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sábado, fevereiro 25, 2023

Prémio do Júri da Berlinale
para filme de João Canijo

Mal Viver, de João Canijo, produzido por Pedro Borges (Midas Filmes), foi distinguido na 73ª edição do Festival de Cinema de Berlim com um Urso de Prata/Prémio do Júri.
Presidido por Kristen Stewart, o júri da Berlinale atribuiu o Urso de Ouro a Sur l'Adamant, do francês Nicholas Philibert [trailer].
Mal Viver integra um díptico completado com Viver Mal, título que também esteve presente em Berlim, na secção Encontros — ambos os filmes têm estreia agendada para 11 de maio.
 

quinta-feira, março 01, 2012

Para reencontrar 'Sangue do Meu Sangue'

Que não falte nada. E assim a edição o garante. E numa caixa com três DVDs encontramos não apenas as duas versões de Sangue do Meu Sangue (a de 140 e a de 190 minutos) bem como o documentário Trabalho de Actriz Trabalho de Actor que observa de perto, e através de várias etapas, o processo de criação das personagens e da própria narrativa que nos apresenta o mais recente filme de João Canijo.

"Uma história sobre um amor incondicional" vivida "num espaço concreto", escrevia aqui há uns meses por alturas da estreia do filme. Defina-se assim um "ponto de partida para uma ideia que, após dois anos de trabalho entre realizador e elenco, fez nascer a narrativa".  Um  "melodrama na essência, assimilando contudo as características do espaço e das gentes que o habita (o Bairro Padre Cruz, um núcleo familiar e aqueles que o orbitam), Sangue do meu Sangue traduz, de facto, essa premissa inicial." A edição em DVD permite, ao juntar o reencontro com o filme com o documentário que retrata o "método" que no fundo definiu os seus caminhos, um olhar atento sobre um momento que ficará certamente na história do cinema português. Não apenas pelo trabalho de construção narrativa que encontramos no seu tutano, mas pela forma como através de Sangue do Meu Sangue se define um retrato de um país que é o nosso e de um tempo que é o de agora.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Os melhores filmes de 2011


Lançámos há uma semana o desafio aos leitores do Sound + Vison, pedindo que votassem nos melhores filmes do ano. As votações nãom deixam dúvidas, com A Árvore da Vida de Terrence Malick e Sangue do Meu Sangue, de João Canijo, a destacar-se claramente na votação, abrindo inclusivamente um largo fosso face à votação nos segundos classificados. Aqui ficam as listas finais da votação.

INTERNACIONAL:
1º – A Árvore da Vida – 90 votos
2º – O Cisne Negro – 21
3º – Super 8 - 18
4º - Melancolia - 16
5º - Drive – 14
6º - Um Método Perigoso – 8
7º - O Tio Bonomee que se Recordava das Suas Vidas Anetriores – 7
8º - Essential Killing e A Melhor Despedida de Solteira - 6

Com 5 votos: As Quatro Voltas, Filme Socialismo, Inquietos, Mel, O Discurso do Rei, Submarino, Uma Separação
Com 4 votos: A Pele Onde Eu Vivo, Crazy Horse, Habemus Papam, Indomável, O Deus da Carnificina,
Com 3 votos: A Autobiografia de Nicolae Ceausescu, Hereafter, Nos Idos de Março,
Com 2 votos: A Conspiradora, As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne, A Toupeira, Carlos, Isto Não é Um Filme, O Miúdo da Bicicleta, Pina, Planeta dos Macacos – A Origem,
Com 1 voto: A Dívida, Amores Imaginários, A Nossa Vida, As Serviçais, O Atalho, Rubber – Pneu, Sem Destino,
Sem votos ficaram os filmes Aurora, Contágio, Copacabana, Despojos de Inverno, Hadewijch, Histórias de Shangai, O Código Base, Potiche, Uivo, Um Dia, Vénus Negra.

Outra escolha: 14 votos
Não vi nenhum destes filmes: 3


NACIONAL:
1º - Sangue do Meu Sangue - 73
2º - Efeitos Secundários – 30
3º - É na Terra não é na Lua – 11
4º - O Estranho Caso de Angélica - 7
5º - 48 – 6
6º - Alvorada Vermelha – 5
7º - Cisne - 4

Com 2 votos: A Cidade dos Mortos, Quinze Pontos na Alma, O Barão,
Com 1 voto: A Espada e a Rosa, Águas Mil, América, A Morte de Carlos Gardel, E o Tempo Passa, Com Que Voz, Complexo Universo Paralelo, Quem Vai à Guerra, Viagem a Portugal
Sem votos ficaram os filmes: Durante o Fim, Palácios de Pena, O Inferno, O Meu Raúl, Trabalho de Actriz Trabalho de Actor, Voodoo

Não vi nenhum destes filmes: 35
Outra escolha – 4

N.G.: Não há dúvidas. A Árvore da Vida é o filme que mais votos soma (nas duas listas). Foi o grande filme de 2011, é um grande filme do nosso tempo e será recordado um dia como um marco deste tempo... Apesar de ter vencido a Palma de Ouro em Cannes, não deixa contudo de ser estranha a sua ausência nas premiações mais mediatizadas. Zero nomeações nos Globos de Ouro... E vamos ver se nos Oscares soma mais que categorias técnicas como Montagem e Direção de Fotografia. Além de ser o Melhor Filme do Ano e Terrence Malick o mais justo ganhador de um qualquer prémio para Melhor Realizador, o filme justificaria por tudo um prémio de interpretação para Jessica Chastain, mas enfim... Verão mais que os êxitozinhos de multiplex os senhores jornalistas que escrevem sobre cinema em Hollywood (que decidem os Globos de Ouro) e os demais profissionais da indústria local (que votam nos Oscares)?... Adiante...
Sangue do Meu Sangue é também claro (e justo) vencedor na tabela local. Curioso é ver ainda os filmes de Gonçalo Tocha e da dupla João Pedro Rodrigues/João Rui Guerra da Mata – respetivamente É na Terra não é na Lua e Alvorada Vermelha) – que só tiveram ainda passagem em festivais, a chamar considerável atenção. Preocupante é, depois, a votação em massa (18% dos votos) na opção “não vi nenhum destes filmes” quando se fala do cinema português...é na L

J.L.: É um facto: entre os espectadores de cinema português, há um lote significativo (mais de um terço nesta votação) que não vê... filmes portugueses. A avaliação do problema (porque de um problema se trata, ao mesmo tempo comercial e cultural) está viciada pelos mais agressivos maniqueísmos, conforme o gosto de quem os manipula: os filmes são "maus", os espectadores são "estúpidos", etc., etc., etc... Talvez valha a pena relembrar o mais evidente. A saber: há mais de três décadas que o audiovisual português deixou triunfar um modelo asfixiante — a telenovela — e só por insuperável inocência ou incorrigível cinismo se pensará que tal dominação (estética e financeira) é indiferente para a simples existência do cinema português. Há muitos anos também, muito para além (ou aquém) do melhor ou do pior que os cineastas vão fazendo, faltam decisões políticas — e de política cultural — que apostem em superar este estado de coisas. That is the question.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Os melhores filmes de 2011

J.L.: Para onde vai o cinema quando, cada vez mais, muitos dos seus espectadores foram educados numa cultura de downloads (mais ou menos legais)? Talvez que, roubando uma expressão a Marguerite Duras, possamos dizer que o cinema caminha para a sua perdição. Não por “culpa” desses espectadores – não se trata de pregar moral à maneira da ideologia televisiva dominante. Acontece que, cada vez mais, há uma linha muito nítida que separa os filmes que procuram preservar um gosto primitivo do cinema e todos os que parecem apenas concebidos para satisfazer uma lógica de difusão gerida pelos valores tecnocratas do marketing mais grosseiro (e menos cinéfilo). Não são os downloads, é a falta de cinema no meio disto tudo... Afinal de contas, o filme de Monte Hellman, Sem Destino [foto], sobre uma equipa que está a fazer um filme com uma câmara digital, chama-se no original Road to Nowhere – à letra: “estrada-para-nenhum-lugar”. Voilà!

FILME SOCIALISMO, de Jean-Luc Godard
A AUTOBIOGRAFIA DE NICOLAE CEAUSESCU, de Andrei Ujica
UM MÉTODO PERIGOSO, de David Cronenberg
A CONSPIRADORA, de Robert Redford
CRAZY HORSE, de Frederick Wiseman
SEM DESTINO, de Monte Hellman
VÉNUS NEGRA, de Abdellatif Kechiche
O MIÚDO DA BICICLETA, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
A ÁRVORE DA VIDA, de Terrence Malick
ISTO NÃO É UM FILME, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi


N.G.: Se repararmos, havia já nos filmes anteriores de Terrence Malick sinais de uma demanda que apontava no sentido da busca de uma obra maior na qual, sem perder uma medula narrativa, o cinema buscasse antes um espaço mais próximo da relação poética que podemos ter com a música. Se A Árvore da Vida representa ou não o cumprir desse caminho, mas o certo é que, sem quaisquer sinais de ruptura face à sua obra anterior, no filme que estreou este ano (e que venceu Cannes) Malick concebe aquela que é não apenas a sua obra maior (até este momento) como aqui atinge um daqueles raros momentos que, certamente, a história do cinema nunca esquecerá. Pelos ecos da memória, buscando a redenção, olhando não apenas a “acção” e protagonistas mas também o que sentem e o mundo em seu redor, escutando na música (que vai de Preisner a Berlioz passando por Mahler, Resphigi ou Gorécki) ideias afinal tão determinantes como as imagens para o todo que procura. O ano viveu ainda de histórias (e imagens) vividas longe da cidade, contando-nos a vida do filho de um apicultor turco (Mel), a história de dois estagiários numa quinta alemã (Stadt Land Fluss) ou a odisseia, em espaços sem estradas do Oregon, de uma caravana do século XIX (O Atalho), esta última mostrando que o western pode ser ainda cenário onde há novos pontos de vista a explorar. Dois notáveis filmes de Gus Van Sant e dos irmãos Dardenne completam a etapa de ficção de uma lista que soma três documentários, sinal da cada vez mais marcante presença deste espaço no panorama cinematográfico do nosso tempo.

1 . A Árvore da Vida, de Terrence Malick
2 . Mel, de Semih Kaplanoglu
3 . Sangue do meu sangue, de João Canijo
4 . Stadt land Fluss, de Benjamin Cantu
5 . Inquietos, de Gus Van Sant
6 . O miúdo da bicicleta, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
7 . An angel van Doel, de Tom Fassaert
8 . Não é na terra, é na lua, de Gonçalo Tocha
9 . O Atalho, de Kelly Reichatdt
10 . Histórias de Shanghai - Quem me dera saber, de Zhang Ke Jia

quinta-feira, outubro 06, 2011

Histórias de amor incondicional


Uma história sobre um amor incondicional. E num espaço concreto. Assim foi o ponto de partida para uma ideia que, após dois anos de trabalho entre realizador e elenco, fez nascer a narrativa que agora podemos acompanhar em Sangue do meu Sangue, novo filme de João Canijo, um dos melhores filmes que vamos ver este ano e, garantidamente, um episódio maior na história do cinema português. Melodrama na essência, assimilando contudo as características do espaço e das gentes que o habita (o Bairro Padre Cruz, um núcleo familiar e aqueles que o orbitam), Sangue do meu Sangue traduz, de facto, essa premissa inicial. O amor incondicional de uma mãe (interpretada por uma arrebatadora Rita Blanco) por uma filha (Cleia Almeida), esta caída de amores por um dos seus professores (Marcello Urgeghe), este casado (com uma mulher serena, elegante, magnificamente criada por Beatriz Batarda) ao mesmo tempo que mantém uma relação com um segurança (Francisco Tavares) do supermercado onde trabalha. Mas também o amor de uma tia (Anabela Moreira) por um sobrinho (Rafael Morais) ela, cabeleireira, mas de vida desencantada e vazia, encontrando nele o único com quem conta, o recíproco sucedendo quando este se vê metido num cabo de trabalhos com o dealer (Nuno Lopes) para quem trabalha...



Com um realismo, que o longo trabalho de criação de personagens e guião permitiu entranhar na pele de cada um dos actores, Sangue do meu Sangue não se esgota contudo nas belíssimas interpretações ou num argumento daqueles que contam histórias com principio, meio e fim (e por essa ordem). Há um olhar que se poderia confundir com uma visão documental mas que nunca esquece que serve uma ficção. Há espantosos enquadramentos e jogos de duplicação de diálogos em espaços distintos mas visíveis num mesmo ecrã (um pouco como, quando na ópera, várias linhas vocais se cruzam para fazer evoluír, cada qual, a história que acompanhamos). Há um saber retratar o país que somos, dos Buraka Som Sistema a Tony Carreira vivendo a música que, incidentalmente, cruza a acção. Há instantes de humor que não deixam contudo de vincar o profundo drama que acompanhamos. E há, no fim, uma experiência de cinema absolutamente envolvente.

Há a partir de hoje nas salas de cinema duas versões distintas, a mais curta (com cerca de 140 minutos) mais concisa, mas plena na capacidade de nos mostrar toda a narrativa. A mais longa acrescentando sobretudo espaços complementares junto às personagens secundárias e tramas adjacentes (e juntando a espantosa presença de Teresa Madruga). Há poucos filmes assim. E há que vê-lo.