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sábado, agosto 03, 2024

Memórias

Imagem daqui

Passo à tua porta fechada e evoco
o tempo dos frutos maduros;
das amoras silvestres,
das ameixas amarelas
ao fundo da horta,
das melancias e melões,
dos tomates e feijão verde
que eram o orgulho
do suor, que te sulcava o rosto.
As uvas douradas com sabor a mel;
as abelhas bebiam-lhe o néctar.
Na horta, ao lado do poço,
o jardim das zínias e das sécias
faziam da horta um local encantado.
À tarde pela fresquinha,
como eram saborosas as merendas
com os frutos refrescados 
com a água do poço.
Tudo era puro e belo.
O ar que respirávamos, a água que
nos mitigava a sede;
o gorjeio dos pássaros, os zumbidos dos insetos,
o coaxar das rãs,
numa sinfonia perfeita.
O nosso mundo era outro.
Lugar de sons, aromas e sabores,
que nos oferecias com amor.


Texto
Emília Simões
(In Memoriam: meu avô materno)
03.08.2024
Imagem
Mário Silva
(Sapo)

segunda-feira, novembro 20, 2023

É outono

 


A natureza reveste-se de amarelo dourado.

Os frutos têm  sabor a mel.

Nos meus lábios o teu nome

tem o aroma de um amanhecer

e o sabor de um pôr do sol.


Os dias são mais curtos.

Os raios solares mais amenos.

Os muros e os troncos de árvores

cobrem-se de líquenes e musgos.

Nos prados, a geada cobre as ervas pela manhã.


A natureza respira serenidade;

até o vento amainou.

Quase que o aconchego  nas minhas mãos.

Paira no ar o cheiro a castanhas assadas,

maçãs e canela.


No chão molhado repousam folhas caídas,

no outono da alma, no outono da vida.


Texto e foto
Ailime
19.11.2023


sábado, julho 08, 2023

O prelúdio do entardecer

 



Dizia-lhe que tinha os sinais à flor da pele

como quem colhe cerejas e as trinca 

deixando escorrer pelo canto dos lábios

o néctar vermelho doce como o mel.

Via-se nas sombras dos pomares 

poisando aqui e ali qual borboleta

escutando o silêncio da tarde

entre os cantos dos pássaros

e os zumbidos dos insetos.

O relento era o seu reino onde

se sentia  aconchegada longe do mundo

e apenas as flores lhe entoavam baixinho

o prelúdio do entardecer.


Texto
Ailime
Imagem Google
08.07.2023

sexta-feira, outubro 02, 2020

Era outono

 
Tela de José Malhoa


O seu rosto erguia-se no parapeito da janela
para o vizinho que lhe contemplava no olhar
a ternura dos dias perdidos
quando o outono teimava em
rasgar-lhe nas faces a colheita das uvas
douradas como mel a escorrer-lhe
pelos cantos da boca ávida dos beijos
ocultados nas tardes serôdias.
Era o tempo das vindimas
O tempo dos frutos maduros
Dos aromas a mosto e a sede
Era outono.

Texto
 Ailime
02.10.2020


sexta-feira, novembro 29, 2019

No tempo dos frutos maduros

Imagem relacionada
Cecilia K Yoshida

No tempo dos frutos maduros
colocavas sobre a mesa o teu suor.
O teu rosto sorria e as uvas
de tão maduras e doces,
como o mel de flores silvestres,
resplandeciam-te no olhar o espanto
de quem sabe as cores do plantio.

Da tua boca vermelha,
como romãs,
escorria a beleza das rosas
que te caíam no regaço
atravessando a noite
que te estendia as mãos
num silêncio imperceptível.   

Texto
Ailime
28.11.2019