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sexta-feira, setembro 12, 2014

Para ler: Michael Stipe escreve ensaio
sobre as imagens do 11 de setembro

Douglas Copland , via Guardian
O antigo vocalista dos R.E.M. assina um breve ensaio, com o título Thoughts on the 21st Century, no livro Douglas Coupland: Everywhere is Anywhere is Anything is Everthing, uma monografia sobre o trabalho visual de Douglas Coupland. Parte de uma imagem que evoca o 11 de setembro e reflete sobre as memórias e sentidos que convoca.

O The Guardian publicou o texto. Podem ler aqui.

quarta-feira, setembro 12, 2012

11 de Setembro, 11 anos

No relvado da Pepperdine University (Malibu, California) foram colocadas perto de 3 mil bandeiras, homenageando cada uma das vítimas dos ataques de 11 de Setembro de 2011 — com assinatura de David McNew (AP), esta é uma das 44 espantosas fotografias sobre os 11 anos do 11 de Setembro, propostas pelo blog The Big Picture, do Boston Globe.

sábado, março 03, 2012

"Mad Men": que imagem?

Este é um cartaz promocional da quinta temporada da série Mad Men, a estrear brevemente nos EUA. Segundo um artigo publicado no New York Times, o seu aparecimento em diversas avenidas de Nova Iorque suscitou reacções, entre o choque a indignação, de familiares de pessoas mortas nos atentados de 11 de Setembro de 2001.
De acordo com os protestos, devia ter sido evitada a utilização de uma imagem que, para esses familiares, leva a evocar uma fotografia normalmente referida como 'The Falling Man' (Richard Drew/Associated Press), mostrando uma das vítimas que saltaram do World Trade Center.
Escusado será dizer que não é fácil (não é mesmo possível) ter uma visão ligeira desta situação. A sensibilidade dos familiares das vítimas envolve elementos de compaixão a que todos podemos ser sensíveis e o problema não se encerra se considerarmos (como também me parece natural e legítimo) que o produtor Matthew Weiner e os responsáveis pela série Mad Men não terão querido banalizar, muito menos anular, as memórias do 11 de Setembro.
Como é óbvio, o facto de a imagem aparecer exposta em zonas de arranha-céus não será indiferente às reacções descritas no artigo do New York Times. Ainda assim, vale a pena recordar que a mesma imagem do "homem-a-cair" está longe de ser uma novidade, uma vez que existe na série desde o primeiro episódio (emitido a 19 de Julho de 2007): é mesmo parte integrante de todos os episódios de Mad Men, uma vez que surge no respectivo genérico.
Independentemente das nuances que a situação envolve — a começar pelas diferenças da sua percepção dentro e fora de Nova Iorque —, manifesta-se aqui um vício interpretativo muito típico dos nossos dias. A saber: uma imagem teria uma espécie de sentido "autorizado" (pela sua origem, pelo seu valor simbólico, etc.) que não pode, ou não deve, ser posto em causa por nenhuma utilização dessa mesma imagem num outro contexto. Na prática, anula-se a especificidade do contexto como base essencial da significação e, no limite, revelador da responsabilidade de quem utiliza, reproduz ou difunde a imagem em questão.

* * * * *

O caso, aliás, enreda-se ainda mais se lembrarmos o óbvio: nem sequer se trata da mesma imagem. Aquilo que se censura é o facto de uma imagem evocar outra. Ora, não é essa a própria história das imagens? A saber: nenhuma imagem se confunde com um sentido único, unilateral e definitivo (só mesmo algumas formas televisivas de fazer jornalismo acreditam em tal infantilismo semiológico). Cada imagem é uma nova entidade que, conscientemente ou não, entra na história de todas as imagens.
O que é, por exemplo, o Cristo de Mel Gibson?
Em boa verdade, trata-se de uma imagem que tenta escapar-se à sua responsabilidade figurativa, escolhendo não a complexidade visual e conceptual do realismo, mas refugiando-se no mais vulgar "verismo" televisivo: isto é "tal-e-qual" o que aconteceu, logo apenas se pede ao espectador que "confirme" (o que aconteceu há 2000 anos???...), esquecendo o presente da própria imagem.
Algo bem diferente acontece na imagem crística de Madonna ('Confessions Tour'). Neste caso, sabemos para que referências a imagem remete, mas há nela algo de radical — entenda-se: de iconograficamente radical — que a subtrai a qualquer caução "imitativa". É uma imagem que diz: "Sou eu." Para a ideologia figurativa dominante, essa denúncia do falso ecumenismo das imagens e da sua existência, só pode ser intolerável.

sexta-feira, março 02, 2012

Novas histórias de Nova Iorque

Não se pode dizer que os Oscars tenham sido muito simpáticos para o admirável Extremamente Alto, Incrivelmente Perto... E, no entanto, o filme de Stephen Daldry abre um capítulo novo nas relações de Hollywood com as memórias do 11 de Setembro — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 Fevereiro), com o título 'Os grandes contadores de histórias'.

Eis um filme que entrou e saiu dos Oscars sem que ninguém desse por ele. Era um dos nomeados para melhor do ano, mas o certo é que Extremamente Alto, Incrivelmente Perto não passou de uma presença discreta, apenas contrariada pelo facto de Christopher Plummer, ao receber a estatueta de melhor actor secundário, ter saudado um dos seus intérpretes, Max von Sydow (nomeado na mesma categoria). A provar que o imaginário televisivo desvaloriza os grandes actores, nem sequer ajudou o facto de Tom Hanks e Sandra Bullock constarem da ficha artística.
Digamos, para simplificar, que Extremamente Alto, Incrivelmente Perto representa uma evolução admirável no imaginário cinematográfico do 11 de Setembro. A história do jovem Oskar (brilhantíssimo Thomas Horn) não se esgota no facto de ser órfão de um pai (Hanks) falecido no World Trade Center: ele não é o símbolo de um passado traumático, mas sim um pequeno ser, à deriva, condenado a inventar o seu futuro. A realização de Stephen Daldry, recusando qualquer linearidade, factual ou psicológica, coloca Oskar como pivot de uma questão visceral: de que sentido precisamos, não apenas para viver, mas sobretudo para continuar a viver? E tanto mais quanto, como lhe diz a mãe (espantosa Sandra Bullock, actriz regularmente subvalorizada), temos de aprender a lidar com coisas que... não fazem sentido.
A adaptação do livro de Jonathan Safran Foer é, por certo, um dos mais prodigiosos argumentos que se escreveram, nos últimos anos, no cinema americano. Assina-o Eric Roth, nome ligado a Forrest Gump (1994), Munique (2005) ou O Estranho Caso de Benjamin Button (2008). Afinal, a avalancha dos “efeitos especiais” não fez desaparecer os grandes contadores de histórias.

quinta-feira, setembro 29, 2011

Uma enciclopédia do 11 de Setembro

Das muitas publicações que dedicaram números (ou dossiers) especiais ao décimo aniversário do 11 de Setembro, a revista New York propôs uma das variações mais clássicas, e também mais interessantes: uma edição em forma de enciclopédia, cruzando memórias jornalísticas com ideias, interrogações e especulações que foram ficando no nosso tempo e no seu imaginário. Como recorda Frank Rich no seu admirável texto de introdução, 'Day's end': "Não é suposto as décadas aparecerem em embalagens consistentes decorrentes das divisões arbitrárias do calendário, mas foi isso que aconteceu com esta. Para muitos americanos, a nuvem do 11 de Setembro desapareceu. O que não quer dizer que, depois da sua passagem, se tenha revelado uma paisagem nacional mais feliz."
Entre os 92 temas coligidos, figuram o país como ideia ("America"), o regresso do humor de Saturday Night Live menos de três semanas depois dos atentados, a 29 de Setembro (Live from New York), e o inesquecível azul do céu (Blue) com que nasceu a manhã do dia 11 de Setembro de 2001.
FOTO Lyle Owerko
A Torre norte depois da queda da Torre sul

11 de Setembro de 2001
FOTO Peter Funch
(meados de Setembro, 2001)

segunda-feira, setembro 19, 2011

David Rieff: "esquecer" o 11 de Setembro

Entre os muitos artigos escritos em torno dos dez anos do 11 de Setembro, After 9/11 - The limits of remembrance, de David Rieff, publicado na edição de Agosto da revista Harper's, é por certo um dos mais contundentes e perturbantes. Qualquer resumo, condensação ou comentário corre o risco de minimizar as suas nuances, pelo que se recomenda vivamente a sua leitura.
Simplificando, digamos, então, que Rieff postula a possibilidade de a palavra de ordem moral – nunca esquecer – não excluir uma prática metódica, por assim dizer profilática, de paralelo abandono da matéria das memórias. É ele o primeiro a reconhecer que semelhante hipótese argumentativa e existencial não colhe apoios junto da "direita nacionalista", nem nas hostes da "esquerda orientada pela defesa dos direitos humanos". Aliás, não deixa de sublinhar também que não vê nas cerimónias do décimo aniversário qualquer carácter maligno. O problema que coloca é de outra natureza. Ou seja: o de não ser possível viver apenas na continuada reiteração da memória, como se ela fosse a garantia principal de uma bênção, individual e colectiva, que por cândida magia nos vai colocando do lado do bem definitivo (a expressão é minha).
Recordando a sua experiência de repórter na guerra da Bósnia, "um conflito em larga medida alimentado pela memória (ou, mais exactamente, pela incapacidade de esquecer)", Rieff fala da lição que aprendeu, isto é, do "medo" que lhe desperta a "memória histórica colectiva". E acrescenta: "A memória pode fazer com que a história pareça apenas um arsenal recheado de armas para manter as guerras e enfraquecer a paz." Daí que o seu texto desemboque numa interrogação sobre a possibilidade de converter as energias gastas a lembrar. Como? Trabalhando para um modo de viver em que "a opção do esquecimento seja vista, pelo menos, como tão disponível como o dever de lembrar."

sexta-feira, setembro 16, 2011

Dez anos depois, pelas ruas de Nova Iorque (5)


Novamente pelas ruas de Nova Iorque, dez anos depois do dia que mudou a cidade e ficou inscrito na história do mundo em que vivemos. Olhares hoje ao cair da noite, os dois primeiros em volta de Herald Square, o terceiro alguns quarteirões acima, em Times Square.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Dez anos depois, pelas ruas de Nova Iorque (4)


Mais três olhares pelas ruas de Nova Iorque dez anos depois do dia em que o mundo dali não tirava os olhos. Hoje com janelas e reflexos entre as imagens.

quarta-feira, setembro 14, 2011

"Ground Zero": 10 anos de história

Tom Fox / The Dallas Morning News
11 de Setembro de 2011
O "Ground Zero", em Nova Iorque conta a história dos atentados de 11 de Setembro de 2001, mas também do tempo vivido com as ruínas – e para além das ruínas. "The Big Picture" (do jornal The Boston Globe) condensou essa história em 41 admiráveis fotografias.

Doug Kanter / AFP
11 de Setembro de 2001

Dez anos depois, pelas ruas de Nova Iorque (3)


Mais um conjunto de imagens captadas este ano em Nova Iorque, caminhando pelas ruas da cidade. Olhares pelos telhados dos edifícios ou por perto, os tão característicos reservatórios de água surgindo aqui e ali…

11 de Setembro - Outras perspectivas (2)

Fotos: Romeu Monteiro

E depois do conjunto de memórias na primeira pessoa que lemos no domingo, olhares sobre o 11 de Setembro vindos de outras latitudes. Hoje num ponto de vista que chega de Pittsburgh, nos EUA.
 

Romeu Monteiro
(Pittsburgh, EUA)

Cheguei há cerca de 3 semanas aos EUA e estou há duas em aulas na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, Pensilvânia. Não me tinha apercebido que iria passar o 10º aniversário do 11 de Setembro aqui até começar a ver mensagens nos autocarros de Pittsburgh que diziam "Never Forget 9-11-01" pelo menos desde o início de Setembro (os autocarros anunciam alternadamente nos sinais luminosos o nº e destino do autocarro assim como uma mensagem). Os atentados impressionaram-me bastante e sempre tive interesse neles. Creio que constituem o acontecimento internacional mais marcante nestes 22 anos da minha vida. Estando em Pittsburgh por esta altura é algo estranho ter tanta facilidade em chegar aos locais das celebrações do 11 de Setembro: existe um comboio directo de Pittsburgh para Nova Iorque, Washington D.C. fica a duas horas de carro e Shanksville (onde se despenhou o 4º avião, aquele que nunca chegou a atingir o alvo) fica a pouco mais de 120 kms. Cheguei a ponderar ir a Nova Iorque para assistir às cerimónias, para decidi não o fazer.

Nestes dias o aparato de segurança tem sido elevado e existe uma ameaça credível de terrorismo, segundo as fontes oficiais. Recomendaram-nos que estivéssemos mais alerta à medida que o fim-de-semana do 10º aniversário se aproximava, especialmente nas cidades de Nova Iorque e Washington. Como esta semana foram presos terroristas que estariam a confeccionar bombas e a preparar atentados tanto em Berlim (Alemanha) como em Gotemburgo (Suécia), temi que algo fosse acontecer também aqui nos EUA. No momento em que escrevo estas linhas estamos quase no fim do dia 11 de Setembro e nada aconteceu. Parece que estamos safos, mas não dá ainda para ter certezas...



Na Universidade onde estou a estudar realizou-se hoje uma cerimónia de comemoração do 10º aniversário dos atentados. Em todo o campus as bandeiras estavam a meia-haste. A cerimónia foi curta, cerca de 30 minutos. O coro de alunos, assim como uma banda, interpretaram algumas peças que foram intercaladas com pequenos discursos de alunos e as palavras do reitor. O clima era pesado, notava-se um grande silêncio do público em todos os momentos. O reitor da Universidade destacou o 10º aniversário como o momento em que a América deve reflectir sobre o que aconteceu e o que mudou nos últimos dez anos. Relembrou a união e o espírito de entreajuda da comunidade académica no 11 de Setembro e nos tempos que se seguiram. Também destacou a diversidade como algo que esta Universidade tem orgulho em acolher (a Carnegie Mellon tem um campus a funcionar no Médio Oriente, mais concretamente no Quatar, por exemplo) e das dificuldades que alguns alunos estrangeiros passaram a ter para conseguir vistos para os EUA, após a América se ter virado sobretudo para dentro, e fechado ao exterior.


Fomos levados em seguida ao memorial e à árvore plantada em Outubro de 2001 em memória dos sete ex-alunos que perderam a vida nos atentados, onde fizemos um minuto de silêncio. De seguida um grupo de militares retirou a bandeira dos EUA que estava a meia-haste e levou-a. O mastro principal da Universidade ficou sem bandeira e, enquanto lá estive, não voltou a ser colocada. Regressei à árvore e memorial aos sete ex-alunos para tirar uma foto. Para minha surpresa acabei por incluir na foto duas alunas muçulmanas que aproveitavam para observar o memorial de perto. É um simbolismo interessante. É a minha foto do 11 de Setembro de 2011.

terça-feira, setembro 13, 2011

Dez anos depois, pelas ruas de Nova Iorque (2)


Mais três olhares pelas ruas de Nova Iorque, dez anos depois do dia em que a cidade morou nos ecrãs de televisão do mundo inteiro.

11 de Setembro - Outras perspectivas (1)

Andrea Booher/ FEMA News Photo


E depois do conjunto de memórias na primeira pessoa que lemos no domingo, olhares sobre o 11 de Setembro vindos de outras latitudes. Hoje num ponto de vista que chega de Oslo, na Noruega.


Daniel Barradas 
(Oslo, Noruega) 

Eu nasci em 1973, nunca conheci a ditadura, cresci com todo o optimismo dos anos 80 e amadureci durante os prósperos anos 90. O século XXI inaugurava-se comigo a viver em Oslo, na Noruega e a trabalhar numa empresa multinacional de projectos de internet.
No dia 11 de Setembro de 2001 tinha um programa de chat ligado no computador e um amigo de Washington apareceu online e escreveu em maiusculas: LIGA A TELEVISÃO IMEDIATAMENTE! O PENTÁGANO ESTÀ A SER ATACADO!! Não era bem assim, mas não importa. Pela internet liguei à transmissão em directo da NRK, o canal nacional norueguês e vi as imagens que mudaram o mundo.
O dia foi passado em incertezas. Era uma nova guerra? A embaixada dos EUA era a 100 metros do meu escritório. Ficou imediatamente rodeada de Polícia. Nas semanas seguintes havia mares de flores à sua volta e até hoje, 11 anos depois continua a ter um contentor em frente que serve para vigia policial norueguesa adicional à da embaixada. Depois do choque, da incompreensão, veio aquela espécie de alívio: eu não conhecia nenhuma das vitimas ou dos seus familiares. Eu nunca estive em Nova Iorque. Eu vivia num dos países mais calmos do mundo. Nada daquilo me iria afectar directamente.
Uns meses depois, eu perdia o meu emprego. A empresa para a qual trabalhava foi à falencia com o rebentar da bolha dot com. A economia mundial estremecia. Mas parecia só um soluço. Dez anos depois, a 26 de Agosto de 2011, Anders Breivik faz rebentar uma bomba junto à sede do governo da Noruega. A 300 metros da minha casa. Por mero acaso, nesse dia estou de férias em Londres e sigo as notícias com o mesmo espanto surrealista de há 10 anos atrás. Quando regresso a Oslo, no meu caminho diário para o supermercado volto a passar por um mar de flores em memória das vitimas. Foi um acto de terrorismo praticado pelo outro extremo ideológico que levou ao 11 de Setembro, e a todas as outras datas que se seguiram pelo mundo fora (Espanha, Reino Unido, India, etc…), mas é difícil perceber as diferenças.
Dez anos depois o mundo está em crise. Não só económica, mas de valores. Matou-se Saddam Hussein, matou-se Bin Laden, mas nós ainda cá estamos, a lidar com as consequências do dia 11 de Setembro. E as esquecer-nos sempre que esse dia é consequência de outras coisas.

segunda-feira, setembro 12, 2011

"Eu" e o 11 de Setembro

2001: Odisseia no Espaço (1968)
A. Penso, logo existo – a máxima do racionalismo cartesiano garante-nos uma tentadora ilusão de plenitude. É bem verdade que, entre finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, Marx e Freud se encarregaram de expor o impensado dessa mesma frágil plenitude: o primeiro, mostrando-nos que não sabemos o que a economia faz do nosso trabalho; o segundo, lembrando-nos que o sexo que vivemos não é o mesmo que tentamos ordenar nas nossas parcas palavras. Ainda assim, alimentados agora pela cultura paroquial da “transparência” televisiva, insistimos em acreditar (ou fingir acreditar...) que pensamos, dizemos o que pensamos e existimos sempre num mesmo plano de equilibrada nitidez. Já nem sequer aplicamos a noção de social, a não ser para nos garantirmos que estamos "em rede", isto é, que inventámos a arte funesta de socializarmos através de gráficos pueris de “gosto/não gosto”, dispensando o vírus ancestral do tacto e o enigma salivado dos beijos.

B. Resumindo, porventura um pouco à maneira dos telejornais: damos um salto trágico até ao dia 11 de Setembro de 2011 e deparamos com a magia errática das imagens: se aquilo está a acontecer, como posso ainda dizer “eu”? Sou um sujeito (talvez um objecto) que se confunde com o silêncio, televisivo e irrecuperável, das vítimas? Ou será que ainda consigo encontrar alguma réstea de identidade na nitidez das próprias imagens e na felicidade zombie da sua infinita repetição?

C. No ano de 1968, Stanley Kubrick fez um filme sobre o ano 2001, precisamente. Se nele havia algo de genialmente premonitório, não era tanto no jogo da “antecipação” factual ou científica, mas sim na metódica rarefacção do humano. David, o astronauta que desafiava o “Golias” computador (Hal, de seu nome), descobria que dizer “eu” à própria máquina era o princípio de um glorioso equívoco que desembocava no paciente desmantelar das suas entranhas informáticas (da máquina, entenda-se...). Depois, a perdição de David numa solidão literalmente galáctica conduzia-o a um espaço, virtual, hélas!, em que todas as referências temporais se tocavam, confundiam e, de algum modo, anulavam. Na sua agonia mecânica, à beira da extinção material, mas não conceptual, o computador perguntava-lhe: “What are you doing, Dave?” Era uma voz suave, sem grão, posterior a qualquer êxtase, afinal completamente do lado da morte.

Dez anos depois, pelas ruas de Nova Iorque (1)


Dez anos depois do 11 de Setembro de 2001, olhamos esta semana imagens captadas este ano pelas ruas de Nova Iorque. Começamos hoje passando por cruzamentos em Manhattan, olhando para os letreiros.

domingo, setembro 11, 2011

11 de Setembro - perspectivas (7)

Andrea Booher/ FEMA News Photo

Perspectivas sobre um dia que ninguém esqueceu para ler ao longo deste dia 11 de Setembro de 2011 no Sound + Vision. Dez anos depois recordamos, a várias vozes, memórias contadas na primeira pessoa... Aqui ficam mais três olhares, assinados por Eurico de Barros, João Rui Guerra da Mata e Miguel Simões.


Eurico de Barros 
(jornalista do DN)

Tinha chegado do Festival de Veneza e regressado à redacção do DN depois das folgas. Depois do embate do segundo avião na torre do WTC, só me veio à cabeça um pensamento: "É um atentado terrorista". Disse-o ao Nuno Galopim, que estava ao pé de mim na redacção, a ver as imagens na televisão. Nunca pensei que o mundo fosse mudar tanto depois desse dia. E também, por outro lado, tão pouco. Faz sentido?


João Rui Guerra da Mata 
(realizador) 

11 de Setembro de 2001, hora do almoço. Tinha acabado de acordar. Fiz uma torrada e um copo de sumo de laranja. Acendi a televisão e sintonizei a CNN, como faço habitualmente. A primeira torre do WTC tinha sido atingida. Fiquei a olhar para as imagens, perplexo, sem reacção. Minutos depois um segundo avião atingiu a outra torre. Chamei o João Pedro. Confirma-se que é um atentado. Fui mudando de canais na televisão. Sentados no sofá assistiamos ao horror em directo. Não conseguiamos falar.


Miguel Simões 
(autor do blogue Anita vai ao Mel

De tudo o que podia ter dito à minha mãe naquela tarde em Benfica, “os Estados Unidos foram atacados” foi a única coisa que saiu, antes de seguir caminho. Percebo hoje o coloquialismo e fuga – um ateu filho de pastor evangélico evita tudo aquilo que lhe sugira verdade no Apocalipse – e o período de negação estendeu-se por vários anos, negação fertilizada pela constante repetição das imagens que todos vimos, aqueles redundantes auxiliares de memória que acabam por sanear o sentimento pela sua própria desapropriação. Felizmente multiplicaram-se (e maturaram-se) as teorias da conspiração. Como apreciador de boa ficção, foi necessária a introdução de novos vilões no segundo acto para me fazer querer enfrentar os fantasmas e, apesar da recusa apenas ter sido substituída pela raiva e descrédito de tudo o que é oficial, serviu-me para criar uma visão mais crítica e ponderada sobre aquilo que os media nos servem ao jantar, consciência essencial para entender o mundo de hoje mas que por qualquer motivo não faz parte do curriculum basilar da educação. John Stewart e o seu Daily Show, com a sua atitude de questionar a conduta dos vários braços do Poder sem abandonar um ponto de vista “terra-a-terra”, foi essencial para a minha catarse, como um bálsamo aglutinador do conforto da ponderação e do caos da desconfiança. Finalmente existia em mim a paz para pensar a tragédia, quase seis anos depois, quase dez anos depois das imagens de gente a saltar para a morte se terem tornado apenas detalhes. O resto é política...

Três episódios de ficção anteriores a 2001

Não serão exactamente premonições. Mas a verdade é que, antes mesmo da realidade, a ficção já havia imaginado ataques ao World Trade Center. Ninguém certamente imaginaria que semelhante ideia pudesse um dia ser verdade. Muito menos da forma como aconteceu. Graças a um post publicado aqui, apresentamos uma breve galeria de imagens que, antes de 2001, “imaginaram” uma catástrofe com algumas características comuns.
Dark Roasted Blend

A primeira imagem mostra uma prancha da BD humorística espanhola Mortadelo y Filemon. A imagem data de 1993.


El Predicador Malvado

Esta segunda imagem é assinada por Pepe Moreno. Trata-se de um instante de Rebel, de 1984, história que envolve um grupo que ataca e destrói uma das torres do World Trade Center.


Dark Rosted Blend

A terceira imagem é de uma revista de ficção científica: a Year's Best Science Fiction #2, ed. por Gardner Dozois. O desenho é assinado por Thomas Kidd.

11 de Setembro - perspectivas (6)

Andrea Booher/ FEMA News Photo

Perspectivas sobre um dia que ninguém esqueceu para ler ao longo deste dia 11 de Setembro de 2011 no Sound + Vision. Dez anos depois recordamos, a várias vozes, memórias contadas na primeira pessoa... Aqui ficam mais três olhares, assinados por João Moço, Tiago Pereira e Mónica Jardim.



João Moço 
(jornalista do DN)

Por alguma razão que a memória tratou de apagar, nessa terça-feira de manhã não estava na escola. Provavelmente as aulas ainda não tinham começado, mas é difícil de recordar com exactidão o porquê de estar àquela hora em casa, quando isso era raro noutros dias. Na sala a minha mãe passava a roupa a ferro à frente da televisão e eu acabava de sair da cama quando de repente o primeiro avião embate numa das Torres Gémeas. Era ainda demasiado miúdo para absorver o que se estava a passar, mas fiquei perplexo quando um novo avião embate na segunda torre e em segundos as duas desaparecem. Provavelmente não percebi rigorosamente nada das implicações sociais que aquele ataque teria, mas lembro-me na perfeição da revolta que senti, de pensar que nenhuma daquelas pessoas tinha feito algo nas suas vidas para merecerem um fim tão aterrador. Mandei sms a uma amiga, barafustando de raiva. Pouco depois passou, porque independentemente da nossa vontade, tudo muda.


Tiago Pereira 
(jornalista do i e autor do blogue Independanças

Em 2001 já não havia segredos na relação entre a realidade televisiva e a ficção mediatizada. A 12 de Setembro do mesmo ano, tínhamos a certeza de que nunca seríamos confundidos, nunca iríamos dizer “isto parece” quando algo, de facto, era. Até que o noticiário da hora de almoço – acontecimento quase todo noticioso, dada a fraca exigência dos anunciantes – mostrava o símbolo pop de Nova Iorque transformado no ícone da transformação que o novo século preparava. Estava mesmo a acontecer. Não estava nada. “Está mesmo”, ouvia-se do lado de lá do sofá, rabo chegado à frente, antebraços nos joelhos, queixo semi-caído. José Rodrigues dos Santos – ou isto já é a memória a ceder ao facilitismo do jornalismo entre armas, explosões e seus derivados – sem saber o que dizer. E do lado de cá, apesar de todas as evidências, um vasculhar intenso de capítulos cinematográficos armazenados algures. Nada, nenhuma cena batia certo. Era tudo uma grande novidade, a dobrar, quando no outro monte de aço se fazia lume do bravo. E já está, é o que é, não há volta a dar, e ainda cai, e as vítimas, e os bombeiros, e os comentários, e o presidente, e os presidentes. A esta altura já é noite mas ninguém deu por nada. A boa vida que o quotidiano sem horários oferece – pensávamos nós, na altura, que estudos e afins são coisas duras, sacrifício, coitados de nós, os pequenos – permitiu estar em toda a parte. Longe o tanas, estivemos lá todos, a sério, estivemos, só pode. Dez anos depois, é um domingo, o feriado virou pop negro, tão inevitável como dispensável. E promete repetir-se o cerimonial. Antebraços nos joelhos, queixo semi-caído. Isto aconteceu mesmo.


Mónica Jardim 
(promotora discográfica)

A primeira vez que fui a NY foi em Setembro de 2000. Pode uma cidade ter um lado mecânico, funcional e humano ao mesmo tempo? A cidade que nunca dorme, onde as estrelas não se vêem no céu mas nas ruas e os sonhos por todo o lado. Tudo é ampliado, magnificado, vivido ou apenas sentado ao lado. Aqui e agora. "Gosto do teu casaco", "E eu do teu lenço", "de onde és?", "e tu?". Um ano depois, são duas da tarde. Estou a sair dum curso liga-me a minha melhor amiga. super aflita "Não imaginas. Um avião foi contra uma das torres gémeas.... acidente, erro de aviação, aconteceu alguma coisa com o piloto? .. diz-me que nem deu bem tempo para digerir, outro avião na segunda torre. Ao longo desta conversa estava já dentro do autocarro no Rossio... eu na baixa da minha cidade. A Sara não faz piadas de mau gosto. Já no escritório, planta-mo-nos à frente de Televisão. Não tenho memória das várias coisas que me passaram pela cabeça.acho que deve ter sido do choque, choque puro. Tudo foi um momento de embate. Quando se dá a queda da primeira torre, escorreram-me as lagrimas. Do que é que estamos a falar? De onde é que isto veio? Verdade seja dita, é cruelmente bem planeado. Os maiores simbolos da cidade, que quase encontram no céu, suas altezas ao chão. As pessoas, o fumo, há pessoas que estão a saltar (!). E isto alguém consegue acompanhar? Tudo Isto a passar pelos nossos olhos na tv . E sem TV quantas vezes já terá acontecido?

O 11 de Setembro em três documentários


Eram uma das bandas mais queridas da américa mainstream. Texanas, figuras de proa de uma nova geração de estrelas da country, com presença regular nas cerimónias de atribuição de prémios. Até ao dia em que um dos seus elementos criticou publicamente George W Bush... E o mundo conservador caiu-lhes em cima... Dixie Chicks: Shut Up and Sing, filme de 2006 assinado por Barbara Kople e Cecilia Peck acompanha a banda na ressaca das suas palavras contra a intervenção militar no Iraque, num tempo em que chegaram mesmo a sofrer, além de insultos, ameaças. Mais mediatizado foi Farenheit 9/11, documentário de Michael Moore sobre a presidência de George W Bush (com foco sobre a guerra ao terror). O filme venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2004. Beyond Belief é um olhar sobre duas mulheres que perderam os respectivos maridos no 11 de Setembro. Realizado por Beth Murphy, este documentário de 2007 segue-as em campanhas humanitárias de apoio a vitimas de guerra no Afeganistão.

A IMAGEM (*): Damon Winter, 11 Setembro 2011

DAMON WINTER / The New York Times
Nova Iorque, 11 Setembro 2011

* Fonte norte do memorial do World Trade Center: pouco antes das cerimónias oficiais, um trabalhador limpa a placa de bronze com os nomes das vítimas.