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No dia
24 de Agosto [
ver AQUI] foi apresentado no
Casino da Figueira da Foz o livro de
Francisco Moita Flores, "
Mataram o Sidónio!". Organizado pela
Associação 24 de Agosto e integrado no "
Dia Fernandes Thomaz", a mostra pública do último romance do criminalista e ex-investigador policial
Moita Flores foi um êxito, dada a ampla e interessada audiência presente, o que não será de todo alheio a fluência discursiva e a cativante figura pública do palestrante.
Moita Flores, no livro em apreço (com suporte na sua tese de doutoramento), apresenta um texto estimulante em torno da putativa reconstituição do homicídio de
Sidónio Pais (na noite de 14 de Dezembro de 1918) - uma abordagem feita a partir de documentação da época (que
Moita Flores usa e abusa na sua recriação) e com base em metodologias forenses, instrumentos e técnicas criminalistas curiosas, que não se desdenharia a um qualquer laboratório de política científica -, num romance histórico (por vezes equívoco e decerto polémico) em que nos convida a revisitar essa
Lisboa republicana de antanho (através de personagens sedutoras e eloquentes) e onde a escrita denuncia um autor com
apurado e
estimulante engenho narrativo.
Na apresentação do seu livro,
Moita Flores enquadrou historicamente o romance, considerou que era um trabalho onde circulava muito das suas "angústias", avançando para a questão do homicídio e do(s) seu(s) autores. Na ocasião forneceu algumas indicações sobre o estudo e evolução da Medicina Legal, apresentou
Sidónio como fundador, via decreto, da
Polícia de Investigação Criminal (1917) e que foi a base da actual
PJ e salientou a importância de um dos pioneiros da investigação criminal moderna,
Edmond Locard [1877-1966]. Respondeu, posteriormente, às questões que lhe foram colocadas.
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Diga-se que
Sidónio Pais, figura carismática e incontornável da história da
Primeira República (o conjunto de obras publicadas, do mais diverso teor, é amplo) e uma autêntica lenda na mitologia portuguesa - pela sua figura irresistível de galanteador (que não depreciava), pela cuidada promoção pública da sua figura ao povo (as suas inaugurações eram meticulosamente encenadas e propagandeadas), pela idolatria pessoal e política que alguns sectores observavam (mesmo entre os irredutíveis monárquicos), pela sua vida
aventurosa e
trágica -, semeou paixões e ódios intermináveis. Bem compreensíveis.
Moita Flores teve ocasião de a isso se referir.
É certo que não era mister de
Moita Flores alongar-se, no seu romance, na
problemática política (mesmo que polemizante) do regime Sidonismo ou
República Nova (muitos o fizeram já): a ditadura e a
questão do presidencialismo como o abrir de portas utilitário à futura ditadura militar e ao salazarismo (e aqui, diga-se, não é possível meter
Egas Moniz, ou mesmo
Machado Santos, no mesma matriz presidencial de
Sidónio); a simpatia e
apoio estratégico (verdadeira apostasia) de sectores
monárquicos e alguns do escol
integralista, depois quase todos
salazaristas (o caso
Alfredo Pimenta é paradigmático; mas também
Martinho Nobre Melo,
Azevedo Neves,
Cunha e Costa,
Homem Cristo Filho,
Eduardo Fernandes de Oliveira,
Canto e Castro,
João de Almeida, etc.) à sua governação bonapartista, e do mesmo modo os
católicos reaccionários e tradicionalistas (entre os quais o próprio
Salazar, que nutria admiração pelo estadista; idem para
Fernando de Sousa ou
Nemo,
Pacheco de Amorim); a repressão ao
operariado (que curiosamente apoiou o golpe sidonista), ou o caso do odioso crime (não isolado) da "
Leva da Morte" (onde morre o
Visconde da Ribeira Brava e o maçon
Clarimundo Herédia) ou, até, o manifesto "terror" exercido contra a
maçonaria (e logo vindo de um maçon a coberto, com
n.s. Carlyle), que perante as perseguições havidas (assalto e destruição no dia
8 de Dezembro do
Grémio Lusitano, como antes dos templos da
Loja Luz e Vida,
Loja União,
Loja Montanha) optou pela triangulação das Lojas e "não adormeceu por completo". Não era esse o intuito do autor. Porém, é conveniente para o leitor não ter qualquer tipo de
amnésia histórica ou ideológica, até para que se possa valorar as sábias palavras dessa personagem de "
Mataram o Sidónio!", de nome
Moreira Júnior, quando diz: "
... Odeio a presunção. Não suporto aqueles que têm o dever de saber e não sabem ...".
J.M.M.