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terça-feira, dezembro 16, 2014

As canções de 2014:
Owen Pallett, Song for Five and Six



Entrados na reta final do ano começamos hoje a revisitar alguns dos momentos que fizeram a história destes doze meses. Entre as grandes canções que ajudaram a escrever a banda sonora de 2014 conta-se este Song For Five and Six, de Owen Pallett, tema incluído no álbum que lançou este ano. Fica aqui a canção. E as imagens do teledisco que a acompanhou.

terça-feira, julho 29, 2014

Meio ano pop/rock arrumado em duas listas

Aos seis meses vividos de 2014 fazem-se contas aos discos. E esta semana, nos Discos Voadores, apresentei listas de dez álbuns e dez canções (departamento pop/rock e periferias) que juntam o que de melhor escutei por aí. Aqui ficam, agora devidamente arrumadas.

10 ÁLBUNS

1 Beck – Morning Phase
2 St Vincent – St Vincent
3 Owen Pallett – In Conflict
4 Neneh Cherry – Blank Project
5 Damon Albarn – Everyday Robots
6 Brian Eno + Karl Hyde – Someday World
7 The Notwist – Close To The Glass
8 Dean Wareham – Dean Wareham
9 Tori Amos – Unrepentant Geraldines
10 Teleman – Breakfast

10 CANÇÕES

1 St Vincent – Prince Johnny
2 Owen Pallett – Fong For Five & Six
3 Teleman – Steam Train Girl
4 Beck Wave
5 Alexis Turner – Closer To The Elderly
6 Fujyia & Myiagi – Flaws
7 CEO – Wonderland
8 Trust – Are We Arc?
9 Dean Wareham – The Dancer Disappears
10 Angel Olsen – Hi-Five


E UMA CANÇÃO PARA O VERÃO...
Silva (ft. Fernanda Takai) – Okinawa

sexta-feira, julho 25, 2014

Três meses, três discos (singles)


Muitos singles ganharam vida no segundo trimestre de 2014. A escolher três as opções apontam assim ao magnífico Song For Five & Six, de Owen Pallett, que se apresentou há algumas semanas como cartão de visita para a chegada do álbum In Conflict. As escolhas do que de melhor ouvimos em formato de single neste trimestre passam ainda por Flaws, também um aperitivo, mas para o novo álbum dos Fujyia & Myiagi. E ainda por Cristina, a canção que anunciou a 45 rotações a chegada do álbum de estreia dos Teleman.

Além de muitos outros singles de muitos outros álbuns, vale a pena assinalar ainda, entre a produção extra-álbum deste trimestre a chegada de um EP cantado em italiano por Rósin Murphy, o flirt retro de Herbert em Part 6 e ainda um EP de remisturas dos suecos The Knife.

segunda-feira, julho 21, 2014

Três meses, três discos (pop/rock)


Depois da relativa dieta que vivemos nos três primeiros meses de 2014, o segundo trimestre do ano foi farto em grandes edições discográficas. E a ter de destacar três, apontaria desde logo In Conflict, álbum de Owen Pallett no qual o músico canadiano alarga horizontes e integra as eletrónicas concebendo um disco que representa o seu melhor momento até à data. Depois teremos de passar pelo belíssimo World Peace Is None Of Your Business, o primeiro álbum de inéditos que Morrissey grava depois de editada a autobriografia (lançada internacionalmente em 2013 e com edição local prevista para o fim do ano). E ainda Someday World, magnífico exemplo de domínio sobre a canção pop por Brian Eno, devidamente acompanhado por Karl Hyde, dos Underworld.

A lista dos bons discos da colheita pop/rock internacional deste trimestre não pode contudo deixar de referir o álbum ao vivo dos LCD Soundystem (apenas disponível em lançamento digital e em vinil) e os novos discos de nomes como os de Tori Amos, Eels, Fujyia & Myiagi, Silva ou os Teleman.

terça-feira, junho 24, 2014

Para ouvir: remisturas para Owen Pallett




Single extraído do mais recente álbum de Owen Pallett, Song For Five and Six para ouvir agora numa série de remisturas.

quinta-feira, maio 29, 2014

Novas edições:
Owen Pallett, In Conflict


Owen Pallett

“In Conflict”
Domino Records
5 / 5

No meio de um panorama onde tanta música surge de todos os ângulos possíveis, com uma esmagadora maioria de autores de canções a fazer pouco mais que reutilizar modelos, acolher (e eventualmente assimilar) heranças ou mesmo decalcar fórmulas, são raros os casos em que uma voz se destaca pela firme expressão de uma identidade diferente. Sem querer fazer contas a quantos entre os “diferentes” por aí fazem discos no nosso tempo, a verdade é que em Owen Pallett podemos encontrar um deles. Descobrimo-lo há quase dez anos, quando gravava discos sob a designação Final Fantasy e colaborava regularmente com os Arcade Fire ou Hidden Cameras, todos eles seus compatriotas (canadianos). A edição dos álbuns Has A Good Home (2005) e, sobretudo o magnífico He Poos Clouds (2006) colocaram-no no mapa dos cantautores do novo século, desde cedo ficando claro que a sua “voz” procurava um caminho particular, que tinha na sua relação com o violino (como instrumento principal) e na criação de loops as suas ferramentas primordiais. Em 2010 passou a gravar com o seu nome, numa altura em que os seus serviços como arranjador de cordas começaram a ser solicitados por tantos como, entre outros, os Pet Shop Boys, Duran Duran, Last Shadow Puppets ou The National. Este ano ouvimo-lo no cinema quando, ao lado de Win Butler, assinou a banda sonora de Her, de Spike Jonze (que lhe valeu inclusivamente uma nomeação para o Oscar de Melhor Banda Sonora). Agora, e ao mesmo tempo que apresenta um single com Daphni (na verdade um dos alter-egos do mesmo músico que muitas vezes conhecemos como Caribou) regressa aos discos em nome próprio. E em In Conflict apresenta uma belíssima coleção de canções nas quais, ao juntar uma mais expressiva carga instrumental (electrónicas, baixo e bateria) encontra um patamar quase pop. A sua forma de compor (que deve muito a um modo de entender uma construção de elementos por camadas de acontecimentos) e uma relação segura com a voz conhecem aqui um espaço de maior luminosidade e fulgor rítmico, de que podemos tomar como paradigma em Song For Five and Six, que serviu de single de antecipação. Longe de repetir os caminhos desta canção, o alinhamento segue contudo a vontade de explorar as potencialidades dos recursos e mostra como, depois de em 2006 ter concebido em He Poos Clouds um conjunto de composições que podíamos juntar como nos ciclos dos tempos de Schumann e Schubert, agora em Owen Pallett encontramos uma voz capaz de encontrar as sensações da pop numa música que em nada segue tendências, denominadores comuns ou lógicas que não as que o músico decide executar (e que não deixa de lado um saber cenográfico que, dos espaços ambient à sugestão de música orquestral, refletem a solidez do labor do arranjador que, desta vez, trabalhou para si). Monumento pela reinvenção da canção, In Conflict será certamente um dos discos de canções de sabor mais apurado que vamos escutar este ano.

quarta-feira, maio 28, 2014

Um brinde por uma noite no Lux

O canadiano Owen Pallett regressou ontem a palcos portugueses para assinalar, com um concerto no Lux, o dia do lançamento de um novo álbum de temas originais.

Publiquei já na edição online do DN um texto sobre este concerto onde se pode ler:

"De cálice de champagne na mão, e já a caminho do final da noite, Owen Pallett brindava aos que compareceram na noite de ontem no Lux (Lisboa), para um concerto que assinalou o dia do lançamento do seu novo álbum de estúdio. "Hey, feliz dia de lançamento para mim", disse, bebendo de um trago, sorrindo e acrescentando, logo depois, que estava feliz por poder assinalar a data da edição do novo In Conflict em Lisboa, sem que faltassem depois os elogios à plateia. Não eram muitos os que ali estavam, os suficientes contudo para fazer da sala inferior do clube lisboeta um espaço devidamente "composto". Certo sendo que os que ali estiveram constataram uma vez mais não só quão única é a linguagem (e a sua expressão performativa) de Owen Pallett como o músico canadiano (que nos últimos anos tem trabalhado mais como arranjador de cordas e autor de bandas sonoras para cinema) é um dos cantautores do nosso tempo que leva mais adiante a ideia de pensar novas formas de abordar (formal e instrumentalmente) a canção.

Podem ler aqui o texto completo.

terça-feira, maio 27, 2014

Owen Pallett está hoje em Lisboa

O músico canadiano atua hoje no Lux, pelas 22.00, onde irá apresentar canções do álbum In Conflict, que acaba de editar.

A propósito do regresso publico hoje no DN uma entrevista com o músico, na qual se fala, entre outros assuntos, dos seus vários trabalhos (recentes) como arranjador de cordas e como autor de música para cinema. Ali se diz, a dada altura:

Dos trabalhos de colaboração como arranjador não levou "absolutamente nada" para a sua música. São, como explica, trabalhos para "fazer dinheiro", que envolvem naturalmente algum gozo e também "alimentam o ego" porque há sempre quem lhe diga que é "um génio". E confessa: "Gostava de fazer dinheiro com a minha música tal e qual faço com os arranjos de cordas!"

Podem  ler aqui o texto.

segunda-feira, maio 12, 2014

Ver + ouvir:
Owen Pallett, Song For Five & Six



Com um novo álbum de estúdio a caminho, Owen Pallett será claramente um dos nomes a seguir com mais atenção em 2014. Este é para já o primeiro single retirado do alinhamento do seu novo álbum.

terça-feira, abril 15, 2014

Para ouvir:
Owen Palett + Daphni, Julia



Owen Pallett e Daphni (ou sejak, Dan Snaith dos projetos Caribou e Manitoba) uniram esforços num single editado a meias. Este é um dos temas que ali podemos ouvir.

terça-feira, março 11, 2014

Ver + ouvir:
Owen Pallett, The Riverbed



Mais um exemplo do que nos espera no disco de regresso de Owen Pallett. Tal como no tema que aqui apresentámos há poucos dias, este também conta com a colaboração de Brian Eno. O teledisco foi assinado por Eva Michon.

sexta-feira, março 07, 2014

Ver + ouvir:
Owen Pallett, On a Path



Nos últimos tempos ouvimos mais notícias de Owen Pallett vindas do mundo do cinema ou de discos de outros nomes. Em 2014 ele regressa aos seus discos, com um álbum a editar em maio. Este é um dos dois novos temas, e conta com a colaboração de Brian Eno.

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Óscares 2014: as escolhas na música (N.G.)

Em contagem decrescente para a noite de entrega dos Óscares vamos lançando olhares e ideias sobre os nomeados. Hoje apresento escolhas pessoais nos campos da música... 

É verdade que costumo dizer que a Academia é dura de ouvido. E são raras as vezes em que chegam à lista das nomeadas as melhores bandas sonoras e canções criadas no ano anterior ao serviço do cinema... Veja-se o caso deste ano: onde estão as bandas sonoras originais que Max Richter e Hanan Townshend assinaram respetivamente para Lore de Cate Shortland ou A Essência do Amor, de Terrence Malick? Foram as duas melhores bandas sonoras de 2013 e, na hora de escolher nomeadas, nicles...

Entre os nomeados para este ano estão contudo as importantes contribuições musicais para Her – Uma História de Amor, de Spike Jonze. O score instrumental é uma criação conjunta de Win Butler (dos Arcade Fire) com Owen Pallett e contou com os próprios Arcade Fire como instrumentistas (citando até alguns momentos do mais recente Reflektor). Spike Jonze (que tem mais extensa obra nos telediscos que no cinema) esta representou assim mais uma colaboração com os Arcade Fire, com os quais tinha já trabalhado em The Suburbs e, mais recentemente, em Afterlife. Para os músicos esta foi uma primeira (e bem sucedida) experiência no cinema (até mesmo para Owen Pallett, que tem assinado arranjos de cordas para inúmeros discos e contava já com trabalhos em algumas curtas e títulos de menor visibilidade e aqui tem a sua primeira produção de grande escala).

Win e Owen têm como mais forte concorrente a música que Steven Price criou para Gravidade que, contudo, representa um dos piores ingredientes do belíssimo filme de Alfonso Cuarón. Os experientes John Williams, Alexandre Desplat e Thomas Newman estão também nomeados, mas com trabalhos menos interessantes que outros que outrora nos mostraram já.

Na categoria de Melhor Canção Original destaca-se também Her, desta vez com The Moon Song, da autoria de Karen O e do próprio Spike Jonze, que a vocalista dos Yeah Yeah Yeahs canta em dueto com Ezra Koenig, dos Vampire Weekend.

Melhor Banda Sonora Original – Win Butler e Owen Pallett em 'Her – Uma História de Amor'
Melhor Canção – 'The Moon Song', de Karen O e Spike Jonze em 'Her – Uma História de Amor'

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Nos bastidores da música de 'Her'

É a mais interessante das bandas sonoras nomeadas para o respetivo Óscar. A música criada por Owen Pallett e pelos Arcade Fire é mesmo um dos argumentos maiores de Her, o mais recente filme de Spike Jonze. Aqui fica um breve olhar de bastidores sobre a gravação da música.

Podem ver aqui o vídeo.

domingo, dezembro 04, 2011

Entrevistas de arquivo:
Owen Pallett (2006)


Em 2006 o músico canadiano Owen Pallett dava uma entrevista ao DN por ocasião da apresentação do segundo álbum do seu projecto Final Fantasy. Este texto foi originalmente publicado na revista 6ª, com o título “Confissões de uma máscara”.

Owen Palett é um dos mais contagiantes conversadores entre a nova geração de músicos. Música, livros, jogos de vídeo, cinema, o real e a fantasia, as paixões e os medos, habitam as suas palavras, que nos agarram e convencem. Canadiano, com vida até aqui feita pública por colaborações nos Arcade Fire ou Hidden Cameras, e por um promissor álbum de estreia editado no ano passado, acaba de editar o álbum com o qual vai fazer a diferença e inscrever, obrigatoriamente, o seu nome entre os feitos maiores de 2006. He Poos Clouds é um arrebatador depoimento na primeira pessoa por um músico dividido entre as mecânicas da pop e uma escola (que cada vez mais o atrai) na música erudita.

Este é um disco completamente diferente do que nos apresentou há um ano. O que aconteceu?
Sim, o disco é diferente, mas na essência a escrita de canções soa exactamente ao mesmo, mas é verdade que o gravámos de uma forma diferente.

Vê o disco como um ciclo de canções?
Creio que o posso dizer, sim. Vejo-o um pouco como os ciclos de canções antigos, como os de um Schubert ou Schumann. Tirei, inclusivamente, alguma inspiração do Dichterliebe de Schumann. No final desse ciclo ele apresentou uma canção na qual fala de todas as canções de amor sobre as quais escreveu e de como as vai juntar num mesmo caixão e depositar no fundo do oceano. Gosto dessa ideia. É o tipo de ideias que, mais habitualmente, encontramos em livros. Quando se escreve um livro de ficção como se tratasse de uma colecção de memórias, as personagens por vezes chegam àquele ponto da história no qual descobrem o que já se escreveu sobre elas, reflectindo sobre essas ideias e, eventualmente, mudando depois o curso dos acontecimentos. Essa é também uma ideia que me agrada. Uma ideia de interactividade entre as personagens e o tema central da sua história.

Gosta de criar personagens. As canções deste novo álbum estão cheias delas. Onde busca a inspiração para criar estas figuras?
Leio muito, mas creio que com este disco procurei ser mais explícito sobre quem são estas personagens, e sobre que ideias podemos reflectir com elas. São, de certa maneira, extensões de mim mesmo ou de pessoas que conheço. Na verdade, confesso que não quero mesmo escrever sobre ninguém que não eu mesmo…

É mais fácil escrever sobre nós mesmos através de personagens ficcionais?
Sim, porque é uma forma de fazer um discurso autobiográfico sem implicações concretas.

Em I’m Afraid of Japan, contudo, fala concretamente sobre Mishima…
É um dos meus autores de referência, de alguma forma, porque lhe dediquei algum tempo a dada altura. Mas tenho uma relação muito estranha com ele porque admiro muito a sua prosa, mas não gosto da sua política. Ao mesmo tempo sinto que a sua maneira de ver o mundo representa um momento de viragem na cultura gay contemporânea, com a qual também tenho uma relação de amor/ódio. Com Mishima tenho, além dessa relação de amor e ódio, uma vontade de o homenagear, mas também de o gozar.

Ainda há meses Rufus Wainwright dizia-se também sob uma relação de cepticismo com a cultura gay actual. Porque será?
Há muitas armadilhas nas quais podemos cair frequentemente. E dou por mim a cair nelas muitas vezes. São as armadilhas do melodrama, da tragédia. Tem a ver com a forma como se aborda as questões. E há outra realidade que me preocupa, mas que transcende a cultura gay, que é o suicídio. Tenho sentimentos muito fortes em redor desses domínios…

O suicídio assusta-o? Atrai-o?
É mais um fascínio pela morte, e pela relação entre a morte e a arte, a ideia do artista de vida tortuosa que muitas vezes pode ver a sua vida mergulhada em depressões como consequência da arte que está a criar. Essa é uma armadilha que quero evitar. E quando canto sobre este tipo de assuntos, quase parece que brinco com as ideias. Mas tenho de admitir que estas são ideias com enorme poder de atracção. Sobretudo a noção do artista que se auto-sacrifica.

É um espírito depressivo?
Por vezes, sim. Mas tento manter isso o mais longe possível da minha música.

O suicídio de Mishima é um dos factores que o atrai ou repele, nessa sua relação de amor e ódio com o escritor?
Desacordo completamente com ele. A canção fala na sua relação com a religião. Ele teve uma relação intermitente com o Budismo. Na tetralogia O Mar da Fertilidade ele redigiu um ciclo essencialmente centrado no budismo. Mas no último volume, que completou antes de morrer, refuta todas as ideias que tinha escrito no livro ao dizer que a personagem que reencarnava a dada altura no ciclo não era real, mas sim apenas a projecção da imaginação de uma outra personagem. Ou seja, nunca existiu… Como quem parece voltar as costas a tudo o que tinha até então escrito nesse épico. Mas no dia em que terminou o livro e o enviou ao editor, cometeu suicídio segundo um ritual tradicional. Ou seja, ele estava a passar um mau bocado a tentar saber se acreditava ou não. Mas ao mesmo tempo era como se não tivesse à sua frente uma outra fé possível. Isso interessa-me.

O disco cruza, depois, esse tipo de referências literárias com o universo dos jogos de computador!
Sim, com o Dungeons And Dragons. Porque implica também uma espécie de crença, de resto comum a toda a literatura de fantasia. Implica um sistema de crença, que não traduz uma fé explícita no real, claro. Mesmo assim as pessoas mantêm uma relação fiel com essa crença.

Podemos usar a fantasia como metáfora do real. Tolkien, por exemplo, retratou a Europa dominada pela Alemanha nazi em O Senhor dos Anéis
Precisamente. Toda a sua maneira de negociar as ideias do seu mundo foi através da criação de um patamar de fantasia.

O que pensa da literatura de fantasia que hoje se faz. Houve uma explosão nessa área…
Sou um grande admirador de romances de fantasia, mas só gosto dos mesmo bons. Não gosto da fantasia de cordel. E tem havido muita, ultimamente. A verdade é que há poucos autores com capacidades literárias com vontade de aplicar a sua escrita a universos de fantasia. Talvez pensem que a escrita de fantasia não os realizaria como outros géneros literários o podem fazer. O mesmo acontece com realizadores de cinema. Poucos têm uma boa relação com a fantasia. Mas quando a têm, surgem por vezes coisas espantosas.

Porque acha que este mesmo recurso à fantasia, como metáfora, está particularmente arredado de muitos autores de música que hoje se faz.
Talvez tenha a ver com a própria história da música pop… Quando se estuda a história da pop não se fala de fantasia. Fala-se do que o John Lennon cantava. With love, from me to you… E coisas assim. E sempre que leio textos sobre música a falar de temas e autores vejo que sistematicamente se observa que os escritores de canções preferem abordar os grandes temas universais. A crítica musical até faz, por vezes, questão de procurar os exemplos mais invulgares de uma canção que fala sobre algo com o qual todos nos podemos relacionar. O John Lennon nunca escreveria sobre fantasia…

Mas esse universo da canção de autor, do cantautor mais precisamente, não parece ser bem o seu…
O que me interessa não é a canção perfeita. Procuro, até, a canção imperfeita. E é aí que o mundo da fantasia encaixa.

Nem parece gostar muito do conceito do instrumentista virtuoso…
É curioso, porque gosto da ideia do virtuoso. Mas ao mesmo tempo sou igualmente atraído por não-músicos que podem não ter virtuosidade musical enquanto instrumentistas, mas que podem ser donos de grandes ideias.

Uma herança punk? Boa ideia, mesmo se mal tocada?
Acredito nisso, sim. Acho que o punk tem pouca relevância em muita da música que se faz hoje em dia naquilo a que chamaria a “sociedade musical normal”… Veja-se o caso da Pitchfork… Admiro o trabalho que têm feito pela música e pela comunidade musical, mas a sua postura crítica é muito hierarquizada… Hoje as pessoas têm acesso a todos os discos. Com um computador qualquer um pode ouvir qualquer disco. O mundo está cheio de pessoas a criar e publicar os seus top 5 e top 10 da semana… E este tipo de codificação é muito não-punk… Mas apesar de saber que a minha música não tem nada de punk rock, em termos de forma, penso que tem mais a ver com o punk que muitas das bandas que hoje se classificam nessa área. Mas esta é uma visão muito pessoal.


O seu novo disco reflecte bastantes relações com espaços musicais exteriores à música popular. A música erudita, particularmente a contemporânea, começa a ganhar visibilidade entre os nomes com genealogia pop?
Não sei se é fundamental saber se o Burt Bacharah é mais influenciado por um Schumann ou Chopin… O que ele faz, tal como muitos outros o fazem, é captar elementos da música clássica e fazer deles algo relevante aos olhos da contemporaneidade. E sublinho que acho o Burt Bacharah tão importante como um Schumann ou Chopin! Estou mais preocupado com a forma como a música contemporânea tem sido apropriada. Há artistas que têm até nomes que são muito familiares, mas que na verdade muitos não compreendem. Há quem diga que os Velvet Underground ou os Strokes foram influenciados pelo minimalismo nova-iorquino. Mas isso parece-me uma leitura desbotada e fácil da verdade histórica desses elementos. Há quem fale em Philip Glass sempre que escuta elementos repetidos… O minimalismo nova-iorquino tem uma identidade muito característica e representa uma ideia bem distinta. Mas quando as pessoas ouvem repetições num disco pop com voz e falam imediatamente em minimalismo, estão a passar ao lado de qualquer coisa… O mesmo acontece com compositores pós-modernistas. As pessoas falam e falam de Stochkausen… Gosto muito de Stockhausen, mas só vejo um músico pop a ser hoje genuinamente influenciado por Stockhausen. E chama-se Scott Walker. Além dele tenho de me esforçar muito para verificar essas influências noutros músicos, alguns deles existindo, é verdade, nas áreas da música electrónica. Como o Klaus Schultze, por exemplo…

Sente-se integrado em algum espaço musical partilhado por outros músicos, ou acredita que segue, já, um caminho pessoal e distinto de tudo o resto?
Sou muitas vezes comparado a outros músicos, sobretudo por semelhanças cosméticas. Sobretudo ao Patrick Wolf, Sufjan Stevens e Andrew Bird. Fazem-me perguntas sobre eles a toda a hora! Ao princípio sentia-me como se estivesse em competição com eles. Como se atrevem?... (risos) Mas já ultrapassei essa carga negativa. Não que não goste da sua música, mas porque não vejo que a minha música se relacione com a que fazem. Estou mais próximo do punk… Em Toronto há hoje muitas bandas com as quais sinto muitas afinidades. Seguem uma estética do it yourself e colocam mais ênfase no conceito, acima da execução. Mas ao mesmo tempo tenho de reconhecer que há em mim raízes naturais numa educação feita na música clássica. E passo horas e horas a formular as progressões de acordes mais correctas.

No passado chegou mesmo a escrever óperas. Não as editou…
Não, estão no meu escritório, em papel. Uma delas até teve transmissão pela televisão no Canadá. Mas a segunda nem sequer chegou ao palco. Foi um projecto universitário.

Depois deste disco sente mais vontade ainda em afastar-se da escrita pop com a qual lida, sobretudo, quando toca com os Arcade Fire ou Hidden Cameras?
Sim, é verdade. Assim que terminei a gravação, verificando a facilidade e tranquilidade com que o disco nasceu, confirmando a maneira como tinha conseguido controlar todo o processo, fiquei satisfeito. E mesmo não gostando de repetir uma ideia, já estou a pensar numa eventual sequela de He Poos Clouds

O que quis dizer com este título invulgar?
Bom… Apesar de ter um processo criativo intenso, não quero que as pessoas me levem demasiado a sério. Na maior parte das vezes o que faço tem um ângulo satírico. Acredito mais nas pessoas que não se levam demasiado a sério. Veja-se o caso do Jamie Stewart dos Xiu Xiu. Foi a primeira pessoa que senti que era capaz de cantar ideias sobre relações, depressão e outros temas e ser convincente porque as aborda de uma maneira muito directa e aparentemente feita de lugares comuns. Acredito que atrás de cada piada há qualquer coisa muito séria. Depois, não sei se é cinismo da minha parte, mas quando uma pessoa me diz uma coisa com demasiada certeza, penso sempre que na verdade quer dizer o contrário… Com a música que faço tento mostrar às pessoas que tenho intenções sérias. E por isso não quero que me tomem demasiado a sério…

sexta-feira, abril 22, 2011

Ainda os ecos de 2010


O canadiano Owen Pallett lançou mais um teledisco relacionado com o álbum Heartland editado em 2010. Escolheu, desta vez, o tema The Great Elsewhere. A realização é assinada por Yuula Benivolski e Geoffrey Pugen.

sábado, dezembro 04, 2010

Uma noite pela avenida


Uma mesma rua, várias salas, concertos mais ainda. Na sua terceira edição o Super Bock em Stock pode não ter um cartaz com tantos nomes imediatos, mas o modelo voltou a fazer da Avenida da Liberdade um corredor vivo de gente a circular com entusiasmo entre acontecimentos. Entra-se, gosta-se e fica-se. Ou segue-se para outra sala ali perto… A rotina faz-se da vontade do momento, entre reencontros e descobertas. Ficam quatro retratos rápidos.

Owen Pallett – Na elegante sala do Tivoli a sua música consegue ocupar um palco onde nada mais acontece senão a sua presença e som. Domina as artes do palco, cria empatia. Passa por Caribou. É sempre um bom reencontro.


B Fachada – Informal em palco mesmo na hora de figurar num dos palcos principais (no São Jorge, mais precisamente). Acompanhado a dada altura por Sérgio Godinho. O par em bom diálogo, a versão de Etelvina contudo sem resistir (na leitura apresentada) à anemia da falta da electricidade face à versão original. Canções do novo disco pedem, para já, mais audições.

Kele – O álbum oscila entre o electro e a evocação de modelos da canção pós-punk. Em palco opta pela força das electrónicas e põe um Tivoli inteirinho a dançar. Tenderoni irresistível. Com Bloc Party a meio da ementa, o concerto acabou por ser inesperada boa surpresa.

Wavves – Ao fim da noite, na Garagem no Marquês de Pombal. O som não era o melhor, de facto, mas ajudou a desarrumar o som das mais arrumadas canções do disco mais recente.

terça-feira, julho 13, 2010

Owen remisturado

Owen Pallett tem um novo EP exclusivamente feito de remisturas para Lewis Takes Off, o single que extraíu do alinhamento do seu primeiro álbum editado em nome próprio. O EP, cujo download é oferecido no site da Domino Records, junta remisturas de nomes como Dan Deacon, Max Tundra, Simon Bookish, Benoit Pioulard e CFCF.

domingo, março 14, 2010

Uma (boa) ideia pop

Foto: Olho Vivo

Este texto foi publicado na edição de 13 de Março do DN com o título “O one-man show tem agora um extra”.

Em tempos apresentava-se sob a designação Final Fantasy e, em mais que um palco, já o vimos em concertos no formato one man show, desenhando com um violino, um sampler, uma bela voz e um lote de espantosas canções, noites de música daquelas que a memória não esquece. Regressou esta semana, para duas noites de lotação esgotada ao Maria Matos (Lisboa), fazendo-se acompanhar com um segundo músico (Tomas Gill), um claro valor acrescentado a uma ideia pop que, como mostrou no recente Heartland, procura o desafio de novos caminhos.
No seu muito peculiar jeito de ser, revelando um humor informal que já havia levado ao palco em concertos anteriores, propôs uma leitura instrumentalmente mais contida (mas não menos dramaticamente empolgante) de canções com marcas de personalidade como poucas sabem ter. O presente ditou a norma, mas com espaço capaz de escutar a memória não esquecendo temas fulcrais como Song Song Song ou This is The Dream Of Win and Regine.

sexta-feira, março 12, 2010

Em conversa: Owen Pallett (3/3)

Concluímos a publicação de uma entrevista com Owen Pallett que serviu de base ao artigo ‘Owen Pallett traz a Lisboa canções que escreveu nesta cidade’, publicado na edição de 9 de Março do DN. O músico estará novamente hoje em concerto em Aveiro, no Centro Cultural e de Congressos.

A música para cinema passa pelos horizontes do seu trabalho?
É verdade que cheguei a trabalhar uma vez numa banda sonora, mas houve conflitos e o trabalho teve depois de ser entregue a outra pessoa.

Gostaria de voltar a tentar abordar esse universo?
Em 20 anos, sim...

Vai ficar, então, pela música pop uns 20 anos?
Sim talvez... Vou aproveitar o facto de ser jovem e bonito... (risos) Quero aproveitar e tocar... Daqui a 15 anos talvez já não seja tão bonito e a minha voz possa ter desaparecido e então talvez comece a fazer música para cinema. Interessa-me o trabalho, pode até ser um bom desafio, mas não creio que volte a fazer música para cinema por enquanto...

Quão importante foi o ensino clássico que teve. Foram úteis os ensinamentos que colheu?
Basicamente nem por isso... Há coisas que uso... Frequentei o ensino clássico e aprendi algumas coisas importantes, é certo. Mas não me parece que as decisões que tomo têm a ver com o que aprendi. Nos anos 90 e no início dos anos zero havia uma quantidade incrível de música interessante, mas muita gente não a escutava porque muita da música indie era então um fenómeno underground. A música popular não era nada que se comparasse aos Vampire Weekend ou Grizzly Bear. Nessa altura pensava que ninguém parecia saber nada sobre música. Há muitos compositores contemporâneos que ainda estou a descobrir... Só no ano passado ouvi pela primeira vez o David Lang. Mas na verdade foi também por essa altura que comecei a ouvir os Depeche Mode... Nunca os tinha ouvido antes. Hoje é mais fácil ouvir música. A música indie explodiu mesmo nos últimos dez anos. E transformou-se na coisa mais importante que há por aí.

A Internet foi importante nessa abertura de horizontes de que fala nos anos zero?
Creio que sim... Mas acho também que as pessoas estão a fazer melhor música. O que me incomoda apenas é pensar que o que piorou mesmo muito foi o jornalismo musical. Cheio de incorrecções sobre tudo... Ainda há dias lia numa crítica ao meu disco uma referência ao Tubular Bells, dizendo que era um disco de Brian Eno! Perdão?... Ninguém pode cometer um erro tão estúpido!

Parte de Heartland nasceu em Lisboa. Porquê esta escolha?…
Não me identifico mais com o Canadá nos dias de hoje. Identifico-me com os portugueses. Trabalhei as letra deste disco em Lisboa. Passei umas duas semanas no topo do Bairro Alto. Senti-me bem. Lisboa é uma das melhores cidades do mundo. A comida é boa. O queijo é muito bom. Gosto das pessoas. Sinto-me relaxado.