No silêncio do quarto, ouço a manhã a cantar
nos pássaros a esvoaçar em redor dos ninhos,
nas flores a desabrochar e nas crianças a brincar
no pátio da antiga escola, onde joguei à cabra-cega.
O tempo adejou com o vento, deixando apenas rastos,
que hoje fazem a minha história parecer tão remota.
Nada está como dantes, muitas metamorfoses...
Até o rio corre aos soluços por entre os seixos
esculpindo nas margens ecos passados, de tão copioso.
Os campos devastados pelos incêndios não são os mesmos.
As casas são mais brancas, mas permanecem vazias.
Olho para trás e falta alma à minha aldeia.
A vida de outrora apagou-se e o sol já não tem brilho.
Emília Simões
11.05.2024