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domingo, dezembro 04, 2011

Oprah: como lidar com a violência?

A violência é uma espécie de palavra mágica da televisão: a sua simples enunciação suscita os mais diversos discursos, entre a mais salutar pedagogia e o mais obsceno populismo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 de Dezembro), com o título 'Dar a ver a violência'.

Por que é que o facto de algumas dezenas de espectadores destruírem outras tantas cadeiras num estádio de futebol é, nas notícias televisivas, um assunto prioritário? Por que é que a acção desses espectadores é mais importante do que, por exemplo, a estreia do mais recente filme de David Cronenberg (Um Método Perigoso), sobre as origens da psicanálise?
Será que a questão não se coloca? Provavelmente não. Mas importa perguntar quem não a coloca. E quem não a coloca são as próprias televisões (o exemplo de Cronenberg é apenas um entre os muitos que são ignorados). Que é como quem diz: as notícias não são uma emanação “natural” da realidade. Bem pelo contrário: todas as notícias nascem de uma escolha. Dar evidência aos desacatos num campo de futebol é uma escolha. Silenciar a estreia de um filme de um dos maiores artistas contemporâneos é uma escolha.
Recentemente, tivemos um exemplo admirável do sentido de uma escolha e das responsabilidades que ela envolve. Foi numa edição do programa de Oprah Winfrey (SIC Mulher), dedicado ao tema “raça”. Na retrospectiva dos 25 anos do seu show, Oprah evocou o lendário discurso de Martin Luther King “I have a dream” (proferido a 28 de Agosto de 1963) e, sobretudo, o modo como no seu trabalho abordou as relações entre brancos e negros. Foram momentos tanto mais didácticos, e profundamente comoventes, quanto pelo seu programa têm passado testemunhos admiráveis sobre o racismo nos EUA e também as muitas formas de resistência a todas as suas violentas expressões.
É preciso falar de violência. Sem dúvida. Mas não através dessa lógica gratuita que mostra uma bancada chamuscada de um estádio para nos deixar, indefesos, com a noção determinista de que já passámos para além do apocalipse social.
Oprah fala da violência racista, violência das palavras e violência dos actos, nunca esquecendo que se trata de lidar com uma teia imensa de factores que não podem ser reduzidos a maniqueísmos moralistas. Nada a ver com o gratuito informativo que monta um aparato sensacionalista cada vez que há imagens violentas para passar. Aliás, as imagens nunca são apenas aquilo que mostram. São também o modo como são mostradas.

sábado, janeiro 01, 2011

A nova televisão de Oprah Winfrey


A partir de 1 de Janeiro de 2011, Oprah Winfrey passa a ser também o nome de um canal de televisão — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 de Dezembro), com o título 'A pedagogia de Oprah'.

Criado em 1986, The Oprah Winfrey Show (transmitido em Portugal pela SIC Mulher) tem o seu fim anunciado para Setembro de 2011. Terminará, assim, um dos mais duradouros talk-shows da televisão americana, com quase cinco mil edições. Mas não é um final de abandono ou esgotamento, muito menos de reforma. Na verdade, Oprah vai liderar um novo e ambicioso projecto de televisão, designado pela sigla OWN (Oprah Winfrey Network): a sua abertura oficial está marcada para amanhã, dia 1 de Janeiro, quando for meio-dia na costa ocidental dos EUA.
Resultante de uma aliança entre a Harpo Productions (de Oprah) e a Discovery Communications (proprietária dos canais Discovery), a OWN apresenta-se como muito mais do que um mero desenvolvimento de The Oprah Winfrey Show: será um canal a tempo inteiro [video: spot promocional] que, para além da presença emblemática de Oprah, vai contar com uma programação extremamente ambiciosa, em grande parte alicerçada em personalidades convidadas, incluindo Ryan O’Neal e a sua filha, Tatum, a comediante Rosie O’Donnell, e Sarah Ferguson, duquesa de York. Na edição com data de Janeiro da sua revista, O – The Oprah Magazine, Oprah apresenta as linhas gerais do novo canal, ao mesmo tempo que refere a sua crescente resistência à "televisão do lixo” (trash TV) como uma motivação central para a espectacular reconversão que se propõe protagonizar.
Podemos, como é óbvio, resistir a alguns pressupostos do estilo de Oprah. Podemos também discutir o modo como, por vezes, os efeitos de “personalização” do seu programa simplificam alguns dos temas abordados. Em todo o caso, a sua pedagogia humanista confere-lhe uma energia simbólica que importa valorizar. Ao referir que, nos últimos anos, sentiu com crescente frequência que “a televisão perdeu a cabeça”, Oprah coloca-se na posição de quem aceita lidar com as leis e, sobretudo, as responsabilidades de estabelecer uma relação com o espectador. E não será preciso grande poder de adivinhação para reconhecer, desde já, que a OWN constituirá um salutar desafio a muitas formas de fazer e pensar a televisão do futuro.