Armando Adão e Silva nasceu em Lisboa, em 24 de
Fevereiro de 1909 [cf. “Candidatos da Oposição à Assembleia Nacional do Estado
Novo, 1945-1973 – Um Dicionário", Texto, 2009]. Depois dos estudos liceais no
Gil Vicente, frequenta a Universidade de Direito de Lisboa, onde se forma [em
1931; foi colega de curso de Acácio Gouveia, Fernando Olavo, José Magalhães
Godinho, Teófilo Carvalho dos Santos e Nuno Rodrigues dos Santos – cf. José
Ribeiro dos Santos, “Memórias da memória, Rolim, 1986, p. 109], seguindo a
profissão de advogado, especializado em questões de matéria comercial.
Adão e Silva é iniciado na maçonaria [n.s. “Mestre de
Avis”] a 27 de Janeiro de 1935, na Loja Liberdade, nº 197, do qual foi
Venerável durante a clandestinidade [a Loja Liberdade foi das poucas lojas que
se manteve em actividades durante a clandestinidade – sobre a Loja Liberdade
ver AQUI; consultar Adão e Silva e a Loja Liberdade no livro “Uma História da Maçonaria”,
de António Ventura, 2013]
Em 1943, Adão e Silva, é membro fundador da União
Democrato-Socialista
[UDS – núcleo antifascista, que é criado após a
formação do NDAS (Núcleo de Doutrinação e Acção Socialista, que tem como
apoiantes, entre outros, António Macedo, Artur Santos Silva, Costa e Melo,
Fernando Valle, Gustavo Soromenho, Manuel Mendes, Mário Cal Brandão, Mário
Castro, Paulo Quintela, Teixeira Ribeiro, Vitorino de Magalhães Godinho), de
que faziam parte, além de Adão e Silva, Fernando Mayer Garção, José Joaquim
Gaita, Carlos Sá Cardoso. Publicou o periódico clandestino “V” – ver
“Socialistas na Oposição ao Estado Novo, de Susana Martins, 2005],
que fundindo-se com o NDAS, dá origem, em 1944 [ou
finais de 1943?], à União Socialista, mantendo-se em actividade até à década de 50
[cf. “Socialistas …, ibidem]. Refira-se que surge Adão e Silva [juntamente com
Teófilo Carvalho dos Santos, Vasco da Gama Fernandes, Carlos Vilhena e Mayer
Garção] como filiado num “Partido Trabalhista Português”, que segundo José
Pacheco Pereira [citado no "Socialistas …”, ibidem, p. 50] resulta de “uma
mistura entre uma organização política clandestina e um grupo de inspiração
maçónica”
Armando Adão e Silva integra o MUNAF (1943-44), participa na
célebre reunião de 8 de Outubro de 1945, no Centro Escolar Republicano Almirante
Reis, que origina a constituição do MUD
[é um dos subscritores do requerimento ao governador
civil de Lisboa a pedir autorização para essa célebre reunião, juntamente com
Afonso Costa (filho), Alberto Candeias, Guilherme Canas Pereira, Gustavo
Soromenho, José Magalhães Godinho, Luís da Câmara Reis, Manuel Catarino de
Castro, Mário Lima Alves, Manuel Mendes, Teófilo Carvalho dos Santos; a
reunião, num sala repleta, foi presidida pelo prof. Barbosa de Magalhães - na FOTO acima Adão e Silva é o 3º, a contar da direita, de braços cruzados; a FOTO marca a presença da Comissão Central do MUD na saída do governo civil, a 6 de Novembro de 1945, onde foi apresentar as listas de apoiantes - via Casa Comum],
fazendo parte da sua primeira comissão central. Na
campanha de Norton de Matos (1949) apoia o “grupo dos 24” [pró-atlantista e
pró-americano], que rompe com o PCP. Participa em 1949, ainda, no Directório
Democrato-Social [grupo de republicanos, conhecidos por “Os Barbas”, onde se
integravam Acácio Gouveia, António Sérgio, Azevedo Gomes, Carlos Sá Cardoso,
Jaime Cortesão, Nuno Rodrigues dos Santos, Raul Rego].
Em Maio de 1953 é um dos fundadores da “Comissão
Promotora do Voto”, uma “iniciativa de António Sérgio [e de Luís de Almeida,
Manuel Duarte, Mayer Garção, João Pedro dos Santos, Nuno Rodrigues dos Santos],
em vésperas da eleições legislativas de Novembro desse ano e quando a oposição
de encontrava profundamente dividida” [cf. José Pacheco Pereira, in Ephemera] e
que contava com “o apoio do Directório Democrato-Social” [ibidem].
Em 1954, é Adão e Silva um dos subscritores da tentativa de
fundação da associação política “Causa Republicana”, que foi indeferida pelo
Estado Novo [fez parte da sua comissão fundadora, que integrava, entre outros,
Barbosa Magalhães, Azevedo Gomes, Cunha Leal, Marques Guedes, José Domingos dos
Santos, Ramada Curto, Câmara Reis, Ramon De La Feria, Dias Amado, Mayer Garção,
Casais Monteiro, Sá Cardoso, Acácio Gouveia, Nuno Rodrigues dos Santos, Gustavo
Soromenho; do mesmo modo integrava, a 5 de Outubro de 1954, o Secretariado da
projectada associação - ver TUDO AQUI]
Curiosamente, Adão e Silva, não integra a Acção
Socialista, nem adere à fundação do Partido Socialista. Apoia, sempre, as
campanhas eleitorais contra a ditadura, tendo sido candidato nas eleições de
1953, 1965 e 1969.
Foi preso em 1959 e, na sequência de ter sido um dos 62
signatários do “Programa para a Democratização da República” [1961], é de novo levado
para a prisão [cf. “Candidatos da Oposição …, ibidem]. Pertenceu à Liga
Portuguesa dos Direitos do Homem [fundada em 1923 por Sebastião Magalhães
Lima], fazendo parte do seu directório, bem como fez parte dos corpos
directivos da Ordem dos Advogados. Foi por diversas vezes advogado dos presos
políticos do Estado Novo, nos tribunais plenários.
Após o 25 de Abril, a 15 de Julho de 1974, faz parte,
com Adelino da Palma Carlos [e Almeida Ribeiro, Norberto Lopes, António Waldemar,
Paradela de Abreu], do denominado “Partido Social-Democrata Português”, de raiz
humanista racionalista, que desaparece, sem êxito. Adere ao Partido Socialista,
demitindo-se em 1978, seguindo os “renovadores”, integrando o “Grupo de Acção
Renovadora”. É eleito deputado pela Aliança Democrática, nas eleições
intercalares de Dezembro de 1979, pelo círculo de Aveiro. Ainda, como
curiosidade, registe-se que fez parte do “conselho jurisdicional do Sport
Lisboa e Benfica e foi presidente da Associação de Futebol de Lisboa”.
Após o 25 de Abril de 1974, Armando Adão e Silva esteve presente
na reorganização do GOL [acompanhando nessa missão outros dedicados maçons,
como A. H. de Oliveira Marques, Carlos Sá Cardoso, o comandante Simões Coimbra,
Luís Dias Amado, Luís Gonçalves Rebordão, entre outros] e foi importante na restituição do Palácio Maçónico [ver, p. expl., os jornais de 7 de Maio de 1974, onde é
apresentado um comunicado assinado por Adão e Silva, Dias Amado e o comandante
Simões Coimbra, como representantes do “Grémio Lusitano”. O Palácio Maçónico tinha
sido ocupado - como resultado da Lei 1901 contra as Associações Secretas - pela
Legião Portuguesa, em 1937, com o confisco dos seus bens. A Lei 1901 foi
anulada a 4 de Novembro de 1974 e o Palácio foi restituído aos seus legítimos
proprietários]. Foi, Adão e Silva, Presidente do Conselho da Ordem do GOL e em 1981, sucedeu a Dias Amado como Grão-Mestre do
Grande Oriente Lusitano, mantendo-se no cargo até 1984.
Morre, em Lisboa, a 1 de Abril de 1993.FOTO de Adão e Silva, via António Ventura Facebook, com a devida vénia.
J.M.M.