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terça-feira, 16 de outubro de 2012

O JORNALISTA REPUBLICANO ALVES CORREIA. ANTOLOGIA


Foi recentemente apresentado em Vila Real, o número 25, da Colecção Tellus, editado pela Câmara Municipal de Vila Real e pelo Grémio Literário Vila Realense, dedicado ao jornalista republicano António Narciso Rebelo Alves Correia, um trabalho antológico realizado pelo Professor Ernesto Rodrigues.

A figura de Alves Correia, actualmente muito esquecida, foi um dos grandes propagandistas do Partido Republicano ainda durante a Monarquia. Nascido em 25 de Maio de 1861, veio a falecer em Lisboa em 5 de Janeiro de 1900. Sobre ele já tinhamos escrito uma nota biográfica AQUI.
O presente livro, agora publicado, apresenta uma nota biográfica detalhada do jornalista republicano elaborada pelo Professor Ernesto Rodrigues, que ocupam as primeiras páginas da obra. Nelas descobrimos mais alguns traços menos conhecidos deste republicano transmontano: as diferentes actividades que desenvolveu ao longo do tempo, farmacêutico, fotógrafo, conservador das bibliotecas municipais de Lisboa, jornalista e as referências ao espólio que sobre ele fornecem dados que se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal.

Na segunda parte deste trabalho é possível encontrar um conjunto (selecção) de artigos publicados por Alves Correia em alguns do órgãos da imprensa onde colaborou. Assim, seleccionaram-se 34 artigos publicados na revista Froebel, no jornal Os Debates, A Vanguarda e O País que foram reproduzidos na íntegra.

Um interessante trabalho, numa área pouco explorada, a antologia, mas que permite conhecer melhor o pensamento e a época em que o autor viveu. São oito dezenas de páginas que se lêem com facilidade e sobretudo permitem conhecer melhor as dificuldades e os problemas dos propagandistas republicanos.

Algumas informações adicionais sobre esta obra podem ser consultadas AQUI.

Uma interessante obra que não podíamos deixar de sugerir aos nossos ledores.

A.A.B.M.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

ANTÓNIO NARCISO REBELO DA SILVA ALVES CORREIA


Nasceu em Vila Real em 25 de Maio de 1860. Inicialmente desempenhou a profissão de farmacêutico, mas porque mostrou aptidões para a escrita, começa a colaborar nos jornais. Adopta então a profissão de jornalista e colaborou em inúmeras publicações periódicas, especialmente ligadas ao Partido Republicano.

Destaca-se a sua colaboração na Folha do Povo, no Trinta, no Século, Os Debates, A Vanguarda e, finalmente, O País. Neste último jornal, foi o fundador em 1895 e dirigiu-o até à sua morte, provocada pela tuberculose, em 5 de Janeiro de 1900.

Segundo o professor Oliveira Marques, foi iniciado na Maçonaria em 1882, na Loja Cavaleiros de Nemesis, em Lisboa, adoptando o nome simbólico de João Huss. [A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. I, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 413.]

Foi um jornalistas republicanos mais em destaque no seu tempo, envolvendo-se em várias polémicas, chegou a ser agredido e preso.

Escreveu Alves Correia, nos Debates, em 3 de Novembro de 1889, quando D. Carlos chega ao trono:

Refervem as ambições em volta do novo trono do palácio de Belém, onde se senta um rapaz inexperiente, sem capacidade e sem prestígio moral, que um odioso privilégio coloca à frente do governo do país.
E como os ambiciosos são muitos e poucos os lugares que se pretendem, cada um pelo seu lado procura incessantemente e por todos os meios captar as régias simpatias, humilhando-se o mais que pode ante o novo monarca, para o adular conquistando-lhe a omnipotente simpatia.
[...]

Dizem os partidos da régia omnipotência que no estado de descrédito e de fraqueza em que se encontram os partidos onde militam, é preciso que o rei seja o árbitro supremo da governação e por si só substitua os partidos fortes que fazem falta no mecanismo monárquico-representativo. [...]

Só o espírito de interesseira cortesania inspira as suas palavras [dos monárquicos]. É a ambição que determina essas tristíssimas abdicações de consciência de quem escreve os artigos a que nos referimos. Como sintoma, porém, é de um altíssimo valor, pois os nossos adversários confessam que à monarquia constitucional faltam os elementos de que ela absolutamente precisa para o seu exercício legal e regular, isto é, partidos fortes que a vigorem e que se alternem na governança de modo a satisfazer as necessidades públicas. Não obstante, defendem essa forma de governo que reconhecem gasta.

Defendem-na porque ela vive da corrupção e porque essa corrupção é também a base da riqueza de muitos que ainda há bem pouco tempo entravam na política com as algibeiras vazias, possuindo hoje ouro de mais e convicção de menos
.
[grafia actualizada]

Sobre Alves Correia, afirma Joaquim Madureira (Bráz Burity), Caras Amigas (Gente Limpa), Antiga Casa Bertrand José Bastos, Lisboa, s.d., p. 237-250:

Estou a vê-lo, anos depois, na nossa camaradagem do País, já moribundo, já com frouxos de tosse, metálicos e fundos, o facies chupado e luzidio, bistres as olheiras, crestados os lábios, os cabelos empastados em suores de febre, todo o seu desconjuntado cavername de magricela acolchoado numa pelissa [...].

Ainda estou a vê-lo ... poucos meses antes do desfecho, já em Monsanto, depois em Caneças, lutando sempre, vencido pela tísica traiçoeira, pela tísica implacável, desfibrando-lhe, dia-a-dia, momento a momento, a pobre carcassa enfezada que todas as refregas e todas as privações haviam batido durante anos, num temporal desfeito de misérias, de vigílias, de canseiras e de calúnias [...].

[Nos Debates] Alves Correia, em luta constante, em luta sangrenta com as instituições, hoje querelado, amanhã agredido, sempre caluniado, sempre perseguido, fez todas as campanhas do Ultimatum, do 11 de Fevereiro e do 20 de Agosto, agitou a alma nacional em todas as arremetidas de desforra que, liquidando na madrugada ingénua e épica, romanesca e bela do 31 de Janeiro, trouxeram a supressão violenta dos Debates e logo a seguir, puseram Alves Correia à frente da Vanguarda - talvez de todos os seus jornais,o que ele mais amou e, de todos eles, com certeza e incontestavelmente, o que mais lhe deveu em trabalho, em dedicações, em amarguras, em sacrifícios.

A.A.B.M.