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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A QUESTÃO ECONOMICA PORTUGUEZA



José Relvas: A QUESTÃO ECONOMICA PORTUGUEZA. Aspectos do Problema Agrícola - Conferencia realisada no Centro Commercial do Porto em 3 de Março de 1910, Typographia Bayard, Lisboa, 1910

"[José] Relvas, histórico republicano, igualmente conhecido pela sua dedicação à artes em geral e à fotografia em particular, surge aqui a discursar na qualidade de ministro das Finanças do Governo Provisório que sucedeu à implantação da República" [ler AQUI]

via FRENESI

J.M.M.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O ESCUDO. A NOVA UNIDADE MONETÁRIA DA REPÚBLICA


Vai ser inaugurada amanhã, dia 17 de Maio de 2011, a exposição com o título em epígrafe, que nos recorda a unidade monetária, o Escudo, com que muitos de nós convivemos ao longo do século XX até ao início do século XXI, quando surgiu o Euro.

A nóvel unidade monetária demorou quase duas décadas a conseguir impôr-se ao real da Monarquia, ao contrário da rápida substituição do escudo pelo euro. Foi a promulgação, por decreto do Governo Provisório, em 22 de Maio de 1911, publicado no Diário do Governo a 26 de Maio, quando era Ministro das Finanças José Relvas, que estabeleceu:
- "Em todo o território da República, com excepção da Índia, a unidade monetária é o Escudo ouro, que conterá o mesmo peso de ouro fino que a actual moeda de 1$000 Réis em ouro. Desta sorte, a razão da equivalência do actual sistema monetário e do novo sistema, será de 1$000 Réis, ouro, por um Escudo."

Nesta sequência surgiram então cunhadas moedas de um Escudo, cinquenta, vinte e dez centavos, bem como notas. Entraram então em circulação pelo País cerca de 34 400 contos em moedas de prata e 3900 contos de moedas de cupro-níquel e de bronze.

Comissários: Maria Eugénia Mata e Nuno Valério
Local: Edifício da Casa da Moeda, Av. António José de Almeida, Lisboa
Inauguração: 17 de Maio às 18h00
Período de exibição: 17 de Maio a 15 de Julho de 2011
Horário: Todos os dias úteis das 09h00 às 19h00
Entrada livre
Organização: Imprensa Nacional Casa da Moeda e Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República

Pode ler-se na sinopse de divulgação da exposição:

Por Decreto com força de Lei de 22 de Maio de 1911, o Governo Provisório da República Portuguesa determinou uma reforma monetária que, em especial, introduziu uma nova unidade monetária: o escudo. Que razões levaram a que se procedesse a essa reforma? Qual o seu conteúdo? Que novidades trouxe para a vida quotidiana, em particular em relação aos meios de pagamento, moedas metálicas e notas de banco? Que alterações implicou nas entidades emissoras desses meios de pagamento, a Casa da Moeda e o Banco de Portugal? Qual era o valor do escudo quando foi criado e como se comportou esse valor ao longo dos cerca de noventa anos da sua existência, até ser substituído pelo euro?

Núcleos
Núcleo 1 PORQUÊ UMA REFORMA MONETÁRIA EM 1911?
Núcleo 2 DECRETO COM FORÇA DE LEI DE 22 DE MAIO DE 1911
Núcleo 3 OS NOVOS MEIOS DE PAGAMENTO. AS NOVAS MOEDAS
Núcleo 4 OS NOVOS MEIOS DE PAGAMENTO. AS NOTAS
Núcleo 5 OS EMISSORES DOS MEIOS DE PAGAMENTO. A CASA DA MOEDA
Núcleo 6 O BANCO DE PORTUGAL

Uma exposição a visitar e acompanhar com todo o interesse.

A.A.B.M.

domingo, 28 de novembro de 2010

JOSÉ RELVAS - FOTOBIOGRAFIA



LIVRO: Fotobiografia de José Relvas
AUTOR: José Raimundo Noras
EDITORA: Imagens & Letras (2010)

"Nos seis capítulos do livro, Raimundo Noras pretendeu construir uma multifacetada história de vida de José Relvas. Esse percurso inicia-se com uma abordagem às origens familiares dos Relvas, para depois evocar o "homem do Ribatejo", enquanto produtor agrícola e dirigente de classe. Os acontecimentos políticos que marcaram a instauração da República Portuguesa têm particular destaque no capítulo 'Conspirador, diplomata e ministro'. Nesse capítulo, o autor inclui um relato das 33 horas da Revolução de 5 de Outubro, com base nas memórias do próprio José Relvas, sobre o qual não falando deixando o desafio à sua leitura.

A fotobiografia aborda ainda as facetas de coleccionador, de mecenas e de músico na vida do biografado, detêm-se na história da constituição da Casa dos Patudos, para por fim evocar as memórias, sempre presentes, de José Relvas
" [ler AQUI]

J.M.M.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

FOTOBIOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS - NA CASA MANUEL TEIXEIRA GOMES (PORTIMÃO)



LIVRO: "Fotobiografia de José Relvas 1858-1929", de José Raimnundo Noras
DATA: 19 de Agosto 2010 (19 horas)
LOCAL: Casa Manuel Teixeira Gomes (Portimão)
APRESENTAÇÃO: por José Alberto Quaresma [comissário para as comemorações nacionais do 150º aniversário do nascimento de Manuel Teixeira Gomes]

"A apresentação estará a cargo de José Alberto Quaresma, comissário para as comemorações nacionais do 150º aniversário do nascimento de Manuel Teixeira Gomes, e conta com a presença do autor, o historiador José Raimundo Noras.

Durante a sessão, José Alberto Quaresma irá estabelecer a relação entre Manuel Teixeira Gomes e José Relvas, duas figuras incontornáveis da I República.

A obra, cuja edição pertence à Imagens&Letras, está inserida nas comemorações do centenário da República, e pretende ser um contributo para a compreensão do que se vivia nos primeiros dias de Outubro de 1910, em particular através do relato das 33 horas da revolução feito pelo próprio José Relvas e incluído nesta fotobiografia, onde se conta como o plano estava delineado e se narram os percalços entretanto surgidos.

Professor de história e investigador, José Raimundo Noras, natural de Santarém, é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e abordará o percurso de vida de José Relvas, centrando-se no seu papel fulcral como republicano de corpo e alma.

“Se voltar a desfalecer, gritem-me ao ouvido: Viva a República! Se não responder, é porque morri” – terão sido estas as últimas palavras do homem que às 9h00 da manhã de dia 5 de Outubro de 1910 proclamou a República Portuguesa
" [via Observatório do Algarve - sublinhados, nossos]

J.M.M.

terça-feira, 22 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte VI)



Chegados aos dias da revolução, que José Relvas deixou bem documentados nas suas Memórias Políticas, vol. I, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 109 a 148, onde são descritos pormenorizadamente os episódios que viveu, assistiu ou que lhe foram relatados na época. Não iremos, certamente, transcrevê-los, mas podemos considerar que são um elemento precioso para o estudo da época, até porque outros relatos surgiram mas foram publicados na imprensa da época e, já agora a sugestão à Comissão do Centenário da República, porque não recolher esses relatórios e publicá-los enquadrando-os com a diversidade dos participantes.

O relatório de Machado Santos, A Revolução Portuguesa (1907-1910) ainda recentemente republicado, tem sido um bom repositório dos acontecimentos, mas existiram outros que nos recordamos de ter encontrado na imprensa republicana pós 5 de Outubro como os de Afonso Pala, José de Ascensão Valdês, Ernesto Gomes da Silva, Caetano do Carvalhal Correia Henriques, Mariano Choque Júnior, Francisco de Sousa Marques, António Joaquim de Sousa Dinis entre outros que já foram recolhidos e publicados no ido ano de 1978, pela Câmara Municipal de Lisboa, com notas de Carlos Ferrão que mereciam conhecer nova edição, provavelmente, acompanhada de estudos críticos sobre os diferentes autores e respectivos relatórios.[A. H. de Oliveira Marques, Guia de História da 1ªRepública Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1981, p. 140]

Já agora outra sugestão, porque não proceder à publicação da correspondência das figuras importantes da República: Afonso Costa (propriamente sobre a vigência da República), António José de Almeida, Brito Camacho, Bernardino Machado, entre outros, que têm espólios conservados, mas que ainda se mantêm por descobrir pois alguns estão dispersos por várias partes do País e muitas vezes inacessíveis. Ou então, porque não mandar digitalizar esses espólios e colocá-los acessíveis (on line)a todos os interessados seja nas casas-museu, fundações, Assembleia da República, Presidência da República ou outras estruturas que foram criadas ao longo do tempo.

José Relvas revela que o seu círculo privado de amigos era constituído por João Chagas, a que já fizemos referência anteriormente, Manuel de Brito Camacho, José Barbosa, Inocêncio Camacho, António Ladislau Parreira, José Carlos da Maia e Aníbal de Sousa Dias com quem mantinha contacto quase permanente. De certo, a correspondência com estas personalidades seria importante de descobrir e estudar, mas por onde andará?

Quando José Relvas foi nomeado Ministro das Finanças, ele que era tido como um moderado, como afirmou Vasco Pulido Valente, tal como António José de Almeida e Brito Camacho e que "queriam uma república liberal, ordeira e respeitável" [Vasco Pulido Valente, Moderados e Radicais na I República: da Conciliação ao Terror(Outubro de 1910-Agosto de 1911)", Análise Social, vol. XI, n. 42-43, 1975 , pgs. 232-265] foi nomeado em 12 de Outubro de 1910 e substituído nas funções governativas em 3 de Setembro de 1911, regressando somente em
1919, após o assassinato de Sidónio Pais. Em 27 de Janeiro de 1919 foi convidado a formar governo, sendo o Presidente do Ministério até 30 de Março de 1919.

Quando presidiu a este último ministério teve que enfrentar as dificuldades provocadas pela revolta de Monsanto e pelo período que ficou conhecido como a Traulitânia.

Entre 1911 e 1914, durante as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, com vista a restaurar a monarquia, partindo de Espanha, Relvas foi o Ministro de Portugal em Madrid, enfrentando grandes dificuldades.

Foi iniciado na Maçonaria com o nome simbólico de Beethoven, em 1911, pertencendo à loja Acácia, mas afastou-se da sociedade em 1913.

Publicou:

- A Questão Económica Portugueza. Aspectos do problema agrícola, Lisboa, 1910 (Conferência realizada no Centro Comercial do Porto em 3 de Março de 1910)
- Memórias Políticas, 2 vols., Terra Livre, Lisboa, 1978, com prefácio de João Medina e apresentação e notas de Carlos Ferrão.(postumamente)

Colaborou nas seguintes publicações periódicas:
- VOLTA DO MUNDO (Á). Jornal de viagens e de assumptos geographicos, illustrado com milhares de gravuras, Porto, 1880 a 1883;
- ARTE MUSICAL(A), Revista quinzenal, Lisboa, 15 de Janeiro de 1899 até o n.º 409, de 31 de Dezembro de 1915, em que terminou esta publicação.

Provavelmente terá ainda colaborado noutras publicações, mas não as conseguimos localizar.

José de Mascarenhas Relvas faleceu na sua Casa dos Patudos em 31 de Outubro de 1929, curiosamente no mesmo dia em que falecia também outra das figuras fundamentais do movimento republicano em Portugal: António José de Almeida.

A.A.B.M.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

PARTIDO REPUBLICANO


Partido Republicano

Fotografia (por Joshua Benoliel) do directório do Partido Republicano:

da esquerda para a direita, Joaquim Ribeiro de Carvalho (jornalista), Marinha de Campos (ofical da Marinha), José Barbosa, Eusébio Leão, José Relvas, Malva do Vale e Inocêncio Camacho.

Via Arquivo Fotográfico, aliás Ilustração Portuguesa, 1910, 17 de Outubro, p.494.

J.M.M.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte IV)


JOSÉ RELVAS (Parte IV)

Quando estava na viagem por alguns países da Europa [França e Inglaterra], para garantir o apoio à causa republicana que preparava a revolução, enviou uma missiva ao seu amigo João Chagas onde explicava algumas das acções que desenvolveu juntamente com Magalhães Lima. Assim, escreveu José Relvas:

Não foi sem grande dificuldade que eu resolvi anuir à publicação duma nota oficial, e por duas razões: a primeira porque a orientação da junta consultiva se tinha pronunciado no sentido de uma simples missão de contacto, embora por último tivesse inclinado para nos deixar árbitros do que mais conviesse fazer; segundo porque, não sendo eu na realidade um político receei colaborar num documento em que pudesse ver-se a intenção de depreciar por qualquer forma o País.

A nota foi muito cuidada e revista por vários modos. Por último pedi a Jean Bernard que a lesse e verificasse bem se haveria nesse documento uma afirmação, ou qualquer palavra, que se prestasse a uma desagradável interpretação. Afirmou-me terminantemente que não via outra coisa que não fosse um alto sentimento patriótico. Então, e, visto que sem essa nota, muito pouco se faria, resolvi anuir à publicação, pensando ainda que só comprometia a responsabilidade do partido republicano, afirmando o seu propósito de manter todos os compromissos internacionais, legalmente tomados por Portugal.

Não sei como o partido vai receber essa resolução; se a não aprovar, que ao menos nos conceda que procedemos com a melhor intenção.
[...] [Correspondência Literária e Política com João Chagas, vol. I, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1957, p. 156-157]

Nota-se nestas afirmações a necessidade de justificação dos actos de uma missão que procurava garantir o apoio que o País iria necessitar após a implantação da República. Para tal, os emissários do partido republicano pareciam estar hesitantes quanto às acções a tomar, porque tinham indicações iniciais para um determinado tipo de tarefa, mas que com o evoluir dos acontecimentos internamente conduziu à tomada de um conjunto de decisões que podiam ultrapassar a missão para a qual tinham sido mandatados.

Outro dos aspectos relevantes, nesta carta, é que permite ver a preocupação sincera deste republicano. Por um lado, a preocupação em não fazar nada que pudesse prejudicar o País, porque externamente para garantir o reconhecimento era necessário assumir a manutenção de todos os compromissos já estabelecidos por Portugal. Por outro lado, afirmava claramente a sua condição de não político, embora momentaneamente envolvido activamente na arte de tentar governar um país.
Nas suas Memórias Políticas, vol. I, Relvas afirma que havia três pontos fundamentais na acção desta missão: evitar contactos com sectores especualtivos da economia que podiam assumir propósitos sectaristas; manter afastados os partidos avançados da Espanha; finalmente, procurar conseguir o apoio da opinião pública moderada em França e Inglaterra, objectivos que parecem ter sido alcançados com a publicação da "Nota Oficiosa", elaborada pelos emissários republicanos, em vários jornais diários da França, Bélgica, Itália, Brasil, Estados Unidos da América e Inglaterra.

No regresso a Portugal, em 17 de Julho de 1910 [??], intensificam-se as actividades secretas conducentes à preparação da revolução de Outubro de 1910. Houve múltiplas movimentações e mesmo tentativas malogradas de implantar a República. Concomitantemente, as reuniões preparatórias sucediam-se no consultório de Eusébio Leão e as divergências entre as personalidades republicanas acentuavam-se. Porém, exteriormente essas divisões não tinham visibilidade porque as eleições gerais, realizadas em Agosto de 1910, obrigavam a cerrar fileiras para garantir credibilidade junto da opinião pública portuguesa.

[em continuação]
A.A.B.M.

sábado, 12 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS, O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO



A exposição, que decorre no Parlamento, subordinada ao título supra referido, e que o Almanaque Republicano procurou divulgar na blogosfera, mostra como é importante recuperar a memória. Neste caso, a memória sobre uma figura da República e esperemos que outras sejam a seu tempo recordadas.

Um povo sem memória e consequentemente sem história é, sempre, a nosso ver, um povo sem futuro, porque não conhece o seu passado. Não acreditamos que isso venha a acontecer em Portugal, mas assiste-se a uma tendência cada vez maior para se valorizar só o momento que se vive, como se nada do que acontece tenha a ver com o que já passou. Quer se queira quer não, o passado projecta-se sempre no futuro. É uma inevitabilidade, mas que muitos, em particular os órgãos de comunicação, tendem a fazer-nos esquecer. Os assuntos tratados consomem/absorvem a vida das populações que depressa viram as suas atenções para novos temas, mesmo que muitas vezes não conheçam o epílogo dos assuntos. As consequências dos acontecimentos são muitas vezes omitidas ou mesmo esquecidas porque o frenesim é permanente.

Neste momento, quando se avizinha o centenário da República é fundamental não esquecer que a História não procura fazer julgamentos a posteriori, como ainda se vê em alguns sítios. Todos temos consciência que qualquer ser humano tem atitudes, comportamentos, decisões com as quais podemos ou não concordar, mas procuraremos estar afastados dessas atitudes mais radicais que ainda vão por aí pontuando a paisagem. Não estamos a viver em 1930, estamos em 2008, e somos capazes de analisar o que consideramos correcto e o que podemos designar de erros, mas muitas vezes os participantes nos acontecimentos não conseguiram o distanciamento para admitir ou reconhecer a falha cometida.

Temos elaborado diversas biografias ao longo deste tempo, e esperamos conseguir criar bastantes mais, mas tentamos sempre manter a figura que estamos a dar a descobrir a alguma distância. Evitaremos o elogio simples, porque também sabemos que não estamos perante seres perfeitos, nem nós somos perfeitos, mas que, no seu tempo, procuraram fazer o que podiam e sabiam, condicionados que estavam, como todos nós, por uma sociedade e uma economia que não conseguiam controlar.

José Relvas foi um homem que viveu intensamente a sua época. Envolveu-se politicamente e tomou opções sobre os mais variados assuntos. Concordamos com João Bonifácio Serra quando afirmou, na abertura da Exposição sobre a personalidade em causa: uma figura singular, das mais fascinantes do Portugal das últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, José Relvas. Porque era um homem que podia fazer a sua vida sem grandes perturbações, já que os seus meios económicos eram significativos e não procurava na política mais do que uma forma de melhorar o país onde vivia. Para além disso, era uma pessoa com maturidade (50 anos) quando decidiu envolver-se na vida política de forma activa, quando, normalmente, as pessoas iniciam essa actividade bastante mais jovens.

A pesquisa elaborada pelo Doutor João B. Serra para construir a biografia de José Relvas, que ficamos a aguardar com expectativa, mostra que ainda existem muitos dados pouco conhecidos sobre a personalidade. Afirmou este investigador na sessão inaugural da exposição: Para José Relvas, a existência tinha uma ética e uma estética. A ética cumpriu-a na acção associativa e política e no programa de mudança do regime e reforma das instituições – o conspirador. A estética cumpriu-a na reunião de um património artístico – o contemplativo.

Uma personalidade como José Relvas, marcada por uma vida que poderia ser adaptada a cinema ou televisão, porque viveu um pouco de tudo. O sucesso na política e nas finanças e a tragédia na vida famíliar. A vida é, de facto, cheia de contradições, mesmo muitas vezes para os mais famosos.

Recomendamos portanto, novamente, uma visita ao Parlamento, para conhecer melhor a figura de José Relvas, o conspirador contemplativo.

NOTA FINAL: O agradecimento público ao Doutor João B. Serra, que amavelmente nos forneceu a sua declaração na abertura da exposição.

A.A.B.M.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A CASA DOS PATUDOS


Casa dos Patudos

A Casa dos Patudos, "artística residência" de José Relvas, que domina a "vasta planície ribatejana" [Raul Proença, in Guia de Portugal II, p. 366], nasce da remodelação encomendada ao então "jovem arquitecto promissor" Raul Lino, em 1904, decorrendo as obras entre 1905-1909.

Diz-nos Raul Proença [ob. cit.]:

"... o aspecto exterior da Casa dos Patudos prende logo a atenção pela elegante concordância dos diferentes motivos arquitectónicos, pela simplicidade das suas linhas e pela harmonia das suas proporções. Os dois corpos que constituem a formosa habitação, o maior, aquele que, voltado ao poente, mais avança sobre a extensa planura do Ribatejo, é emoldurado por uma ampla varanda ou galeria, formada de arcarias de volta inteira, apoiadas em colunas de capitéis românicos, sendo os parapeitos dos vãos formados por variadas combinações de tijolo caiado, tanto de uso nas regiões do sul de Portugal. Dessa galeria a vista estende-se para O. E para N. por todas essa campina do vale do Tejo, povoada de vinhas e olivais e cortada pelas fiadas de choupos que orlam as valas, sendo a linha do horizonte apenas limitada, para o poente, pelas elevações montanhosas de Santarém ..."

Por testamento (1929), José Relvas "legou a Quinta dos Patudos e praticamente todos os seus demais bens ao município de Alpiarça, determinando, entre outras cláusulas, que a residência fosse conservada como museu e mantivesse sempre a designação de Casa dos Patudos" [ler mais, aqui]

Na Casa dos Patudos, a "elegância requintada das suas salas", a presença das "preciosidades artísticas que a adornam, numa disposição dum bom gosto inexcedível", "o mobiliário, as porcelanas, as pinturas e as tapeçarias" fazem parte do riquíssimo acervo que "carinhosamente" nos legou. Futuramente será construído na Casa-Museu um Centro de Documentação, com acesso ao rico e invulgar arquivo documental de José Relvas.

Casa dos Patudos: Rua José Relvas, Alpiarça
Horário de Funcionamento: De Terça a Domingo: 10h–12h / 14h–17h (Inverno) e 10h–12h / 14h–18h (Verão).

Foto, via Arquivo Fotográfico

J.M.M.

JOSÉ RELVAS (Parte III)



Foi durante o Congresso do Partido Republicano de 1908, inicialmente indicado para se realizar em Coimbra em Abril, mas que acabou por se efectuar em Lisboa, que as facções em confronto chegaram a "vias de facto, quando os radicais pediram a demissão do Directório, caso não se comprometesse a organizar e apoiar a revolução"[Vasco Pulido Valente, O Poder e o Povo, col. Participar, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1974, p. 85-86]. Nesta contenda, os radicais foram derrotados, mas no congresso seguinte (Abril de 1909 - Setúbal) já sairiam claramente vencedores. Nesse congresso, os denominados radicais, conseguiram eleger para o Directório do partido um conjunto de personalidades que defendiam a via da revolução, eram elas: José Relvas e Eusébio Leão e entre os substitutos destacavam-se Inocêncio Camacho , Malva do Vale e José Barbosa, que substituíam com frequência os membros efectivos: Basílio Teles e Cupertino Ribeiro que viviam no norte do País e não podiam comparecer a todas as reuniões.

O Directório eleito em 1909 tinha o apoio da Carbonária e a conspiração para derrubar o regime monárquico assume outras proporções quando este Directório nomeou um comité revolucionário secreto de que faziam parte: Cândido dos Reis, João Chagas e Afonso Costa que se encarregariam de desenvolver esforços junto das patentes militares, enquanto, por seu lado, António José de Almeida funcionou como o elo de ligação com os elementos civis, em particular a Carbonária.

José Relvas "na plêiade dos propagandistas da República", "colaborou activamente na propaganda do ideal democrático" [Carlos Ferrão, A Obra da República, Editorial O Século, Lisboa, 1966, p. 264], em especial na região do Ribatejo, onde presidiu a comícios e desenvolveu significativos esforços no sentido de implantar o novo regime. José Relvas e Sebastião de Magalhães Lima foram enviados como emissários do Partido Republicano, em missão ao estrangeiro,particularmente a França, onde Magalhães Lima dispunha de diversos contactos pessoais (em especial Alves da Veiga, que vivia em Paris desde a tentativa revolucionária de 31 de Janeiro de 1891 e conhecia importantes empresários e advogados franceses) e a Londres, onde José Relvas também dispunha de uma rede de amigos bem colocados. O objectivo desta viagem, era garantir que os países europeus mais influentes se manteriam afastados das convulsões que se previam vir a acontecer em Portugal e conseguir o apoio da opinião pública desses países para a implantação da República.

[em continuação]

A.A.B.M.

domingo, 6 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte II)



A sua adesão ao Partido Republicano em 1907 vai conduzi-lo à via revolucionária, dentro do partido. Adpotando esta postura, cria dentro do partido um clima de alguma tensão, porque alguns dos mais destacados membros deste grupo político defendiam uma posição eleitoralista dentro do partido e ambicionavam tomar o poder através da via democrática e com o apoio popular. Outros, pelo contrário, não acreditavam ser possível chegar a implantar a República em Portugal, porque o regime monárquico nunca deixaria de tentar manter o poder a todo o custo, mesmo que as eleições fossem muitas vezes resolvidas através da famosas "chapeladas" ou do "carneiro com batatas" bem regado, que tornava os eleitores, em muitas regiões do país, dóceis cordeirinhos nas mãos dos influentes caciques locais.

Estas duas correntes dentro do Partido Republicano confrontaram-se por várias vezes com intrigas e jogadas políticas que só a unidade face à necessidade de implantar um novo regime impedia as cisões entre os republicanos. José Relvas adopta, desde que assume publicamente a sua adesão ao Partido Republicano, a defesa da via revolucionária (desde Maio de 1907, que se realizavam reuniões de conspiradores, defensores da implantação da República, na Casa dos Patudos, em Alpiarça), enquanto outras personalidades como Teófilo Braga defendiam a via eleitoral para chegar ao poder.

Apesar de ser surpreendido com o desenrolar dos acontecimentos, em particular com a questão do regicídio em 1908, o que terá provocado algum atraso no movimento revolucionário, porque alguns republicanos defenderam nessa altura um período de tréguas com o regime monárquico. José Relvas chega a estabelecer contactos com figuras próximas da família real onde essa hipótese chega a ser aflorada, já que em reunião realizada em casa de Bernardino Machado foi formulado esse pedido de trégua por parte dos republicanos que deveriam passar a integrar também a plataforma liberal. Porém, esta proposta não avançou porque os monárquicos a recusaram. Esta proposta chegou a ser discutida no Congresso de Coimbra do Partido Republicano, tendo Afonso Costa por proponente.

A divergência de posições entre José Relvas e Bernardino Machado foi assumida, pelo menos desde 1909, porque o primeiro enveredou pela via revolucionária enquanto o segundo optou sempre pela eleitoral. No fundo, esboçavam-se já aqui dois dos três grandes grupos que iriam emergir após a implantação da República: de um lado, José Relvas próximo do grupo do jornal A Luta, dirigido por Brito Camacho e, por outro lado, Bernardino Machado e Afonso Costa próximos do jornal O Mundo e que, segundo Carlos Ferrão, nunca terão trabalhado para provocar a revolução que conduziu à implantação da República.

[em continuação]
A.A.B.M.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte I)



Nascido na Golegã em 5 de Maio de 1858, filho de Carlos Relvas, importante proprietário, coleccionador de arte, amador tauromático, fotógrafo, filantropo e homem influente do liberalismo na região de Santarém. Era proveniente de uma família originária da Beira Alta (região de Viseu), que se estabelece na região do Ribatejo.

José de Mascarenhas Relvas frequentou, durante dois anos, a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na década de setenta do século XIX, mas acabou por abandonar o curso e matriculou-se no Curso Superior de Letras, que viria a concluir em 1880, com distinção[Carlos Ferrão, "Apresentação", in José Relvas, Memórias Políticas, vol. 1, col. Portugal Ontem, Portugal Hoje, Terra Livre, Lisboa, 1977, p. 37]. Durante este percurso terá certamente contactado com algumas das personalidades marcantes da primeira fase do movimento republicano, particularmente Manuel Emídio Garcia, professor de Direito em Coimbra e, Teófilo Braga e Zófimo Consiglieri Pedroso, professores no Curso Superior de Letras e adeptos das ideias republicanas.

Desde cedo estabeleceu relações de amizade com João Chagas , que passava longas temporadas na propriedade de Relvas, onde decorriam animados serões culturais com a presença de figuras de destque da cultura portuguesa dos finais do século XIX e inícios do século XX. José Relvas tornou-se um grande apreciador das artes e cultivava-as. Tornou-se um violinista respeitado e chegou a colaborar em alguns concertos públicos. Porque a sua fortuna familiar lhe permitia viajava com grande frequência pelo estrangeiro onde começou a coleccionar obras de arte que adquiria com frequência e que se tornaram polo de atenção para a Casa dos Patudos, onde ainda actualmente é possível encontrar esse precioso recheio.

A chegada de João Franco ao poder, em 1906, em conjunto com a tomada de todo um conjunto de decisões que favorecia o desenvolvimento do sector vinícola do Douro em prejuízo das restantes regiões vinícolas do País, acelerou a tomada de decisão de José Relvas se filiar no Partido Republicano, facto que viria a acontecer em 1907. Desde esse momento, o seu grande objectivo foi desenvolver todos os esforços para que a Monarquia fosse derrubada.

A sua residência, habitualmente sempre fervilhante de gente ligada às artes, começa a transformar-se num centro de conspiração contra o regime monárquico. Nela terão tido lugar as reuniões preparatórias onde se esboçou o plano que viria a culminar na tentativa fracassada de revolta republicana de 28 de Janeiro de 1908 e, mais tarde, no 5 de Outubro de 1910. Ali acorriam, com frequência, alguns dos seus amigos mais próximos e que, como ele, partilhavam do mesmo ideal político, como: Ricardo Durão, Joaquim Romão, Manuel Duarte, Manuel Nunes Godinho, entre outros.

[em continuação]

A.A.B.M.

domingo, 29 de junho de 2008

JOSÉ RELVAS, O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO



Foi inaugurada no passado dia 26, na Assembleia da República, uma grande exposição sobre José Relvas. Esta exposição enquadra-se já no programa comemorativo do Centenário da República que o Parlamento procura levar a efeito.

Esta exposição pretende dar a conhecer o trajecto deste dirigente associativo e político. Sendo um dos conspiradores que contribuiu de forma marcante para a queda do regime monárquico, foi um homem de grande sensibilidade e gosto artísticos, reunindo e coleccionando obras de arte de vários géneros.
Esta exposição procura sobretudo mostrar o papel de José Relvas para a revolução republicana antes do 5 de Outubro de 1910 e, na fase imediata, no Governo e na embaixada em Madrid, até 1914.

A exposição organiza-se em 11 secções. As diferentes secções tentam mostrar as várias vertentes da personalidade em questão, salientando aspectos mais ou menos conhecidos da figura e, tentando perceber as transformações que vai sofrendo ao longo do tempo com a erosão a que o regime republicano esteve sempre sujeito até às vésperas da 1ª Guerra Mundial.

Aproveitando esta iniciativa do Parlamento, a que o Almanaque Republicano dá o seu humilde contributo divulgando o evento, nos próximos dias dedicaremos alguma atenção a esta personalidade marcante na história da República: José Mascarenhas Relvas, o homem que proclamou a implantação da República em Portugal na varanda da Câmara Municipal de Lisboa.

É comissário desta exposição o Professor João Bonifácio Serra, que pertence à Comissão que organiza as comemorações para o Centenário da República. A exposição estará patente até 29 de Novembro de 2008 em diferentes espaços da Assembleia da República onde poderá encontrar outras informações úteis.

Os votos de grande sucesso para uma iniciativa sempre digna de louvor.

A.A.B.M.