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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

CICLO DE CONFERÊNCIAS: A HISTÓRIA DO ALGARVE VAI À BIBLIOTECA


 A Biblioteca Municipal de Lagoa realiza a partir de amanhã, 10 de Novembro de 2022, um ciclo de conferências subordinado ao tema "A História do Algarve vai à Biblioteca". 

A conferência inaugural está subordinada ao título:

- A Liberdade em Manuel Teixeira Gomes ou por prisão o infinito, a palestrante convidada é a Doutora Maria João Raminhos Duarte.

A conferência seguinte realiza-se a 9 de Dezembro de 2022, também pelas 18 horas.

Com os votos do maior sucesso.

A.A.B.M.


terça-feira, 29 de junho de 2021

XVII CURSO LIVRE DE HISTÓRIA DO ALGARVE

 Durante o mês de Julho vai realizar-se em várias sessões, o XVII Curso Livre de História do Algarve, desta vez dedicadas ao tema "O Algarve e o Império Português".

As nove sessões do curso vão decorrer entre as 18 e as 20horas, no Anfiteatro A, do complexo pedagógico da Universidade do Algarve, nas Gambelas, em Faro.

Com organização do Departamento de Artes e Humanidades da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.

O curso conta com a presença dos seguintes conferencistas:

 - João Minhoto Marques;

- Miguel Reimão Costa;

- Marco Sousa Santos;

- José Carlos Curto;

- Graça Ventura;

- Carla Vieira;

- Andreia Fidalgo;

- José Eduardo Horta Correia;

- Raquel Roxo.

MAIS INFORMAÇOES: 

289 800 914 | secretariafchs@ualg.pt

Inscrições: 

https://www.ualg.pt/curso/2900

40€ Normal | 15€ Estudantes e funcionários UALG | 20€ Antigos Estudantes


Com os votos do maior sucesso para esta iniciativa.

A.A.B.M.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

1915 - O DESPERTAR DO ALGARVE: EXPOSIÇÃO NO MUSEU DE PORTIMÃO

Inaugura-se no próximo sábado, dia 12 de Dezembro de 2015, pelas 16 horas no Museu de Portimão, assinalando o Centenário do Congresso Regional Algarvio, a Exposição 1915 - o Despertar do Algarve

Pode ler-se na nota de divulgação da exposição:
A exposição “1915 – O Despertar do Algarve”, que também integra a programação oficial das Comemorações do Dia da Cidade, pretende transmitir as fortes emoções despertadas no início do século XX em que, pela primeira vez num gesto de grande afirmação regionalista, o Algarve foi palco de uma iniciativa pioneira de reflexão e debate sobre os principais problemas e desafios que condicionavam o desenvolvimento da região.
A importância histórica desta iniciativa republicana e o que ela representou num período tão conturbado, em plena 1ª Grande Guerra Mundial, é refletida através da contextualização da situação do Algarve, uma região então bastante esquecida que se debatia com graves problemas de acessibilidade, isolamento e comunicação, face às restantes regiões do país.
O percurso expositivo através de imagens, documentos e peças referentes àquela época, onde não falta a saudosa carrinha, o mais utilizado meio de transporte dos participantes e congressistas, desde a estação de Ferragudo–Parchal até ao Casino da Praia da Rocha, pretende dar a conhecer as principais razões e iniciativas que estiveram na base deste autêntico grito regionalista que despertou o Algarve, em 1915.
O resto da nota de divulgação pode ser encontrada AQUI.
Já se encontram disponíveis em formato digital algumas (quatro) das teses apresentadas ao Congresso Regional Algarvio AQUI.

A notícia sobre a exposição pode ser encontrada AQUI.

Um evento que o Almanaque Republicano não pode deixar de saudar e divulgar junto dos que nos vão acompanhando nestas deambulações pelo espaço virtual, depois de já termos tratado do assunto em vários artigos AQUI.

A.A.B.M.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

OFICINA: ALGARVE E ALGARVIOS NA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA

Uma excelente iniciativa do Ateneu Comercial e Industrial de Loulé para os dias 26 e 27 de Novembro de 2015, sobre o papel do Algarve e dos algarvios na Implantação da República.

Um encontro formativo sob a forma de oficina dinamizada por Luís Guerreiro, um apaixonado pela história local e regional, com muitas conferências e textos na imprensa regional. Desta vez num modelo de formação mais alargada.

Sendo que qualquer pessoa pode participar embora deva fazer a sua inscrição através dos seguintes contactos: luisa.martins@cm-loule.pt . Tm : 926817053.

Entrada Livre.

Uma sessão que se saúda com os votos do maior sucesso e se divulga junto de todos os interessados.

A.A.B.M.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O CONGRESSO REGIONAL ALGARVIO DE 1915 E OS SEUS REFLEXOS NO CONCELHO DE MONCHIQUE (I)


Com a devida autorização do autor, trazemos hoje o artigo de José Rosa Sampaio, no Jornal de Monchique, datado de 12 de Outubro de 2015, acerca de uma temática que várias vezes temos aqui abordado desde o passado mês de Agosto. Neste caso sobre as incidências do Congresso Regional Algarvio de 1915 e o seu impacto no concelho serrano de Monchique.

Fez 100 anos no dia 3 de Setembro de 2015 que teve início na Praia da Rocha o 1.º Congresso Regional Algarvio, um importante acontecimento que iria impulsionar o turismo no Algarve.

Recuando no tempo lembramos que o concelho de Monchique esteve desde cedo na vanguarda do turismo algarvio, oferecendo como atractivos as suas riquezas naturais e monumentais, as termas das Caldas de Monchique, da Malhada Quente e da Fornalha, a sua serra com os afamados picos da Fóia e da Picota, o Barranco dos Pisões, as suas aldeias típicas, os seus inúmeros miradouros, as cascatas, as suas quintas que acolhiam veraneantes vindo de fora, os seus produtos agrícolas e artesanais e a sua rica gastronomia.

Enaltecido nas suas belezas naturais pelos inúmeros viajantes que aqui afluíram nos séculos XVIII e XIX, foi sucessivamente esquecido pelas estâncias governamentais, incluindo os três sítios termais, que também nunca foram suficientemente aproveitados.

Todavia, já no início do século XVII, Henrique Fernandes Serrão enaltecia este rincão de Silves, recordando que aqui «veio muitas vezes el-rei D. Sebastião, e lhe chamou Nova Cintra (…)», afirmando que «por ser de tanta frescura, muitos homens nobres vão no verão folgar e tomar seus passatempos a este lugar».

No início do século XIX, o militar George Landmann aclamava o Banho e os seus arredores: «Os banhos de Monchique tornaram-se agora passeio da moda que atrai muitos visitantes, sem contar os que ali vão por necessidade, de maneira que na temporada dos banhos a sociedade é naquela estância numerosa e muito agradável. Os que residem dentro do estabelecimento obedecem a um regulamento que proíbe os ruídos e obriga a entrada à noite a hora certa, mas nos outeiros arborizados que cercam os banhos, há algumas casas de campo que podem alugar-se no todo ou em parte, a menos que se pretenda estar mais próximo dos banhos. Os passeios nos arredores têm muito encanto para os admiradores dos sítios montanhosos e incultos; todas as tardes grupos de banhistas e dos seus amigos se reúnem nos lugares mais sombrios dos flancos da montanha e aí se regalam com frutas e refrescos e quando o sol deixa de lançar os seus raios ardentes por todo este vale feliz, as desfalecidas cordas da guitarra distante, como de harpa eólica, ora se ouvem, ora se perdem nos ecos dos vales, depois de novo as ouvimos com maior intensidade, confundidas com tristes cantos como se viessem a aproximar-se, até que os sons se esvaecem ou são dispersos pela branda brisa, que sopra dos outeiros vizinhos e como estes sons morrem ao longo do profundo vale que corre lá em baixo, os murmúrios distantes dos riachos que se despenham em cascatas fazem-se ouvir e embalam o espírito dos estrangeiros numa esquisita e agradável melodia. Assim no meio destas fantásticas cenas, os cuidados do mundo suspendem as suas doridas pulsações e por um tempo nós ficamos libertos das penas da vida, mas ai de nós, cedo somos chamados pelo toque das ave-marias, anunciando a hora das orações da tarde».

Em Maio de 1864 estavam em andamento os estudos para a construção da nova estrada entre Portimão e Monchique e pedia-se que ela entroncasse com a que estava em construção entre Lagos e Portimão.

Como se sabe, o Algarve só muito tarde despertou para o fenómeno do turismo, sobretudo devido ao eterno problema das vias de comunicação, que faziam com que esta província fosse intransponível e se parecesse com uma ilha.

Manuel Teixeira Gomes, no seu Carnaval Literário lembra a «viagem aventurosa», que por volta de 1870 se fazia de Lisboa a Portimão: comboio até Beja; diligência de Beja a Mértola; descida do Guadiana em vapor até Vila Real de Santo António; e novamente diligência até Portimão.
A ponte sobre o Rio Arade só seria inaugurada em 1872, ano que as comunicações ficaram mais facilitadas.

O Casino das Caldas aparece pela primeira vez na época balnear de 1873, com o Dr. Francisco Lazaro Cortes na direcção do Banho, altura em que a imprensa anunciava uma nova era para a estância termal, agora com estrada a partir de Portimão, a nova hospedaria, serviço médico permanente, melhoramentos higiénicos, e salão de recreio com música, bilhar e outros jogos e distracções.

Acompanhando a estância termal das Caldas estava a Praia da Rocha, onde se realizavam algumas iniciativas pioneiras de empreendedores locais como a construção do primeiro casino que aqui abriu e é detectável em Março de 1874, o Casino da Praia do Vau e também o Hotel Viola, que abriria no ano de 1903, pela mão do «conhecido hospedeiro das Caldas de Monchique».

Entretanto, a estrada tinha recebido um tapete a macadame, que chegaria às Caldas em 1877, e a Monchique no ano seguinte, tendo ficado como mais um dos milagres do Fontismo, recebendo a designação de Estrada Distrital n.º 76. Esta importante ligação permitiu aos monchiquenses ver pela primeira vez as ricas seges e depois os primeiros automóveis dos fidalgos e burgueses ricos, que aqui vinham veranear e embevecer-se dos ares da serra.

Nesse tempo as belas paisagens do concelho eram motivo dos clichés de alguns fotógrafos. Em Fevereiro de 1979 o concelho recebeu a distinta fotógrafa eborense, D. Maria Eugénia Reya de Campos, que aqui captou alguns belos clichés. Também o monchiquense Francisco Águas Serra Júnior captava no início do século «primorosas fotografias» (postais), que eram vendidas a 300 réis.
Joaquim Ferreira Moutinho fala em 1890 da necessidade de uma via-férrea que levasse os turistas e visitantes até às termas das Caldas. E acrescenta que «A estação do caminho-de-ferro denominada de “Monchique” estava edificada numa montanha completamente deserta, a cinco ou seis léguas distante desta vila, sem estrada que as ligue».

Também o escritor naturalista Júlio Lourenço Pinto, que aqui esteve durante a preparação do seu livro O Algarve (1894) subiu à Fóia guiado por um burriqueiro e montado no «espinhaço traiçoeiro» de um burro, que descreveu como tendo uma «aparência humilde e bonacheirona».

Um atractivo promocional de peso deu-se a 13 de Outubro de 1897, quando a vila foi honrada com a visita do rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, que depois do almoço em casa do comendador José Joaquim Águas subiram à Fóia a cavalo, pelo itinerário do Barranco dos Pisões.

Alguns postais fotográficos do princípio do século XX imortalizam algumas dessas burricadas junto ao marco geodésico da Fóia. Noutros postais estão presentes locais aprazíveis como a Cascata do Penedo do Buraco, a «Avenida do Pé da Cruz», a estrada de Sabóia, o Barranco dos Pisões, o Convento, a estrada da Fóia, as Caldas de Monchique, etc.

Com a inauguração da «Estação de Portimão», no actual apeadeiro de Ferragudo-Parchal, a 15 de Fevereiro de 1903, as viagens para Monchique seriam bastante encurtadas e menos cansativas para os monchiquense que viajavam, ou para turistas que aqui afluíam.

João Arruda visitou o concelho no primeiro decénio do século passado, tendo-nos legado um interessante fresco no seu livro de viagens, onde fala da abundante oferta hoteleira, que o levou a hesitar na escolha, quando visitou as Caldas em 1906, facto que ele aponta no seu livro de viagens. E adianta: «A permanência em Monchique, obriga a uma ascensão à Fóia. É indispensável, porém, aparelhar os burros que não estão ali à mão de semear. Há o “Russo” do Ti Manel da Jaquenita, o burrinho preto, esperto d’orelha, que o Zé Piscalho mercou na feira de Loulé, a jumenta branca da comadre Mari Formiga… Basta! Não é preciso mais nenhum desses filósofos que Victor Hugo considerou mais sábios que Platão e George Sande asseverava terem mais raciocínio que uma academia. Lá vamos subindo a montanha ao chuto dos asnos, que a solicitude de seus donos ataviou em grande gala: sobre o albardão esbeiçado, (…) branqueja o lençol com iniciais em ramalhete, a linha vermelha; rescende a pêro camoez porque foi agora tirado do grande arcaz de sicupira onde se guarda o bragal caseiro».

Ainda no mesmo ano de 1906 João Bentes Castel-Branco escreve que «A abundância e variedade de vegetação mantida por numerosas fontes de água cristalina, e o acidentado dos terrenos polvilhados de acanhadas casas onde residem os pequenos cultivadores faz de todo o concelho de Monchique, como um bocado da Suíça, igualmente digno de ser visitado e admirado nos seus múltiplos pontos de vista que encantam, umas vezes pelo pitoresco, outras pela extensão do horizonte».

A Sociedade de Propaganda de Portugal seria criada também no ano de 1906 e desde o seu início tomou em mãos iniciativas como a criação de postos meteorológicos, a promoção do turismo nacional e estrangeiro, o incentivo à construção de unidades hoteleiras e estruturas de divertimento, e a valorização e a divulgação dos monumentos e sítios de maior interesse.

Por esse tempo, o barítono portimonense Alfredo Mascarenhas fazia furor nos jornais. «Depois de cantar no Cairo, passou para Alexandria onde cantou os Palhaços, a Boémia e a Ébria, seguindo depois para Atenas, para cantar uma ópera nova de um canto grego». No prosseguimento da sua carreira a sua presença seria habitual na Praia da Rocha, onde actuou várias vezes no casino, a partir de 1913.

O cientista alemão Erich Kaiser, que aqui esteve a estudar as rochas do maciço, em 1907, referiu-se na sua obra à «boa estrada para Monchique» e também ao serviço postal «bastante bom», para além dos elogios às acomodações existentes nas Caldas.

Gérard de Beauregard e Louis de Fouchier, dois viajantes franceses que estiveram em Portugal antes de 1908, deixaram no seu livro algumas impressões interessantes sobre o concelho: «Monchique é um sítio admirável e centro muito próprio de vilegiatura e excursões e tem nascentes termais eminentemente curativas, cujo acesso deveria ser facilitado no interesse de todos».

Um pouco pela mesma altura, Victor Moigénie diz que o melhor hotel do Algarve se encontrava nas Caldas de Monchique, acentuando que era um «óptimo hotel».

Com a implantação da República os atractivos do concelho tornaram-se apetecidos pela burguesia republicana, como vemos na imprensa: «Tem estado animadíssima a época deste ano nas Caldas de Monchique, continuando todos os dias a chegar forasteiros. Prepara-se nas mesmas Caldas lindíssimas festas».

Com o aproximar da época estival de 1912, «nas estações de turismo que se estabeleceram pelo país», seria autorizada «a liberdade do jogo», sobretudo no casino das Caldas de Monchique e nos casinos da Praia da Rocha e Praia do Vau.

Algumas burricadas à Fóia ficaram famosas por envolverem pessoas distintas, geralmente participantes em visitas oficiais, ou políticos em campanha, que assim ficavam a conhecer melhor o concelho.

Foi assim que em Março de 1913 subiram ao alto da serra os membros da Sociedade de Propaganda de Portugal, que também estiveram noutros locais aprazíveis, como o convento dos Franciscanos e o Penedo do Buraco. Ainda no mesmo ano, a convite desta mesma agremiação tinham estado em Monchique 25 jornalistas britânicos.
CONTINUA

O nosso agradecimento pela autorização na utilização do texto. O mesmo artigo pode ser encontrado no jornal supra referido AQUI.

A.A.B.M.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

CONGRESSO REGIONAL ALGARVIO DE 1915 NA IMPRENSA DA ÉPOCA

Assinalando ainda a realização do I Congresso Regional Algarvio, colocamos a notícia do evento num dos jornais da época, precisamente com 100 anos:


República, Lisboa, 07-09-1915, nº 1674, p. 2
[Clicar na imagem ou descarregar para aumentar]
A.A.B.M.

sábado, 5 de setembro de 2015

ANTÓNIO JÚDICE MAGALHÃES BARROS (1879-1960)


Nasceu em Portimão, em 25 de Julho de 1879. Seus pais eram Francisco Roberto de Araújo Magalhães Barros e de Emília Augusta Júdice Grade. O pai originário de famílias do Minho, estudou em Coimbra e desempenhou as funções de juiz em Silves, tendo sido colaborador em alguma imprensa do Minho. A mãe pertencente a uma das famílias ilustres do Algarve, com importantes bens em termos de propriedades agrícolas. Era irmão de Alfredo Júdice de Magalhães BarrosAlberto de Magalhães Barros Júdice Queiroz e Sofia Augusta Júdice de Magalhães Barros.

António Júdice de Magalhães Barros casou em 1909 com Maria Glória Júdice, filha de Pedro Júdice, importante proprietário na Mexilhoeira da Carregação. Exerceu durante algum tempo as funções de procurador régio em Portimão, sendo uma das importantes figuras do Partido Regenerador na então Vila Nova de Portimão.

Apreciando, tal como o pai, a escrita, a História e a Literatura, colaborou em algumas publicações e ajudou Francisco Xavier Ataíde de Oliveira nas suas pesquisas monográficas sobre o Algarve. Essa situação é reconhecida nas Monografias que Ataíde de Oliveira dedicou a Vila Real de Santo António, a Alvor e a Olhão. Frequentava com alguma regularidade a Torre do Tombo, onde o Dr. António Baião, seu cunhado e investigador trabalhava, tendo mesmo publicado a tese subordinada ao título Fontes para a História do Algarve no I Congresso Regional Algarvio. São conhecidas as suas paixões também pela ópera, pelo ballet, pelo cinema e pelo desporto que assistia quando passava largas temporadas nas suas diversas residências na cidade de Lisboa.

Apesar de monárquico nunca afrontou o regime  republicano e manteve sempre uma posição neutral em relação ao regime, mas participando civicamente na vida social e cultural de Portimão. Apaixonado pela região, sobretudo da Praia da Rocha, procurou divulgar e promover a região do Algarve, daí a sua presença e envolvimento na realização do Congresso Regional Algarvio.

Durante o período da Grande Guerra e aproveitando o impulso que conhecia a industria conserveira instala a sua própria fábrica na Mexilhoeira da Carregação, a "Fábrica de Sto. António", que Adelino Mendes visitou e fotografou durante a sua permanência na região acompanhando o congresso. Neste período, utilizou a sua embarcação pessoal, o "Judibarros" para realizar operações de vigilância junto à costa do Algarve.  Esta fábrica acabou por vir a ser posteriormente vendida a "Feu Hermanos" quando as conservas começaram a sentir algumas dificuldades para subsistir.

Foi por sua iniciativa que se promoveu a Exposição de Produtos Agrícolas e Industriais, tendo participado no evento vários expositores algarvios e outros vindos de várias partes do País. A seu cargo foi construído o "Pavilhão Mourisco", que conseguiu impressionar os visitantes.

Em 1918, durante a visita presidencial de Sidónio Pais ao Algarve, aloja-se nova residência de António Júdice Magalhães Barros, situada na Praia de Rocha e que era designada como Vila de Nossa Senhora das Dores. Nela se realizaram festas e bailes, frequentada por artistas e escritores que testemunhavam o luxo e sumptuosidade da residência. Com os meios económicos de que dispunha apoiou durante anos uma banda filarmónica na cidade de Portimão.

O falecimento prematuro da sua esposa, durante o parto da última filha, provocou o desaparecimento da alegria na casa de família. Em 1926, Marcos Algarve na sua obra Mistérios da Praia da Rocha, afirmava que era "o palácio da tristeza". Arrendando esta habitação em 1936, ela acaba por ser transformada em Hotel Bela-Vista.

Desempenhou ainda funções como delegado local da Sociedade de Propaganda de Portugal durante vários anos.

Colaborou regularmente com vários órgãos da imprensa escrita, sobretudo na região do Algarve, em especial no Algarve, no Correio do Sul, mas ainda em outras publicações, quase sempre realçando as paisagens da sua terra, fomentando o turismo e exercendo os seus direitos de cidadania. Localizaram-se alguns artigos da sua autoria que a seguir descriminamos: (não sendo um levantamento exaustivo, permite ter já uma ideia do seu envolvimento com a imprensa local, colocando-se a hiperligação onde se refere o número da publicação, para os potenciais interessados em mais detalhes)

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 11-01-1931, Ano 23, nº 1188, p. 1, col. 5-6, p. 2, col. 1.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 18-01-1931, Ano 23, nº 1189, p. 1, col. 5-6, p. 2, col. 1.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 25-01-1931, Ano 23, nº 1190, p. 1, col. 5-6, p. 2, col. 1
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 01-02-1931, Ano 23, nº 1191, p.1, col. 5-6 e p. 2, col.1 
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 08-02-1931, Ano 23, nº 1192, p. 1, col. 3 e 4. 

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 15-02-1931, Ano 23, nº 1193, p. 1, col. 5-6.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 22-02-1931, Ano 23, nº 1194, p. 1, col. 5-6.

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 01-03-1931, Ano 23, nº 1195, p. 1, col. 4
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 05-03-1931, Ano 23, nº 1196, p. 2, col. 1-2

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 15-03-1931, Ano 23, nº 1197, p. 1, col. 3 a 6.
-  "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 22-03-1931, Ano 23, nº 1198, p. 1, col. 5-6 e p. 2, col. 1.
- "Rememorando. Homenagem a «O Algarve» decano dos jornais algarvios pelo seu aniversário", O Algarve, Faro, 29-03-1931, Ano 24, nº 1199, p. 1, col. 3 a 6.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 29-03-1931, Ano 24, nº 1199, p. 2, col. 3 a 5.

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 05-04-1931, Ano 24, nº 1200, p. 1, col. 3-4.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 12-04-1931, Ano 24, nº 1201, p. 1, col. 5-6.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 19-04-1931, Ano 24, nº 1202, p. 1, col. 5-6.
- "As Caldas de Monchique", O Algarve, Faro, 26-04-1931, Ano 24, nº 1203, p. 1, col. 1-2.
- "As Caldas de Monchique II", O Algarve, Faro, 03-05-1931, Ano 24, nº 1204, p. 1, col. 1-2.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 03-05-1931, Ano 24, nº 1204, p. 1, col. 5-6.

- "As Caldas de Monchique III", O Algarve, Faro, 10-05-1931, Ano 24, nº 1205, p. 1, col. 1-3.
- "As Caldas de Monchique IV", O Algarve, Faro, 17-05-1931, Ano 24, nº 1206, p. 1, col. 1-3.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 24-05-1931, Ano 24, nº 1207, p. 1, col. 3 a 5.
-  "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 31-05-1931, Ano 24, nº 1208, p. 1, col. 3 e 4.
- "Camões", O Algarve, Faro, 07-06-1931, Ano 24, nº 1209, p. 1, col. 1-2.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 14-06-1931, Ano 24, nº 1210, p. 1, col. 5-6.
- "As Caldas de Monchique V", O Algarve, Faro, 05-07-1931, Ano 24, nº 1213, p. 1, col. 3-5.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 05-07-1931, Ano 24, nº 1213, p. 1, col. 6.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 19-07-1931, Ano 24, nº 1215, p. 1, col. 3-4.

- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 26-07-1931, Ano 24, nº 1216, p. 2, col. 3-4.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 02-08-1931, Ano 24, nº 1217, p. 1, col. 4-5.
- "O grande iniciador" O Algarve, Faro, 02-08-1931, Ano 24, nº 1217, p. 1,col. 1.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 09-08-1931, Ano 24, nº 1218, p. 1, col. 3-6.
- "O Nosso Algarve", O Algarve, Faro, 16-08-1931, Ano 24, nº 1219, p. 1, col. 3-4 e p. 2, col. 2.
- "Costa Vermelha - A Praia da Rocha", O Algarve, Faro, 23-08-1931, Ano 24, nº 1220, p. 1, col. 5-6, p. 2, col. 1-2.

- “Pelo Algarve Maravilhoso: Triângulo de turismo do Algarve- Praia da Rocha, Monchique, Sagres”, Diário do Alentejo, Beja, 11-06-1935, Ano IV, nº935, p. 2, col. 1 a 3. [Interessante artigo sobre a importância do turismo na região e a necessidade da sua valorização e melhoramento. O autor do texto era designado como “o nosso redactor algarvio” ];

- “Allô Portimão! Portimonense Sporting Club: Presente! Portimonenses: Respondam!” Comércio de Portimão, Portimão, 24-02-1949, Ano 23, nº 1171, p. 1, col. 4 e 5.
- “Mais um Aniversário! «O Algarve» Decano dos Jornais Algarvios”, O Algarve, Faro, 04-04-1937, Ano 30, nº 1514, p. 1, col. 6.

Durante o Estado Novo alinha ao lado dos defensores da  ditadura salazarista. Manteve-se coerente em termos políticos, sendo monárquico próximo do Integralismo. 

Foi Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Portimão em 1945/1946. Desenvolveu também actividades nos Bombeiros Voluntários de Portimão e no Portimonense Sporting Clube.  Foi um dos fundadores do Grupo de Amigos de Portimão em 1947, organização que dinamiza várias actividades ao longo da década de 50 e 60 do século XX.

António Júdice de Magalhães Barros faleceu em Portimão em 26 de Julho de 1960, vítima de cancro. Foi sepultado no jazigo da família Júdice em Estômbar, concelho de Lagoa.

Com um lamento nosso não foi possível localizar atempadamente uma fotografia em melhores condições deste nosso biografado, agradecendo a colaboração dos nossos ledores.

A.A.B.M.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

HÁ 100 ANOS, O CONGRESSO REGIONAL ALGARVIO FEZ A PRIMEIRA RADIOGRAFIA DA REGIÃO

Com a devida vénia e autorização transcrevemos o artigo do Eng. Aurélio Cabrita e investigador de História Regional publicado no Sul Informação.


Há 100 anos, o Algarve saltou para as primeiras páginas dos periódicos nacionais. Reunidos na Praia da Rocha, um vasto leque de engenheiros, economistas, geógrafos, académicos, jornalistas, artistas plásticos e médicos, debateram, nas suas especialidades, o presente e o futuro da região, enumerando deficiências e apontando soluções de curto e longo prazo.
O Congresso Regional Algarvio foi sucedâneo dos congressos municipalistas realizados em Lisboa (1909) e no Porto (1910). O regionalismo, de acordo com o defendido pelo Prof. Fernando Catroga, apresentava-se como um “regionalismo cultural” e com um propósito – o de superar a crise em que a sociedade vivia. Por outro lado, ele constituía também uma resposta ao aumento das desigualdades regionais provocada pela revolução urbana.
Em 1912, o jornal A Capital lança um inquérito, “o que a província pensa e o que a província precisa”, para, no ano seguinte e na sequência do congresso dos regionalistas franceses, em Toulouse, ser a vez de O Século defender a concretização em Portugal de congressos regionais.
Se por um lado, a sugestão conquistou numerosos apoios, as vicissitudes das lutas políticas e sociais, a que não foi alheia a I Grande Guerra, acabaram por travar a iniciativa, sendo o Congresso Regional Algarvio, a par do Municipal Alentejano, realizado no mesmo ano, duas exceções até ao alvor dos anos de 1920.
O Congresso Regional Algarvio decorreu no Casino da Praia da Rocha, entre 3 e 7 de setembro, com um programa variado e paralelo ao seminário propriamente dito.
A organização de uma exposição com os produtos da região terá constituído a génese do evento. Embora organizado pela experiente Sociedade de Propaganda de Portugal, segundo a investigadora Maria João Duarte, foram seus principais mentores Tomás Cabreira (presidente do congresso), Pádua Franco (secretário-geral), Mateus Moreno, Cândido Marrecas, António Teixeira Bicker, Guerreiro Júnior, Magalhães Barros e Julião Quintinha.
Tese Zonas Turismo































   
A revista Alma Nova foi o órgão oficial do evento, simbolizado por uma flor de amendoeira. Para patrono, foi escolhido João de Deus e a “Canção da Praia da Rocha”, sendo nomeado presidente honorário o ministro do Fomento.
Do programa constava, para o dia 1 de setembro, a abertura da Exposição Regional Algarvia, um campeonato de ténis, e à noite concertos na Avenida e no Casino, bem como um baile. No dia 2, houve regatas e festas no rio, iluminação e concerto musical.
A abertura do congresso propriamente dito estava agendada para 3 de setembro, com as suas sessões, a que se seguiria tiro aos pombos, e, à noite, repetiam-se as festas no Arade.
No dia seguinte, sessões do congresso, batalhas de flores e quadros rústicos, concertos e festas no Casino. Para 5 de setembro, estava prevista uma visita a Lagos, a sessão de encerramento do encontro e exposição de Arte Algarvia, na Escola Vitorino Damásio.
Já a 6, devia encerrar a exposição regional, sendo promovidas as últimas iluminações e concerto no Casino.
Nos dias seguintes estavam ainda organizadas excursões a diferentes pontos da região (7, 8 e 9 de setembro), além da exibição de variedades e bailes no Casino, serões de arte e teatro, conferência literária, e, por fim, a 19 e 20 de setembro, arraiais, festa popular e festa da flor.
Em Faro, decorria também, por aqueles dias, uma exposição regional com quadros do pintor Lyster Franco. As inscrições encerraram a 20 de agosto, porém e face à elevada procura, seriam prolongadas por mais nove dias, não assumindo a organização responsabilidades em termos de alojamentos.
O sucesso do evento não foi alheio à sua meticulosa organização, fosse na região ou no país. Assim, enquanto no Algarve (em Tavira, Faro ou Silves) se multiplicavam conferências sobre “Fins e propósitos do Congresso Regional Algarvio”, além de participarem delegados de todas as localidades da região, para os restantes congressistas eram anunciados descontos de 75% sobre os preços praticados no caminho de ferro, fosse em 1ª, 2ª ou na 3ª classe, entre os dias 31 de agosto e 15 de setembro, para a estação de Portimão (então ainda situada em Ferragudo).
A 21 de agosto, o jornal O Século anunciava, para a Praia da Rocha, “luzidos festejos em honra dos congressistas”. Na praia, decorriam trabalhos de embelezamento, com a montagem de um ponto de informações sobre o congresso, alojamentos, transportes, e sobre a região em geral, bem como de um pavilhão “mourisco”, promovido pelo industrial António Júdice Magalhães Barros. Este último para comercialização de frutas, doces, águas de Monchique, conservas, postais e outras recordações do Algarve.
A 29 de agosto, O Século noticiava a ordem de trabalhos do seminário, com duas sessões por dia, sendo os assuntos a tratar divididos em três secções: agricultura e indústria; comércio e meios de transporte; e por fim turismo e história algarvia.
Pavilhão Mourisco (Ilustração Portugueza 4 out 15)
O Pavilhão Mourisco do industrial e agricultor António Júdice Magalhães Barros













Nas vésperas, trabalhou-se afincadamente, de forma a proporcionar o maior número de diversões e o máximo de conforto aos visitantes. Com esse objetivo e para ficar mais próxima da abertura do encontro, a inauguração da exposição agrícola foi adiada para o dia 2. Nesta, destacaram-se a firma V. Campos, de Tavira, com frutos secos, António Teixeira Bicker, Melo Leste, Manuel Mascarenhas, Pedro M. Júdice, com frutas várias, Marreiros & Irmão, de Vila do Bispo, com artigos de malha e de renda, bem como Maria Augusta Viegas, com um artístico trabalho de rendas de bilros, entre outros (mobiliário, conservas de peixe, vinhos, cortiça, até ananases do Algarve). Participaram ainda empresas externas à região, como a Moreira da Silva & Filhos, do Porto, embora não entrassem no concurso dos melhores produtos algarvios.
Nos dias anteriores, foram distribuídos aos congressistas os resumos das teses que iriam ser debatidas, as quais apresentavam em conclusão, com vista à sua vinculação ao poder político, projetos de lei, para rápida aprovação e implementação pelo governo. Ao todo, terão sido impressas 26 teses (1), sobre os mais variados temas, da agricultura, à pesca, sem esquecer a indústria, o ensino profissional, os transportes, as estradas, o clima, a história regional, a etnografia, a arte, o crédito, a assistência à mendicidade, zonas de turismo, hotéis, etc.
Na manhã de dia 3, o congresso abria portas, tendo a sessão inaugural decorrido “brilhantemente”, perante uma assembleia repleta, embora sem a presença do ministro, que só chegaria no dia seguinte.
Na verdade, o evento teve uma participação massiva, de tal forma que, por aqueles dias, foi realizado um comboio extraordinário que partia da então Vila Nova de Portimão, à meia noite, para Faro, para que os congressistas encontrassem alternativas de alojamento na sede de distrito ou nos pontos intermédios.
O presidente Tomás Cabreira expôs então à assembleia “os fins do congresso e enalteceu as belezas naturais do Algarve”. Este visava, como o próprio reconhecia à imprensa dias depois, “valorizar a terra e o trabalho no Algarve”. Para o efeito, sairiam eleitas comissões permanentes, que, aliadas a uma comissão executiva, pugnariam pela implementação das resoluções ali tomadas junto dos ministérios, autarquias e outras entidades, até à realização de um novo congresso previsto para a primavera de 1918, em Faro.
Em suma, pretendia-se dotar o Algarve com um organismo que coordenasse e impulsionasse todas as iniciativas que promovessem o seu progresso.
Finalizada a sessão inaugural, iniciaram-se os trabalhos, com a secção de agricultura.
Caminhos de ferro





























Para a tarde estava prevista a de turismo, que não se realizou, segundo O Século, por não se conseguir reunir, transitando por isso para a manhã seguinte. Esta não terá sido a única alteração ao programa, uma vez que, no dia 6, houve sessões de manhã e de tarde, tendo o encerramento sido aprazado para dia 7 de setembro, às 11 horas, também no Casino.
Todavia, e se alguns temas não geraram debate e as conclusões eram aprovadas rapidamente, não faltaram momentos de discussão acesa e de múltiplas alterações às conclusões, a que a imprensa fez eco. A tese “Tarifas ferroviárias”, de Tomás Cabreira, foi uma das que gerou algum debate entre o autor e Francisco Grilo, com troca de diversos argumentos.
Mas de todas a mais polémica terá sido a “Zonas de Turismo”, também da autoria de Tomás Cabreira, que defendia a regulamentação do jogo. A sua discussão prolongou-se e transitou da sessão da manhã para a da tarde, embora acabasse por ser aprovada.
Em suma, foi feita por aqueles dias uma radiografia à região, pela reputada elite da época e simultaneamente apontadas soluções e recursos a explorar, para o desenvolvimento do comércio, indústria e agricultura do Algarve.
Embora fossem poucos os “touristes” que nos visitavam, o turismo teve particular destaque, pois as potencialidades da região nesta matéria eram já inegáveis. Por curiosidade, refira-se que, em novembro de 1889, a conceituada revista francesa de viagens “Journal des Voya’ges – et des aventures de terre et de mer” dedicara uma reportagem ao Algarve.
A organização do Congresso teve também preocupações sociais, pois a receita resultante da venda do programa geral das festas reverteu para os pobres de Portimão, tendo o custo da sua produção (despesas de composição, impressão e cartolinas) sido suportadas por Fernando da Silva David, membro da Comissão Executiva. Também parte das vendas do pavilhão mourisco se destinaram a fins de beneficência.
Nos dias seguintes, houve diferentes visitas à região, a Monchique, Sagres, Silves, Tavira, Faro, Lagos. Adelino Mendes, jornalista de A Capital, descreveu-as brilhantemente naquele periódico (2), escrevendo ainda sobre as sessões do congresso, reportagens que viriam a constituir o livro “Algarve e Setúbal”, publicado em 1916. Uma obra imprescindível para a compreensão do Algarve de então, que aquele jornalista visitou e pintou de forma magnificente.
Quanto a resultados práticos do Congresso, sintetizou-os, com realismo: “debateram-se questões que para a província são d’um capital, d’um indiscutível interesse. É preciso que se olhe bem para o que foi essa reunião d’homens inteligentes, que procuraram, n’uma assembleia de práticos e eruditos, dizer à gente da região e ao paiz o que por cá se precisa e o que é indispensável fazer. (…). O Congresso, em meu entender, não vae além d’uma tentativa oscilante e talvez demasiado idealista”.
Já o tinha antevisto logo no dia 4 de setembro: “Este Congresso algarvio… Elle não passa, coitadito, d’um primeiro passo vacilante na estrada que esta privilegiada província tem de percorrer para atingir toda a sua valorização”.
Não podia ser mais certeiro. A entrada de Portugal na I Grande Guerra, em 1916, com o incremento de todas as dificuldades daí advindas, sem esquecer o falecimento precoce de Tomás Cabreira (a alma do congresso de 1915), em Tavira, em 1918, protelaram a implementação das orientações e o Algarve e os algarvios caíram de novo na letargia que lhe é característica.
Por sua vez os sucessivos governos olvidaram, como sempre, a região e os seus interesses, e pouco ou quase nada foi feito. A estrada a percorrer para a valorização do Algarve era realmente (ou ainda é?) muito longa, mas tal não pode ser atribuído aos “letrados” de então, já que esses visionaram e prognosticaram sobremaneira a região dos nossos dias. Foi há 100 anos.

Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de História Local e Regional

Cartaz2 1º Congresso Regional Algarvio 1915 -












Para saber mais:
– Maria João Raminhos Duarte, “O I Congresso Regional Algarvio na Praia da Rocha”, José Mendes Cabeçadas Júnior e a Primeira República no Algarve, Loulé, 2010.
– http://arepublicano.blogspot.pt/
– Adelino Mendes, O Algarve e Setúbal, Lisboa, 1916.
– Jornal “O Século”, de 16/08/1915 a 18/09/1915.
– Revista “Ilustração Portugueza”, de 06/09/1915 e 04/10/1915.
– Fernando Catroga, “Geografia Política. A querela da divisão provincial na I República e no Estado Novo”, O poder local em tempo de Globalização – uma história e um futuro, Dir. Fernando Taveira da Fonseca, Coimbra – Imprensa da Universidade, 2005.
Notas:
(1) Das quais reunimos 24 teses, que ficarão disponíveis, a partir do dia 27 de setembro, no sítio da internet do Museu de Portimão. Houve, todavia, pelo menos mais duas: “Sports” de Vasco Ferreira de Campos, e “Pesca, Escolas de Pesca”, por José Francisco Silva.

[Com um agradecimento de autorização pela partilha do artigo e assinalando a data do início do I Congresso Regional Algarvio].
A.A.B.M.