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sábado, outubro 12, 2024

As palavras

 


Hoje as palavras estão escondidas num ninho.

Levanto voo para alcançá-las, mas

a gravidade deita-me ao chão.

Ergo-me e tento trepar.

O tronco, escorregadio,

faz-me resvalar e cada vez mais

as palavras se afastam.

Chove e os pássaros, taciturnos,

não abandonam as crias.

As palavras estão cada vez mais longe.

Tento voar numa folha ao vento

para as agarrar mas, teimosas,

ignoram-me.

Esqueço-me, por instantes,

que ainda não é o tempo

propício das colheitas.


Texto e foto
Emília Simões
12.10.2024

sábado, outubro 05, 2024

Passo à tua porta

 
José Malhoa


Passo à tua porta, subo o degrau;

a pedra desfaz-se sob os meus passos.

O tempo pesa sobre o meu corpo

tão distante da leveza dos gestos,

quando te procurava e me enlaçavas

nos teus braços tão fortes

que me faziam sentir muito amada.

O tempo tudo traz e tudo leva,

mas como as folhas  caídas

que atapetam o chão no outono,

na primavera brotam revigoradas

 e volto a sonhar outra vez

com a leveza e ternura dos gestos,

 gravados no meu viver,

Texto
Emília Simões
04.10.2024


sábado, setembro 21, 2024

O outono que se apressa


As folhas secas espalhadas no chão,
anunciam o outono, que se apressa.
O vento assobia e as folhas, em desalinho,
dançam num vaivém frenético a melodia
do verão, que se despede.
O seu olhar segue o movimento das folhas
e o dourado da tarde ofusca-lhe os sentidos,
que se misturam com o entardecer.
Os dias serão mais curtos, as noites mais longas.
O tempo encurta as horas, os minutos...
Por momentos, o seu pensamento turva-se
numa nostalgia que compunge.
Não pode voltar atrás!
O relógio acelera, mas o seu tempo
será o tempo do porvir das primaveras,
porque em cada estação há sempre
uma flor mágica a ser colhida.

Texto
Emília Simões
19.09.2024
Imagem Google

sábado, junho 22, 2024

Estão sentados



Estão sentados em duas filas
como estacas, quase inertes,
que sustentam velhas árvores
prestes a tombarem no chão.

Nalguns rostos serenidade,
outros angustiados olham sem ver.

Muitos deixam pender a cabeça
e dormem alheios ao que se passa
em seu redor.

A maioria está calada
ou chama pela mãe, pelos irmãos
que já não tem.

Outros ainda há com um brilhozinho
nos olhos e falam, falam, para alguém
que os escute.

Na parede do fundo uma TV
emite sons que ninguém entende,
perturbadores,
 - são os zumbidos da idade, dizem alguns.

Lá fora, algum vento e sol,
mas não chegam a ver a luz do dia.

Rituais que se repetem como se 
num cárcere estivessem, pelo "crime"
de serem já muito idosos e doentes.

Texto
22.06.2024
Emília Simões
Imagem Google

sábado, abril 13, 2024

No silêncio do meu canto



No silêncio do meu canto 
idealizo dias claros e noites brancas.
Um candeeiro antigo
sem chama, permanece enegrecido
sobre a mesa, que se deixou abater
no quarto sem chão. 
A lua cheia penetra no velho quarto
exalando um clarão
que ilumina os tesouros antigos,
como uma arca de pinho,
com a velha coberta desfeita.
Em silêncio tudo perscruto.
A solidão e a noite de mãos dadas.
No silêncio do meu canto
o dia claro já não brilha,
a noite é como breu.
A lua perdeu-se no espaço.


Texto
Emília Simões
13.04.2024

Imagem FREEP!K


sábado, março 30, 2024

O pasmo diante da candura das pétalas


O pasmo, diante da candura das pétalas.

O inseto suga-te o néctar.
Debaixo das asas, o chão
que os meus pés pisam
vagarosamente.

Naquela folha o desdém 
de quem não entende
o respirar dos pássaros
na construção dos ninhos.

Subo a escarpa e observo o horizonte.

Uma nuvem esconde o sol
e o dilúvio, de novo,
tomba sobre as folhas.

A luz reacende o entardecer
com a rapidez dum relâmpago.


Texto e foto
Emília Simões
30.03.2024

Desejo a todos os meus amigos e famílias uma santa e Feliz Pascoa!

sábado, janeiro 13, 2024

Hoje a chuva molha a calçada


Hoje a chuva molha a calçada
e as pedras brilham como cristais
na densa tarde de inverno.
As árvores, nuas, parecem chorar
as folhas que, coladas ao chão,
parecem adormecidas.
Há raízes profundas que as unem
e não é a falta de luz que as 
mantêm vigorosas na sua nudez.
A seiva continua a circular
no interior dos seus troncos.
Por um lapso de tempo
sobrevivem à noite que as cinge.
A primavera não tardará
e como milagre
no silêncio de uma manhã amena,
despertarão reluzentes
em ramos iluminados,
como um brilho impresso no tempo.


Texto e foto
Emília Simões
13.01.2024




sábado, novembro 11, 2023

No clarear das manhãs


No clarear das manhãs

a terra cheira a musgo

e a  pedras escorregadias

pelas intempéries 

que agitam as árvores

em aguaceiros intermitentes,

deixando sobre o chão

folhas irreconhecíveis,

que vou recolhendo em silêncio.

No vórtice do tempo

aves atravessam as nuvens

resguardando-se de tempestades  

numa nesga de luz,

antes que o vento as resgate. 


Texto
Ailime
11.11.2023
Imagem Google



sábado, novembro 04, 2023

É outono na minha rua e o sol brilha!

 


As folhas molhadas pelas intempéries

segredam em tons de outono

no silêncio da tarde

a voz do vento que amainou, 

atapetando o chão em tons dourados.

É outono na minha rua e o sol brilha!

Atravesso-a devagar, pé ante pé,

para não desmanchar o sortilégio

desta visão encantada.

Em silêncio apanho uma folha

e depois outra e ainda outra,

Encosto-as ao peito e sorrio.

É outono na minha rua e o sol brilha! 



Texto 
Ailime
04.11.2023
Imagem Google

sábado, setembro 30, 2023

Desato as sandálias

 


Desato as sandálias e caminho descalça pelas dunas;

os meus pés pisam  areias secas e por momentos

recuo e torno a calçar-me. O chão escalda.

O deserto é penoso, mas desafiante.

Nele me reencontro, sempre que durmo ao relento

nas noites infindáveis, quando mergulho em sono profundo.

Pela manhã o sol acorda-me e uma flor sorri.

É o recomeço da travessia; por instantes, sonho.


Texto
Ailime
30.09.2023
Image Google


sábado, julho 22, 2023

Percorria-a o silêncio



O vento esventrava-lhe os sentidos

perdida por entre as dunas do deserto

e a sede assediava-a a cada passo que dava

numa busca latente.

Percorria-a o silêncio

cada vez mais rouco, cada vez mais inaudível.

Apenas o vento e as areias

que lhe feriam os olhos

rasgados de tanto chorar

a impeliam, meio encurvada, no chão ardente.

Não sabia de cor o fim da viagem.

Apenas sabia que o seu destino

tinha um desígnio.


Texto
Ailime
22.07.2023
Imagem Google


sábado, junho 24, 2023

Não sabia os caminhos de cor

Luiz Mendes


Traçou com uma lufada de vento

o caminho que perseguia

e nem as flores nem as árvores

lhe disseram qual o destino

que havia de percorrer.


Sentia-se perdida, ao abandono,

como criança inocente

que, por momentos, larga a mão de seu pai

e cai desamparada no chão.


Não sabia os caminhos de cor

tão longa a distância a alcançar

movia-a apenas o sentido do sol

a acender-lhe no peito

a chama brilhante do dia

até confundir-se com ele.



Texto
Ailime
24.06.2023


sábado, maio 13, 2023

Por caminhos sinuosos



Por caminhos sinuosos

tão distantes e tão próximos

das árvores, com ninhos de pássaros,

ouço o chilrear dos melros.

Nos galhos, as folhas estremecem.

O vento voraz espalha-as no chão 

antes e depois da passagem

os meus pés apressam-se.

O dia entardece.

Apenas o brilho do crepúsculo

me faz lembrar o silêncio 

escondido numa flor 

que trepa pelas escarpas

que serpenteiam a costa,

duma praia invisível.

O mundo aquieta-se.

Só o murmúrio do mar

me responde.


Texto
Ailime
13.05.2023
Imagem Google

sábado, maio 06, 2023

Presságio de esperança


 

Pé ante pé percorro a seara por maturar;

procuro as papoilas vermelhas

qual pôr do sol a raiar o chão.

Mil e uma cores abraçam-me o peito

e, por momentos, agarro outra flor e outra

e deixo para trás o vento

que teima em rodopiar-me nas mãos

o fogo intenso das primaveras,

que o tempo percorre no meu olhar.

Aqui e ali ouço o canto dos pássaros

e um presságio de esperança

acalenta-me a alma.



Texto e foto
Ailime
06.05.2023

sexta-feira, novembro 25, 2022

Era outono e as folhas sorriam-nos.


Sempre caminhei para ti sem saber se te encontrava.

As portas por vezes fechadas, outras vezes abertas,

mas eu não te vislumbrava.

O chão estava coberto de seixos

salpicados por maresias que me perturbavam o olhar.

Nada fazia prever que te encontraria 

um dia, por acaso, com uma chávena de café 

que me oferecias despretensiosamente

fitando o meu olhar, que se prendeu no teu,

num abandono quase íntimo.


Era outono e as folhas sorriam-nos

como se uma força nos desafiasse 

a libertar o esplendor do mundo.



Texto e foto
19.011.2022
Ailime

sábado, setembro 24, 2022

Rasgava o horizonte com o olhar

Célia Marinho


Rasgava o horizonte com o olhar

e com os dedos agarrava o luar

que se misturava com as cores

purpúreas do entardecer.


Na sua voz embargada

acolhia todos os pássaros,

que voejavam em seu redor

numa discreta contemplação

do esplendor das sombras

que o luar acendia.


Corria-lhe nas veias um rio

onde, como em chão lavrado,

as margens repousavam

e o luar se recolhia.


Tão longa a noite...

Tão breve o dia...


Texto
Ailime
Set/2022

sábado, julho 16, 2022

Sobre o chão da terra desolada




Nas palavras, nem sempre o vento escreve o que quer.

À deriva, procura nos lugares recônditos, a luz 

que parece obscurecida pelas sombras das florestas,

onde outrora surgiam mananciais e hoje o fogo alastra.


Não há forma de escolher entre as chamas e o vento

o lugar das palavras que parecem afogadas nas cinzas.

Não há hora para ouvir a voz calma do vento e  a placidez

das chamas, dissimuladas pela ironia do vento.


Não chegou ainda o tempo de o Homem despertar

para a imagem que cada vez mais vai dizimando

as palavras que o vento espalha

sobre o chão da terra desolada.


Texto
Ailime
16.07.2022
Imagem Google






sábado, julho 02, 2022

Na solidão do vento

Erick Alves

Na solidão do vento encontro-me com o amanhã.

Os meus braços abrem-se como ramos de árvores

a baloiçarem-se num ritmo frenético

como se o outono surgisse no meio das folhas

que vão caindo amarelando o chão.


Nos muros já não brilham as glórias da manhã

que, ressequidas, apenas das hastes a lembrança

dos eflúvios que  aromatizavam  o meu ser

que agora preenchem um pacto de silêncio.


Não distingo nas sombras do vento

a claridade dos dias e os sons do alvorecer.

Apenas um pássaro veloz, indiferente à minha sede,

traça no céu as cores da primavera.


Texto
Ailime
01.07.2022

quarta-feira, março 23, 2022

Entre a luz e as sombras.


William Turner


Se queres enfrentar o caminho

percorre-o pedra sobre pedra;

encontrarás muros e declives

e descansarás no chão molhado.

A tua sede será mitigada,

mas não declines o futuro

que aos teus olhos se antevê.

Uma espécie de pacto será

o espanto que te distinguirá

entre a luz e as sombras.


Texto
Ailime
23.03.2022

quinta-feira, março 17, 2022

Falta-me o chão

 


Falta-me o chão, esta não é a minha rua.

Subo e desço calçadas e escondo-me 

num vão de escadas.

Não sei como cheguei até aqui

Corri mais veloz que o vento

Tenho os sentidos adormecidos

Repouso o meu corpo cansado

O barulho é ensurdecedor

Ouço gritos, vozes roucas desesperadas

Parece-me ouvir um estrondo

Decerto estou a sonhar

Será um pesadelo?

Espreito a porta, quero acordar

Multidões fogem estarrecidas

Crianças ao colo, outras pela mão a chorar

Tenho fogo nos pés e voo

Não quero fugir, quero ficar aqui

Defenderei o meu chão

com cinzas na boca.

Mesmo com a alma mutilada

deixarei o meu corpo gravado

nesta terra que é minha.

 

Texto
Ailime
16.03.2022
Imagem
Google