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sábado, janeiro 20, 2024

Para um sem-abrigo



Lembro-me de quando ainda eras criança.
Brincavas ao ar livre com os outros meninos.
Tinhas pai, mãe e uma irmã; uma vida normal.
(O que será uma vida normal?)
Parecias feliz como as outras crianças que, em teu redor,
brincavam e saltavam jogando à bola.
Todos muitos alegres, divertidos,
com as traquinices próprias da idade. 
Estive muitos anos sem te ver.
Sinceramente já nem te recordava.
Um dia abordaste-me, com muita educação,
porque me reconheceste,
apesar dos anos passados...
- Sim, sou eu...
E pediste-me uma moeda...
Contaste-me parte da tua história 
e falaste-me da tua mãe,
com tanto carinho, com tanto orgulho: 
- a Mulher que mais amei -
deixando rolar as lágrimas,
que tanto me comoveram.
Percebi que os teus caminhos não foram retos,
que tens percorrido a vida por vias travessas.
Uma vida indigna de um ser humano.
Há dias vi-te junto a uma cama improvisada
debaixo de uma varanda, onde dormes ao relento.
Fiquei atónita e o meu pensamento divagou...
E divaga, porque não tenho respostas
nem soluções para te socorrer.
Apenas te posso indicar um caminho...
Um caminho que tu conheces bem,
porque dele tua mãe te falava.
  
Texto
Emília Simões
20.01.2024
Imagem Google