Lopes de Mendonça em 1850, órgão da Associação dos Operários de Lisboa. Morre a 10/06/1868].

Tinha o Centro Promotor uma biblioteca curiosa, que foi inaugurada e 14 de Janeiro de 1871, com livros provenientes de diversas instituições, do governo e de particulares.

O Centro esteve situado, primeiro no palácio da Rua dos Mouros, depois na Rua dos Calafates, Rua do Ferregial, Rua da Mouraria, Travessa da Assunção, Largo de S. Domingos, Rua da Madalena, Rua das farinhas e Poço de Borratém [cf. Goodolphim, 1974].

Com conflitos ideológicos e rivalidades internas entre os seus membros [vidé "O Sindicalismo em Portugal", de Manuel Joaquim de Sousa, Afrontamento, 1972], acaba o Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas em 1872. O trabalho e a "iniciativa empreendedora da instrução e organização dos operários" [cf. Joaquim de Sousa, 1972] são meritórios. Como nos diz Manuel Joaquim de Sousa [ob. cit.], "ali se redigiram estatutos, organizaram-se classes, fez-se trabalho de solidariedade humana e de educação social e associativa, desbravando-se terreno para sementeiras futuras".

J.M.M.

CENTRO PROMOTOR DE MELHORAMENTOS DAS CLASSES LABORIOSAS - PARTE I


A reunião para a fundação do Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, que ocupa lugar relevante na "história das associações de Portugal" [Costa Goodolphim, in “A Associação”, Seara Nova, 1974] tem, primeiro, lugar na Associação dos Alfaiates e, em seguida, numa outra reunião na sala da Sociedade dos Artistas Lisbonenses, em 1852 [cf. Goodolphim, 1974]. Diz-nos Goodolphim que ao Centro "se deve o grande desenvolvimento social que tomaram as classes laboriosas".

O título foi proposta de José e Silva e os seus estatutos [ver "Estatutos do Centro ...", Impr. Nacional, 1853] foram aprovados por decreto de 16 de Junho de 1853. Foram “elaborados por F. M. de Sousa Brandão”. Reza os estatutos que o Centro tinha como finalidade "criar associações, difundir o ensino elementar e técnico, organizar presépios e asilos para os inválidos, estabelecer depósitos e bazares, propagar por escrito os conhecimentos de economia industrial e doméstica, aperfeiçoar os métodos de trabalho, ...”" [ibidem]. Posteriormente os estatutos foram "reformados" em "sessão de 19 de Outubro de 1870". Daí resultaria o aparecimento de comissões, "associações de classes" ou de "instrução”", porém os "novos estatutos" nunca foram aprovados pelo governo.

Foram presidentes: António Rodrigues Sampaio (até 1863) e depois Francisco Maria Vieira da Silva.

Refira-se [cf. Goodolphim, 1974] algumas curiosas acções que patrocinaram: organização de uma comissão promotora das associações operárias, em 1853 [participação de Lopes de Mendonça, Vieira de Silva, Sousa Brandão, Oliveira Pimentel, A. Roxo, F. Gonçalves, Gomes da Silva]; debate para a criação de "um albergue para os inválidos do trabalho", 1863; discussão sobre a "questão alimentícia", "organização de creches", 1865; proposta de protecção da literatura nacional "e que os diplomas das universidades espanholas fossem valias em Portugal", 1869; etc [vidé, Goodolphim, 1974]

Em 1872, o Centro toma o rumo socialista e dirige um Manifesto [apresentaremos um curto excerto], que pela importância das suas propostas (na economia, no ensino, no trabalho, etc) tiveram eco no País e no estrangeiro. Como curiosidade, registe-se que participaram nos vários debates sob iniciativa do Centro, figuras como Antero de Quental, Azevedo Gneco, Casal Ribeiro, Felizardo Lima, Fontes Pereira de Melo, Gomes da Silva, João Bonança, João de Sousa Amado, José Fontana, José Mesquita da Rosa, Júlio Máximo Pereira, Lúcio Fazenda, Miguel Carvalho, Nobre França, Oliveira Martins, Silva Viana, entre muitos.

Como resultado do seu trabalho e da importância revelada, o Centro é considerado, mesmo pelo próprio governo, como "o centro das associações operárias" [ibidem].

[a continuar]

J.M.M.