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quinta-feira, 3 de julho de 2014

MÁRIO SOARES – “ESCRITOS POLÍTICOS” (1969)


Mário Soares, “Escritos Políticos”, Edição do Autor [Depositária Editorial Inquérito, Travessa da Queimada, 23, 1º Dto, Lisboa], Tip. do Jornal do Fundão, Lisboa, 1969

«Uma das palavras que melhor caracteriza a Censura portuguesa é "inconveniente". A palavra não implica um julgamento de valor sobre o conteúdo de um livro ou de um artigo, apenas que pode pôr em causa aquilo que é o interesse da ordem estabelecida.

"Inconveniente" é perturbador e, se há coisa que a Censura toma como sua missão, é impedir qualquer perturbação, seja política, seja social, seja cultural, seja nos costumes. Acresce que há um significado conexo, o de mal-educado, malcriado. "Não sejas inconveniente" diziam as mães para os filhos no passado longínquo em que a linguagem não era gutural como é agora. É esta a classificação que a Censura dá aos Escritos Políticos de Mário Soares, uma antologia de textos de circunstância escritos ao sabor das actividades oposicionistas do autor, publicado em 1969.

A PIDE não se limita a mandar o livro para que a Censura o proíba - coisa que faz quase sempre quando lhe é solicitado pela PIDE, o que nem sempre acontece quando o recebe do SNI ou de outras instituições da ditadura - mas, como anota o autor do despacho, faz uma admoestação implícita aos censores por terem deixado passar alguns destes textos "quando apresentados para jornais diários". A PIDE mostra o desconforto com a publicação, o censor dos livros puxa as orelhas aos censores da imprensa. O que é que explica ser esta obra "um puro ataque político mal intencionado e inoportuníssimo", em plena primavera marcelista?

O despacho da Censura explica-o em termos bem mais calmos do que rebarbativos, "inoportuníssimo": trata-se de "um ataque ao Governo e às bases orgânico-políticas do actual sistema político-social". De facto, é disso mesmo que se trata. Mário Soares, então uma personagem em ascensão na oposição moderada, onde ainda compete com um conjunto de velhos dirigentes vindos da República, ou do MUD, ou do Directório, está a deslocar-se com os seus amigos progressivamente de um republicanismo oposicionista para um socialismo que nem sempre é moderado. Fá-lo em competição com o PCP, com quem, nesse ano eleitoral de 1969, demasiado importante porque eram as primeiras eleições sem Salazar, rompe a unidade, apresentando-se a CEUD e a CDE em listas separadas.


Os escritos de Mário Soares são um retrato do que era a actividade da oposição não comunista, muito limitada, operando muitas vezes na semilegalidade, ou na legalidade permitida e vigiada, ao sabor de jantares, pequenos comícios, abaixo-assinados, e artigos no República. Há textos biográficos e políticos sobre os vultos da velha oposição republicana ou da República, como é o caso de Mário de Azevedo Gomes, de Fernão Boto Machado ou dos revolucionários do 31 de Janeiro; há teses enviadas às reuniões republicanas e oposicionistas, entrevistas e intervenções em colóquios censurados ou proibidos, e um ocasional artigo numa publicação estrangeira.

No seu conjunto, revelam o pensamento de Soares tal como ele se tinha estabilizado depois da sua saída do PCP no início dos anos cinquenta, ainda muito preso ao peso do republicanismo histórico, mas já apresentando-se como a sua ala esquerda socializante, organizada na ASP e depois no PS. Essa tendência socializante e mesmo nalguns casos esquerdizante veio a acentuar-se nos anos seguintes, influenciado ele também pelo Maio de 1968, pelas lutas estudantis e pela sua experiência mais tardia no exílio europeu onde pôde contactar pela primeira vez com outros socialistas europeus.

Esta deriva para a esquerda faz o caminho entre a ruptura eleitoral com os comunistas em 1969, até aos acordos frentistas de 1973 entre o PS e o PCP. Mas não é esse ainda o tempo dos Escritos Políticos. À data da publicação deste livro, como se pode ver nos seus anexos, Mário Soares enfileira numa atitude atentista e, por isso mesmo, benévola, em relação à liberalização caetanista, atitude essa duramente criticada pelo PCP como "ilusória" e perigosa. Num dos abaixo-assinados transcritos no livro, os signatários apresentam-se como "socialistas democráticos" e não como "socialistas totalitários", dispostos a ajudarem Marcelo Caetano a criar o "clima novo" que este anunciava. Conhecendo-se como se conhece, após a leitura de milhares de despachos, a cabeça dos censores é este abraço da oposição moderada a Marcelo Caetano que era "mal intencionado e inoportuníssimo".

Proíba-se pois o livro»

FOTO 2:“Mário Soares em campanha pela CEUD, Outubro 1969” – via Casa Comum

[José Pacheco Pereirain jornal PÚBLICO (02/07/2014), sublinhados nossos]

J.M.M.

terça-feira, 24 de julho de 2012

PEDRO RAMOS DE ALMEIDA (1932-2012)


"Pedro Ramos de Almeida morreu ontem [dia 22] em Lisboa, aos 80 anos. A doença respiratória não o deixou acabar de escrever a história do MUD Juvenil, um dos movimentos mais populares de combate à ditadura, a que se juntou quando tinha 18 anos.

Militante e antigo dirigente do PCP, Ramos de Almeida faz parte do (ínfimo) grupo de portugueses que combateram, com poucas armas e bagagens, a grande crise nacional dos últimos 50 anos – a ditadura. Uma ditadura que tinha uma biografia para escrever. Pedro Ramos de Almeida é autor, entre muitos outros livros e ensaios, de “Salazar: biografia de uma ditadura”. Se os revolucionários de Abril ficaram simbolicamente homenageados como “os homens sem sono”, os da linhagem de Pedro Ramos de Almeida têm sido insuficientemente reconhecidos como os homens a quem tiravam o sono.

Veja-se o depoimento de Virgínia de Moura sobre a prisão em 1954 de dezenas de jovens do MUD: “Usou-se e abusou-se da violência, batendo em alguns, obrigando outros a fazer estátua durante dias consecutivos, longos períodos de incomunicabilidade, enclausuramento em segredos, internamentos no Conde Ferreira (hospital psiquiátrico de então, no Porto), transferência de jovens para Caxias, e muito concretamente, entre outros, foram vítimas de violência os arguidos Pedro Ramos de Almeida (22 anos, estudante de Direito de Lisboa), sete dias e sete noites sem dormir e dois (leia-se quatro) meses de segredo”.

Aos poucos, a maioria dos jovens é libertada até ao julgamento, mas Pedro Ramos de Almeida fica preso. É o próprio que contou, em texto no jornal comunista “O Militante”: “A maioria dos presos é fixada caução e admitida a sua libertação condicional até ao julgamento. Entretanto, a excepção é constituída por seis réus, acusados de serem membros da Comissão Central do MUD Juvenil – Maria Cecília Alves, Agostinho Neto [futuro presidente de Angola], Ângelo Veloso, Hernâni Silva, Hermínio Marvão e Pedro Ramos de Almeida”.

Condenado a quatro anos de prisão, Pedro Ramos de Almeida fugirá do Forte de Peniche em 1961 [* PRA já não estava preso em Peniche quando se deu a célebre fuga de um grupo de presos (e portanto não o integrou) e a fuga em questão não aconteceu em 1961, mas sim em 3 de Janeiro de 1960
NOTA: Segundo Helena Pato (que aqui saudamos) Pedro Ramos de Almeida foi condenado a dois anos de prisão e "medidas de segurança", cumpriu 4 anos de prisão e saiu em 1959 ].

Partiu depois para o exílio. Em 1962 viveu em Praga, como dirigente do PCP, representando o partido junto de revistas internacionais dos partidos comunistas. Muda-se, depois, para Argel, ao serviço do PCP, onde ficará cinco anos, na qualidade de membro do comité central do Partido Comunista, a Junta Revolucionária Portuguesa, o órgão dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Dirige na altura a rádio Voz da Liberdade, uma emissora de combate à ditadura que emitia para Lisboa a partir de Argel.

Entre 1969 e 1971 esteve na clandestinidade em Portugal – uma altura em que pintava os seus prematuros cabelos brancos com tinta castanha comprada na drogaria. Regressa a Portugal em 1971 depois de ter obtido a garantia, através do seu padrasto Fernando Abranches Ferrão, de que não haveria processos contra ele. Começa a militar na CDE e quando chegou o 25 de Abril tornou-se militante do MDP-CDE, de que foi dirigente. Entre os muitos livros que escreveu, destacam-se a História do Colonialismo Português e o Dicionário Político de Mário Soares. O dirigente histórico do PCP Domingos Abrantes recordou ontem o “intelectual de grande craveira”, que “teve sempre uma actividade empenhada, não só na juventude, mas em toda a luta da unidade antifascista”. Para Carlos Brito, ex-militante e ex-dirigente do PCP é a perda de “um grande amigo” e uma perda “para a esquerda”. “Foi um grande combatente, com muito mérito”. Pedro Ramos de Almeida era pai do nosso camarada de redacção Nuno Ramos de Almeida e de João Ramos de Almeida, jornalista do Público" [via Entre as Brumas da Memória, com a devida vénia - sublinhados nossos]

LOCAIS: A morte é uma exagerada [Nuno Ramos de Almeida] | Pedro Ramos de Almeida (1932-2012) | MUD Juvenil e a repressão fascista [Pedro Ramos de Almeida - O Militante].

J.M.M.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A OPOSIÇÃO NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 1969


EVOCAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA DE COIMBRA NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 1969
Em 26 de Outubro de 1969, tiveram lugar eleições para a Assembleia Nacional, no consulado Marcelista, em pleno Estado Novo.

Aproveitando a oportunidade e seguindo a tradição, Democratas avançaram com candidaturas unitárias, num vasto Movimento Cívico, que tomou a sigla CDE – Comissão Democrática Eleitoral, tendo-se apresentado em vários Distritos do País.

Coimbra estava tomada pela Crise Académica e vivia um período de fortíssima agitação política, criando-se uma relação íntima entre o Movimento Estudantil e o Movimento Democrático.

Para evocar o 40º Aniversário da CDE de Coimbra, convidamo-lo (a) a participar e a divulgar o Acto Cívico, que vai decorrer no Auditório da Agência de Coimbra da Fundação Inatel, Rua Dr. António Granjo 6, no próximo dia 26 de Outubro, segunda-feira, das 21h15 às 23h30, com o seguinte Programa:

Parte Política

. José Dias
. Louzã Henriques
. António Arnaut

Parte Cultural

Choral Poliphonico de Coimbra Canta Zeca Afonso


Iniciativa: Fundação Inatel – Agência de Coimbra e Movimento Cívico de Coimbra para as Comemorações do Centenário da República. Insere-se nos Actos Cívicos Preparatórios do Centenário da República.


Com o apelo à participação de todos, num exercício de cidadania responsável.

A.A.B.M.