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segunda-feira, 10 de setembro de 2012
JOSÉ DO VALE (Parte III)
Colabora com a Liga Contra a Lei de 13 de Fevereiro de 1896, que previa a deportação de agitadores e anarquistas para África e Timor, logo baptizada "lei celerada” pelo Partido Republicano, devido ao seu carácter repressivo. Nesse âmbito realiza pelo menos uma conferência, no Grémio Federal Republicano, situado na Rua do Benformoso, nº 238, 2º, pelas oito horas da noite, em 13 de Setembro de 1906. Mais tarde envolve-se no combate à Lei de 11 de Abril de 1907, uma nova tentativa de limitar a acção da imprensa, com critérios editoriais muito limitados, tendo realizado uma nova conferência em 18 de Janeiro de 1908, no Centro Rodrigues de Freitas.
A propósito dos vários episódios de detenções de José do Vale, afirmou Afonso Costa em pleno Parlamento, a 13 de Maio de 1908, num dos momentos de detenção deste juntamente com Macedo de Bragança e Mendes de Almeida. Numa intervenção muito crítica em relação às autoridades policiais da época, em particular a polícia civil de Lisboa:
“Uma das prisões, a que quero especialmente referir-me, é a do meu amigo José do Vale, jornalista do diário republicano O Mundo, o qual já conta no seu activo não menos que catorze prisões, algumas muito demoradas, todas realizadas pela polícia, nenhuma mantida pelo poder judicial, e até uma delas solenemente exautorada pela Boa Hora, que o absolveu, apesar de ser então o período negro da lei de 13 de Fevereiro, em cujas malhas tenebrosas a polícia o quis envolver.
Certamente José do Vale tem ideias avançadas, sonha com uma sociedade em que a autoridade se eliminará sucessivamente até desaparecer de todo; mas é, por isso mesmo, um bom, um honesto, um trabalhador, um simples, e não me parece que estas qualidades o tornem um ser perigoso…
Todavia, na madrugada de 10 de Abril, ele foi preso, ao sair de O Mundo, quando ia procurar em sua casa o descanso a que tinha direito.
Os polícias que o prenderam não souberam ou não quiseram dizer-lhe porque o prendiam. E lá o levaram para a esquadra de D. Fradique, para a sua esquadra, como ele já lhe chama por tantas vezes o terem recolhido nela… (Risos)
Ali esteve dois dias sem que dele fizessem o menor caso!
Em 12, apareceram-lhe dois agentes, e não o Sr. Juiz, ou algum seu delegado, para o interrogarem. Quiseram convencê-lo de que tinha aliciado gente para as arruaças de 5 e 6 de Abril, mas, como ele os desarmasse com a sua serenidade e inocência, os polícias, segundo a sua própria linguagem …, encavacaram.
(…)
É por isso, só no dia 15 foi solto, não se tendo feito, entretanto, nem sequer à saída, qualquer novo interrogatório, não tendo ao menos o Sr. Juiz de instrução chamado José do Vale à sua presença para lhe pedir desculpa do erro e para lhe pedir licença para apertar a sua mão.”
A referência à sua situação, ao exemplo que representava para uma parte da sociedade que criticava a situação política estabelecida e que via constantemente colocadas em causa as suas convicções políticas, sofrendo represálias e retaliações mais ou menos violentas.
Como afirma Alice Samara “Afonso Costa defendeu um homem que não tinha as suas convicções políticas, com alguma sobranceria, é certo, quando o apelidou de “simples”. Este deputado afirmou que ele não era perigoso, o que trouxe um peso mais significativo a tudo o que sofreu nas mãos da polícia”.
[Alice Samara, Repúblicas da República. História, Cultura Política e Republicanismo, FCSH-UNL, Lisboa, 2010, p. 239 (dissertação de doutoramento) disponível aqui]
Segundo várias indicações, José do Vale esteve logo nos momentos fundadores da Carbonária, neste caso da Carbonária Lusitana, ou também designada dos anarquistas, em Lisboa, ao lado de Heliodoro Salgado, Benjamim José Rebelo, Júlio Dias, Sebastião Eugénio, e vários democratas e anarquistas de Alcântara, que constituíam o núcleo de resistência da chamada Aliança Revolucionaria. Esta organização deu depois lugar á loja irregular Obreiros do Futuro, instalada na Rocha do Conde de Óbidos numa casa pertencente ao Crédito Predial e que foi alugada ao próprio José do Vale pelo sr. José Belo, naquele tempo administrador das propriedades da referida companhia.
A loja Obreiros do Futuro, ao tempo irregular, congregou durante algum tempo quase todos os elementos radicais e mais avançados que existiam em Lisboa. A ela pertenceram os homens que mais tarde o juiz de instrução criminal devia encarcerar como implicados em incidentes da politica interna (que o grande publico conheceu vagamente sob a designação de atentados anarquistas) e dela saíram resoluções vigorosas cuja descoberta o ex-irmão Hoche dessa época pagaria por bom preço.
[Ver AQUI]
A denominada Carbonária Portuguesa, de origem académica, do maçom Luz de Almeida, Machado de Santos, etc, vai manter relações privilegiadas com a Loja Montanha, que aparece mais tarde, e que não se pode confundir com a denominada Carbonária Lusitana, de pendor anarquista - daí ser conhecida pela Carbonária dos Anarquistas - muito sigilosa, a que pertenceram os anarquistas José do Vale, Ribeiro de Azevedo, entre outros [António Ventura, Carbonária em Portugal, por Museu Republica e Resistência, 1999].
Em 23 de Fevereiro de 1908, no Centro Republicano Rodrigues de Freitas realizou-se um banquete de homenagem aos srs. Macedo Bragança, José do Vale, Ricardo Covões, António Fernandes e Juvenal Sacadura que estiveram presos no Forte de Caxias, por ocasião dos últimos acontecimentos políticos. O banquete com 48 talheres correu de forma muito animada.
Em Fevereiro de 1911, a Associação do Registo Civil promoveu uma romaria às sepulturas de Costa e Buiça. Segundo A Vanguarda, alguns grupos revolucionários e ligados ao livre-pensamento, convidados pelo Grémio Excursionista José do Vale, promoveram a visita às sepulturas dos “(…) livres-pensadores e revolucionários Alfredo Costa e Buiça, assassinados no dia 1 de Fevereiro de 1908 no holocausto à causa da liberdade.” As homenagens a estes dois homens correram paralelas a outras, ou seja, promoveram uma romagem a campas de outros consócios, designadamente Cândido dos Reis, Miguel Bombarda e Heliodoro Salgado.
[Alice Samara, Repúblicas da República, 2010, p. 114]
Durante o mês de Maio de 1911, realizou-se o Congresso Sindicalista, ao longo de três semanas. Na nona sessão do congresso regista-se a intervenção de Joaquim Domingos, que dá conta da defecção de José do Vale e propõe a sua exclusão do congresso. Esta situação foi suscitada devido à publicação de uma carta no jornal O Mundo onde apresenta um conjunto de razões que justificariam a sua atitude. Mas os congressistas não aceitaram as explicações apresentadas e o anarquista acabou por ser afastado. [O Congresso Sindicalista de 1911, César de Oliveira (pref. Notas e selecção de Textos), Afrontamento, Porto, 1971, p. 80]
Afirmava José do Vale na referida carta publicada no jornal O Mundo:
Meus caros camaradas: Venho por este meio desta carta despedir-me de vós, porquanto renuncio à representação que me deu o Germinal, de Setúbal. Os motivos do meu procedimento são, por enquanto, de carácter muito pessoal (...). O facto principal já deve ser por vós conhecido: depois de muita solicitação de queridos amigos meus, aceitei uma candidatura, sem qualquer carácter de filiação partidária, e apenas como livre pensador e amigo dos operários. Mais nada.
[O Mundo,25-05-1911 apud. Luís Vidigal, Cidadania, Caciquismo e Poder. Portugal, 1890-1916, Livros Horizonte, Lisboa, 1988, p. 97-98]
Foi candidato às eleições Constituintes de 1911, realizadas a 28 de Maio, pelo círculo de Aldeia Galega (Montijo). Era o círculo eleitoral nº 38, que integrava ainda os concelhos de Alcochete, Almada, Barreiro, Sesimbra, Moita e Seixal, mas não conseguiu a eleição para deputado, já que os eleitos por esse círculo foram: Celestino de Almeida, Teixeira de Queirós, Luís Fortunato da Fonseca e Gastão Rodrigues. José do Vale obteve 475 votos no círculo [“Eleições”, Vanguarda, Lisboa, 30-05-1911, Ano 21, nº 7484, p. 1,col. 7].
Foi redactor da Câmara dos Deputados.
José do Vale visitou Évora em Janeiro de 1912, acompanhando o movimento grevista que se vivia pela cidade [“José do Valle”, O Carbonário, Évora, 21-01-1912, Ano I, nº 62, p. 1, col. 2-3].
Participa ainda no Congresso Operário, realizado em Tomar em Março de 1914.
Enquanto colunista no jornal O Mundo foi dos primeiros em Portugal a tomar posição sobre a Revolução Russa de Outubro de 1917, publicando um conjunto de artigos sobre o tema.
Foi redactor de jornais como a Vanguarda, a Capital, a República, O Mundo, O Rebate, O Carbonário, de Évora, O Sindicalista, A Revolta, A Obra, Revista Republicana, Archivo Republicano, O País, O Germinal, de Setúbal, entre outros.
José do Vale faleceu a 11 de Junho de 1927.
Entre as centenas de artigos que escreveu nos jornais conseguimos localizar alguns para dar referência da sua existência:
- Páginas de Propaganda. Religião e Autoridade. A Missão dos Círios Civis / José do Valle. - Lisboa : Instituto Geral das Artes Gráphicas, 1899. - Bibliotheca do Cirios Civil Estrela
Em comemoração do 2º aniversário -29 de Outubro de 1899
- “O Algarve Operário I”, Vanguarda, Lisboa, 15-08-1903, Ano VIII (XIII), nº 2437 (5290), p. 1, col. 6;
- - “O Algarve Operário II”, Vanguarda, Lisboa, 21-08-1903, Ano VIII (XIII), nº 2443 (5298), p. 1, col. 1.
- “Terra e Liberdade. Resposta a Tarik”, Vanguarda, Lisboa, 02-09-1903, Ano VIII (XIII), nº 2455 (5308), p. 1, col. 1 e 2;
- “Heliodoro Salgado e o Livre Pensamento”, Revista Republicana, Ano I, 08-12-1906, p. 3.
- “A Liberdade”, Almanach Democrático para 1908, Typ. Liberty, Lisboa, 1908, p. 55.
- “As Mulheres e a Liberdade”, A Mulher e a Criança, Ano I, nº 5, Agosto, 1909, p. 5;
- “Janeiro-Revolução”, Archivo Republicano, Lisboa, Março 1910, Ano I, nº3, p. 20-21;
- “Um Homem- A Monarquia encontra o seu mais implacável adversário em Afonso Costa”, Archivo Republicano, Lisboa, Julho de 1910, Ano I, nº 7, p. 59-60; reproduzido no Almanach de O Mundo para 1911, Imprensa Libânio da Silva, Lisboa, 1911, p. 299-300;
- 1o de Maio : a manifestação dos trabalhadores, O Mundo, Lisboa, 01-05-1911,A.11, n. 3772, p.2;
- As victimas de Timor : o ultimo que regressa, O Mundo, Lisboa, 17-06-1911, A.11, n. 3819, p.3;
- Um homem da Republica : Alexandre Braga um lutador de rara eloquência, O Mundo, Lisboa, 08-05-1921, A.21, n. 7.065, p.1;
- Carta aos republicanos que já o eram em 5 de Outubro de 1910, O Mundo, Lisboa, 27-06-1921, A.21, n.o 7.115, p.1;
- Movimento Liberal : os republicanos perante a acção do clericalismo, O Mundo, Lisboa, 25-07-1921, A.21, n.o 7.143, p.1;
- O sr. presidente da República e a Nação, O Mundo, Lisboa, 29-10-1921, A.22, n.o 7.237, p.1;
- “Luís Derouet”, Archivo Republicano, Lisboa, Fevereiro de 1912, Ano IV, nº 26, p. 206;
- “Recordações do mês de Fevereiro”, idem, p. 207;
- “Rússia Trágica. A propósito de uma execução”, Almanach de O Mundo para 1912, Tipografia Casa Portuguesa, Lisboa, 1911, p. 251-252;
- “Caixa Económica Operária”, Almanach de O Mundo para 1913, Tipografia Casa Portuguesa, Lisboa, 1912, p. 297;
- “O Mundo e o seu aniversário”, Archivo Republicano, Lisboa, Setembro de 1913, Ano IV, nº 27, p.217;
- “Uma tradição que não se apaga” Archivo Republicano, Lisboa, Setembro de 1913, Ano IV, nº 27, p. 217-219;
- «Editorial», Germinal,Setúbal, 5/11/1910;
- “O 1º de Maio é uma luta dos trabalhadores contra a burguesia”, O Corticeiro, Lisboa, 01-05-1912, IV Ano, nº 149, p. 1;
- A Revolução burguesa e a Revolução social / José do Valle. - Lisboa : A. Lima da Costa, 1911. - (Biblioteca Sociológica).
A.A.B.M.
sábado, 1 de setembro de 2012
JOSÉ DO VALE (Parte II)
Desde 1896 que existem referências à actividade política de José do Vale. Ainda bastante jovem integrou a Associação de Classe dos Trabalhadores, que procurava agrupar os ajudantes dos operários da construção civil. Nessa altura próximo da facção socialista de Ernesto da Silva e contestando a direcção de Azedo Gneco no Partido Socialista.
A partir do ano seguinte e integrando o núcleo de colaboradores de A Obra, jornal de pendor intervencionista, revolucionário, passando em 1897 a pertencer à equipa de redactores deste jornal. Segundo Edgar Rodrigues, A Obra foi fundada em 9 de Julho de 1891, tendo como director inicialmente Guedes Quinhones, mais tarde J. Fernandes Alves e, posteriormente, Francisco Cristo. O editor do jornal era Francisco Maria Bandeira. Este jornal era o órgão dos carpinteiros civis e do operariado em geral. A redacção deste semanário situava-se na Rua da Barroca, 29, 1º, em Lisboa. Contou entre os seus colaboradores Heliodoro Salgado, Ernesto da Silva, Ribeiro de Azevedo, além dos anteriormente referidos. Este jornal evolui depois do socialismo possibilista para o anarquismo, anti-eleitoralismo e de tendência pró-republicana. Terminou publicação em 1906 [Edgar Rodrigues, O Despertar Operário em Portugal (1834-1911), Editora Sementeira, Lisboa, 1980, p. 275; Victor de Sá, Roteiro da Imprensa Operária e Sindical (1836-1986), Editorial Caminho, Lisboa, 1991, p. 81].
Em 1899, José do Vale juntamente com Heliodoro Salgado e outros activistas fundaram a Liga dos Livre Pensadores, tendo muitos deles estado na base da organização do Congresso Anticlerical que anteriormente referimos. Ainda devido à sua participação nesse congresso acabou por ser detido devido aos desacatos e desordens que ocorreram durante o mesmo. Nessa altura foi acusado de “vadiagem”. No ano seguinte volta a ser preso entre Março e Junho de 1901. Situação que veio a conhecer variadas vezes ao longo da sua vida.
Colabora, como redactor na revista Mocidade, revista mensal que se publicou em Lisboa entre 1 de Março de 1899 e Fevereiro de 1905. Numa edição de Cândido Chaves, contou com colaboração de Trindade Coelho, João de Barros, Luís da Câmara Reis, Álvaro de Castro, Cândido Guerreiro, Carlos Olavo, Alfredo Pimenta, João de Deus Ramos, Joaquim Manso, Ramada Curto, Tomás da Fonseca, Utra Machado, Campos Lima, Francisco Queirós, Pulido Valente, entre outros. Encontram-se três séries nesta revista, a primeira com 9 números; a segunda com 12 e a terceira e última, com 4 números. Uma das particularidades desta revista é contar com uma larga colaboração de Câmara Reis e de Álvaro de Castro [Daniel Pires, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940), Grifo, Lisboa, 1986, p. 238-239]. Muitos dos colaboradores desta revista eram jovens estudantes, republicanos e anarquistas que viriam depois a assumir outras posições na vida política e cultural do País.
Em 1901, Bartolomeu Constantino e José do Vale, entre outros, organizaram a fundação da Federação Socialista Livre, onde Vale desempenhava as funções de secretário [António Ventura, A Carbonária em Portugal (1897-1910), Livros Horizonte, Lisboa, 2004, p. 53]. Publica-se também por essa altura aquele que viria a ser o órgão desta organização política: O Germinal. Esta federação volta a ser refundada em 1905 e mostra o fraccionamento que o movimento vivia nesse período, com anarquistas defendendo a revolução e a República como soluções para os problemas que se viviam no final do século XIX e início do século XX, em simultâneo outros grupos libertários que propunham soluções mais ou menos radicais.
José do Vale, entretanto, passa a viver como empregado do comércio e torna-se correspondente em Lisboa, do jornal portuense A Reacção, começando também a colaborar com A Vanguarda de forma regular, constando como redactor desse jornal desde Março de 1903. Nessa altura acompanhou uma missão de propaganda republicana ao Algarve que deram origem a um conjunto de artigos publicados nesse jornal em Agosto e Setembro de 1903 sob o título “Algarve Operário”.
Em Março de 1904, vamos encontrá-lo como membro do comité sul da Liga dos Livres Pensadores, organismo que deveria funcionar como elemento de ligação à Federação Internacional do Livre Pensamento. Foi um dos participantes na reunião realizada em Abril de 1904, na Associação dos Lojistas de Lisboa, onde se criticaram os acontecimentos ocorridos em Alcalá del Valle a 1 de Agosto 1903. Esta manifestação de pendor anarquista, na vizinha Espanha, provocou grande emoção entre os libertários e socialistas europeus. Em Lisboa, os acontecimentos foram difundidos pela Federação Socialista Livre, tendo, na ocasião discursado, para além de Sá Pereira, Magalhães Lima, Heliodoro Salgado, França Borges, Ramada Curto e José do Vale, entre outros.
Integrou, ainda em 1905, a Comissão do 2º Centenário de António José da Silva (O Judeu), que era constituída por Augusto José Vieira, Fernão Boto Machado, Carlos Cruz, Dâmaso Teixeira, França Borges, Joaquim Madureira, Luz de Almeida, Mayer Garção, Teófilo Braga, Magalhães Lima, Macedo Bragança, Israel Anahory, Martins Monteiro, Silva Fernandes, Sá Pereira, Fernando Reis e José do Vale.
Em 3 de Junho de 1907 teve início do julgamento de Magalhães Lima e José do Vale, do jornal Vanguarda, por crimes de liberdade de imprensa.
Segundo Armando Ribeiro, José do Vale foi contactado oficialmente através de carta enviada pelo próprio Ferreira do Amaral através de Bernardino Machado, para garantir que durante as exéquias fúnebres de D. Carlos não voltassem a existir atentados por parte dos núcleos de anarquistas intervencionistas [Armando Ribeiro, A Revolução Portuguesa, Edições João Romano Torres, Lisboa, 1915, p. 465-466]. Segundo contam outras fontes, José do Vale percorreu todos os núcleos anarquistas que conhecia na região de Lisboa, durante a noite para garantir que tudo decorreria de modo normal e foi isso que garantiu na carta que retribuiu a Bernardino Machado no dia seguinte e que viria a ser entregue ao conselheiro Ferreira do Amaral.
Durante o I Congresso Sindical e Cooperativista, realizado em 1909, em Lisboa, estabelece-se a ruptura entre sindicalistas e socialistas, saindo os sindicalistas anarquistas José do Vale, Constantino Martins, Denis de Morais, Alfredo Ladeira.
[Em continuação]
A.A.B.M.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
JOSÉ DO VALE (Parte I)
Nasceu em 1880, mas não foi possível apurar concretamente onde, nem quem foram os seus progenitores.
Começou por ser empregado comercial até entrar na redacção do Pais, jornal diário republicano, dirigido por Alves Correia.
Foi militante socialista no Centro José Fontana, em Lisboa, de onde viria a ser expulso em 1899.
Manifestando algum à vontade e habilidade tornou-se jornalista, primeiro alinhando em publicações de pendor socialista, mais tarde anarquista e republicano. Para Rocha Martins, José do Vale era “um jornalista boémio, mergulhado no anarquismo e agasalhado pelos republicanos, redactor do Mundo e a quem todos os juízes de instrução prendiam ao menor tumulto. Ele ía, ficava no cárcere, com a sua luneta encavalada no nariz grosso, a face torrada, a cabeleira encaracolada e revolta, passava lá uns dias e regressava à mesma, à sua propaganda que se fazia entre o baixo povo, bebendo e convertendo” [Rocha Martins, D. Manuel II (Memórias para a História do seu reinado), vol. II, Sociedade Editora «José Bastos», Lisboa, s.d., p.190].
Em 1900, integrando o Círio Civil Heliodoro Salgado, participou de forma activa no Congresso Anticlerical que se realizou entre 29 e 31 de Julho de 1900, nas instalações da Associação dos Descarregadores de Mar e Terra, situada na rua Vinte e Quatro de Julho e organizado pela Federação dos Círios Civis. Na primeira sessão do congresso assumiram a presidência Cândido Moraes da Silva e como secretários Xavier Faia e Carlos Gonçalves. Logo nessa sessão existem registos da sua intervenção no congresso, devido à presença de 16 elementos da autoridade, que impediam o normal decurso dos trabalhos e os congressistas votaram contra essa falta de liberdade [“Congresso Anticlerical”, Vanguarda, Lisboa, 30-07-1900, Ano V (X), nº 1340 (3285), p. 1, col. 5].
Em Setembro de 1900, assina a mensagem endereçada ao Congresso Internacional do Livre Pensamento, realizado em Paris, a 17 de Setembro de 1900, onde o representante da Associação do Registo Civil de Lisboa foi Alves da Veiga.[César Nogueira, Notas para a História do Socialismo em Portugal (1871-1910), Col. Portugália, Portugália Editora, Lisboa, 1964, p. 253-254].
Tomou publicamente posição contra a Guerra dos Bóeres, participando na Conferência Contra a Guerra Sul-Africana, realizada em Lisboa, nos dias 27 e 28 de Março de 1902, na Associação Comercial dos Lojistas, numa organização conjunta entre a Federação Socialista Livre e o Círio Civil Estrela. Os participantes nesta conferência eram reconhecidamente republicanos entre destacavam-se Augusto José Vieira, José do Vale e Francisco Homem Cristo, entre outros.
José do Vale passa a colaborar regularmente com o jornal O Germinal, que se começou a publicar em Setúbal sob a direcção de Martins dos Santos, contando este periódico com a colaboração de variados autores republicanos, socialistas e anarquistas intervencionistas, como o biografado. Este semanário que se começou a publicar em 4 de Outubro de 1903, recebia colaborações de Bartolomeu Constantino, Fernão Boto Machado, Campos Lima, Carlos Rates, França Borges, Augusto José Vieira, Miguel Bombarda, Heliodoro Salgado, Teixeira de Pascoaes e Emílio Costa. Este jornal passou, em 1906, a fazer parte do Grupo de Instrução Germinal, divulgando as iniciativas do Teatro Livre, instituição que tinha sido fundada em 1902 e onde participava também José do Vale [António Ventura, “Um republicano heterodoxo: Fernão Boto-Machado”, Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 27, Coimbra, 2006, p. 302].
[Nota: a fotografia de José do Vale, apesar de não ter a melhor qualidade, foi a possível. Retirada de Hermano Neves, Como Triunphou a Republica, Letra Livre, Lisboa, 2010, p. 73 (ed. fac-similada)]
A.A.B.M.
[Em continuação]
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