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sábado, outubro 05, 2024

Passo à tua porta

 
José Malhoa


Passo à tua porta, subo o degrau;

a pedra desfaz-se sob os meus passos.

O tempo pesa sobre o meu corpo

tão distante da leveza dos gestos,

quando te procurava e me enlaçavas

nos teus braços tão fortes

que me faziam sentir muito amada.

O tempo tudo traz e tudo leva,

mas como as folhas  caídas

que atapetam o chão no outono,

na primavera brotam revigoradas

 e volto a sonhar outra vez

com a leveza e ternura dos gestos,

 gravados no meu viver,

Texto
Emília Simões
04.10.2024


sábado, dezembro 02, 2023

O recomeço



Percorri estradas

desbravei caminhos 

atravessei socalcos

feri os pés

golpeei as mãos;

a minha boca

está amarga

pelo sal que me escorre

dos olhos

o sentido do meu viver.

Quis mudar de trajeto;             

tombei, ergui-me

e tropecei nas pedras,

mas reergui-me

O meu corpo,

os meus braços

doridos

ficaram entrelaçados

para sempre nas grades

dum muro

que me rasga o pés

e me trava o recomeço.


Texto e foto
Ailime
02.12.2023



sábado, agosto 12, 2023

Tinha na pele o cheiro das flores


Tela Daniel Ridgway

Tinha na pele o cheiro das flores

e rasgava as searas com os sentidos

na alvura da manhã bebia o orvalho

antes que o sol lhe queimasse o corpo.


Inebriados pelo frescor do amanhecer

os pássaros voejavam de mansinho

entoando cantos maviosos da aurora.


Ao lado, o rio, sabia-lhe de cor o nome

e sorria-lhe, cúmplice, na maré cheia

nos acordes da vida a renascer.


Era o espanto que a revigorava

nas primeiras horas do dia

trazidas pela lezíria

como barcos a respirar.


Texto 
Ailime
12.08.2023

quinta-feira, março 17, 2022

Falta-me o chão

 


Falta-me o chão, esta não é a minha rua.

Subo e desço calçadas e escondo-me 

num vão de escadas.

Não sei como cheguei até aqui

Corri mais veloz que o vento

Tenho os sentidos adormecidos

Repouso o meu corpo cansado

O barulho é ensurdecedor

Ouço gritos, vozes roucas desesperadas

Parece-me ouvir um estrondo

Decerto estou a sonhar

Será um pesadelo?

Espreito a porta, quero acordar

Multidões fogem estarrecidas

Crianças ao colo, outras pela mão a chorar

Tenho fogo nos pés e voo

Não quero fugir, quero ficar aqui

Defenderei o meu chão

com cinzas na boca.

Mesmo com a alma mutilada

deixarei o meu corpo gravado

nesta terra que é minha.

 

Texto
Ailime
16.03.2022
Imagem
Google

terça-feira, março 27, 2018

É ainda inverno





É ainda inverno nas árvores desnudas
que os temporais têm açoitado
como se fossem barcos à deriva
em mares agitados por ventos enfurecidos.
E o meu corpo tremente de frio
como se a neve, a escorrer da montanha,
o envolvesse em brancura gélida
procura avidamente o calor do sol
(ainda tímido em manhãs precoces)
para o envolver em suave enlace
como amantes ávidos de desejos.


Texto e foto
Ailime
27.03.2018

terça-feira, fevereiro 06, 2018

Hoje apenas o vento

Pintura de Zoltan Szabo

Hoje apenas o vento
vertiginoso
te sussurra ao ouvido
no silêncio cortante do frio
a canção do inverno.
O ar gélido açoita-te
e de rompante rasga-te a pele
como se fora uma bússola
perdida em alto mar
a navegar nas marés
os barcos tombados
pelos glaciares.
A noite aproxima-se
na praia invisível
o teu corpo gelado.


Texto
Ailime
06.02.2018
Imagem Google