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domingo, janeiro 15, 2023

Mitsuko Uchida, Mozart & Schönberg

[FOTO: Richard Avedon]

MAHLER CHAMBER ORCHESTRA
MITSUKO UCHIDA Piano / Direção
JOSÉ MARIA BLUMENSCHEIN Concertino

* Fundação Calouste Gulbenkian
Grande Auditório, 09 jan 23 (20h00)


No regresso de Mitsuko Uchida ao Grande Auditório da Gulbenkian, as suas interpretações de dois Concertos para Piano e Orquestra de Mozart (nºs 25 e 27, compostos em 1786 e 1791, respectivamente) tiveram um intermezzo, no final da primeira parte, neste caso apenas com a Mahler Chamber Orchestra, tocando a Sinfonia de Câmara nº 1, Arnold Schönberg.
A "estranheza" do arranjo do próprio concerto visava, como se viu e ouviu, a sugestão de laços de uma cumplicidade distante, mas em nada decorativa. Cito a chamada de atenção das notas do programa, da responsabilidade de João Silva: "A herança do Classicismo Vienense encontra-se patente na Sinfonia de Câmara nº 1, op. 9, de Arnold Schönberg. Terminada em julho de 1906, é um exemplo de como a escrita camerística das serenatas e sinfonias do Classicismo marcou a transição do Romantismo para o Modernismo."
De algum maneira, pudemos sentir a ambígua reverberação de Mozart na composição de Schönberg — como se, por exemplo, os contrastes do Andante do Concerto nº 25 "antecipassem" os prodigiosos ziguezagues estruturais da peça composta no começo do século XX. Além do mais, através da precisão da orquestra, fruindo todas as nuances da escrita de Schönberg. O mesmo se dirá, inevitavelmente, da arte suprema de Mitsuko Uchida, connosco partilhando essa sensação, também ela tecida de ambiguidade e racionalismo, de descoberta naquele instante da riqueza melódica e rítmica da pauta (que ela, naturalmente, não usa...). Em resumo: duas horas, cinco estrelas — um concerto para incluir nas melhores memórias musicais de 2023.

>>> Um excerto do Allegretto do Concerto nº 25, num espectáculo de 2006, em Salzburgo, integrado nas comemorações dos 250 anos do nascimento de Mozart — Mitsuko Uchida toca com a Filarmónica de Viena, dirigida por Riccardo Muti.
 

sábado, janeiro 07, 2023

10 DISCOS DE 2022

* Depois da publicação de posts individuais sobre cada um destes discos (o primeiro a 19 de dezembro, o último a 5 de janeiro), aqui fica o respectivo balanço.

01_KEITH JARRETT
Bordeaux Concert

02_THE SMILE
A Light for Attracting Attention

03_MITSUKO UCHIDA
Beethoven Diabelli Variations

04_EZRA FURMAN
All of Us Flames

05_TESS PARKS
And Those Who Were Seen Dancing

06_LEONIDAS KAVAKOS
Bach: Sei Solo

07_JACK WHITE
Entering Heaven Alive

08_SONIC YOUTH
In/Out/In

09_ANNA VON HAUSSWOLFF
Live at Montreux Jazz Festival

10_FADO BICHA
Ocupação

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segunda-feira, janeiro 02, 2023

10 discos de 2022 [8]

* Beethoven Diabelli Variations

Habitualmente citada como um exemplo de eleição na abordagem das composições de Mozart e Schubert, a pianista Mitsuko Uchida encontra na obra de Beethoven aquilo que talvez possamos chamar o "elo central" de um permanente ziguezague entre clássicos e românticos, de uma só vez confirmando e desafiando as respectivas matrizes. Nesta perspectiva, a sua prodigiosa gravação das Variações Diabelli (compostas entre 1819 e 1823) poderá ser interpretada como uma aventura emocionalmente semelhante ao álbum que lançou em 1990 com os 12 Estudos de Debussy — assim como este se apresentava como uma radical transfiguração da herança "impressionista", as Diabelli [aqui em baixo: Tema, Var. I Alla Marcia maestoso e Var. II Poco Allegro] surgem, agora, refeitas como uma aventura formal em que podemos reencontrar, em filigrana, algo como uma condensação histórica de tudo aquilo que Beethoven quis incluir na sua composição, incluindo alguma nostalgia de Bach — se é que a contundência poética de Beethoven, tal como interpretada por Uchida, possui algo de nostálgico.






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[ Fado Bicha ]  [ Anna von Hausswolff ]  [ Sonic Youth ]  [ Jack White ]  [ Leonidas Kavakos ]

domingo, julho 28, 2019

Piano solo [2/10]


[ Herbie Hancock ]

Compostos em 1827, os oito Impromptus de Franz Schubert — publicados em dois conjuntos de quatro, D899 (Op. 90) e D935 (Op. 142), este em 1839, cerca de onze anos depois da morte do compositor — são símbolos exemplares de uma matriz de composição especialmente popular ao longo do século XIX. A sua ilusória ligeireza, naturalmente associada ao gosto do improviso, não exclui, antes parece intensificar, a sensação de fechamento de cada uma das peças, dir-se-ia abrindo e fechando a possibilidade de uma experiência total, ainda que totalmente em aberto.
Por certo uma das mais brilhantes intérpretes de Schubert, Mitsuko Uchida gravou os oito Impromptus em 1997, numa edição Philips, actualmente disponível no catálogo Decca Classics.
Este registo pertence a um concerto realizado em Tóquio, também em 1997 — dele constam os Impromptus nº 1 (Op. 142) e nº3 (Op. 90).

terça-feira, março 19, 2013

Mitsuko Uchida & Mozart

MITSUKO UCHIDA por RICHARD AVEDON

* FUNDAÇÃO GULBENKIAN, Grande Auditório (Segunda-feira, 18 Março 2013, 21:00)

Provavelmente, muitos dos que assistiram ao admirável concerto de Mitsuko Uchida (uma estreia portuguesa!) esperavam uma austeridade mais ou menos impenetrável. E tanto mais quanto a lendária pianista vinha não apenas interpretar dois concertos para piano e orquestra, de Mozart (programa), mas também dirigir a Mahler Chamber Orchestra. O certo é que a transparência ágil da sua pose — numa direcção em que confluem rigor e energia, precisão e entusiasmo (a ponto de reiniciar um dos andamentos, sinalizando o facto à orquestra com um exuberante batimento das mãos) — foi a marca mais imediata de um profundíssimo labor com a escrita mozartiana, de que ela é, incontestavelmente, uma das especialistas mais sofisticadas.
Foi, acima de tudo, a prova muito real de que a fidelidade a Mozart não se faz de uma atitude de banal reverência, mas sim de uma exigência face à sua música que, muito para além da versatilidade técnica, respeita todas as suas nuances estruturais e emocionais. E se dúvidas houvesse sobre a invulgar confluência de talentos a que estávamos a assistir, a orquestra ainda nos ofereceu uma primorosa interpretação de uma peça de Béla Bartók (Divertimento, Sz. 113) habitada por espantosos ziguezagues (melo)dramáticos.
No final, a sensação de naturalidade de Uchida ficou como sinal ambíguo de uma artista cuja intransigência formal integra, sem drama, a imagem serena do corpo. Em termos simples, simplesmente festivos: um dos acontecimentos marcantes do ano musical de 2013.

>>> Neste registo, com a Camerata Salzburg (Março 2001), Mitsuko Uchida interpreta  outro concerto de Mozart (K. 466) — de uma emissão do canal Mezzo.