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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

[7 SETEMBRO DE 1967] CAMILO PESSANHA NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO – POR ANTÓNIO VALDEMAR

 

Camilo Pessanha por José da Costa, com a devida vénia

Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. Águia de Prata oferecia-lhe Lisboa” – por António Valdemar, in Diário de Notícias, 7 Setembro de 1967

Um inédito do poeta que se deixou devorar pelo ópio para matar as “violentas saudades”

A vida das coisas interiores, o que há dentro da noite, o sonho o sono, tudo que é raiz e cimento de ausência e não pertence à face do quotidiano, fez-se verbo, tomou-se carne e habitou em Camilo Pessanha, uma das mais altas e mais puras vozes da poesia portuguesa do nosso tempo e de todos os tempos.

Se fosse vivo, Camilo Pessanha faria hoje um século. Era da mesma idade de António Nobre e de Raul Brandão. Entre eles não há qualquer espécie de afinidade. Só o ano de nascimento os aproxima para podermos dizer que, há cem anos, nasceram em Portugal três indivíduos, de três pontos diferentes do Pais e que na história da literatura constituem três casos definidos. Só os ligou, na primeira fase da vida - antes de uma devoção comum e particularíssima por Verlaine -, o mundo de interrogações, de ansiedades e de perturbadora descoberta de Antero de Quental.

De todos, porém o que mais sentiu, o que mais se apaixonou por Antero foi, talvez, António Nobre. A tal ponto que, em certo passo desse monólogo plangente que o «», exclamou: … Quero / ir á ilha rezar sobre a campa de Antero. E não há dúvida de que realizou esse desejo, em Maio de 1897, num intervalo da sua viagem à América, sendo acompanhado, em S. Miguel, por um amigo de Coimbra, o açoriano dr. Eugénio Pacheco [1863-1911], figura eminente de cientista, de intelectual e de cidadão que o próprio Antero muito estimava e elogiava.

Raul Brandão não sei se esteve no cemitério do São Joaquim, junto do modesto e abandonado túmulo de família em que repousam os ossos de Antero. Todavia, na sua viagem aos Açores, em Maio de 1924, de que nos deixou testemunho nas páginas de «As Ilhas Desconhecidas», demorou-se, uns momentos no Campo de São Francisco, rondando a cerca do Convento da Esperança e parando em frente do banco onde o Poeta, na tarde opressiva de 11 de Setembro de 1891 foi ao encontro da morte.

Talvez o céu nesse dia apresentasse as mesmas brumas carregadas a que Antero do Quental era tão sensível e que Oliveira Martins disse serem a razão daquele acto desesperado. Talvez Raul Brandão ficasse preso mais uma vez a essa atmosfera agoirenta que perpassa frequentemente nos seus livros. Talvez entrasse logo em diálogo com o poeta e a sua tragédia. A própria torre do mosteiro, que é pequena e airosa, pareceu-lhe «enorme e maciça».

Que teria então escrito se reparasse que por cima daquele banco onde o poeta se suicidou há uma âncora na base da qual se lê a palavra esperança? E se Raul Brandão saísse da sombra em que mergulhara e conseguisse saber que o mesmo banco está junto do muro do convento cujo terreno para a sua fundação foi oferecido pelo décimo avó do poeta Fernão de Quental e sua mulher Margarida de Matos?

[] Camilo Pessanha nascido em Coimbra, foi menino e moço pura os Açores. Viveu na vila das Velas, em São Jorge, uma vez que que o pai ali esteve a exercer funções de magistrado. Não teve contudo, nessa altura, pois andava entre três e os sete anos, a curiosidade de ir a São Miguel cumprir a promessa de António Nobre ou fazer o roteiro de Raul Brandão.

Antero de Quental […] influenciou toda a geração de Pessanha […] A edição dos «Sonetos Completos» publicados e prefaciados por Oliveira Martins em 1886, embora seja mais divulgada entre os simbolistas depois de 1889-1890 por Carlos de Mesquita [1870-1916; poeta, ficcionista, jornalista, professor na FLUC, natural da ilha das Flores, considerado um importante vulto do simbolismo coimbrão; morre, apenas com 46 anos, em Coimbra] que insistia em colocar [Giacomo] Leopardi e Antero como pré-simbolistas, chegou primeiro ao conhecimento de Camilo Pessanha. E esta circunstância verifica-se através de um companheiro a quem ficou indissoluvelmente ligado a vida inteira - Alberto Osório de Castro.

Alberto Osório de Castro, com efeito não só nutria especial admiração por Antero como, também, se correspondeu com ele. Ao próprio Antero enviava - lê-se numa das cartas do autor dos Sonetos -, à medida que ia saindo o jornal O Novo Tempo de Mangualde, de que era redactor e proprietário e onde Camilo Pessanha deu por exemplo à estampa as poesias «Interrogação» e «Crepuscular» e o soneto «Estátua».

A propósito do soneto é de perguntar: não teria sido devido à leitura de Antero que preferiu Camilo Pessanha organizar naquela forma a quase totalidade da sua obra? E a propósito de Antero, não é também de perguntar: os sonetos na floresta dos sonhos dia a dia e para além do universo luminoso não teriam contribuído em grande parte e juntamente com diversas alusões do prefácio de Oliveira Martins, que mais tarde o meu querido Mestre António Sérgio apreciou no penetrante ensaio «Um Problema Anteriano», para uma aproximação de Camilo Pessanha com o Oriente?


Pessanha e o Oriente é com certeza o tema de maior importância a estudar. Por enquanto, na sua vida e obra, João Gaspar Simões já se pronunciou sobre o assunto e com a autoridade que o caracteriza, na «História da Poesia Portuguesa do Século Vinte». Ester do Lemos, em «Camilo Pessanha e a Clepsidra» teve outros objectivos. Isto não se verificou, porém com Dias Miguel ao carrear subsídios biográficos, muitos deles em primeira mão, e sobretudo com Danilo Barreiros que se tem ocupado assiduamente, de Camilo Pessanha em trabalhos de notável interesse.

Camilo Pessanha tem sido citado como paradigma de assimilação dos valores orientais, consequência directa daquela interpretação que Gilberto Freyre - discípulo do prof. Franz Boas da Universidade de Columbia -, nos seus ensaios antropológicos de historiador turista, mostra o português, qualquer que ele seja e de qualquer época, exemplo flagrante de absoluta comunicação humano-telúrica em todos os continentes e oceanos. Aliás já se pretendeu demonstrar o mesmo em relação a Camões, o Camões das endeixas de Bárbara Escrava, do soneto à Dinamene e de certos passos dos «Lusíadas». É claro que Pessanha neste aspecto nunca se assemelha ao António Feijó do «Cancioneiro Chinês» ou a Eugénio de Castro que nunca saiu de Coimbra, a não ser para ir a Paris e Bruxelas e que bebeu o orientalismo que denuncia em diversos poemas através dos Goncourts e de Flaubert.

Trinta anos - descontado o tempo das estadias na metrópole - permaneceu Camilo Pessanha no Oriente. Foi em Macau professor do liceu – um dos seus fundadores com Wenceslau de Morais —, advogado e conservador do Registo Predial.

Metade da sua vida decorreu naquela terra longínqua, em contacto com os seus usos, costumes e tradições. As suas economias gastou-as em grande parte adquirindo peças de arte chinesa que ofereceu ao Estado e a que José de Figueiredo não soube reconhecer o valor, antes pelo contrário, mantendo-as em caixotes por abrir, anos sem fim (Resultado edificante, Camilo Pessanha, antes da sua morte, deu outro destino a muitas outras peças que também possuía e que tencionava mandar para a Metrópole, para o Museu de Arte Antiga, se José de Figueiredo não tivesse tão lamentável e acintoso procedimento. Alfredo Guisado nos anos vinte sobre tão insólita atitude e manifesta incúria ergueu a voz no Parlamento em enérgico protesto).

Características [] da civilização chinesa foram, ainda, analisadas por Camilo Pessanha, nomeadamente, a maneira do ser do povo, a literatura e a estética. Interesses dos chineses que punham em jogo a sua própria liberdade individual - Camilo Pessanha tomou a peito, como jurista em muitas causas, algumas das quais célebres, defendendo questões difíceis e com uma solicitude que transpôs as fronteiras de uma vulgar actividade profissional. A recolha de alegações da sua lavra nos arquivos dos tribunais de Macau torna-se indispensável para mais profunda apreensão, não só do jurisconsulto, sua argúcia e proficiência, como também da sua atitude perante a problemática oriental.

Resta-nos o poeta, o poeta e Macau, o poeta que muitos consideram integrado nas raízes da China. E dele, evidentemente, a «Viola Chinesa»: Ao longo da viola morosa / vai adormecendo a parlenda // … Sem que o meu coração se prenda. Parece-me que além destes, nenhuns outros versos têm o apelo de motivações orientais. Saliente-se, ainda, que a generalidade da sua obra não é realizada em Macau. A não explicação deste pormenor representa um dos vários impedimentos para um estudo completo de Camilo Pessanha.


A «Clepsidra», na primeira edição, enferma de várias lacunas que infelizmente, se repetiram na segunda edição, preparada por João de Castro Osório. Foram eliminados os locais e as datas dos sonetos e poesias - particularidade a que não era indiferente Camilo Pessanha. O nome dos amigos a quem ofereceu aqueles versos também foi suprimido. Por descuido? Por desconhecer a sua enorme importância? Por ignorar o facto? Por se julgar desnecessário?

Se isto acontece nas duas edições da «Clepsidra» é igualmente patente no livro «China» onde se baniram as dedicatórias das traduções que fez das «Oito Elegias Chinesas» []

[] Se o poeta na sua obra não é um produto de Macau, e vejamos que a «Clepsidra» tem quarenta composições – uma sobre o Oriente, «Viola Chinesa» e nove com a indicação de serem ali escritas, Camilo Pessanha não se identificou como ser humano com a vida e um domicílio de trinta anos em Macau.

Manteve-se, é certo, vivendo com diversas mulheres a exemplo de muitos chineses. Antes de morrer tinha apenas uma companheira Kuoc Ngan Yen, Marta Yeng pelo baptismo, e irmã do próprio filho de Camilo Pessanha - João Manuel de Almeida Pessanha [NOTA: JMAP (1896-1941); era filho de Camilo e da concubina Lei Ngoi Long, comprada a um corretor]. [Kuoc] Ngan Yen, a famosa «Águia de Prata» como lhe chamava o poeta, foi assinalada na dedicatória de uma fotografia dessa pequena chinesa oferecida a Carlos Amaro nos seguintes termos: «Para que através de algum seu instante de nostalgia do desconhecido possa perpassar em uma alucinação olfática, a remota evocação do meu país de exílio». Camilo Pessanha nesse país de exílio deixou-se fotografar — como Eça de Queirós em Paris — vestido de mandarim. Usou e abusou do ópio como é vulgar nos habitantes de Macau.

NA FOTO: Carlos Amaro, Lúcio Santos e Camilo Pessanha

Revelou este vício Alberto Osório de Castro, primeiro numa entrevista concedida à «Capital» no último trimestre de 1915, depois num artigo na revista «Atlântico» em 1942 [31 de Outubro]; revelou-o António de Albuquerque (o autor do «Marquês da Bacalhoa») numa crónica publicada no «Diário de Lisboa» em 1926; revelou-o ainda Sebastião Costa na «Seara Nova» de Abril de 1926. E, quando o Leal Senado de Macau, a 3 de Março de 1926 rendeu homenagem à memória de Camilo Pessanha, ficou exarado na acta este depoimento: «Clepsidra» poema que foi com certeza idealizado num daqueles momentos de êxtase em que o espírito de Pessanha se evolava às mais belas regiões do sonho envolvido pelo fumo do veneno destilado das rubras papoilas».

Que a «Clepsidra» resultasse no total do ópio - pelo que já expusemos sobre o número de produções feitas em Macau - não se pode aceitar. É uma fantasia, apesar de ser de alguém que fora da sua privança. Mas seria fantasia o que disseram Alberto Osório de Castro, António de Albuquerque, Sebastião Costa, e o então vice-presidente do Leal Senado? Félix [Borges Medeiros da] Horta [1889-1961; natural de Ponta delgada; republicano, carbonário, poeta, advogado; seguiu a carreira diplomática exercendo funções consulares na China, no Brasil, no ex-Congo Belga e em Inglaterra; foi director, proprietário e editor do jornal académico de Coimbra, Gente Nova (1912-1913); colaborou em diversos periódicos, entre os quais O Combate de Macau] muitas vezes contou-me que era verdade. Repetiu-mo também o cardeal D. José da Costa Nunes [1880-1976] que foi, cerca de 25 anos, companheiro de Pessanha.

Para que não restem dúvidas podemos hoje dia do centenário do poeta, publicar um trecho de uma carta sua, dirigida a Henrique Trindade Coelho [datada de 8 de Novembro de 1916] e obsequiosamente cedida por sua viúva, srª D. Maria Cristina Trindade Coelho. Camilo Pessanha, após revelações extraordinárias inéditas de capital importância para o seu conhecimento e interpretação acentua:

… de regresso a casa, deitei-me segundo o costume ao comprido - perinde ac cadaver - a remirar-me no bom acabamento da obra feita (refere-se C. P. a umas alegações para o tribunal). Naturalmente, enquanto Águia de Prata (em breve mandarei ao sr. Trindade Coelho um retrato da pobre bicheza) ia preparando e dando-me a aspirar o inefável tóxico consolador (li há poucos dias, pela primeira vez, o Macbeth, de que encontrei um exemplar nos tintins  – a Feira da Ladra d’aqui: the innocent sleep… sore labor’s bath… balm of hurt minds) produzia-se pouco a pouco em mim esse delírio lúcido, característico, dizem, da intoxicação pelos hipnóticos, em que, sem se perder a consciência da situação em que se está, se evoca no espírito, com absoluta fidelidade e perfeita nitidez, uma outra situação, em outro lugar ou em outro tempo, como se vivessem simultaneamente duas vidas, muito distantes uma da outra.

A imaginação, já se vê, transportou-me para aí, para a agitação estéril desse meio lisboeta, para esse tumulto, agressivo e vão, por entre o qual andei a ser amachucado e sovado durante cinco angustiosos meses. Vieram todas essas figuras delirantes, de segunda plana, que eu tive melhor ocasião de conhecer: o Braga da peça, os olhos, aflitivos de demência, do Américo de Oliveira, o Rocha corticeiro, o Burnay dos camochos, o caricaturista, o poeta Antunes Belo, o judicioso Solano; e mais a formiga preta, e a formiga-branca, e os elementos civis, e os redentores da Ilíria, e os Adelaides, e os da Nutricia e a apoteose patriótica do Dominó, e o [paneleiro] do Diabo a quatro … “.

Tão valioso documento leva-nos a várias conclusões. Camilo Pessanha não fazia parte dos clubes de opiómanos que se reuniam em Macau para enquanto fumavam se entregarem aos caprichos do sonho. Era um opiómano solitário, se bem que não o escondesse quando os amigos o procuravam em casa.

Através do heterónimo Álvaro de Campos, Fernando Pessoa num dos seus mais belos poemas e como quase todos processados no crânio à margem de uma experiência vivida, diz: É antes do ópio que a minha alma é doente / sentir a vida convalesce estiola / e eu vou buscar o ópio que consola. / um oriente ao oriente do Oriente. Camilo Pessanha mediante uma experiência vivida na mais perturbadora e inveterada habituação recorria à droga para encontrar vivências opostas. Poderia, é certo, buscar no ópio o sonho, o sono, a hibernação, o estado de apatia de ociosidade, de interioridade difusa para conseguir esquecer as crispações de um espirito e de uma saúde atormentada e débil. Todavia, como ele declara a Trindade Coelho, refugiou-se no ópio e surgiu-lhe e ganhou presença a Pátria ausente, aquela Pátria que recorda no limiar da «Clepsidra».

Eu vi a luz em um país perdido / A minha alma é languida e inerme / Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído! / No Chão sumir-se, como faz um verme.

Um europeu em Macau um Oriental na Metrópole deslumbrando os amigos das tertúlias do Martinho, do Royal e do Londres com descrições surpreendentes de bazares, bonzos amarelos, […] pagodes e uma imensa e misteriosa vida humana. As próprias elegias chinesas que traduziu com eficiente colaboração de José Vicente Jorge, seu dedicadíssimo amigo abordam na maioria a saudade, o exílio, o regresso. Aí se lêem expressões como estas: «embargam-no as saudades violentas», «desterrado da pátria e sem notícias dela / para essas bandas volvo de contínuo os olhos», as «flores soltas me fizessem cortejo, à despedida no regresso à pátria», «dói-me ao recordar vozes amigas», «país de exílio», «o alarme pra o regresso». Não houve bem entendido adulteração do texto original para acentuar emoções pessoais. Camilo Pessanha teve mas foi o cuidado de seleccionar elegias com as quais se identificava, que exprimiam iguais estados de alma e de vida.

Pensando no «regresso à Pátria», «desterrado da pátria e sem notícias dela / para essas bandas volvo de contínuo os olhos», assim consumiu a vida essa estranha personalidade. E tais eram as saudades - «violentas saudades» - que, para se não deixar esmagar por elas, foi-se a pouco e pouco devorando pelo ópio num acto de entrega total e alucinada. E se a saudade da pátria não o matou deixou-se matar por ela.

Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. Águia de Prata oferecia-lhe Lisboa” – por António Valdemar, in Diário de Notícias, 7 Setembro de 1967 - com sublinhados e notas nossas.

J.M.M.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

[COIMBRA – 30 DE OUTUBRO] – COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA EDIÇÃO DA “CLEPSYDRA” DE CAMILO PESSANHA

 


“CLEPSYDRA” – TRIBUTO 100 ANOS (1920-2020)

DIA: 30 de Outubro de 2020 (19,00 horas);

LOCAL: Café Santa Cruz, Coimbra;

PRESENÇAS: José Ribeiro Ferreira, Apolinário Lourenço, A. E. Maia do Amaral, Albino Matos, Emília Nave, Francisco Paz, João Rasteiro, Natália Queirós, Rui Damasceno, Rodrigo Queirós;

PINTURAS: José da Costa, Victor Costa.  

ORGANIZAÇÃO: Café Santa Cruz | Pró Associação 8 de Maio | G.A.A.C. 

NOTA: existem limitações em termos de ocupação de espaço, cumprindo as instruções da DGS.


Amanhã – dia 30 de Outubro – há lugar à Comemoração da passagem do Centenário da edição da Clepsidra, único livro de poesia editado (por Ana Castro Osório) ainda em vida de Camilo Pessanha – “um poeta de Coimbra” – e uma obra maior da literatura Portuguesa.

Trata-se também, além da rememoração da sua obra capital - mesmo se o curioso debate em torno das várias versões bibliográficas da Clepsidra esteja sempre presente - e cujo traçado simbolista foi percursor do modernismo do “Orpheu”, de uma justa homenagem a Camilo Pessanha.

J.M.M.   

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

MANUEL DA SILVA MENDES: MEMÓRIA E PENSAMENTO


 
LIVRO: Memória da Silva Mendes: Memória e Pensamento | Ensaios de: António Aresta, Amadeu Gonçalves e Tiago Quadros

AUTOR: Manuel da Silva Mendes (1867-1931);
EDIÇÃO: Livros do Oriente, 2017, p. 600
LANÇAMENTO:

DIA: 6 de Dezembro 2017 (18,30 horas);
LOCAL: Fundação Rui Cunha (Av. da Praia Grande, Macau)
ORADOR: Jorge Morbey.

Trata-se da reedição da curiosa obra de Manuel da Silva Mendes (1867-1931), um dos mais proeminentes eruditos da história contemporânea e da tradição e arte de Macau, aqui no seu primeiro volume. Os textos de Silva Mendes, que era uma personagem multifacetada (advogado, professor, juiz, filosofo, antiquário colecionador, …), versam nesta copiosa obra os seus ensaios sobre Arte, Filosofia e Religião e Tradições Chineses, antes publicadas nos periódicos e em obra avulsas.



A obra é acompanhada de três ensaios sobre a figura de Silva Mendes, assinados por António Aresta, Amadeu Gonçalves e Tiago Quadros.

Manuel da Silva Mendes, formado em Direito por Coimbra, era republicano e ateu, e tinha um notável cabedal de conhecimentos, ao mesmo tempo que era um curioso divulgador do anarquismo individual e metafísico e das suas doutrinas; parte para Macau só em 1901, dada a sua nomeação para professor do liceu (leccionava latim e português) e depois seu reitor, que manteve durante duas dezenas de anos; exerceu outras funções, até à sua morte em 1931, numa vida ricamente preenchida, com uma intervenção cívica e social local importante, trabalhando e tertuliando com alguns dos maiores vultos de antanho, entre eles o poeta Camilo Pessanha.  

J.M.M.

domingo, 22 de outubro de 2017

[COIMBRA – 23 DE OUTUBRO] EXPOSIÇÃO & CONFERÊNCIA SOBRE CAMILO PESSANHA



Nas Comemorações dos 150 Anos do Nascimento de Camilo Pessanha

EXPOSIÇÃO: Um precursor do Modernismo: Camilo Pessanha (1867-1926);

DIA: 23 de Outubro 2017 (10,00 horas);
LOCAL:
Biblioteca Joanina (BGUC), Coimbra;

ORGANIZAÇÃOBGUC | Centro de Literatura Portuguesa.


11, 00 horas - CONFERÊNCIA: “Clepsydra – Um livro por Haver

ORADOR: Paulo Franchetti (professor da UNICAMP);
LOCAL: Anfiteatro III da Faculdade de letras da Universidade de Coimbra

J.M.M.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

sexta-feira, 13 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE III


Refira-se que passaram por Macau, aí trabalharam e viveram, muitos maçons vindos da metrópole, tais como Francisco Isidoro Guimarães [governador de Macau, na monarquia], Custódio Miguel de Borja [1849-1911; oficial da marinha, deputado, governador de Macau entre 1890-94, maçon com n.s. de “Nelson”, tendo feito parte do Grande Oriente de Portugal, do qual foi seu último Grão-Mestre]. Já depois da República registe-se José Carlos da Maia [n. Olhão em 1878-1921; oficial da Armada, maçon com n.s. de João Afonso (fez parte da cisão em 1914 no GOLU) e carbonário, deputado à Constituinte, governador de Macau entre 1914-1916, sidonista e ministro da Marinha, é assassinato na “Noite Sangrenta” de Outubro de 1921], [Francisco Gonçalves] Velhinho Correia [foi professor do liceu de Macau, eleito deputado de Macau em Lisboa, ministro em 1920 e 1923, tendo aderido ao Estado Novo; foi iniciado, em 1907, com o n.s. Padre Eterno, na loja Solidariedade, de Lisboa], o que deu, de algum modo, muito alento ao trabalho maçónico.
Na sequência da proibição da maçonaria pelo Decreto-lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935, a triangulação das lojas, ordenado pelo GOLU, foi cumprida, também, em Macau. Pouco se sabe sobre o assunto, mas é adquirido que os irmãos se continuavam a reunir. Refira-se que se considera ter existido, nesse período, duas lojas em Macau, uma a Luís de Camões (GOLU) e outra constituída por cidadãos britânicos refugiados de Hong Kong, sob obediência da UGLE.


Da(s) Loja(s) Luís de Camões [houve alguns obreiros que transitaram da primitiva loja nº 309, mas a maioria, aqui citada, pertenceu aquela que levantou colunas em 1915, a nº383], de Macau, fizeram parte [segundo o parecer de 1935 da Câmara Corporativa que levou à extinção das Sociedades Secretas, a Loja Luís de Camões tinha “chegado aos 102 membros” – cf. Arnaldo Gonçalves, ibidem], com muita segurança, os seguintes obreiros:

Álvaro Cardoso Mello Machado [iniciado na Loja Liberdade, de Lisboa, foi Venerável da Loja de Macau em 1912; republicano, oficial da marinha, fundador do escutismo em Macau, foi governador-interino de Macau – nomeado a 9 de Dezembro de 1910, depois chefe de gabinete (1914) do governador-geral de Moçambique, administrador delegado nos caminhos-de-ferro de Benguela] | António Afonso de Carvalho (oficial da armada?) | António Antillos | António Antunes [co-fundador da Loja, militar e, depois, comandante da PSP] | António Augusto Pacheco [Venerável em 1909 – cf. Anuário GOLU de 1909, p. 126; foi oficial da repartição superior da Fazenda até 1911, passando depois, em Janeiro de 1911, a sub-inspector da Fazenda da Guiné] | Camilo Pessanha [foi Venerável da Loja – ver figura] | Carlos Borges Delgado (professor do Liceu Central de Macau, mais tarde Reitor; foi pres. do Leal Senado) | Constâncio José da Silva [co-fundador e Venerável em 1910 e, depois, em 1915, já exercendo o veneralato na segunda loja, com o nº 383; advogado e jornalista republicano; vice-presidente da Câmara, director do jornal anticlerical “A Verdade” e, depois, editor, proprietário e director d’O Liberal, 1922-23] | Damião Rodrigues [notário, advogado, pres. do Leal Senado e um ousado e combativo reviralhista; ousou enfrentar Artur Tamagnini Barbosa – então governador de Macau e membro da ditadura militar saído do 28 de Maio de 1926 – e por isso foi preso e deportado para Timor; curiosamente – ver AQUI – no seu posterior regresso a Macau coloca “na parede do átrio de entrada de sua casa um retrato de grandes dimensões do ex-líder do Partido Democrático Afonso Costa” e assim o “manteve bem patente em simbólico desafio à ditadura até à sua morte em 22 de Julho de 1942] | Domingos Gregório Rosa Duque [iniciado em Fevereiro de 1916, ascendeu ao 20.º grau em 1921, tendo sido Venerável da Loja; um dos sargentos do exército presentes no dia 5 de Outubro na Rotunda, ao lado de Machado Santos; enviado para o exílio em Angola, pelo incomodo que revelava na vida militar e política, porém mantém a sua rebeldia e irreverência, pelo que foi afastado da vida militar e enviado para novo exílio, agora em Macau; mais tarde foi reintegrado no exército, como capitão; jornalista e polemista notável, foi secretário do jornal “O Liberal”, dirigido por Constâncio José da Silva; em Fevereiro de 1923 é editor e director do semanário republicano “Combate”, jornal onde já depois do 28 de Maio de 1926, declara a sua filiação maçónica (grau 33.º) no artigo com o título A Maçonaria, os estudantes reaccionários e ‘A Pátria’; funda o periódico “A Voz da Macau”, 1931] | Elísio Tavares [nasceu em 1896 em Coja; foi farmacêutico e administrador do jornal “O Liberal”] | Francisco Hermenegildo Fernandes [1863-1923; co-fundador da Loja, republicano, tradutor no Supremo Tribunal de Hong-Kong e combativo jornalista; proprietário da tipografia Mercantil; foi amigo, apoiante e protector de Sun Yat-sen, futuro presidente provisório da República da China, dando-lhe guarida na sua casa, aquando da sua fuga de Cantão, tendo, depois, estado presente na recepção que Sun Yat-sen deu em Macau, em 1912, juntamente com outros republicanos e maçons (diz-se que Sun Yat-sen, foi recebido, como visitante, na Loja Luís de Camões, em 1913); pertenceu ao Leal Senado; foi director do jornal “Echo Macaense” (1893-1899), tendo em Abril de 1896 sido afastado pela Lei da Imprensa] | Francisco Xavier Anacleto da Silva [advogado, presidente do Leal Senado] | Henrique Lapa Travassos Velez [republicano, oficial da marinha] | Herman Machado Monteiro [n. Celorico de Basto 1899, republicano auto-exilado em Macau pelo golpe de 28 de Maio de 1926, proprietário e editor do “Jornal de Notícias” de Macau, um dos fundadores do Rotary Club de Macau] | João de Freitas Ribeiro (capitão de fragata) | João Silva [oficial da armada] | Joaquim Felizardo Adão Antunes [oficial do exército, prof. do Liceu Normal de Macau] | D. José da Costa Nunes [n. na Ilha do Pico em 1880, frequenta o liceu na Horta, depois o seminário episcopal da Terceira; parte para Macau em 1902 e trabalha nas missões de Malaca e Singapura; foi bispo da diocese de Macau (1920-40), um dos fundadores do jornal “Oriente” e do Instituto de Macau; foi professor, escritor e jornalista (escreveu sob pseud. em vários periódicos, como “A Voz”, “O Telégrafo” ou a “Vida Nova”; aderente ao Estado Novo, foi elevado a Cardeal em 1962, tendo falecido em Roma em 1976] | José Luís Marques [n. Braga 1862-m. Macau 1934; militar e presidente do Leal Senado: co-fundador da Loja] | José Vicente Jorge [n. Macau 1872- m. Lisboa em 1948; amigo pessoal de Camilo Pessanha, tendo sido seu testamenteiro; leccionou no Liceu Central de Macau e em várias outras escolas; intérprete-sinólogo – trabalhou na Legação de Portugal em Pequim e em Macau, em 1911 -, solicitador da comarca de Macau, tradutor e notável coleccionador de arte chinesa; a sua valiosa colecção foi vendida, ao que parece, para os Estados Unidos] | Mário de Campos Nery [n. 1890; funcionário das Obras Públicas] | Miguel Wagner Russell (Venerável em 1915 – cf. Boletim Oficial GOLU, Maio de 1909, p. 33), Rodrigo Marim Chaves [sargento, director do jornal “A Colónia” e da Imprensa Nacional de Macau] | Telo de Azevedo Gomes [n. 1892-1974; bacharel em Filosofia Natural pela UC; professor e co-fundador do Instituto de Macau] | Wenceslau de Moraes [1854-1929; oficial da marinha de guerra, prestou serviço em Moçambique, Macau, Timor; foi imediato do porto de Macau; pertenceu ao grupo de docentes que funda o Liceu de Macau; foi cônsul de Portugal em terras do Japão; notável escritor] – cf. ibidem; ver tb. João Guedes, AQUI]


Em 1961, Danilo Barreiros publica "O Testamento de Camilo Pessanha", obra relevante para a biografia do poeta Camilo Pessanha, onde divulga a sua filiação maçónica. Curiosamente, Marcelo Caetano [1 de Outubro de 1961] escreve a Danilo Barreiros, "lamentando que este ensaísta tenha divulgado a filiação maçónica de Camilo Pessanha. Em contrapartida, Vitorino Nemésio felicita inequivocamente o autor daquela obra" [AQUI]. Diga-se, ainda, que, a 7 de Setembro de 1967, a “Livraria Sá da Costa expõe vários espécimes bibliográficos de Camilo Pessanha, cedidos por Danilo Barreiros. Entre eles, encontrava-se um diploma da Maçonaria referente a Camilo Pessanha. Dois dias depois, a Polícia Política invadiu a editora, deteve um funcionário e apreendeu todo o material exposto, que só veio a ser recuperado mais tarde” [ibidem].
Fontes Principais: Albert MacKey, Encyclopedia of Freemasonry, 2002; Arnaldo Gonçalves, “A Primeira Republica, Macau e os Maçons”, rev da Maçonaria, nº2, 2012; [Daniel Pires, org.] “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990; Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961; Paulo Franchetti, “O essencial sobre Camilo Pessanha”, INCM, 2008; especial referência aos artigos (já citados) de Arnaldo Gonçalves e de João Guedes; ler também os 2 artigos de António Valdemar, "Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. 'Águia de Prata'. Um inédito do poeta que se deixou devorar pelo ópio  para matar as 'violentas saudades", publicados no "Diário de Notícias" de 7 e 8 de Setembro  de 1967 [pela importância, mormente a questão dos inéditos apresentados e a evocação de Camilo Pessanha via a célebre montra da Livraria Sá da Costa e que envolveu a rápida intervenção da PIDE, voltaremos a este particular assunto].
J.M.M.

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE II


Camilo Pessanha é iniciado na maçonaria, com o número 6980, a 27 (ou 29?) de Novembro de 1910, na Loja Luís de Camões II, nº 309 do GOLU, de Macau [Camilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894], com o n.s. de “Angélico”, ascendendo a 6 de Junho de 1916 ao grau 15.º e em 22 de Julho, desse ano, ao grau 18.º (Cavaleiro Rosa-Cruz); em 1918, tinha já o grau 25.º; a 15 de Setembro de 1919 ascende ao grau 30.º [os seus Irmãos são “José Vicente Jorge, Constâncio José da Silva e, eventualmente, Silva Mendes” - ver AQUI). Na loja teve o cargo de Orador (1911 – cf. Boletim Oficial do GOLU, Janeiro-Março, 1911, p. 31) e foi Venerável da Luís de Camões nº 383 (a loja reergueu-se em 1915, depois de abater colunas em 1914, daí o novo número de registo, conforme adiante referiremos).
[AO ALTO] “Um curioso documento assinado por Camilo Pessanha. É bem conhecida a filiação maçónica do poeta da ‘Clepsidra’ e o facto de ter pertencido à Loja Luís de Camões, de Macau, na qual desempenhou durante muitos anos o cargo de Vigilante (Presidente). Este documento comprova tal facto. Trata-se de um atestado em nome do oficial do exército Joaquim Felizardo Adão Antunes, datado de 19 de Outubro de 1918, selado e assinado por Camilo Pessanha, na qualidade de venerável, e por outros oficiais da loja” [via António Ventura Facebook]
A Loja Luís de Camões II, nº 309,

[tenha em conta que existia uma outra Loja com o mesmo Patrono, a Luís de Camões, a Oriente de Lisboa, que instalada em 1895 com o número de registo 195, mas que em 1902, quando regressa ao GOLU depois ter aderido ao Grande Oriente de Portugal, recebe o nº 226. Por outro lado, no que diz respeito à actividade de lojas maçónicas em Macau, diga-se que não há documentos conhecidos que refiram a existência de qualquer loja ou triângulo, anterior a 1906. Por isso a alusão a uma denominada Loja Luís de Camões de Macau, presumidamente a partir da Loja Lusitanea (1815), loja de exilados portugueses em Londres - onde era Venerável Hipólito José da Costa e debaixo dos auspícios da Grande Loja de Inglaterra -, não se pode confirmar. Conhecido é documentação avulsa de instalações de Lojas sob o domínio da Grande Loja da Suécia e de Inglaterra no Cantão, por volta de 1788, mas, curiosamente, nada nos é referido sobre a região de Macau.
Porém, alguns dos mais antigos (conhecidos) maçons residentes em Macau participaram activamente nos movimentos liberais do seu tempo, tendo mesmo fundado importantes clubes de reflexão política, social e cultural. De facto, no período anterior a 1906, em Hong Kong e em Macau, alguns prestigiados portugueses foram tidos como maçons. Como exemplo, o médico ateu, darwinista e republicano Lourenço Pereira Marques (1852-1911) e Polycarpo da Costa (1837-1884) gozavam de especial estatuto nos círculos maçónicos, principalmente de Hong Kong. É possível que L. Pereira Marques tenha sido iniciado antes do seu regresso a Hong Kong em 1882 (na Grande Loja de Dublin – 1877 ? -, cidade onde se diplomou, ou até mesmo em Portugal, numa das lojas pertences à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, anteriormente a esta obediência integrar, em 1872, o GOLU); quanto a Polycarpo da Costa esta confirmado a sua filiação maçónica a partir da descrição do seu funeral, noticiado em periódicos da época, e pela simbólica presente no seu mausoléu. De igual modo seriam (?) maçons, José Osório de Castro Cabral e Albuquerque (1779-1857, governador de Macau, iniciado na Loja Audácia, de Coimbra em 1838, com o n.s. Leónidas – refª A.H. Oliveira Marques); Adrião Acácio da Silveira Pinto (17xx-1868, tenente-coronel e governador de Macau, entre 1837-1843, mais tarde governador de Angola, 1848-51); o Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885 – ver mais em “Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX”, de P. Manuel Teixeira, Macau, 1942, pp. 243-264); Assim sendo - e tendo em conta a difícil situação político-religiosa da época e o secretismo que se exigia - a existência de oficinas maçónicas, com influência ou auspícios de portugueses é hipótese a considerar – sobre esta questão e mais apontamentos acerca da Loja Luís de Camões, ver João Guedes, “Subsídio para a Historia da Maçonaria em Macau]

do REAA, foi instalada em 1909 e resultou da transformação do triângulo nº 90 [instalado pelo Decreto nº7 de 23 de Janeiro de 1906 – cf. Boletim do GOLU, Junho de 1907, p. 11], por iniciativa da loja maçónica de Coimbra, Pro Veritate. A sua acção em Macau é determinante na “proclamação da República”, tendo pertencido à loja um número significativo de militares, advogados, funcionários públicos e jornalistas.
Abateu colunas em 1914 (José Bernardo Ferreira, na sua obra “Maçonaria Universal”, 1921, à p. 156, refere a data do Decreto de dissolução, o dia 2 de Março de 1915). E no ano de 1915 [Decreto nº13, de 8 de Abril de 1915] reergueu colunas [“sem os elementos indesejados” – cf. Arnaldo Gonçalves, “A primeira República, Macau e os Maçons”, Revista da Maçonaria, nº2, Fevereiro de 2012, p. 84] agora com o número de registo nº 383, mantendo-se em actividade até à clandestinidade – refª A.H.O.M., in Dicionário … – sendo que em 1947, ainda havia notícias que se mantinha em trabalho [sobre o surgimento da Maçonaria em Macau, a Loja Luís de Camões, o seu quadro, bem como o percurso maçónico de Camilo Pessanha, consultar o excelente artigo de Arnaldo Gonçalves, ibidem; de igual modo, cf. João Guedes].
[A CONTINUAR]
J.M.M.

quinta-feira, 12 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE I


Camilo de Almeida Pessanha (1867-1926) nasce em Coimbra a 7 de Setembro de 1867. Era filho de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira (governante de casa de estudantes) e foi registado como filho de pai incógnito. Só em 1884 é perfilhado pelo pai, Francisco de Almeida Pessanha (advogado). Estuda em Coimbra, onde se forma em Direito (Junho de 1891), exercendo cargos esporádicos relacionados com a profissão em Mirandela ou em Óbidos, pelo que procura, no “Ultramar”, garantir um trabalho permanente. Assim acontece, quando consegue a nomeação para leccionar a cadeira de Filosofia no Liceu Normal de Macau, onde chega a 10 de Abril de 1894 [cf Paulo Franchetti, O essencial sobre Camilo Pessanha, 2008], integrando o seu núcleo fundador.
O futuro autor de Clepsydra, começa então a produzir os seus primeiros versos, entre esse Macau misterioso, onde trabalha e vive [torna-se amigo de Wenceslau de Moraes, visitando com ele Hong-Kong], e a metrópole, que revisita amiúde [Camilo Pessanha, fortemente dependente do ópio, tinha “delicada constituição física”, tendo-lhe sido diagnosticado uma “anemia palustre” – ver sobre este assunto Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961], frequentando então em Lisboa as diversas tertúlias do “Martinho”, do “Restaurant Londres” ou a da “Cervejaria Trindade", fazendo amizade com Carlos Amaro, a família de Ana de Castro Osório, Afonso Lopes Vieira – ao mesmo tempo que se torna notado

[passe a polémica existente em torno da sua “verdadeira” biografia, a existir, que vai de um homem atormentado pela ópio, sem qualquer atributos, incapaz, ridículo e displicente, a um poeta com génio, dândi, elegante e excêntrico, tímido e misantropo, incorrigível fumador de ópio – sob os seus biógrafos e este curioso assunto, ver Franchetti, op. cit; tb. Danilo Barreiros, ibidem; ou a discutida biografia de Francisco Penajóia (aliás Francisco de Carvalho e Rego) reeditada na “Homenagem …”; do mesmo modo os artigos de Guilherme de Castilho, no Comércio do Porto (13 Abril 1954) e no 1º de Janeiro 815 Agosto 1962); ou tb o trabalho de António Dias Miguel, “Camilo Pessanha: elementos para o estudo da sua biografia e a sua obra”, revista Ocidente, 1956; ver, principalmente, a importante obra, sob org. de Daniel Pires, “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990]

pelo seu saber jurídico (foi advogado, conservador do registo predial e juiz), pelo exercício da docência no Liceu Normal de Macau (mais tarde no Instituto Comercial, como professor de Economia Política e de Direito Comercial), por ser um curioso (e apaixonado) coleccionador de arte chinesa [que doou a Portugal, originando, posteriormente, uma polémica com José Figueiredo, director dos Museus, pela não exposição das peças da colecção; uma sua segunda colecção foi doada ao Museu Machado de Castro, de Coimbra; diga-se que a par da colecção de arte chinesa de Camilo Pessanha existia outras, também invulgares, como a de José Vicente Jorge (em parte desaparecida) e de Manuel Silva Mendes (que está em Macau), curiosamente todos eles obreiros da Loja Luís de Camões de Macau], pelo seu modo de vida desregrado.
Foi republicano assumido, constando o seu nome na assinatura (dia 11 de Outubro de 1910) do Auto da Proclamação da República, no Leal Senado de Macau, faz parte do grupo fundador do “Instituto de Macau”, colabora em diferentes periódicos, como “O Progresso”, “Os Livres”, “Novidades”, “Jornal Único”, “O Lusitano”, “Tribuna” (de Lisboa). “Almanaque do Correio da Europa para 1889”, “Ave Azul”, “O Porvir” (de Hong Kong), “Almanaque de Lembranças Madeirense para 1908”, “A Verdade”, “O Macaense”, “A Pátria”, revista “Figueira”, revista “Centauro”.
Morre a 1 de Março de 1926, segundo o certificado de óbito, de “tuberculoso pulmonar”. O elogio fúnebre foi feito pelo reitor do Liceu de Macau, Carlos Borges Delgado (seu Irmão da Loja Luís de Camões), que referiu o seu “espírito altamente filosófico e amplamente liberal, alma aberta a todas as dores e infortúnios, encarava a vida desprendidamente, sem os preconceitos vãos que por aí pululam, a contaminar tudo e todos”, tendo-se feito referência à sua condição de maçon, no jornal “O Combate”, de 4 de Março [ver Danilo Barreiros, ibidem; consultar, ainda, nesta obra, a notícia da cerimónia fúnebre, pp. 11-30; ver, também, a “Cronologia da Vida e Obra de Camilo Pessanha", AQUI]
[A CONTINUAR]

J.M.M.