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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

XVII ANIVERSÁRIO DO ALMANAQUE REPUBLICANO


“Amamos com excesso a terra e a vida, mas nem numa nem outra nos situamos” [José Marinho]

O Almanaque Republicano comemora XVII Anos de memórias e um olhar que vem de tempos imemoriais, desse antiquíssimo e sereníssimo canto do ideário da res publica. Sim! O Almanaque Republicano vê o Mundo pelos olhos da Saudade.

Firmes na exortação à demanda por um “mundo a fazer” e sustentados na Luz que nos alteia, continuaremos nestas colunas a exaltar a liberdade e o livre pensamento, felizes nos nossos corações. Nestes brutais “dias de chumbo” e de descrença, sem nenhuma das licenças necessárias, continuamos pela brisa embalada do Mondego … no Vosso Aconchego.

Abraço humílimo

Saúde, Paz e Fraternidade!

J.M.M. 

A.A.B.M. 

domingo, 5 de novembro de 2023

ANAIS DO MUNICÍPIO DE FARO, VOLUME XLV - 2023


Anais do Município de Faro. Ano LIV, nº 45 (Novembro 2023); Propriedade e Edição: Município de Faro; Director: Guilherme d’Oliveira Martins; Conselho Coordenador: Paulo Santos, Sandra Martins e Elsa Vaz; Revisão: Elsa Vaz; Conceção Gráfica: Sul, Sol e Sal; Impressão: Gráfica Comercial (Porto); Faro; Novembro de 2023.

Trata-se de uma revista de “divulgação da história, do património e da cultura da cidade e do concelho de Faro”. Fundada em 1969 suspendeu a sua edição em 2011, reaparecendo no ano de 2016. Esta importante publicação que tem desenvolvido interessantes e valiosos estudos sobre a cultura algarvia apresentou, no passado dia 4 de Novembro, o seu número XLV. A sessão de lançamento da nova revista, realizada na Biblioteca Municipal de Faro, teve a participação do diretor da publicação, o professor Guilherme de Oliveira Martins e do Presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, e foi competentemente apresentada pela escritora Lídia Jorge.

ÍNDICE: O lugar transversal da cultura e o seu papel na sustentabilidade [Rogério Bacalhau Coelho]; O silêncio das palavras … [Guilherme d'Oliveira Martins]; António Ramos Rosa - coração aberto à terra; Manuel Baptista (1936-2023); Eduardo Lourenço: retrato à mesa [Lídia Jorge]; Persa, patrono de Ossonoba [José d'Encarnação]; Noé Conejo, Ossonoba e a moeda antiga do Museu Municipal de Faro [José d'Encarnação]; Homens de Faro na casa senhorial do Infante D. Henrique (séc. xv): uma breve sondagem [Fernando Pessanha]; Jardins históricos da cidade de Faro: do século xvi à actualidade [Maria Filipa Rabaça]; Ourives do ouro e da prata com atividade em Faro no século XVII [Marco Sousa Santos]; Os Deputados do Algarve às Cortes de 1822-1823 - parte 2 [Artur Barracosa Mendonça e José Manuel Martins]; Terra Mater: o valor da terra numa freguesia farense oitocentista [Gonçalo Duarte Gomes]; José Pedro Cruz Leiria: restaurador, barrista, antiquário e muito mais ao seu serviço [Marco Lopes]; A migração de andaluzes para o Algarve: 0 caso da migração de andaluzes para o concelho de Faro, entre 1889 e 1914 [João Romero Chagas Aleixo]; Vilamoura e Costa Esmeralda: projecto de um banqueiro, utopias de um príncipe [Carminda Cavaco]; O operariado conserveiro algarvio (1890-1945) - parte I [Joaquim Manuel Vieira Rodrigues]; Estrada nacional n.° 125: um breve olhar sobre a sua história [Aurélio Nuno Cabrita]; Biblioteca Municipal de Faro: uma biblioteca patrimonial [Patrícia de Jesus Palma]; O Club Farense de 1997 a 2022 [Augusto Miranda e Carlos Afonso]; Jorge Valadas, pintor (1908-1993) [Luísa Fernanda Guerreiro Martins]; Manuel Viegas Guerreiro, traços do homem e da obra [Francisco Melo Ferreira e Maria Lucinda Fonseca]; "Farenses" que não nasceram em Faro [João Leal]; Do fenómeno ex-votista do século XIX em Faro. O caso da igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo [María del Castillo García Romero].

J.M.M.  

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

[30 DE OUTUBRO, 21.30 HORAS] TERTÚLIA: A MAÇONARIA E A FIGUEIRA FA FOZ

 


TERTÚLIA: TERTÚLIA - A MAÇONARIA E A FIGUEIRA DA FOZ;

DIA: 30 de Outubro 2021;
LOCAL: Assembleia Figueirense (Figueira da Foz);

MODERAÇÃO: José Martins (coautor do blog Almanaque Republicano);

ORGANIZAÇÃO: Diálogos ComSentidos | Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto

“O grupo Diálogos ComSentidos e a Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto anunciam que a moderação da Tertúlia "A Maçonaria e a Figueira da Foz" ficará a cargo de José Martins, professor e coautor do blog "Almanaque Republicano".

Esta tertúlia terá início às 21h30 deste sábado (30/10) na Assembleia Figueirense e enquadra-se no programa Figueira Plural: um projeto de organização conjunta entre mais de uma dezena de organizações sociais, culturais e religiosas do concelho da Figueira da Foz.

A entrada é livre”

J.M.M.

domingo, 8 de janeiro de 2017

IN MEMORIAM DE MÁRIO SOARES. ATÉ SEMPRE!




 
Nos 80 anos de Mário Soares [nasceu a 7 de Dezembro de 1924] dissemos AQUI que Mário Soares era o “avô” que estimávamos ter. Que era um fiador da nossa liberdade (“mesmo que ela só proceda de nós”), um vigilante, um lutador orgulhoso da Res Pública. E que a luz alumiada do seu caminho (mesmo em tempos desditosos) lhe soube conceder sempre elevados estímulos de liberdade - seu fecundo hábito –, um sonhado mundo de fraternidade, em que os deveres cívicos republicanos e laicos cumpriam com vigor o seu dever. Por isso afirmamos: sempre o belo espírito de Mário Soares soube caminhar de rosto levantado, honrando a generosa tradição republicana, democrática e laica.

Em nome do Almanaque Republicano, e em meu nome pessoal, em testemunho da maior estima e respeito pela sua memória querida – que nos transborda a alma -, dizemos bem alto

Até Sempre, Mário Soares.

J.M.M.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

AS SOCIEDADES PATRIÓTICAS [CONCLUSÃO]


 
As Sociedades Patrióticas (Parte IV - Conclusão)
 
[EXTRACTO] “Os Estados Peninsulares e as Sociedades Patrióticas” - (A propósito do discurso de José Liberato Freire de Carvalho na noite de 24 de Julho de 1822)”


NOTA: Extracto final do prefácio ao livro “Memória da Liberdade e do Constitucionalismo. Madrid-Lisboa / 1822”, com textos de José Liberato Freire de Carvalho e João Baptista da S. L. de Almeida Garrett, obra republicada pela Comissão Liberato (com assento em terras do Mondego) a 7 de Julho de 2016, em Coimbra - PARTE I pode ser lida AQUI | PARTE II pode ser lida AQUI | PARTE III pode ser lida AQUI

As Sociedades Patrióticas (Conclusão)

A mais importante das Sociedades Patrióticas, durante o Triénio Liberal em Portugal, foi sem dúvida a Sociedade Literária Patriótica de Lisboa. Instalada a 2 de Janeiro de 1822 tinha como objectivo “dirigir, a bem do sistema constitucional, a opinião pública por meio de escritos, e servir de escola de adquirir hábito de falar em público com precisão e acerto” [Estatutos, artº 1]. Formou-se esta sociedade [58] com membros originários do Gabinete Literário [59], que tinha sido fundado em 1821.

Dos seus Estatutos fica-se a saber que era composta por sócios efectivos (de Lisboa; os estrangeiros podiam ser admitidos) e correspondentes (noutras localidades) e que o seu número não podia ser “menor que 120, nem maior que 400”; as virtudes sociais e o amor da pátria eram as qualidades indispensáveis para se ser admitido como sócio (cap 1, artº 7, dos Estatutos); a lista saída dos seus sócios [60] atinge (em 1822) o número de 269, sendo a mais numerosa das sociedades formadas no período Vintista. Tinha, para uma boa ordem nos seus trabalhos, um Presidente, dois Vice-presidentes e um Secretário; existia uma comissão de censura (artº 28 e cap. IV) incumbida de examinar se a obra apresentada tinha “doutrina sólida”; e que todos os anos se pretendia comemorar o aniversário com “missa cantada, sermão e Te Deum em graças ao Todo Poderoso pela boa união dos portugueses, e prosperidade nacional”.

A Sociedade publicou um periódico, Jornal da Sociedade Literária Patriótica [61], que tinha como princípios “difundir a ilustração, propagar os conhecimentos úteis, obviar os erros da administração pública, tolher prevaricações, extirpar abusos”. Os assuntos ali tratados eram principalmente políticos, desde a situação política do Brasil, à economia política, administração judicial, eleições, instrução pública; publicou, em separado, extractos de questões debatidas nas sessões e curiosos e eloquentes sermões.

Do mesmo modo, publicou manifestos, folhetos [62] de distintos oradores, o que, se associarmos ao enorme impulso que teve o periodismo neste período, permite dizer que os homens do vintismo fizeram da palavra escrita uma arma virtuosa de instrução, alistamento e combate, acelerando a formação de uma opinião pública (quase sempre urbana) que se queria livre do obscurantismo, atenta ao presente e, por isso, interessada, ilustrada e zelosa.

O núcleo de homens irmanados na causa liberal que pugnaram na Sociedade Literária e Patriótica de Lisboa comprometeu-se, mesmo com intimidações e sacrifícios pessoais, no espírito e consciência do seu tempo, na liberdade como criação do progresso, na ilustração como crença do futuro. Figuras como José Liberato Freire de Carvalho (Ir. Spartacus), João B. L de Almeida Garrett (Ir. Múcio Cévola ?), Nuno Álvares Pereira Pato Moniz (jornalista e escritor; amigo de Bocage, fundador de O Portuguez Constitucional, redactor do Diário das Cortes, deputado; maçon importante do GOL), Agostinho José Freire (Ir. Séneca), José Ferreira Borges (Ir. Viriato; membro do Sinédrio), José Maria Xavier de Araújo (do Sinédrio), Paulo Midosi (comerciante e jornalista co-fundador de O Portuguez; redactor de O Nacional e Diário do Governo; Venerável da Loja Virtude), Joaquim Alves Maria Sinval (redactor do jornal Astro da Lusitania), Rodrigo Pinto Pizarro (oficial do exército, condenado á morte; deputado, ministro e Pres. do Conselho), Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho e Póvoas (do Conselho Conservador), Anselmo José Braamcamp, António Barreto Ferraz de Vasconcelos (desembargador), Bernardo de Castro Correia Sepúlveda (do Sinédrio), Gregório José de Seixas (autor de uma mensagem a Napoleão, pedindo uma Constituição), Inácio Xavier de Sousa Pissaro (do Conselho Conservador),  Joaquim César de la Figanière e Morão (importante diplomata),  José Aleixo Falcão de Gamboa Fragoso Vanzeller (Venerável da Loja Fortaleza, Grão-Mestre 1810), José Ferreira Pinto Basto Júnior (proprietário, industrial, administrador), José Porteli (Ir. Duroc; clérigo), José Vitorino Barreto Feio (oficial do exército), Luís Nicolau Fagundes Varela (magistrado e Pres. das Cortes), Rodrigo da Fonseca Paganino (escritor; bacharel em medicina; Venerável da Loja União Portugueza), Sebastião José Xavier Botelho (desembargador e deputado; director do Liceu Nacional), Tomás Oom (corrector da bolsa, director da Alfândega de Lisboa, conselheiro da Coroa), foram selectos e talentosos membros da Sociedade, escrupulosos cidadãos, uma demonstração avisada à geração liberal que se lhe seguiu.

José Liberato esteve exilado em Londres entre 1813 e 1821. Aí foi redactor de O Investigador Portuguez da Inglaterra (1814-1818), auxiliado por Nolasco e Castro, mas não cedendo às rogativas que lhe foram feitas de deixar de criticar a permanência da Corte no Brasil abandona o jornal, vindo a fundar e redigir O Campeão Português ou Amigo do Rei e do Povo (1819-1921). Regressa a Portugal em 1921 (1 de Agosto, ver Memórias, p. 141), fazendo uma longa travessia, passando por Paris, Bordéus, Baiona, Vitória, Madrid (onde se demora até Setembro), depois Cáceres, Badajoz, Elvas e, por fim, Lisboa, onde chega a 30 de Setembro. Nos dois meses que demorou a sua viagem, passou uma grande parte deles em Madrid, garantidamente a tomar o pulso da nova situação política espanhola, que decerto o agradava. E conta, nas suas Memórias, um curioso episódio (ver p. 134) passado com um “fidalgo titular espanhol” que conheceu em Madrid, que versava uma discussão sobre os debates e reuniões das Sociedades Patrióticas em Madrid. Perante a posição do fidalgo, que entendia “tais sociedades e tais debates não se deviam consentir” porque “perigosíssimas”, contrariando o gosto manifesto de Liberato de ir assistir “muitas vezes” às suas sessões, José Liberato responde: “se eu aqui governasse [Madrid], fazia com que se estabelecessem ainda muitas mais”, porque – continua Liberato – “estas sociedades duram de ordinário toda a noite (…) e a gente que de lá sai, gente de toda a qualidade, e até senhoras, vão muito contentes para suas casas (…) desafogaram e expressaram as suas ideias”. É evidente a enorme empatia que Liberato tinha por esse tipo de associação, que incitava à discussão política, participação e acção dos cidadãos.

Acontece que a Sociedade Literária Patriótica de Lisboa, como foi dito, foi instalada a 2 de Janeiro de 1822, isto é três meses depois da vinda de Liberato da emigração. Haverá nisto alguma conclusão a tirar? O certo é que, na Gazeta Universal (nº30, 7 de Fevereiro de 1822; jornal que apregoava a sermonária anti-liberal e portanto merece ressalva; tinha como redactores José Agostinho de Macedo e Joaquim José Pedro Lopes), é publicada uma curiosa e sarcástica Carta enviada (?) ao periódico e assinada por um tal Xisto (terá sido forjada pela pena do padre Agostinho de Macedo?) que diz o seguinte: foi instalada e está “em plena e activa laboração, perto do Isidro, na rua do Ferragial de Cima” a nova Sociedade Patriótica Literária, que “promete grande utilidades, e sobretudo grandes luzes à nossa Pátria”. Mais diz (a notícia grassa por 5 longas colunas) que foram eleitos para os cargos da Sociedade: Presidente, José Liberato Freire de Carvalho; 1º Vice-Presidente, Francisco Duarte Coelho (ex-ministro da Fazenda); 2º Vice-Presidente, Pato Moniz (redactor do Português Constitucional); Secretário, João Guilherme Ratcliff (funcionário público). O tom zombeteiro da Carta ou pseudo carta é manifesto, mas mesmo que assim seja, pode, além de mostrar a afectação do padre Macedo para com as figuras avançadas, revelar algum tipo de conhecimento sobre a própria Sociedade. 

A Sociedade Literária e Patriótica de Lisboa, distinta pelos sócios que a compunham, foi muito respeitada no seu labor liberal e ideologia Vintista. Deu proveito a outras Sociedades que se foram instalando, em assalto ao poder absolutista, sem intervalo nem descanso, em obediência aos princípios constitucionalistas e patrióticos. Por isso, o discurso de José Liberato Freire de Carvalho, tal como o Epicédio de Almeida Garrett – ambos a seguir reproduzidos – são ecos de um pensamento em que está presente a crença no “poder transformador das ideias”, essa luz de aprendizagem que concorre para a salvação comum. O discurso [63] viril de Liberato à memória dos espanhóis mortos em Madrid a 7 de Julho de 1822 era uma sentida e fundada esperança na vitória da pátria portuguesa e espanhola e um íntimo reconhecimento aos seus escolhidos mártires, porque “sem amor da pátria, esse amor nobre, desinteressado e sublime, que a ela tudo sacrifica, até o primeiro dos bens, a própria vida, não pode haver liberdade nem há cidadãos: só há escravos” (José Liberato).

[Fim de "As Sociedades Patrióticas" - sublinhados nossos]

J.M.M.


[58] Cf. José Silvestre Ribeiro, ob.cit., p. 128 [que seguimos de perto]. A.H.O.M. refere que é possível ter a Sociedade incorporado [regularizado] membros de algumas das sociedades patrióticas que lhe antecederam (ob.cit., p. 269). Sobre a origem da sociedade e a sua constituição ver, também, Adrien Balbi, ob. cit. tomo II, pp. 79-81.
[59] O Gabinete Literário seria uma associação que tinha como finalidade “estabelecer para uso dos subscritores e proprietários uma livraria de conhecimento do tempo”, como jornais, etc, em português e línguas estrangeiras, com livros e mapas necessários para “fazer a associação útil” e propunha-se divulgar memórias sobre as ciências morais (cf. Correio Braziliense ou Armazém Literário, 1821, vol 26).
[60] Onde “se incluíam os mais variados representantes da burguesia lisboeta, com predomínio para comerciantes, homens de leis e membros das forças armadas, mas onde não faltavam médicos, proprietários, eclesiásticos e outros muitos” – cf. A.H.O.M., ob.cit, pp. 269-270. Veja-se a ficha biográfica dos sócios apresentada por A. H. Oliveira Marques, ob.cit. (1ª parte), pp. 153-158.
[61] Ano I, nº1 (16 de Abril de 1822) ao nº26 (11 de Outubro de 1822), Lisboa, Impressão na Typographia Rollandiana, 1822, 26 números. Sobre o jornal, ver Maria Carlos Radich, ob. cit., pp.127-129.
[62] Alguns: Discursos e poesias fúnebres recitadas a 27 de Novembro em sessão extraordinaria da Sociedade Litteraria Patriotica celebrada para prantear a dor, e orfandade dos portuguezes na Morte de Manoel Fernandes Thomaz Primeiro dos Regeneradores da Patria, Typ. Rollandiana, 1823; Conciliação dirigida aos bons portuguezes pelos cidadãos unidos debaixo do nome Sociedade Litteraria Patriotica de Lisboa, Typ. Rollandiana, Março de 1823; Opinião do dr. Vicente José [Ferreira Cardoso da Costa] sobre a deliberação da Sociedade Patriótica, de que tem a honra de ser sócio para ser distribuida na sessão de 12 de Fevereiro, Typ. António Rodrigues Galhardo, 1823.
[63] A Sociedade Literária Patriótica e Lisboa, na sequência dos funestos acontecimentos de Madrid de 7 de Julho de 1822, enviou à sua congénere, Sociedade Patriótica Constitucional de Madrid, uma carta (que, curiosamente, começava com “Glória ao Supremo Senhor do Universo”), datada de 12 de Junho de 1822, em que a felicitava pelo triunfo da liberdade, desse dia. Foi publicado no Jornal da Sociedade Literária Patriótica. Agradeceu a Sociedade Constitucional de Madrid, numa extensa carta e, também, publicada no mesmo jornal. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

AS SOCIEDADES PATRIÓTICAS – PARTE III


 
AS SOCIEDADES PATRIÓTICAS – PARTE III
 

[Extracto] “Os Estados Peninsulares e as Sociedades Patrióticas” - (A propósito do discurso de José Liberato Freire de Carvalho na noite de 24 de Julho de 1822)”

 José Manuel Martins

NOTA: As Sociedades Patrióticas (Parte III) é a continuação do prefácio ao livro “Memória da Liberdade e do Constitucionalismo. Madrid-Lisboa / 1822”, com textos de José Liberato Freire de Carvalho e João Baptista da S. L. de Almeida Garrett, obra republicada pela Comissão Liberato (com assento em terras do Mondego) a 7 de Julho de 2016, em Coimbra - PARTE I pode ser lida AQUI | PARTE II pode ser lida AQUI.
 
► (...) As Sociedades Patrióticas

O primeiro liberalismo associou à sua volta diferentes intervenientes, clubes e sociedades, sendo que acresce, como dos mais relevantes, um importante elemento histórico: as Sociedades Patrióticas. O seu memorial é relativamente pouco conhecido e longe de ser sistematicamente estudado, existindo escassos estudos publicados que lhe são dedicados [31]; porém algumas referências sectoriais a este tipo de sociedades aparecem em periódicos e parcelarmente em obras gerais ou de âmbito específico, quase sempre registando a sua actividade e algum dos seus membros.

As Sociedades Patrióticas emergiram no contexto das lutas liberais, na “falta de partidos políticos organizados” [32] e resultam das profundas alterações do “modo de vida político da sociedade portuguesa”. São portanto datadas em períodos específicos.

Sitiadas nos principais centros urbanos, estes clubes de opinião e agitação pública, trocam informações políticas e filosóficas, propagam nas suas sessões ideias e soluções liberais, vigiando, apoiando e apelando à virtude e ao patriotismo como fundamento da actividade política. Funcionam assim como “caixa de ressonância” da vida pública e parlamentar, difundindo o ideário revolucionário liberal e sustentando um conjunto de actividades organizadas, de carácter político, económico e social, estando, na sua constituição ou por detrás delas, membros de sociedades secretas ou filantrópicas, e em especial as lojas maçónicas - dizia o abade Correia da Serra [33] que elas formavam a “Ordem terceira dos pedreiros livres”.

As Sociedades Patrióticas, frequentadas por burgueses, intelectuais, membros do clero e da nobreza, gente abastada, eram, porém, participadas pelas classes artesanais, que ali encontravam entusiasmo ideológico, sustentáculo do amor da pátria e da liberdade constitucional. Nessa mixagem assistia-se a um curioso contra-poder: por um lado servia de tribuna para o exercício da liberdade de opinião e por outro permitia organizar e enquadrar os cidadãos contra o despotismo realista e influenciar decisões do poder. De algum modo o modelo dessas sociedades podem ser comparadas às sociedades populares ou clubes políticos e jacobinos que surgiram durante a revolução francesa [34] e onde se iniciavam oradores e se debatiam os grandes temas da sociedade.

A origem da formação e o estatuto destas associações carece de elementos de prova mais concretos que nos permitam afirmar serem ou não elas “sucedâneos” ou sob enquadramento das lojas maçónicas [35]. No entanto existem demasiados aspectos de coincidências ou “íntimos contactos” entre as lojas maçónicas e as sociedades patrióticas, a que decerto a sociabilidade política entre Irmãos não era indiferente, quer na sua norma e estrutura organizativa, quer na utilização de práticas e vocábulos essenciais da liturgia maçónica [36]. Não se estranha, portanto, que em estudos de muitos autores hispano-americanos e, mesmo, brasileiros, se considere existir uma evidência (sempre marcada pela influência maçónica de um ou outro dos seus membros) entre as duas associações. A historiografia liberal e maçónica disso dá conta, ressalvando no entanto as inúmeras diferenças conceptuais entre sociedades secretas, associações maçónicas, sociedades paramaçónicas e sociedades patrióticas. E, decerto, será das diferenças operativas entre elas que reside algumas das dificuldades com que nos deparamos.

Com a “aurora da liberdade” do 24 de Agosto de 1822, constituem-se e proliferam, portanto, instituições e sociedades - entre as quais as Sociedades Patrióticas -, que tiveram muita importância na defesa e consolidação do liberalismo. Das Sociedades Patrióticas estabelecidas neste período conhecem-se inúmeras delas em Portugal, em Espanha [37], nas colónias hispano-americanas e no Brasil.

Em Portugal, durante o período vintista, A. H. de Oliveira Marques anota 18 sociedades patrióticas (ob. cit., p. 268); como foi já salientado, propunham-se trabalhar para defender a Constituição, vigiar o poder político, promover a instrução e conhecimentos úteis. A primeira delas [38] teria sido uma, de que fala o Marquês de Fronteira nas suas Memórias, que existiria antes mesmo do regresso de D. João VI do Brasil (Julho de 1821). Sabe-se que em Setembro desse ano subsistia em Lisboa a Sociedade Patriótica da Casa do Risco [39], ao Arsenal. E que existiu uma outra sociedade patriótica em Setúbal (1820 ?), de que pouco se conhece.

 
Arroladas estão, neste período, as seguintes: a Sociedade Patriótica Filantropia [40] (Angra do Heroísmo, 1821 ?), Sociedade Literária Patriótica de Lisboa [41] (2 de Janeiro de 1822), a Sociedade Literária Patriótica da Covilhã [42] (26 de Janeiro de 1822), a Sociedade Patriótica Promotora da Indústria Nacional [43](16 de Maio de 1822), a Sociedade Patriótica dos Amigos das Ciências e Artes [44] (Funchal, 16 de Maio de 1822), Sociedade Patriótica de Alfândega da Fé [45] (27 de Maio de 1822), a Sociedade Filarmónica [46] (antes de Agosto de 1822), a Sociedade Patriótica Portuense [47] (24 de Agosto de 1822), a Sociedade Patriótica Constituição [48] (15 de Setembro de 1822), a Sociedade Patriótica Constitucional O Gabinete de Minerva [49] (Outubro de 1822), a Sociedade Patriótica [Literária ?] de Coimbra [50] (anterior a 3 de Dezembro de 1822), a Sociedade Patriótica Agricultura [51] (Santarém, 16 de Dezembro de 1822), a Sociedade Filarmónica de Faro [52] (1822 ?), a Sociedade Patriótica de Faro [53] (1822 ?), a Sociedade Patriótica Instrutiva da Juventude Portuense [54] (6 de Janeiro de 1823), a Sociedade Patriótica Marte [55] (Porto, 26 de Fevereiro de 1823), a Sociedade Patriótica Vigilante [56] (antes de Março de 1823), a Sociedade Patriótica Fortaleza [57] (antes de Abril de 1823). Fora já do período vintista, a partir de 1834, ressurgem novas associações e recrudescem de novo as Sociedades Patrióticas, marcando com combatividade a vida política e social.



[31] Sobre as Sociedades Patrióticas tenha-se em conta, principalmente, as seguintes obras: A. H. de Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, 1ª parte (pp. 147-167) e 2ª parte (pp. 265-276), 1997 – decerto a mais documentada exposição, em Portugal, sobre as sociedades patrióticas e os seus membros; Alberto Gil Novales, Las Sociedades Patrióticas (1820-1823), Madrid, 1975, II vols; Graça e J. S. da Silva Dias, Os Primórdios da Maçonaria em Portugal, vol I, tomo II, p. 785 e segs; José de Arriaga, História da Revolução Portuguesa de 1820, vol III, livro VIII, cap. IV, p. 248 e vol IV, livro XVII, cap. VI, p. 455; José Silvestre Ribeiro, Historia dos Estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal, 1874, vol. IV; Maria Carlos Radich, Formas de organização política: sociedades patrióticas e clubes políticos (1820-1836), in O Liberalismo na Península Ibérica na primeira metade do século XIX, 1982, vol I, pp. 117-141.
[32] Em sentido moderno, os partidos políticos surgem no final do século XIX. Nos EUA aparecem já em 1830 e em Inglaterra por volta de 1832. Compreende-se que assim fosse dado a herança do filosofismo iluminista, para quem “a lógica da unicidade da razão”; isto é, a crença que só existia uma racionalidade, necessariamente una, de uma só verdade e de uma só concretização política, impossibilitaria a existência de partidos, cada um com a sua racionalidade própria – cf. José Miguel Sardica, Os partidos políticos no Portugal oitocentista, Análise Social, 1997, vol XXXII, nº 142, p.558.
[33] Cf. Graça e J. S. Silva Dias, ob. cit, p 791 (aliás via Francisco Manuel Trigoso, Memórias) - O abade Correia da Serra (1750-1823), figura notável e apaixonante, estrangeirado por motivos políticos, pois perseguido por Pina Manique por ser liberal e maçon, estudou botânica, história natural, agricultura e comércio, foi conselheiro da delegação portuguesa em Londres, ministro plenipotenciário do Reino Unido e de Portugal nos EUA, deputado às Cortes em 1822; pertenceu a inúmeras e reputadas sociedades internacionais, foi um dos fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa, sócio da Royal Society e da Sociedade Lineana, amigo especial de Thomas Jefferson.
[34] A. H. de Oliveira Marques (ob.cit., p. 266) considera que a origem destas associações foram em França “muito menos maçónicas do que as associações portuguesas correspondentes”. Refira-se, entre elas, o “Clube Bretão” (Abril de 1789; reunia-se no café Amaury, em Versailles), que se reconstitui como Sociedade dos Amigos da Constituição ou Clube dos Jacobinos (nome mais conhecido por estar instalado no convento dos jacobinos, que tinha sido pertença dos dominicanos de Saint-Jacques; foram seus membros Mirabeau, Robespierre, La Fayette, Bailly), A Sociedade Patriótica de 1789, etc.
[35] A. H. de Oliveira Marques, embora entenda que a articulação entre as sociedades patrióticas e as lojas “não é hoje muito clara por falta de documentação pertinente” (ob. cit., p. 267), integra-as nas  instituições paramaçónicas, referindo que na sua origem estariam deliberações das próprias lojas. Cita, em defesa, um curioso e importante documento da loja União Açoriana (Ponta Delgada) – Artigos Secretos e Regulamentares da R[espeitavel] L[oja] União Açoreana para instalação e direcção da Sociedade Patriótica Michaelense (1833 ?) - onde está transcrito  a redacção dos artigos visando a instalação da Sociedade Patriótica Michaelense; ainda Oliveira Marques, refere que a Sociedade Literária Patriótica de Lisboa enviou uma carta á Sociedad Constitucional de Madrid (12 de Junho de 1822) que se iniciava com “Gloria ao Supremo Senhor do Universo”, citando o Jornal da Sociedade Literária Patriótica de 23 de Junho de 1822, o que, de facto, é significativo; refere, ainda, os regulamentos da Sociedade Keporática (ou dos Jardineiros), que se desenvolveu entre os estudantes de Coimbra entre 1820-1823 e da qual Almeida Garrett foi entusiástico membro, onde se mencionava o “controle por aquela sociedade secreta de associações patrióticas, gabinetes literários e toda a espécie de corpos morais e úteis” (ibidem, p. 268). Por sua vez Graça e J. S. da Silva Dias (ob. cit) consideram que “nada nos permite estabelecer que os clubes fossem órgãos inspirados e dirigidos, ocultamente, pela Sociedade [Maçónica]”, mas que “parece difícil excluir a presença de mações nos clubes e, pela sua prática na condução de assembleias e no uso da palavra, que exercessem neles uma influência importante e canalizadora das directivas emanadas das lojas” (p. 791).
[36] Está neste caso, por exemplo, o curioso debate feito na Sociedade Patriótica Portuense, a 12 de Dezembro de 1822, à volta da questão da admissão de sócios de outras Sociedades correspondentes e da participação, intervenção, voto e, mesmo, do lugar que ocupariam esses membros visitantes (vide a Borboleta Constitucional, 1822, nº 293). O mesmo se pode observar nos Estatutos da Sociedade Literária Patriótica de Lisboa, nomeadamente se observarmos a redacção do Regimento das Sessões (cap. V dos Estatutos), onde persistem algumas similitudes ritualísticas em loja maçónica.
[37] Em Espanha, as sociedades patrióticas foram amplamente estudadas durante o período do Triénio Liberal por Alberto Gil Novales, ob. cit, pelo que se remete a sua consulta.
[38] Cf. A. H. Oliveira Marques, ibidem, p. 269. Continuaremos a seguir muito de perto o seu importante trabalho ao longo das nossas notas e para o qual se remete a informação não assinalada. Diga-se que estão referenciadas sociedades patrióticas, muito antes do Vintismo, como a Sociedade Patriótica, ou dos Bons Compatriotas, estabelecida em Ponte de Lima, com Estatutos de 5 de Janeiro de 1780 – cf. Joaquim José Caetano Pereira e Sousa, Esboço de hum diccionario jurídico, theoretico, e practico …, 1825, vol III. Da Associação Patriótica (como é referida nas Memórias do Marquês de Fronteira, Parte II, p. 237), fariam parte o capitão Bernardo de Sá Nogueira, capitão Gil Eanes da Costa, o coronel João Galvão Mexia de Origini, com o “patrocínio” do general Póvoas (cf. Silva Dias, ob. cit., p. 788).
[39] Dataria a sua instalação a 12 de Setembro de 1821, tendo-se extinguido em 1823 (?). Fariam parte dela Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, João Loureiro, José Xavier Mouzinho da Silveira e Simão da Rocha Loureiro; a sociedade deve ter organizado as comemorações do 1º aniversário da revolução liberal, solenizou o dia 15 de Setembro, além de um bodo aos pobres, com um “esplêndido jantar” presidido por Manuel Fernandes Tomás e tendo como vice-presidente António Freire. Nesse jantar participaram muitos militares convidados, deputados da Corte de Espanha e Manuel Fernandes Tomás fez sete brindes: à soberania da Nação, ao sábio Congresso Nacional, a El-Rei Constitucional, aos Irmãos do Ultramar, aos sempre leais Exércitos da Nação Portuguesa, aos Portugueses que preferem a morte à escravidão, a todos os fundadores da Grandeza deste Diain, Gazeta do Rio de Janeiro, 1821, nº 116.
[40] A sociedade supõe-se ligada á Loja Filantropia; participou na revolta liberal de 1 de Março de 1821que ocorreu em Ponta Delgada; vide António Lopes, A Maçonaria Portuguesa e os Açores (1792-1935), Lisboa, 2008, pp. 303-305.
[41] A mais importante e com maior numero de associados, de que falaremos mais adiante.
[42] Tinha correspondência com a Sociedade Literária Patriótica de Lisboa e propunha além dos seus intentos político-literários “praticar generosos actos de beneficência, tais como os de subministrar socorros pecuniários (…) e de prever a instrução gratuita das crianças pobres de ambos os sexos” (José Silvestre Ribeiro, ob. cit, p. 134). Fizeram dela parte, António Gabriel Pessoa de Amorim, como Presidente, F. Pessoa e Cassiano José Joaquim Alves. No Diário do Governo (11 de Fevereiro de 1822) há referência a esta Sociedade, pelo anúncio que foi enviado (e lido) à Sessão das Cortes, de 9 de Fevereiro, pelo Presidente da Sociedade, tendo a exposição motivado imediato debate entre os deputados, em especial Pinto de Magalhães, Sarmento, Borges Carneiro e Vilela; este último considerou que uma vez que se deve ter precauções com essas Sociedades, opina para que “haja toda a cautela para com as sociedades secretas e clandestinas, por muito mais perigosas”.
[43] A sua finalidade era “favorecer a investigação e as experiências de tipo económico, promover a indústria, propagar a instrução industrial (…) socorrer os agricultores e os operários em apuros”; o seu programa foi apresentado ao Rei a 18 de Abril de 1822; tinha como Presidente e Vice-Presidentes, Cândido José Xavier, Hermano José Braamcamp e Francisco Duarte Coelho, todos maçons; tinha em Maio de 1823 listados 400 sócios; sobre esta sociedade, consultar José Silvestre Ribeiro, ob. cit, tomo IV, p. 142 e segs.
[44] Espécie de Academia, teve vida curta devido aos acontecimentos políticos de 1823. Tinha Estatutos (1822, 23 p.), onde constam a lista de sócios (foram 28 sócios efectivos, o que não seria mera causal numeração, porque simbolizava o dia 28 de Janeiro de 1821, quando a revolta do Porto foi secundada na Madeira). A.H.O.M. (ob. cit.) diz que pode ter correspondido a um “autêntico grémio maçónico”, com ligações à loja funchalense. O visconde de Porto da Cruz (História Literária da Madeira, II vol.) refere que foi [a Sociedade] o “principal elemento que trabalhou para a implantação dos princípios da rebelião de 1820, na Madeira”. Fizeram dela parte, João Pedro Freitas Pereira Drumond, Francisco Ferreira de Abreu (secr.), Paulo Dias de Almeida, João Agostinho Pereira d’Agrela e Câmara, etc.
[45] Na sua sessão inaugural, a sociedade debateu os seguintes assuntos: instrução pública, vantagens de um governo constitucional, inconvenientes da acumulação da propriedade numa só mão e a usurpação que a cúria romana tem feito das atribuições episcopais” – cf. José Silvestre Ribeiro, ob. cit; idem nas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, do Abade de Baçal.
[46] O seu grande divulgador foi João Domingos Bomtempo. Bomtempo, assistiu (1812) aos trabalhos da Sociedade Filarmónica de Londres e quando regressa a Portugal (1815) constitui formação idêntica; propunha a Sociedade “o desenvolvimento da cultura musical através da realização de concertos de música clássica”; AHOM, refere que foi considerada “perigosa e suspeita de sociedade secreta, sendo pedreiros-livres muito dos seus cerca de 200 sócios”, pelo que foi extinta em 1828. Refira-se que reaparece, agora com o nome de Academia Filarmónica, em 1838.
[47] Importante sociedade do Porto, fundada a 24 de Agosto de 1822; seria uma versão correspondente à sua congénere Sociedade Literária Patriótica de Lisboa; os seus projectos de Estatutos (Os Estatutos foram depois publicados em opúsculo), relação geral dos sócios e actividades desenvolvidas, encontram-se muito bem transcritos no periódico do Porto, Borboleta Constitucional, a partir do nº 191, de 26 de Agosto de 1822, em diante. Publicou alguns dos discursos proferidos nas suas sessões e alguns folhetos. Sobre esta sociedade e as outras duas que se lhe seguiram, na cidade do Porto, consultar Maria Carlos Radich, ob. cit., p. 122 e segs. Ver, também, o Diário do Governo (13 de Março de 1823), onde está transcrito uma lista de sócios da Sociedade.
[48] Tinha como objectivos “a defesa do sistema constitucional e a promoção do bem da Pátria”; conhecem-se os seus Estatutos; Oliveira Marques diz que é plausível a sua ligação á loja maçónica 15 de Setembro, pelo facto de nos seus Estatutos se apresentar como finalidade comemorarem esse dia. Publicou alguns folhetos, como a Oração Fúnebre consagrada à Memoria dos Martyres da Patria, 1822. Vem no Diário do Governo (4 de Março de 1823) uma extensa lista dos seus associados, no final de uma exposição apresentada nas Cortes.
[49] Sociedade das mais activas, vigilantes e combativas; conhece-se os seus Regulamentos, onde consta uma lista de 77 fundadores. A ela pertenceu José da Silva Carvalho, Marcos Pinto Soares Vaz Preto, José Tomás Branco, entre outros – ver A. H. de Oliveira Marques, ob. cit. p. 271. Moura Coutinho, um dos seus sócios fundou em Coimbra o periódico Minerva Constitucional. No Diário do Governo (21 de Janeiro de 1823), no que diz respeito ao relato das Cortes, é referido um pedido enviado a El-Rei pela Sociedade Minerva para que fosse agraciado o seu sócio José Anastácio Falcão, que se encontrava preso há 55 dias. O pedido foi concedido. Curiosamente, o jornal publica alguns desses documentos (7 de Janeiro de 1823) como prova do pedido feito, tendo como assinatura pela Sociedade Minerva: João Silvério da Cunha Lobo (Pres.), José Thomas Branco (Secr.) e Manoel Antonio de Vasconcelos (Secr.). No dia 16 de Janeiro (dia comemorativo da reunião das Cortes Constituintes), a Sociedade Minerva celebrou uma Sessão evocativa desse dia, onde estiveram presentes membros da Sociedade Literária Patriótica e da Constitucional (ver Diário do Governo, 7 de Fevereiro de 1823).     
[50]  De que pouco se conhece.
[51] Correspondia-se com a Sociedade Promotora da Indústria. Propunha-se “promover a instrução pública em todos os seus ramos, especialmente em aquele da Agricultura”. Foram sócios, António Salinas de Benevides, Anselmo José de Matos, João António Pereira, José Diogo Mascarenhas Neto (A.H.O.M., ibidem). Ver, também o Diário do Governo (8 de Março de 1823) está registado uma extensa lista dos sócios.
[52] A data é incerta. Segundo A.H.O.M., “parece ter sido um Grémio, correspondente à loja maçónica local Fraternidade”, que era composta com grande número de clérigos.
[53] De data incerta (1822 ou 1823 ?), era uma sociedade de instrução e recreio. Na sessão das Cortes de 12 de Março de 1823, apresenta “felicitações e protestos de adesão ao sistema constitucional” (Diário das Cortes). Tinha na data 21 sócios.
[54] Nos seus Estatutos (Porto, 1823) a Sociedade visava que os jovens portuenses se exercitassem “a falar em público com decente desembaraço, exactidão de ideias e pureza de linguagem” de modo a “expender razões sobre as vantagens deduzidas do sistema constitucional”. Dirigida por adultos, contou na sua direcção com Duarte Lessa (Pres.), José Rodrigo Passos, João Nogueira Gandra (1º Secr.), José Joaquim Ferreira de Moura, com um total de 77 sócios jovens (A.H.O.M., ibidem, p 273). Os jovens associados distribuíam folhetos, promoviam a beneficência e realizavam sessões de esclarecimentos. Caetano José de Abreu, estudante e sócio da sociedade, publicou um curioso opúsculo, A Sociedade Patriótica Instructiva da Juventude Portuense aos Transmontanos, Porto, Imprensa da Gandra, 1823. Ver sobre esta sociedade, Isabel Nobre Vargues, A Aprendizagem da Cidadania em Portugal (1820-1823), Minerva, 1997, p. 194.  
[55] Curiosa sociedade que pretendia “militarizar os seus membros”, em 1823.
[56] No Diário do Governo (10 de Fevereiro de 1823), quando é salientado o trabalho das Cortes, há referência à “abertura” dessa Sociedade (26 de Janeiro), e onde o bacharel José Manuel Antunes Monteiro, na qualidade de Presidente da Sociedade, usou da palavra. Está publicado, no mesmo jornal, o discurso do seu Presidente, e é acompanhado da assinatura dos seguintes sócios: Luís António Gonçalves de Mesquita, Alexandre Balbino Proença, Silvestre Rodrigues dos Santos Valadas, Manuel Joaquim Mascarenhas, Henrique Daniel Wenk, Desiderio Joaquim de Oliveira, José Joaquim leal (capitão tenente), Rafael Arcangelo de Santa Ana, José Pedro de Melo, Gregório Joaquim Gomes Aronca, Francisco Zacarias Ferreira de Araújo.
[57] Fundada em Lisboa (Belém), poderá estar associada à Loja maçónica Fortaleza (foram dela membros, Manuel Fernandes Tomás, José Liberato Freire de Carvalho, José da Silva Carvalho, João Maria Soares Castelo Branco, José Aleixo Falcão de G. F. Vanzeller, entre outros); há uma referência a esta Sociedade no nº 100 (de 2 de Maio de 1823) do periódico Borboleta Duriense (A.H.O.M., ibidem). Uma extensa listagem de sócios aparece no Diário do Governo (29 de Março de 1823), numa nota onde se diz que um grupo de cidadãos “acaba de se reunir” em Sociedade, com o título de Fortaleza. 

[A CONTINUAR] - sublinhados nossos
 
J.M.M.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

AS SOCIEDADES PATRIÓTICAS – PARTE II


 
AS SOCIEDADES PATRIÓTICAS – PARTE II

[Extracto] “Os Estados Peninsulares e as Sociedades Patrióticas” - (A propósito do discurso de José Liberato Freire de Carvalho na noite de 24 de Julho de 1822)”
José Manuel Martins

NOTA: As Sociedades Patrióticas (Parte II) é a continuação do prefácio ao livro “Memória da Liberdade e do Constitucionalismo. Madrid-Lisboa / 1822”, que apresenta textos de José Liberato Freire de Carvalho e João Baptista da S. L. de Almeida Garrett, obra republicada pela Comissão Liberato (com assento em terras do Mondego) a 7 de Julho de 2016, em Coimbra. A PARTE I pode ser lida AQUI.

O Triénio Liberal (1820-1823)

É grande a similaridade entre o estabelecimento do regime monárquico-constitucional em Espanha e em Portugal [7], mas não podemos esquecer que a dinâmica do liberalismo peninsular estava ligado ao movimento geral que se estendeu por toda a Europa e no qual os aspectos económicos, as invenções técnicas, o progresso industrial e as estratégias de expansão dos países mais desenvolvidos - como a Inglaterra e a França -, jogavam um papel decisivo: o que não será de todo indiferente [8].
 

O Triénio Liberal (1820-1823) nos dois Estados Peninsulares é aparentemente convergente, mas um exame à situação torna tudo mais complexo, sendo o seu processo bastante ambíguo. Alguns factores [9] são comuns aos dois estados: as inúmeras contradições ideológicas, económicas e sociais dentro da monarquia absoluta, que precedem a mudança; as alterações provocadas pelas invasões francesas que animam uma opinião pública mais esclarecida; o contágio de matiz ideológico ou revolucionário importado de França e o regresso dos emigrados; a emergência da burguesia, então ainda um grupo social minoritário; a ausência do Rei e da Corte em ambos os países; um aparelho militar subalternizado e sob comando de mãos estrangeiras; o fim dos impérios, com as guerras da independência na América espanhola e a independência do Brasil; a acção dos clubes e sociedades políticas e, principalmente, das associações secretas, apesar da perseguição e montaria encetada a liberais e maçons.

 
A restauração absolutista em 1823, com a mão amiga da Santa Aliança e o eterno conflito entre o liberalismo moderado e o liberalismo radical, retardou o anúncio de uma regeneração [10] nos dois Estados e atrasou o avanço para uma Ibéria contemporânea. De facto, uma Europa a caminho da revolução industrial, com novas dinâmicas administrativas e sociais e profundas alterações das relações sociais, sob forte liderança de uma burguesia empreendedora e esclarecida, encontra nos Estados Peninsulares uma burguesia incapaz de “alterações significativas” [11] e regeneradoras, de que não era alheio o atraso económico nos dois países. Seria, no entanto, o “primeiro assalto à fortaleza” do absolutismo e do legitimismo tradicional, a “primeira grande ofensiva liberal”.

 
É conhecido o conflito que deu origem à Guerra Peninsular (1807-1814) ou Guerra da Independência (em Espanha) e de como confrontados com a resistência das populações ibéricas e com apoio inglês, as tropas napoleónicas são obrigados a retirar da Península. Os acontecimentos nos dois países, no “seguimento da falência da aventura napoleónica”, originaram uma vaga nacionalista, patriótica e liberal, dando início a um longo processo de implantação do primeiro liberalismo, de influências recíprocas. A Constituição de Cádis (1812) terá, por isso mesmo, o seu corolário na Constituição liberal portuguesa de 1822 [12].

 
A elite intelectual liberal que propunha um mundo novo, em Portugal e Espanha, forja-se entre os letrados que o gérmen do iluminismo ilustrou, a partir da reforma pombalina de 1772 [13] (entre nós) e com o afluxo de portugueses e espanhóis emigrados.
 

O século XIX foi um curioso período, profundamente revolucionário, em que a luta para uma nova ordem liberal, mesmo com os abalos sofridos que se conhecem, traz a utopia da cidadania, do idealismo da liberdade individual, liberdade de reunião, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade do comércio, valores que fizeram ruir os escombros do absolutismo e da velha ordem; mesmo já durante o Triénio Liberal, foi visível essa fecundidade cultural, essa “aurora” de luz feita a partir dos clubes, das Sociedades Patrióticas, das lojas maçónicas e por um periodismo virtuoso e combativo. A ruptura política, entre o despotismo e o regime constitucional, estava em marcha.

 
Mas tal não bastou para que (entre nós) o primeiro liberalismo triunfasse, tal a “incipiente e contraditória experiência constitucional tentada pelas Cortes Gerais de 1820-22” [14]. A burguesia não beneficiava dos meios e das estruturas (sociais e mentais) como as que existiam além Pirenéus, onde o capitalismo, arrastado pelo impulso das técnicas, do comércio e da indústria, lutava contra os entraves ao seu próprio desenvolvimento; pelo contrário, a burguesia (com contradições insanáveis entre a burguesia agrária e a comercial) foi, perante as suas insuficiências e bloqueios (reforma dos forais, por exemplo), obrigada a “arranjos políticos” com a velha classe dirigente. Isto é, a Economia Política [15], que já fazia luz em alguns sábios, restou apenas entre os letrados, sem nunca aceder, em rigor, aos patamares do trono e da governação, que manteve o seu espírito conservador e obscurantista. Só a vitória do liberalismo em 1834 - com a derrota do absolutismo e as consequentes legislações inovadoras de Mouzinho da Silveira e Ferreira Borges, apoiadas na reforma da instrução pública [16] de Passos Manuel ou na posterior reforma descentralizadora (1878) de Rodrigues Sampaio - levará ao lento ruir das bases do antigo regime e dos valores tradicionais, possibilitando a “regeneração económica”, o devir de um novo modelo de desenvolvimento [17], enfim, o (hesitante) começo de um “novo mundo”.


[7] Para além dos estudos clássicos sobre a Revolução de 1820, que adiante citaremos, veja-se o trabalho de Manuel Filipe Cruz Canaveira, Liberais Moderados e Constitucionalismo Moderado (1814-1852), INIC, 1988.
[8] Sobre a questão económica nesta fase do liberalismo vintista, consultar entre nós: Fernando Piteira Santos, Geografia e Economia da Revolução de 1820, Lisboa, 1962; Julião Soares de Azevedo, Condições económicas da revolução portuguesa de 1820, Básica Editora, 1976 (2ª ed.).
[9] Ver, principalmente: Joaquim de Carvalho, Período de indecisão e triunfo da corrente regeneradora, História e Portugal (Damião Peres), vol. VII, cap. II, pp. 60-73; Albert Silbert, Le problème Agraire Portugais ao Temps des premières Cortès Libèrales, Paris, 1968; Manuel Fernandes Tomás. A Revolução de 1820, Seara Nova, 1974, com importante prefácio de José Tengarrinha; O Liberalismo na Península Ibérica na primeira metade do século XIX, Sá da Costa, 1981.
[10] O vocábulo “regeneração” foi largamente utilizado e abundantemente citado pela corrente liberal em ambos os países da península (em Portugal, o seu uso é bem anterior ao movimento político de 1851 ou golpe do marechal Saldanha). Sobre o assunto ver: Telmo dos Santos Verdelho, ob. cit; Maria Cândida Proença, A Primeira Regeneração. O Conceito e a Experiência Nacional (1820-1823), Horizonte, 1990; Joel Serrão, Da Regeneração à República, Horizonte, 1990. Ver, ainda, Luís Reis Torgal, A contra-revolução e a sua imprensa no vintismo: notas de uma investigação, Análise Social, 1980, vol XVI, nº 61-62, pp. 279-292.
[11] Cf. Luís Almeida Martins, Um prelúdio de 500 anos de Guerra Civil de Espanha, revista História, Ano XI, nº 115, 1989, p.13.
[12] O pronunciamento militar português (11 de Novembro de 1820) comandado por Gaspar Teixeira, conhecido por “Martinhada”, ao fazer um ultimato ao Governo Provisional (nascido da Revolução de 1820) onde se impunha que “se jurasse a constituição espanhola” de Cádis até à convocação das Cortes, diz bem dos acontecimentos paralelos que decorriam nos dois países, como também pronuncia as profundas divergências que opunha os liberais moderados aos exaltados em Portugal.
[13] No período pombalino, o contacto com a literatura das “luzes” - textos de Locke, Voltaire, Rousseau e dos enciclopedistas em geral (lidos muitas vezes no original), bem como de portugueses como Ribeiro Sanches, Filinto Elísio ou Cavaleiro de Oliveira – é realizado em núcleos restritos, bibliotecas particulares ou Sociedades, como foi o caso de Valença do Minho (biblioteca Diogo Ferrier), Lamego (animado por Agostinho José Freire), Coimbra ou Lisboa (Casa do Risco da Ribeira da Naus, onde pontificava José Bonifácio de Andrada) – ver Luís A. de Oliveira Ramos, Sob o Signo das Luzes, INCM, 1987, p. 135 e segs; sobre a reforma Pombalina na Universidade de Coimbra, ver Maria Eduarda Cruzeiro, A reforma pombalina na história da Universidade, Análise Social, 1988, vol. XXIV, pp.165-210.
[14] Cf. Joel Serrão, Da Regeneração à República, ob. cit., p. 41. Sobre os trabalhos das Cortes Constituintes, no que diz respeito a aspectos de natureza económica, consultar José Luís Cardoso, A legislação económica do vintismo: economia política e política económica nas Cortes Constituintes, Análise Social, 1991, nº112/113, pp 471-488. José Manuel Tengarrinha (Manuel Fernandes Tomás, ob. cit.), aponta o debate da reforma dos forais, da questão do direito da propriedade ou da transferência da propriedade rural (que só se verifica a parti de 1834), como expressão de mero compromisso e que não levava à “destruição das estruturas do Antigo Regime” (pp. 18-22). Ver, também Adrien Balbi, Essai Statistique sur Le Royaume de Portugal, 1822 (aliás, ed. fac-similada pela FEUC, 2004, II vols).
[15] Ver a este propósito, Victor de Sá, Perspectivas do Século XIX, Portugália, 1964, p 17 e segs.

[16] Consultar, sobre o assunto, a excelente obra de Luís Reis Torgal e Isabel Nobre Vargues, A revolução de 1820 e a Instrução Pública, Paisagem Editora, Porto, 1984, em especial o cap. III, Vintismo e Instrução Pública, pp.31 e segs.
[17] O desenvolvimento económico português foi lento e tardio. As invasões francesas, as alterações da estrutura político-colonial com a independência do Brasil, a guerra civil, a ineficiência no ensino e instrução pública, a escassez de capital e existência de uma burguesia dividida, explicam algum do fracasso do modelo político-económico do vintismo. Sobre o assunto ver Jaime Brasil, A industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-1913, Análise Social, 1987, nº 96, pp 207.
 
[A CONTINUAR] - sublinhados nossos
 
J.M.M.