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sábado, fevereiro 24, 2024

Palavras adormecidas


Palavras adormecidas

teimam em cingir-me a voz

que rouca, pelo frio do inverno,

se aninha no meu rosto gelado.

No firmamento aves esvoaçam

lado a lado com o vento

e, letras à solta, como folhas,

pousam no meu regaço

que as recolhe sofregamente.

No silêncio da tarde

talvez soletre um poema,

com as penas 

que os pássaros deixaram cair 

no ruído do seu voo.


Texto
Emília Simões
24.02.2024
Imagem Google

sábado, novembro 25, 2023

No meu canto



No meu canto escrevo uma palavra, 

depois outra e ainda outra.

Que pretendem meus dedos expressar

quando seguram a caneta e ela desliza

lentamente, como a desenhar um poema

que nem sequer está esboçado?

Deixo que gotas de tinta escorram

e molhem o papel e nesse borrão

eu tenha esculpido algo

que se assemelhe a poesia.

Tal como o pintor, quando na tela

deixa que as tintas se esbatam 

e formem a sua inspiração contida.

A tinta secou, olho-a incrédula!   

Nada restou e o poema não aconteceu.


Texto
Ailime
25.11.2023
Imagem Google



sábado, julho 15, 2023

Sem palavras não há poema


Sem palavras não há poema.

Mas num pequeno galho

a ave constrói o seu ninho

e a poesia nasce.

A natureza está em festa.

Borboletas esvoaçam,

as flores brilham ao sol,

a terra parece sorrir,

tudo se enquadra 

numa bela expressão de amor.

O poema não precisa de palavras,

apenas um pouco de silêncio

na contemplação

da natureza,

até confundir-se com ela.


Texto
Ailime
15.07.2023
Imagem Google

sábado, abril 01, 2023

Metamorfoses


Silvana Oliveira


Há um aroma nas pedras que não sei explicar.

Alinham-se à beira-mar, 

nos caminhos, 

nas estradas cheias de  pó

e também sobre os muros; 

estas são as que estão mais desalinhadas

dentro do seu alinhamento.

Tal como as palavras

dentro do poema

que nem sempre rimam 

com a palavra poesia.

Deixo-as para trás

e procuro uma luz nas sombras

que me ajude a entender

as metamorfoses que não param

de me desassossegar.


Texto
Alime
01.04.2023


sábado, fevereiro 04, 2023

O pensamento imerge no silêncio

Mariusz Lewandowski


O pensamento imerge no silêncio,

e o silêncio alimenta-se do pensamento.

Juntos são inevitáveis na construção da vida,

na construção do poema,

quando as palavras se refugiam

no mais recôndito do ser

o silêncio mergulha no escuro;

mas logo o pensamento o desperta

e ambos entram num bailado

de ideias, sem terem a certeza de nada.

Como os pássaros esvoaçam à deriva

aguardando que a primavera

os deslinde nas suas raízes.


Texto
Ailime
04.02.2023



sábado, março 05, 2022

O poema nunca está completo


Gustav Klimt


O poeta é um caçador insaciável de
emoções, que lhe brotam  da alma
como a nascente do rio
que desliza suavemente pelos socalcos
da montanha, a perder de vista.
O poema nunca está completo.
Há uma sede de palavras
que não se mitiga em qualquer fonte.
As palavras têm asas que buscam
silêncios, sorrisos, alegrias, amor,
mergulhados no mais profundo do âmago.
O poeta e a poesia estão em constante
conflito de ideias e ideais, 
porque o poema nunca está completo.
O poema necessita ser cinzelado,
afagado, como se fora uma escultura,
mas deixa sempre o caminho aberto
para uma nova fonte, uma nova sede,
uma nova emoção.  
O poema nunca está completo,
porque o poeta continua a existir
para além das palavras.


Texto
Ailime
05.03.2022

terça-feira, outubro 05, 2021

Nem sempre o poema germina



Nem sempre o poema germina

como se fora raiz a brotar do chão árido.

O poema tem de ser esculpido,

entalhado, como se fora uma obra de arte

nas mãos do escultor

que grava a sua arte na pedra,

antes informe e discreta.

O poema na ausência das palavras

deve ser voz

a anunciar os ecos do silêncio

dos desertos profundos.

O poema necessita ser água

límpida e pura

para mitigar a sede dos poetas.


Texto 
Ailime
05.10.2021
Imagem Google

quinta-feira, março 11, 2021

O poema pode conter silêncios



O poema pode conter silêncios,
sorrisos e pores do sol.
Pode ser, simplesmente, uma folha
que esvoaça ao vento levando um beijo
para um amor distante.
Pode conter ecos da alma,
murmúrios do mar,
memórias e saudades.
Pode ser, simplesmente,
uma linha reta ou 
uma curva com metáforas
onde crescem flores na primavera.
Um poema pode ser, simplesmente,
um pássaro a voar.


Texto
Ailime
11.03.2021
Imagem Google

sexta-feira, novembro 13, 2020

Os meus gestos



Sempre houve uma certa inquietude nos meus gestos
ora lentos, ora apressados, ou apenas soletrados por pensamentos
que se entrecruzam com as mãos, que ora se poisam em cima da mesa
ou simplesmente se esgueiram para o poema em embrião.

Por vezes tento acalmá-las, mas escapam-se-me com ligeireza
como se tivessem ânsia de chegar antes de mim.

As minhas mãos e os meus gestos sempre se desencontraram
como se uma certa tensão se aninhasse nas pontas dos dedos
e o poema ficasse enclausurado na teia das palavras.


Texto
Ailime
12.11.2020
Imagem Google
Autor desconhecido

sexta-feira, setembro 11, 2020

O poema

quadro - pintura abstrata - quadro abstrato - cores vivas no Elo7 |  Patricia (1016413)

O poema pode conter palavras sem nexo
reecontros nas entrelinhas
movimentos ascendentes ou descendentes
ruas desertas com ou sem metáforas
terras de quase ninguém.
esboços de gestos abstratos
horas aprisionadas pelos ponteiros gastos
do tempo
amores e desamores
alegrias e tristezas
ausências de quem já passou
as agruras e crueldades da vida.

o poema pode conter apenas numa linha
o sentir do poeta
no lusco-fusco da vida
indiferente à ausência dos pássaros.

Texto
Ailime
11.09.2020
Imagem Google


quinta-feira, maio 21, 2020

O verso

A vida é um sopro – Caminhante Aprendiz


Na ausência das palavras
o verso, envergonhado,
esconde-se no reverso
das sílabas.
Não o pronuncio.
Não quero profanar
a sua essência
na cadência do poema.


Texto Ailime
Foto Google
21.05.2020

sexta-feira, junho 24, 2011

Silêncios



As palavras que invento
São rimas imperfeitas
De silêncios consumidos
Importados das maresias
Oriundas de oceanos remotos

Na areia fria da praia
Por entre a espuma das vagas
Aguardam que o poeta
As aprisione e as transforme
Num belo poema de amor.



Ailime
24.06.2011
Imagem da Net