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segunda-feira, julho 22, 2024

Jónsi, nova música, novo álbum

Notícias da Islândia: Jónsi, membro dos Sigur Rós, anuncia novo álbum a solo: First Light tem lançamento marcado para 30 de agosto. Eis um dos temas a descobrir: Cherry Blossom.

segunda-feira, maio 19, 2014

Para ouvir:
Jónsi, Where No One Goes

Jonsi, o vocalista dos Sigur Rós, tem um tema na banda sonora de How To Train Your Dragon 2. Aqui fica para escuta...

Podem escutar aqui.

segunda-feira, junho 24, 2013

Novas edições:
Sigur Rós, Kveikur

Sigur Rós 
“Kveikur”
XL Records
2 / 5

A existência de uma obra musical numa região sonicamente demarcada pode ter, por um lado, a capacidade de distinguir cedo os seus autores pela diferença mas a insistência em eventuais marcas de identidade pode depressa transformar essas paisagens distintas num pântano onde acabam atoladas novas composições e novos discos. Revelados internacionalmente pelo impacte de Agaetys Byrjun (1999), os islandeses Sigur Rós cedo deixaram claro ser senhores de uma expressão muito pessoal de uma linguagem eléctrica distinta dos caminhos habitualmente apontados em terreno pós-rock, os contrastes entre o fulgor da distorção (e mesmo de explorações no limiar do ruído) e carácter angelical da pose vocal (e a presença subtil dos arranjos com cordas) criando um lugar musical único que cedo ganhou comparações com as imagens de gelo e lava de que é feita a paisagem islandesa onde esta mesma música brota. Apesar de algumas opções pontuais por soluções distintas, a medula da obra dos Sigur Rós nunca se afastou muito deste mesmo universo. Foi perdendo fôlego criativo, entrando numa quase rotina de acontecimentos na verdade progressivamente indistintos (apesar de no mais recente álbum, Valtari, o maior protagonismo de filigranas electrónicas ter gerado momentos mais interessantes). Reduzidos a três elementos, os Sigur Rós de 2013 apresentam em Kveikur um novo álbum sobre o qual se foi dizendo que seria mais “pesado”... Na verdade tanto o CD pesa quase nada e o vinil as 180 gramas da praxe, o peso tanto aqui como no som não revelando, salvo em pontuais momentos (nomeadamente no tema-título) grande ginástica capaz de real mudança. Mais que a forma de pensar a escrita muda o tom com que abordam cenografias em alguns momentos mais tensas, talvez mais assombradas (algo que de resto já sucedera no álbum sem título, apenas com dois parênteses, que haviam editado em 2002 e que, na altura, foi o sucessor direto de Agaetys Byrjun). Em Kveikur há assim, mais que uma mudança de rumo, uma opção por uma paleta menos luminosa de sons (ocasionalmente mais tensa e intensa), na verdade em temas como Hrafntinna ou Yfirbora sentindo-se afinidades com canções de outras etapas da sua discografia, eventualmente revelando subtilezas novas na conceção da sonoplastia. O que falha em Kveikur é a concretização de uma real capacidade em mudar, o alinhamento acabando por mostrar pouco mais que tentativas de variação de modelos já usados, de onde emerge um disco onde pouco de verdadeiramente novo ou diferente acontece. Cansado e aparentemente esgotado a linguagem dos Sigur Rós traduz a realidade de um grupo fechado num beco do qual não encontra a saída. Não é dos mais inspirados da sua discografia. E não é o lastro que juntam em alguns momentos que poderia fazer a diferença.

domingo, maio 26, 2013

Sigur Rós em "The Tonight Show"

Actualmente em digressão pelos EUA, os Sigur Rós foram convidados de Jay Leno em The Tonight Show — interpretaram o tema título do álbum Kveikur.

sexta-feira, março 29, 2013

Um filme de Floria Sigismondi

É um teledisco. Mas também é apresentado como sendo "um filme de" Floria Sigismondi. Com o título Leaning Towards Solace, este "filme" usa os temas Varud e Daudalogn, do mais recente álbum dos islandeses Sigur Rós e integra o conjunto de telediscos que fazem o Valtari Film Experiment, recentemente editado em DVD. Aqui ficam as imagens, recordando a sessão de ontem do Sound + Vision Magazine.

domingo, março 24, 2013

Sigur Rós na televisão

Mais uma novidade dos Sigur Rós: precisamente a canção que dá o título ao seu novo álbum, Kveikur. A apresentação aconteceu no show de Jimmy Fallon — há quase uma década que a banda islandesa não surgia numa performance televisiva.

O Inferno segundo os Sigur Rós

O mesmo poder encantatório da música e das vozes, a mesma concepção da canção como paisagem narrativa, horizontal e angustiante, porventura redentora. Os Sigur Rós regressam iguais a si próprios, partilhando emoções fortes e contidas imponências. Mas desta vez a dimensão mais agreste do som atrai, não apenas bizarros fumos verdes, mas também uma iconografia primitiva que, pela contaminação delirante entre corpos e elementos de uma natureza brutal, parece querer desenhar o mapa imaginário do Inferno: Brennisteinn é a primeira canção do álbum Kveikur, com lançamento agendado para o mês de Junho — o teledisco tem realização do brilhante Andrew Thomas Huang.

quarta-feira, março 06, 2013

Quando a música é para ver

Depois de um longo processo de estreias de telediscos online, o projeto que os Sigur Rós lançaram tendo por base as canções do seu mais recente álbum de originais Valtari chegou agora ao DVD. Este texto foi originalmente publicado na edição de 27 de fevereiro do DN com o título ‘Criar imagens para as canções dos Sigur Rós’. 
A música pode ver-se? Naturalmente sabemos da impossibilidade física de "ver" as ondas sonoras sem o auxílio de aparelhos que as captem e registem visualmente. Mas a história da música foi-nos habituando a relacionar sons com imagens. Imagens que ora podem ser criadas nos cenários em que a música se apresenta, as capas dos discos onde ela nos chega às mãos, os filmes que a tomam por banda sonora e, fruto de um exercício ainda mais abstracto e pessoal, as que geramos nas nossas próprias mentes perante os estímulos que os sons em nós despertam. Por tudo isto (e mais outras hipóteses possíveis) dizer que a música dos islandeses Sigur Rós é visual está longe de ser um tropeção contra as leis da física. É uma realidade que a sua obra em disco e filme o pode comprovar, servindo o projeto Valtari Film Experiment (que agora conhece edição em suporte de DVD entre nós) um bom exemplo de tão recorrente e bem sucedido relacionamento entre sons e imagens na história do trabalho do grupo. E basta recordarmos o teledisco de Vidrar vel til loftárása (com imagens em câmara lenta em volta de um jogo de futebol) ou o documentário Heima, de Dean DeBlouis, para reconhecermos as qualidades desta boa relação.

Há menos de um ano, com o álbum Valtari em mãos, os Sigur Rós desafiaram uma série de realizadores a criar pequenos filmes para as novas canções (podemos chamar-lhes telediscos, mas na verdade escapam à lógica mais habitual de promoção de singles). Parte significativa dos filmes foram convites a vários realizadores, concedendo-lhes total liberdade criativa. Entre eles contaram-se figuras com considerável projeção como o são os casos de John Cameron Mitchell (o autor de Hewdig e Shortbus), Floria Sigismondi (que acaba de assinar o novo teledisco de David Bowie recentememte estreado), Alma Har'el (autora do documentário Bombay Beach), Ramin Bahrani (o autor de Chop Shop) ou o fotógrafo norte-americano Ryan McGinley.

O projeto abriu depois espaço à participação de outros profissionais e, sobretudo amadores, através de um concurso que selecionou dois dos filmes que agora fazem o corpo deste projeto. Os primeiros sinais do Valtari Film Experiment surgiram a 21 de maio de 2012 com Ég Anda, canção do álbum que se apresentava na forma de um pequeno filme do islandês Ragnar Kjartansson (cuja obra de estende da música à pintura) onde, com algum humor, se definia um guia prático para ajudar pessoas engasgadas. Os 16 pequenos filmes foram surgindo regularmente, revelando olhares sobre vários cenários e situações, cruzando linguagens e géneros cinematográficos (chegando mesmo à animação), revelando a presença de atores como Shia LaBeouf, Elle Fanning ou John Hawkes, concluíndo a série a 6 de dezembro com Leaning Toward Solace, de Floria Sigismondi, que usa como banda sonora as canções Daudalogn and Varúd.

terça-feira, junho 19, 2012

Alma Har'el filma para os Sigur Rós


Nascida em Israel, em 1976, Alma Har'el é a realizadora de Bombay Beach, sobre uma comunidade pobre do sul da Califórnia, filme distinguido com o prémio de melhor documentário no Festival de Tribeca de 2011. Muito do seu prestígio deve-se a trabalhos de curta duração, quer na área dos telediscos (Beirute, Nikka Costa, Shearewater,etc.), quer de diversas campanhas políticas e humanitárias (Barack Obama, One).
Continuando o seu projecto de telediscos sobre os temas do álbum ValtariThe Valtari Mystery Film Experiment —, a banda islandesa Sigur Rós convidou Alma Har'el para filmar o tema Fjögur Píanó. Com Shia LaBeouf e Denna Thomsen interpretando um casal que vive uma espécie de apocalipse interior (sob o signo das borboletas...), estamos perante um admirável exercício de curta-metragem, por certo dos mais sofisticados e assombrosos que, em tempos recentes, vimos na área dos clips musicais.


>>> Site oficial de Alma Har'el.

quinta-feira, junho 07, 2012

Em conversa: Sigur Rós (3/3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN.

Desde cedo ficou claro que os Sigur Rós eram uma banda atenta às imagens. Pensam em imagens logo na etapa de composição? 
Sim. Quando escrevemos as letras tudo vem muito de atmosferas, de sentimentos e de imagens mentais. E quando compomos música acontece o mesmo. É sempre melhor sentir e visualizar imagens, e assim podemos partilhar as experiências da música.

Alex Somers vem precisamente do mundo das imagens e com o tempo tornou-se numa presença cada vez mais importante nos Sigur Rós. Começou por desenhar T-shirts e a trabalhar no grafismo dos discos. Mas surge como co-produtor em Valtari
Neste disco foi uma presença importante, sim. Apesar de gostarmos muito do que fazemos, estávamos a encontrar algumas dificuldades em focarmo-nos a nós mesmos e à música. E ele foi mesmo como uma âncora para este disco. Teve paciência para se sentar, misturar... Quando estávamos desfocados saíamos, ele ficava a trabalhar e quando voltávamos ouvíamos o que tinha para nos mostrar e dizia o que deveríamos fazer, dava sugestões... Foi uma grande ajuda neste disco.

Foi um pouco como ter alguém que vem de fora da banda mas que, na verdade, não está assim tão longe? 
É precisamente isso.

A música chamou atenção de muita gente para a Islândia. Os islandeses sabem da importância que os seus músicos tiveram na visibilidade que o país hoje tem? 
As vezes penso nisso. Não sei se as pessoas se aperceberam disso. Eu apercebi-me, sim. Sei que representamos a Islândia e sinto um grande orgulho nisso.

A sua visão do que é a Islândia mudou com as viagens que entretanto fez e as opiniões que vai escutando pelo mundo fora? 
É uma boa questão... Eu tinha-me mudado para Inglaterra por uns tempos e depois vivi em Espanha. Quando regressei senti que gostava de viver na Islândia. Osso n tem a ver com a banda. Mas a Islândia é um lugar bom para se viver.

O que o chama de volta? 
É um lugar pequeno. Não por ser pequeno, mas sub-povoado. Não são muitos os islandeses. Gosto do sentido de comunidade do lugar onde vivo. Todos se conhecem. Os meus filhos passam a rua para brincar com os outros. Conheço os pais deles, às vezes jantamos juntos. É um lugar feliz. É claro que há coisas de que não gosto.

O ritmo de trabalho que entretanto adotaram permite-vos ter uma vida pessoal compensadora? 
Tivemos parados algum tempo, é verdade. Mas antes de parar estávamos a trabalhar muito, a dar concertos, a gravar, a fazer projetos paralelos. E isso via-se. Estamos a ficar mais velhos, todos temos famílias e penso que nos apercebemos de que temos de fazer as coisas com um ritmo certo. Acho que o encontrámos. Para fazer o que gostamos de fazer sem desaparecer daqueles que gostam de nós.

quarta-feira, junho 06, 2012

Em conversa: Sigur Rós (2/3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN. 

Os Sigur Rós têm um som muito característico. Essa ideia der identidade pode ser fardo? 
Não é um fardo. Quando se juntam as quatro pessoas que fazem esta banda numa sala para criar algo novo, é uma coisa muito natural. Fazemos as coisas juntos. Não acontece um de nós chegar a estúdio e dizer que escreveu uma canção...

Não mudaram os métodos de trabalho ao longo destes anos? 
Trabalhamos da mesma forma. O processo criativo mantém-se semelhante. Talvez tenha evoluído e mudado ligeiramente... O que tem mudado é o processo de gravação dos álbuns. Nunca gravámos dois discos da mesma maneira. Este disco foi gravado em vários lugares, em vários estúdios, ao longo de um intervalo significativo de tempo. Teve a sua própria vida.

Mesmo com o mesmo método de trabalho, a cada disco procuram certamente novas experiências. Há neste disco mais eletrónicas, por exemplo. Como definem esses caminhos, como tomam as opções?
Tínhamos escrito as fundações das canções quase todas segundo os métodos habituais. E algumas das coisas surgiram por acidentes. Encontrámos um som... Num sampler ou em algo que nos tenha interessado naquele momento e evoluímos daí em diante. Mas é verdade, há um pouco mais de eletrónicas que habitualmente. Não sei se o fizemos de propósito. Creio que foi mais uma experimentação.

Entretanto podiam ter começado a cantar em inglês. Porque mantiveram o islandês? Como resistiram?
Ninguém nos pediu para cantarmos em inglês. Mas entre nós falámos nisso. Até chegámos a escrever em inglês. Mas não sei porque rezão, no final acabamos sempre a cantar em islandês. Talvez seja mais fácil. E é mais confortável para o Jonsi... E é uma língua interessante de trabalhar, o islandês. E tentamos escrever boas letras. Mas nunca foram muito bem traduzidas.

Investem esse trabalho na escrita, mas a maioria dos vossos admiradores não entendem as palavras, isso não pode ser frustrante? 
O pior de tudo é que muita gente usa o google translator para traduzir as letras. E o islandês é das piores línguas para traduzir no google translator... Estamos a pensar fazer uma boa tradução das letras neste disco.

Foram surpreendidos quando vos começaram a ouvir e cantar mesmo sem vos entender? 
O velho cliché da música ser uma linguagem universal não é um cliché. É mesmo uma realidade. E ficámos surpreendidos, sim. Especialmente quando começámos a tocar fora da Islândia e víamos muita gente junta a cantar em islandês. Achámos isso espantoso e muito poderoso. A tentar cantar connosco mesmo sem entenderem uma palavra. E começámos a entender então que isso acontecia porque a música falava por si mesma. Mas escrevemos as letras ouvindo as músicas e em brainstorming. Escrevemos sobre o que se sente e sobre imagens mentais que surgem. Muitas vezes estamos a ver o mesmo, a experimentar as mesmas emoções, o que é incrível. Vemos a música da mesma maneira e isso ajuda a escrita das letras.
(continua)

terça-feira, junho 05, 2012

Em conversa: Sigur Rós (1/3)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN.

Nos últimos anos, quando ouvimos falar da Islândia em Portugal ou é pela erupção de um vulcão (com consequências em toda as rotas aéreas no Atlântico Norte e Europa), pela música (a vossa, a de Björk, e alguns outros mais) ou pela crise económica. De resto, foram preocupantes as notícias que deram conta de um país em falência... 
O pior foi ver os políticos a mentir. Houve uma altura em que as pessoas não sabiam o que ia acontecer. Havia medo. Foi estranho... Quando começou estávamos a tocar nos EUA e um dos elementos da nossa equipa veio contar-me, à porta do hotel, que o governo tinha tomado conta de um banco. E era o meu banco! Perguntei-lhe o que é que isso queria dizer, mas ele não sabia. Houve uma altura que media medo... Mas a Islândia está a conseguir ultrapassar tudo isto rapidamente e de uma forma positiva.

As noticias dão, de facto, conta de sinais de recuperação... 
Estamos a recuperar. Mas depende das pessoas que questionamos. Muitas pessoas falam de recuperação e os lucros estão a aumentar... Parece haver mais estabilidade nos bancos, que parecem estar a lidar com as coisas de uma forma mais responsável. Há pessoas a ser interrogadas e outras a ser levadas a tribunal por inside trading...

Um sentido de justiça? 
Sim e não. Ainda há muita gente que ficou sem emprego, sem casa, porque os bancos forram irresponsáveis. Ofereciam coisas que pareciam lindas na forma de as pagar... Mas de repente algo aconteceu e as prestações triplicaram... Não é justo par as pessoas. Ainda há grandes patrões com salários altíssimos. Os islandeses parecem ser demasiado rápidos a esquecer. Somos peixes de água fria. O governo deixou-nos nesta posição, mas nas mais recentes sondagens já são os mais populares e não aqueles que nos tiraram rapidamente desta situação. É tão bizarro!

Esse clima de ansiedade vivido no país interferiu com as vossas vidas na hora de voltarem trabalhar como banda?
Não nos afetou. Começámos a gravar em 2009 e devo dizer que pessoalmente não fui afetado.

O disco não reflete por isso esse clima? 
Não reflete não...
(continua)

segunda-feira, junho 04, 2012

Novas edições:
Sigur Rós, Valtari


Sigur Rós
“Valtari”
Parlophone / EMI Music
4 / 5

É certo que o período que separa Með suð í eyrum við spilum endalaust (2008) de Valtari não foi passado em sessões brainstorming em busca de uma saída para um rumo que parecia, pela progressão dos mais recentes acontecimentos, fadar os Sigur Rós a um progressivo esmorecimento da força criativa que, quando neles foi reconhecida em inícios dos anos zero, chamou as atenções de muitos para uma ideia de personalidade forte que rapidamente cativou admiradores e num par de anos se fez mais que um pequeno culto. Limitaram-se, na verdade, a viver a pausa como terreno para respirar espaços de vida pessoal e experimentar algumas ideias fora de bordo – as mais visíveis tendo sido as do vocalista Jónsi num disco com Alex Sommer e num primeiro álbum a solo editado em 2010. Na hora do reencontro o resultado traduz, por um lado, a soma essencial das quatro personalidades que se juntam, desde que formaram a banda, para fazer dos Sigur Rós uma entidade coesa, demarcada e com características inevitavelmente vincadas. Mas cada qual trouxe certamente novas ideias na bagagem, a experiência mais vincada na exploração de texturas e ambientes que Jonsí viveu com Alex Sommers no projeto paralelo Riceboy Sleeps parecendo ter encontrado nas novas sessões de trabalho um solo fértil que as assimilou e integrou num conjunto de novas composições que recuperam ainda a carga mais onírica dos dias de Agaetys Byrjun. Valtari revela uns Sigur Rós menos interessados nos jogos de contrastes que marcaram algumas das suas composições anteriores e troca os ocasionais surtos de intensidade elétrica de outros tempos por uma placidez que domina os cenários de fio a pavio e onde cordas e electrónicas conhecem maior protagonismo. Luminoso, mas tranquilo, interessado na criação de espaços, revelando afinidades com um sentido plástico que em tempos reconhecíamos em alguns discos de uns Dead Can Dance ou Lisa Gerrard, Valtarí é um mundo de visões que as imagens que a capa revela sabem traduzir. E se a força da comunicação dos Sigur Rós passa precisamente pelas imagens (que lhes abrem caminho à escrita das letras e a nós a sua possível leitura por sugestão), Valtari é uma exposição de quatros feitos de tons suaves, luz e linhas mais esboçadas que vincadas. E dá-nos o melhor momento em disco do grupo desde o histórico Agaetys Byrjun.

quarta-feira, maio 23, 2012

Ao som dos Sigur Rós

A poucos dias do lançamento de Valtari, novo álbum dos islandeses Sigur Rós, um novo teledisco chama atenções para mais um tema do seu alinhamento. Aqui ficam as imagens que acompanham Eg Anda. A realização é de Ragnar Kjartansson.

domingo, maio 20, 2012

Entrevistas de arquivo:
Sigur Sós (2004) - parte II

Segunda parte de uma entrevista com Jonsi, o vocalista dos Sigur Rós, realizada em Roma em 2004. Esta entrevista foi originalmente publicada no suplemento DN:música.

Muitos textos, ao falar dos Sigur Rós, costumam afirmar que a vossa música reflecte a paisagem islandesa. Isto, naturalmente, escrito por quem nunca foi à Islândia! A ideia corresponde mesmo à realidade?
Algumas dessas ideias são mesmo verdadeiras, sim. O espaço é marcante para qualquer um. Imaginemos Nova Iorque… Eu teria problemas em fazer música por esses lados. Não há espaço, só arranha-céus. A nossa música reflecte o espaço que temos na Islândia.

E aquela coexistência de fogo e gelo, os vulcões e glaciares, também característicos da Islândia?
Também pode fazer sentido, sim.

Porque é que os músicos islandeses, mesmo depois de obter sucesso, continuam a viver na Islândia?
Há aquele velho cliché de querer sempre estar noutro lugar… Mas para nós sabe bem estar na Islândia. Vivemos lá os quatro e gostamos, pelo menos por enquanto. Temos a editora em Inglaterra, por isso quando estamos na Islândia somos apenas quatro pessoas a viver e fazer música. É mesmo bom, mantém-nos saudáveis e normais. E somos mesmo quatro pessoas normais a viver bem com os pés no chão. Fazemos as coisas normais, vamos aos cafés, lemos livros…

Como foi crescer numa ilha?
Eu cresci no campo. Bom, o campo é a poucos quilómetros de Reykjavik. E foi mesmo bom. Puro. Simples, sem preocupações… Não havia drogas.

Popp i Reykjavik
Um documentário, Popp I Reykjavik, de Agust Jacobson, no qual os Sigur Rós aparecem nos seus primeiros dias, dá-nos a impressão de existir uma forte cena underground na cidade. De onde vem?
Não sei bem de onde vem. Mas os islandeses sempre foram muito independentes. Se querem tocar têm de trabalhar para o fazer. Quando começámos foi assim. E mesmo depois de termos gravado a nossa música e de a estarmos a vender. Porque sentimos que não estava como queríamos. As pessoas sabem que para as coisas acabarem como querem, que as têm de fazer por si. Temos de tratar de tudo, de todos os pormenores. A cena é então uma coisa de muita dedicação e muita paixão. É diferente do que vemos em Inglaterra, por exemplo. Quem quer o seu espaço faz a sua banda, sem pensar necessariamente no sucesso. E depois temos muita escuridão, longos Invernos, que nos faz gostar de música e de a estar a tocar numa sala com outras pessoas. Há muita paixão. Esse é mesmo o ponto de partida.

E como é que a música entrou na sua vida?
Era muito novo… A minha primeira experiência deve ter sido, com os meus amigos, ouvir os Beatles ao dobro da velocidade no gira-discos. Depois tive a minha fase heavy metal. Só gostava de bandas de metal. Tive depois a fase mais hippie, durante a qual ouvi os Deep Purple e Uriah Heep. Passei ainda pelo grunge, com os Nirvana e outros. E, mais tarde, uma ligação à música mais ambiental.

Quando é que descobriu que tinha um instrumento tão poderoso na sua voz?
Nunca me tinha apercebido, porque era muito tímido. Quando tive as minhas primeiras bandas, aos 13 ou 14 anos, tocava apenas. E depois tive de cantar porque ninguém cantava. Cantava pouco, e baixinho, para ninguém reparar. E daí a coisa evoluiu… Mas nunca deixei de ser tímido. Ainda hoje não canto em casa. Só quando ensaiamos no estúdio ou na estrada. É apenas um músculo, que se treina e vai ficando melhor.

Ainda é tímido quanto à sua voz?
Não tanto como no passado, mas ainda um pouco. Por vezes é difícil estarmos a ouvir a nossa própria voz. Quando estou a falar, por exemplo, parece ridículo!

E ouve as gravações dos concertos?
Aí parece-me bem, não me envergonho tanto. Sinto que estou a melhorar até, e mais confiante.

'Von'
E o que sente ao ouvir os seus discos anteriores?
O Von foi mesmo uma experiência. Foi como quando se está num estúdio a aprender a mexer nas ferramentas, e por isso é muito ingénuo. Mas tem o seu lado interessante. O Agaetis Byrjun deveu-se a um tempo em que tínhamos já uma editora com quem trabalhar, e que nos arranjou um estúdio melhor, com um engenheiro a ajudar-nos a encontrar o som que queríamos e que nos ensinou muito sobre gravações. Disse-nos que o feeling, a entrega, era fundamental, e não apenas a correcta utilização das frequências. Aprendemos muito. E como tivemos mais dinheiro para fazer esse disco pudemos ir buscar cordas, metais, experimentar outras coisas. Está lá tudo, mas é um disco muito honesto. E temerário. O disco dos parênteses é mais denso e escuro, mas a continuidade.

E a colaboração com Merce Cunningham?
Foi muito interessante. Aprendemos muito. Foi interessante conhecer a companhia de dança e uma experiência musical muito boa. Foi claramente um projecto paralelo, e por isso pudemos experimentar mais.

Nos vossos discos “oficiais” há limites para a experimentação?
Há um som que queremos para os Sigur Rós como banda. E experimentamos dentro desse som. A melodia é muito importante. Faz a canção! Em projectos paralelos podemos ir adiante, parar onde quisermos.

Foi difícil ter um álbum como o Agaetis Byrjun, logo em início de carreira, descrito como uma obra-prima?
Não, porque deixámos de escutar essas coisas! (risos) Não lemos a imprensa musical. Não nos interessa o que se passa noutros locais. Há muitas coisas que não nos interessam. Basta ver a MTV! Ou ver as revistas de música mainstream, que são absoluto papel higiénico. Nunca vou à Internet ler o que dizem de nós.

Não seguem com atenção o que as outras bandas vossas contemporâneas estão a fazer?
Não. Mas talvez o devêssemos fazer! Talvez…

Nem mesmo nomes islandeses? Björk?
Nunca escuto a Björk nem tenho discos seus. Não é o meu estilo de música. O disco vocal pareceu-me um bom passo, mas ela podia ter trabalhado as coisas de outra maneira.

Quer isso dizer que não são contaminados? Num ou outro momento de Takk podemos pensar num Brian Eno. Por exemplo, em Andvari sente-se a escola minimal repetitiva por perto… Não reconhece estas referências?
Na verdade, não. Basicamente não nos preocupamos com mais que fazer o que temos a fazer. A repetição no final do Andvari veio num episódio em que estava numa casa de Verão a duas horas da cidade que me tinha sido emprestada por uns amigos. Uma casa antiga, bonita, onde estava a trabalhar, com privacidade, nas canções. Estava a trabalhar a secção final das cordas nessa canção. E veio aquela ideia de repetir aquele elemento tão relaxante.

O que diz da forma como o cinema tem usado a vossa música?
Gostei muito do Peixe Fora de Água [de Wes Anderson]. Há filmes onde a nossa música fica bem. Mas é horrível ver a nossa música num filme onde não faça sentido, talvez por estarmos tão ligados a ela… Mas isso não tem acontecido. Também tivemos música nossa no Mysterious Skin [de Gregg Araki].

E quando assinarão os Sigur Rós uma banda sonora por inteiro?
Um dia, sim. Gostaria de o fazer. Todos gostamos muito de cinema. E tem havido tão bom cinema! Mas teríamos de trabalhar com um bom realizador e um bom argumento…

Podem ler aqui a primeira parte desta entrevista

domingo, maio 06, 2012

Entrevistas de arquivo:
Sigur Rós, 2004 (parte 1)

Roma, 2004. No auditório Cavea, espaço ao ar livre longe do centro da cidade, assistia a um ensaio de som dos Sigur Rós. O concerto seria mais tarde, com as Amina na primeira parte. Antes do ensaio de som falei com Jonsi, o vocalista. Esta entrevista foi originalmente publicada no suplemento DN:música.

Sob o calor tórrido de uma tarde de Verão, os Sigur Rós ensaiavam o som e o palco para um concerto ao ar livre na capital romana. Glósoli, o single usado como cartão de visita para o novo disco, foi precisamente uma das canções escolhidas para testar o som. E que bem soou aquela aventura de um rapaz em busca do Sol perdido sob uma luz que, há três anos, não imaginaríamos de volta à música dos Sigur Rós. No belo auditório Cavea, para perto de três mil lugares, iam estrear em solo italiano alguns temas do álbum Takk [que seria editado daí a alguns dias], num concerto que, esteticamente coerente, juntou às novas canções uma série de memórias de Agaetis Byrjun, um tema só do mais remoto Von e ainda dois inéditos à espera de chegar a disco no futuro. Antes do ensaio, contudo, breve pausa para encontros com a imprensa local e uma pequena embaixada portuguesa. Jonsi, o tímido e afável vocalista, um reconhecido apaixonado por Lisboa.

Sentados em dois sofás, mesa ao lado com indispensáveis garrafas de água, a conversa com o vocalista dos Sigur Rós decorreu em amena e amigável informalidade. Partimos do novo disco e da sua evidente posição nos antípodas do anterior ( ), o “brackets álbum” (disco dos parênteses) como Jonsi lhe chama. Mas acabámos depois a falar da fidelidade dos quatro islandeses à sua língua mãe e da maneira como o público não islandês do grupo reage à sua música sem entender as palavras, aderindo apenas de uma forma emocional. Discutimos ainda a cena musical de Reykjavik, a forma como o sucesso que têm somado mundo fora não os modificou como pessoas e confirmámos a existência de um certo isolamento voluntário em que o grupo (e consequentemente a sua música) vive entre pares.

Quando é que se aperceberam que Takk, ao contrário do álbum anterior, seria mais luminoso e relativamente próximo da estrutura da canção? 

Creio que foi logo quando acabámos o álbum dos parênteses. Já o estávamos a tocar há algum tempo e não queríamos voltar àqueles terrenos. O disco é um pouco pesado, e com o tempo ficámos mesmo cansados de o tocar. Queríamos antes escrever canções diferentes e com luz interior. Depois passou-se outra etapa cansativa para nós que foi a mudança de editora e tudo o que isso naturalmente implicou. Também isso fez com que desejássemos escrever canções mais optimistas. E esse foi de facto o clima que se instalou entre toda a banda, que claramente desejava fazer um álbum mais bem disposto.

Há margens, por vós definidas, entre as quais podem reinventar o vosso som? Por exemplo, nunca fariam um álbum punk… Até onde podem mudar?

Talvez o nosso interesse pela música e pela criação de sons se inscreva entre certas frequências, entre certos campos. E é entre esses campos que queremos experimentar. Creio que o nosso som é bastante claro. O baixo tem a sua definição bem redonda, as guitarras são sujas… Creio que este é um som definido, sim.

Têm um padrão de exigência para o que levam da sala de ensaio para os discos?

Sim, claro. Temos a ambição de fazer sempre a melhor música que pudermos. E para isso juntamos as ideias de todos nós. Tudo o que apresentamos tem de ser bom.

Como lidam com o crescimento de popularidade que a vossa música tem vivido?

Bem… Isso é bom. E não temos assim tanto a consciência disso. Estamos mais tempo nos nossos apartamentos, com os amigos, a ler livros. Temos tido sorte, e não deixámos de ser quem somos. Temos, talvez, um tratamento diferente quando estamos em digressão. Mas o nosso ego não tem de mudar com isso. Gosto até de estar na estrada e conhecer novas pessoas.

Dado que a maioria do vosso público não entende o islandês, acredita que há, acima de tudo, uma identificação emocional de quem vos ouve com a vossa música? Ou seja, a música tem aqui mais sentido que as palavras?

São coisas distintas. Quando as pessoas escutam uma canção e entendem a letra criam a visão bem definida daquilo de que a canção fala. Se, pelo contrário, não descodificam as letras, criam as suas próprias imagens e pensamentos. As canções são aí gatilhos, que desencadeiam mecanismos de relacionamento com as suas vidas.

Vê esse tipo de resposta como algo semelhante à fruição da arte abstracta?

Creio que sim. Criam-se imagens e respostas mais pessoais, e talvez por isso mais fortes. Não sei se esta visão é correcta, mas parece-me que este tipo de relação com a música é mais agradável. As pessoas podem pegar no som da palavra e pensar a sua visão.


Viajando pelo mundo, conhecendo fãs e contactando com diferentes reacções ao que canta, o que sente ao verificar que essas visões podem ser completamente diferentes da original?

Isso é lindo! É como que se tivéssemos acesso a quadros diferentes e pensamentos distintos a partir do que fazemos. É muito bom. A música devia ser assim.

Sobre o que falam estas novas canções?

Sobre muitas coisas. Umas têm letras, outras não. As letras são muito simples, talvez ingénuas. Parecem contos infantis, pequenas aventuras, momentos… O Glosóli, por exemplo, é sobre um rapaz que acorda e tudo está escuro à sua volta. Não vê nada, olha para janela e está tudo escuro. Veste-se e sai pela janela e vê que não há Sol no céu. Repara que o Sol desapareceu e embarca numa viagem em busca do Sol. É uma pequena aventura.

Uma canção tem mesmo de ter uma mensagem concreta nas suas palavras?

Nem sempre. Mas a ideia de se não saber do que se fala ficava bem no álbum anterior. E foi difícil, sobretudo para muitos jornalistas, aceitar que as coisas assim fossem. Especialmente em Inglaterra e nos Estados Unidos. Devem estar muito habituados a ser alimentados com a papa feita. Disco e letras e tudo mais… Deve ter sido confuso para muitos não ter letras nem títulos sobre os quais escrever. Pareciam canções sobre nada e ficaram confusos. De resto, escreveu-se mais sobre a falta de títulos que da música! Mas houve quem gostasse da experiência e usasse a imaginação e a liberdade que lhes era dada.

Quem escreve as letras?

Tentamos fazê-las juntos. Mas é um processo difícil para nós. A música aparece sempre primeiro, e com facilidade. Depois sentamo-nos, de canetas na mão. Ouvimos a música e escrevemos ideias. Depois vemos se temos ideias semelhantes, e começamos a escrever a partir desse momento.

E porque não fazem apenas instrumentais?

Queríamos tentar escrever letras outra vez. Porque são letras mais interessantes e a minha voz também está mais interessante. O disco dos parênteses foi bom, mas aquelas ideias serviram-no apenas a ele.

Como é que hoje uma banda como os Sigur Rós trabalha integrada no catálogo de uma grande multinacional?

Ainda não estamos com a EMI há muito tempo para termos uma ideia bem definida, mas a verdade é que, para já, nos foi dado muito espaço. Só foram duas vezes à Islândia escutar as canções novas, o que nos pareceu correcto. Isto num período de ano e meio!

A editora alguma vez tentou pedir-vos que escrevessem em inglês?

Nunca! Somos respeitados pela editora. Nunca cantamos em inglês!

E nas suas bandas anteriores aos Sigur Rós?

Aí sim, cantei em inglês. Era muito novo e cantar em inglês parecia mesmo cool!

Como venceu essa ideia?

Não sei… Parecia natural cantar em inglês, mas quando se é muito novo não se sabe dizer nada em inglês a não ser aqueles lugares comuns como “having fun in the sun” ou outras coisas estúpidas parecidas. Coisas muito simples, porque não se sabe fazer melhor. A nossa língua mãe é diferente! Essa sim, conhecemos!

Há uma tradição literária na Islândia. A língua pode ser um estímulo?

A Islândia é um país de livros. A literatura tem uma história local mais importante e marcante que a música. Nem há história musical. É mesmo uma coisa recente. A literatura tem visibilidade histórica.

Que remonta ao domínio dinamarquês?

Sempre houve uma identidade cultural. E depois fartámo-nos dos dinamarqueses…

Apesar dessa história literária, a música serve hoje de cartão de visita à Islândia…

Se for música de qualidade, sim.

Vê o vosso reconhecimento como um incitamento a bandas de outros países que não cantem em inglês?

Espero que sim…

Acha que a vossa música desperta sugestões emocionais pessoais semelhantes às da leitura de poesia?

Talvez, nunca tinha pensado nisso.

Quando fazem vídeos são ainda mais poderosos e emotivos. As imagens compensam aí a falta de compreensão das palavras?

Talvez, mas talvez não… Os vídeos são apenas uma das interpretações possíveis da canção. O vídeo é um meio muito poderoso mas frequentemente mal usado. Não queremos nunca fazer aquele vídeo típico com a banda a tocar. Quando íamos fazer o nosso primeiro grupo vi um grupo de teatro na televisão. Era tão belo, sincero e honesto… Pensámos logo em ter algo como aquilo no nosso vídeo. O vídeo seguinte, o futebolístico, já veio de uma ideia bem antiga. Era uma ideia de jogar com elementos completamente opostos, o futebol, o beijo dos rapazes. Era uma história de amor honesta em conflito com a sociedade. Conhecemos a equipa que ia trabalhar connosco num restaurante. Não nos conhecíamos a eles nem eles a nós. Eles tinham uma ideia semelhante, mas com homens adultos. Era mais estranho… Mas ao mesmo tempo engraçado como aquelas ideias se relacionavam.
(continua)

domingo, abril 29, 2012

IndieLisboa 2012 (dia 4)


Quarto dia do IndieLisboa 2012 apresenta dois focos de atenção em duas salas ao mesmo tempo. Há que escolher (e ambos os filmes repetem). Na Culturgest, às 21.30, é apresentado Em Segunda Mão, filme de Catarina Ruivo que representa o derradeiro trabalho do ator Pedro Hestnes (repete dia 1, no Cinema Londres). Pelas 21.45 o Cinema São Jorge propõe Andrew Bird: Fever Year, documentário de Xan Aranda que acompanha o músico nos dias que se seguiram ao lançamento de Noble Beast, ouvindo-o em palco, escutando-o em estúdio ou em digressão (sendo magnífico o instante em que vemos Lusitania, do novo disco, a nascer num quarto de hotel, ao lado de Annie Clark). O filme repete dia 4, novamente no Cinema São Jorge. Ainda no São Jorge, mas na sala 3, às 18.45 passa Un Autre Homme, filme de 2008 do suíço Lionel Baier que toma o cinema como motivo de reflexão numa história que coloca nas mãos de dois críticos (ela de um jornal da cidade, ele de um semanário da província). Deixa contudo entornar temperos a mais e a história acaba com mais sabor a lugares-comuns e as personagens algo reduzidas a caricaturas, o minimalismo que toma por método de trabalho funcionando contudo a seu favor. Atenção à passagem de momentos do histórico A Canção de Lisboa, de José Cottinelli Telmo, um entre os vários episódios claramente cinéfilos deste filme em que o cinema olha para o seu próprio universo.

No blogue dedicado aos festivais de cinema do DN escrevi sobre dois dos filmes que passaram já no Indie Music.


Sobre Inni, de Vincent Morisset, que toma os Sigur Rós como objeto da sua atenção, digo que “mais próximo do que poderia ser o olhar do espectador que da soma de visões e factos que o documentarista escuta e olha”, o filme “é mais um espaço de sensações que um objetivo retrato de uma banda”.


Falando de Punk In Africa, de Keith Jones, afirmo que: “com mais entrevistas atuais que imagens de época (e falta ao filme mais representações da música de que se fala)”, o documentário “vinca o papel político e social do movimento, o seu grito de revolta nos dias do apartheid e, em concreto, o espaço que então abriu às primeiras bandas multi-raciais do país”.

Podem ler aqui os textos completos.

quinta-feira, março 29, 2012

Um navio que flutua...

Os Sigur Rós acabam de anunciar um regresso aos discos para muito em breve. Valtari será o nome do álbum, a editar em finais de maio. Como primeiros sinais do que podemos esperar do novo disco eis que apresentam o tema Ekki Múkk, acompanhado por um filme criado por Inga Birgisdóttir, irmã de Jonsi, o vocalista da banda.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Novas edições:
Jonsi, We Bought a Zoo

Jonsi
"We Bought a Zoo"
Columbia / Sony Music
3 / 5

O realizador norte-americano Cameron Crowe faz questão de não esquecer um percurso anterior ao cinema no qual a música era o objeto central da sua atenção. De resto, em Almost Famous, deixou marcas autobiográficas de ecos de um tempo que viveu entre bandas, quando escrevia para as páginas da imprensa musical. E hoje, mesmo sendo essas apenas memórias arrumadas, faz questão em levar à banda sonora dos seus filmes os nomes da música que o estimulam no presente. A música dos Sigur Rós já passara pelo seu cinema, mas para o mais recente We Bought a Zoo (que estreia brevemente entre nós) chamou apenas Jonsi, o vocalista do quarteto islandês. Se bem que a música que escutamos no filme integre outras presenças (dos Echo & The Bunnymen e Wilco a Neil Young), o disco resume-se apenas à contribuição de Jonsi. Ou seja, a revisões de três canções do seu álbum de estreia a solo Go (de 2010), a uma única passagem por memórias dos Sigur Rós (em Hoppipolla), as restantes composições representando o resultado do trabalho especificamente criado para servir o filme. De realmente novo Jonsi apresenta paisagens essencialmente instrumentais que mantém o tom paisagista e sonhador da música menos assombrada dos Sigur Rós e segue por rotas mais focadas que as que fizeram (o bem interessante, note-se) álbum conjunto com Alex Somers, em 2009, a contribuição dos arranjos para cordas e metais por Nico Muhly conferindo-lhe uma dimensão que abre caminhos que podem justificar experiências futuras quer a solo, quer entre a banda, reencontrando ecos de um sinfonismo luminoso que em tempos escutámos em Agaetys Byrjun (o segundo álbum de originais dos Sigur Rós que deles fez o centro das atenções por alturas da chegada do novo milénio). O alinhamento encerra com Gathering Stories, uma canção co-assinada entre o músico e o realizador, diálogo que dá conta do envolvimento de ambos no filme.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Novas edições:
Sigur Rós, Inni


Sigur Rós 
“Inni” 
Krunk 
2 / 5 

Editaram seis álbuns em onze anos e através deles colocaram em cena uma linguagem que os destacou dos demais nomes no firmamento indie rock. Se Von (1997) mal saiu para lá das fronteiras da Islândia, o sucessor, Agaetys Byrjun (1999) revelou-se um poderoso cartão de visita apresentando globalmente não apenas os Sigur Rós mas chamando novos focos de atenção sobre a música do seu país. O seu mais recente álbum data contudo já de 2008 e, desde então, além de um projecto entretanto abandonado de um disco novo (supostamente mais ambiental e, dizia-se, mais acústico e menos ruidoso), nada de realmente novo aconteceu. Inni não é por isso um novo passo, antes uma revisão de matéria dada. E evitando as características menos ginasticadas de um best of, assegura um efeito algo semelhante ao registar em disco uma actuação ao vivo, durante a digressão que se seguiu ao álbum de 2008, num palco londrino. Inni junta, em dois CD, momentos de todos os álbuns do grupo, com a natural presença mais notada do disco mais recente, guardando os únicos instantes de novidade para os seis minutos finais do segundo CD, ao som do inédito Lúppulagid, um epílogo ambiental para o concerto, dominado pelo piano, com cenografia discreta em seu redor. Sem particular interesse além do núcleo mais fiel de admiradores (como o são a esmagadora maioria dos discos ao vivo), Inni conhece na verdade nestes instantes finais o seu mais expressivo momento, o devaneio (algo herdeiro das genéticas de um Brian Eno) traduzindo caminhos que certamente teriam gerado um disco mais cativante que esta soma arrumada, e com palmas, de canções antigas. Não se questionam as capacidades performativas de uma banda com reconhecidas qualidades em palco. Mas nem os dois CD áudio, nem o DVD entusiasmam em casa como a banda o faz em sala. Tanto que a experiência de ver/ouvir Inni acaba como coisa nas cercanias do maçador.