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sábado, julho 30, 2022

Na solidão do lodo


Conhecia de perto todos os mistérios do rio.

De pedra em pedra percorria-lhe as margens

e desvendava o sabor das auroras quando as neblinas

o afagavam  ainda antes do refulgir do sol.

E estendia-lhe as redes.

Era um rio límpido, sem mácula, azul de tanto céu,

que brilhava no silêncio da lezíria

como se fora outro lugar onde o trigo ondeava.

Nada era tão puro como a transparência dos barcos,

onde saltitavam os pássaros para captar as presas

que quase afundavam o barco.

A faina era tão leve e a colheita tão farta...

.........

Hoje, apenas um velho barco carcomido,

na solidão do lodo.


Texto
Ailime
30.07.2022
Imagem Google


terça-feira, março 29, 2022

O meu rio é azul



O meu rio é azul como o céu,

mas nem sempre viajo nas suas águas.

Os barcos há muito que estão atracados

e nem o vento os embala

como nos tempos remotos

da transparência das águas

e da abundância de peixe.

Os pássaros voejam nos choupos

e cantam sobre as escarpas

a claridade da primavera;

os barcos não se movem

e os peixes ausentes.

No lodo do rio, repousa

a insensatez do homem.


Texto e foto
Ailime
29.03.2022