«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
sábado, janeiro 11, 2025
Inverno, duro e frio
sábado, dezembro 28, 2024
As minhas palavras estremecem
As minhas palavras estremecem.
Escondo-as num coral em silêncio.
Não quero que ninguém as leia,
ouça ou profane.
O vento, por vezes, distorce
o sentir e a imaginação dos poetas,
que se arrastam nas penas,
que os pássaros vão deixando aqui e ali.
Na vertigem do tempo
rodopio segura de que
apenas as palavras amor e paz,
podem salvar os pactos.
Emília Simões
28.12.2024
sábado, outubro 12, 2024
As palavras
Levanto voo para alcançá-las, mas
a gravidade deita-me ao chão.
Ergo-me e tento trepar.
O tronco, escorregadio,
faz-me resvalar e cada vez mais
as palavras se afastam.
Chove e os pássaros, taciturnos,
não abandonam as crias.
As palavras estão cada vez mais longe.
Tento voar numa folha ao vento
para as agarrar mas, teimosas,
ignoram-me.
Esqueço-me, por instantes,
que ainda não é o tempo
propício das colheitas.
Emília Simões
12.10.2024
sábado, outubro 05, 2024
Passo à tua porta
a pedra desfaz-se sob os meus passos.
O tempo pesa sobre o meu corpo
tão distante da leveza dos gestos,
quando te procurava e me enlaçavas
nos teus braços tão fortes
que me faziam sentir muito amada.
O tempo tudo traz e tudo leva,
mas como as folhas caídas
que atapetam o chão no outono,
na primavera brotam revigoradas
e volto a sonhar outra vez
com a leveza e ternura dos gestos,
gravados no meu viver,
Emília Simões
04.10.2024
sábado, setembro 21, 2024
O outono que se apressa
anunciam o outono, que se apressa.
O vento assobia e as folhas, em desalinho,
dançam num vaivém frenético a melodia
do verão, que se despede.
O seu olhar segue o movimento das folhas
e o dourado da tarde ofusca-lhe os sentidos,
sábado, julho 06, 2024
No desalinho do tempo
e guardo as folhas ressequidas nos
nos meus olhos cor de outono
como se um raio de sol refulgisse
timidamente, nas minhas mãos,
os sinais do tempo,
que corre veloz.
Tento cingi-los para que retardem
as mudanças de estação
onde me perco nas emoções
do entardecer,
quando ouço a tua voz
que diz o meu nome,
como se fosse ontem.
Emília Simões
06.07.2024
sábado, maio 11, 2024
No silêncio do quarto
No silêncio do quarto, ouço a manhã a cantar
nos pássaros a esvoaçar em redor dos ninhos,
nas flores a desabrochar e nas crianças a brincar
no pátio da antiga escola, onde joguei à cabra-cega.
O tempo adejou com o vento, deixando apenas rastos,
que hoje fazem a minha história parecer tão remota.
Nada está como dantes, muitas metamorfoses...
Até o rio corre aos soluços por entre os seixos
esculpindo nas margens ecos passados, de tão copioso.
Os campos devastados pelos incêndios não são os mesmos.
As casas são mais brancas, mas permanecem vazias.
Olho para trás e falta alma à minha aldeia.
A vida de outrora apagou-se e o sol já não tem brilho.
Emília Simões
11.05.2024
sábado, fevereiro 17, 2024
Nas intermitências do tempo
desbravo caminhos e, em silêncio,
colho alvoradas suspensas
nos sorrisos, com que te revelas,
em teus olhos brilhantes
quando me fixas,
numa profusão de cores,
como se a primavera
envolvesse num abraço,
o tempo que resgatámos.
As manhãs são mais sadias,
as tardes, mais leves,
o teu amor mais firme.
Da escarpa, um pássaro voa
levando nas asas, para longe,
segredos que não deixaram rasto.
Para minha mãe
Emília Simões
17.02.2024
sábado, fevereiro 03, 2024
Resvalo por socalcos de montanhas
como ave em pleno voo
e procuro uma flor
uma palavra
um gesto
um raio de sol
um enigma,
talvez um pedaço de tempo
que me fale de vida
e de auroras
e entardeceres
que me falem de amor
ou de silêncios
onde escute a tua voz.
Divago e paro num golpe de vento
que cinjo na minha cintura
como se fora um afago teu.
Emília Simões
03.02.2024
sábado, janeiro 13, 2024
Hoje a chuva molha a calçada
sábado, novembro 11, 2023
No clarear das manhãs
a terra cheira a musgo
e a pedras escorregadias
pelas intempéries
que agitam as árvores
em aguaceiros intermitentes,
deixando sobre o chão
folhas irreconhecíveis,
que vou recolhendo em silêncio.
No vórtice do tempo
aves atravessam as nuvens
resguardando-se de tempestades
numa nesga de luz,
antes que o vento as resgate.
Ailime
11.11.2023
Imagem Google
sábado, setembro 23, 2023
Cedo ao tempo
Cedo ao tempo em silêncio
e escrevo palavras à toa
nas horas incertas,
quando os ponteiros do relógio
se detêm nos ecos
insondáveis dos minutos
e os segundos, suspensos,
como num compasso,
me prendem os sentidos.
Vagueio sem saber das horas
e nelas me reencontro sempre
que me reconheço
na voragem dos dias.
Ailime
Set/2023
Imagem Google
segunda-feira, junho 12, 2023
Eterno desejo de amar
para escrever um poema subordinado ao tema Amor, para celebrar o dia dos Namorados no Brasil.
Caminhando pela praia deixo-me seduzir pelo vento
e aspiro a brisa do mar que me fala de ti.
Pressinto-te ao longe junto à escarpa
e vou no teu encalce como se foras um príncipe,
que mora em meu coração desde sempre.
Anseio pelo reencontro.
Há tanto tempo que não te vislumbro,
mas sei que me esperas com o mesmo anseio
com que outrora me abraçavas e beijavas.
Hoje não vai ser diferente e o nosso abraço
prolongar-se-á no tempo, num eterno desejo de amar.
sábado, junho 03, 2023
Há ainda o cordão umbilical
Há ainda o cordão umbilical
que nos une no tempo
e nos ajuda a sorrir e a contar histórias.
Por vezes tudo me parece tão estranho.
O tempo andou depressa demais
e o rio já não tem o brilho
das primaveras longínquas.
As lezírias brilhavam ao sol
e os barcos carregados de peixe,
eram leves como o amor,
que alimentava o suor das gentes.
Hoje há o vazio dos que se foram
e as recordações que restam
no silêncio dos ecos
das palavras adormecidas.
Ailime
03.06.2023
sábado, maio 06, 2023
Presságio de esperança
Pé ante pé percorro a seara por maturar;
procuro as papoilas vermelhas
qual pôr do sol a raiar o chão.
Mil e uma cores abraçam-me o peito
e, por momentos, agarro outra flor e outra
e deixo para trás o vento
que teima em rodopiar-me nas mãos
o fogo intenso das primaveras,
que o tempo percorre no meu olhar.
Aqui e ali ouço o canto dos pássaros
e um presságio de esperança
acalenta-me a alma.
Ailime
06.05.2023
sábado, novembro 12, 2022
Da janela florida
Imagem Net
Nas escarpas do tempo
ouço a tua voz que me fala
das estações que ainda ontem
eram barcos atracados nos cais,
hoje apenas restos de cinzas
esquecidas na velha lareira
onde crepitavam silêncios
a marejar dos teus olhos,
debruçados na solidão das noites.
Dos voos rasantes dos pássaros
a arrastar as sombras
diante da janela florida,
do inverno restou apenas o vento
que segreda em silêncio
os atalhos em que te reconheço.
Ailime
12.11.2022
sábado, outubro 08, 2022
O tempo, sempre o tempo
O tempo, sempre o tempo, na voz,
como um rio que percorre as palavras
que teimam em libertar-se nas manhãs,
em que o orvalho lhe cinge o olhar
ainda meio adormecido.
Como uma fonte soletra nas águas
os sentidos, em movimentos ascendentes,
no esplendor da manhã a cativar-lhe
as palavras, que se soltam como flores
a desabrochar num chão de primavera.
Retoma o caminho
liberto de sombras e silêncios
e regressa ao tempo, nas palavras,
refletidas no rio.
Ailime
08.10.2022
sábado, agosto 20, 2022
Queria abraçar o tempo
Queria abraçar o tempo como quem
navega à deriva
e rasgar as nuvens com os olhos
como se fossem pássaros,
a poisarem-lhe nas mãos esguias
as tempestades do mar.
Um barco pousou-lhe no rosto
a ondulação dos mares
e dos seus olhos escorreu
a maresia, que ainda a prendia
à escarpa do silêncio
que trazia presa no peito.
Encontrava-se perdida
nas sombras ocultas das névoas.
Apenas o silêncio
lhe devolvia os vestígios
do tempo, que alcançara
sem sequer o vislumbrar.
Ailime
20.08.2022
sábado, agosto 06, 2022
Com seu vestido bordado de cerejas
sob uma imaculada bata branca
viu-se ainda menina
sentada no banco da escola
onde aprendeu as primeiras letras.
Num pequeno lapso de tempo
todas as memórias
lhe afloraram o pensamento
que vagueava como se
fossem andorinhas
a construir os ninhos
no alpendre do recreio.
Tudo lhe era tão próximo
como se ainda ontem entoasse a tabuada
e brincasse à linda falua, que "lá vem lá vem"...
O tempo, implacável, num raio de sol
desfez-lhe, por instantes, o encanto.
Mas não duvidava.
Dali, também podia abraçar o azul do seu rio.
Ailime
06.08.2022
Imagem Google
sábado, junho 25, 2022
O tempo
Por entre nuvens e céus claros
o tempo corre veloz como pássaros;
nem as trovoadas o detêm
na sua correria louca, intempestiva
como foguetes em dias de festa
a provocarem surdez
quando os foguetes se apagam.
O tempo não esvaece, alastra-se
como fogo impelido pelo vento
e nem as águas o estancam.
O tempo na sua voraz pressa
nem sequer tem tempo
para observar o mundo
onde frenético, voa em liberdade.
Ailime
Imagem Google