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quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Para ler: lojas de discos em ressurgimento

Depois de anos a fio de notícias de "fechou" e "vai fechar" o ano de 2014 assistiu a um ressurgimento de lojas de discos. Pelo menos no Reino Unido. Sinais dos tempos da resistência de nichos na era do digital?

Podem ler aqui um artigo publicado no Guardian.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

E se alguém bater à porta... é um drone!

Esta semana na minha crónica no site Dinheiro Vivo falo do anuncio, pelo "patrão" da Amazon, de um sistema de entrega de encomendas através de veículos aéreos robotizados. Aqui fica um excerto:

"E se de repente alguém bater à porta pode ser que seja... um drone! Bom, na verdade a coisa nem é para já (e quando o for não será desde logo para estes lados). O que se passa é que, há bem poucos dias, Jeff Bezos (o “patrão” da Amazon) anunciou no programa "60 Minutes" que a sua empresa quer começar a fazer entregas ao domicílio usando veículos aéreos robotizados, tendo mesmo revelado a imagem dos protótipos que estão a ser desenvolvidos.

Chamemos-lhes "drones" (lembrando que não existem apenas para fins militares e de segurança). Este sistema poderá, por um lado, representar mais um argumento de peso em favor da venda 'online' mas, ao mesmo tempo, baralhar o que poderia parecer uma alternativa de futuro desmaterializado e digital, com música, filmes e livros descarregados por "donwload" a liderar as vendas desse novo paradigma que há já alguns anos se constrói (e não apenas pela Amazon, acrescente-se, sendo que há outros líderes de mercado nesse segmento específico)."

Pode ler aqui o texto completo.

terça-feira, abril 23, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com João Lopes

Hoje as memórias ficam "em casa", com o João Lopes a lembrar o espaço da Virgin Megastore lisboeta, que durante alguns anos morou nos Restauradores. 

Disponível em vários espaços de evocação na Internet, esta imagem do átrio do cinema Eden (com dois cartazes de Christopher Lee no cimo da escadaria...) é bem reveladora daquilo que se perdeu — porque, para nossa tristeza e vergonha, tudo isto lá perdura, fechado e desactivado. Está por fazer, aliás, o inventário dos crimes de indiferença acumulados, país fora, contra o património das nossas mais belas salas de cinema e teatro...

Em todo o caso, o Eden viveu ainda um período de efémero "revivalismo" graças à música. Mais precisamente: foi lá que se instalou a Virgin Megastore com um impacto inicial que, afinal, foi o prenúncio de uma existência relativamente breve.

Não quero favorecer qualquer saudosismo beato, como não pretendo escamotear a lógica de acumulação, de "grande consumo", que presidia ao Megastore. Não era uma loja de tendência(s) ou para especialista(s). Mas era também isso que lhe conferia uma sedução muito especial. Porquê? Porque a sua vocação de montra imediata dos lançamentos de maior pompa promocional (afinal de contas, foram as Spice Girls que cantaram na inauguração!) não impedia, bem pelo contrário, que a oferta fosse, nos domínios mais diversos, muito rica e contrastada. Por exemplo, nas electrónicas — foi lá que descobri algumas raridades de William Orbit, noblesse oblige. Ou no jazz. E ainda nas bandas sonoras. A própria secção de DVD não era nada desprezível e, nos saldos dos dias finais, literalmente perdida na confusão de uma grande caixa de "restos", lá encontrei nada mais nada menos que a magnífica edição do Alphaville (1965), de Godard, com chancela da Criterion.

Tudo isto, claro, sem esquecer que, naquele local, a presença da Virgin correspondia ainda a um entendimento vital dos Restauradores como um espaço de vivências específicas, espécie de espelho ambíguo em que a cidade podia contemplar a sua própria vertigem, ao mesmo tempo recolhendo-se no cenário luminoso de alguma aquietação. Foi assim, aliás, que Fernando Lopes filmou a fachada do Eden, no seu Belarmino (1964) — agora, dói ver como o cinema português possui uma memória que a cidade, perdida nas razões mais estúpidas do progresso, não soube guardar.

quinta-feira, abril 18, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Tiago Pereira

Iniciámos este mês no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Tiago Pereira, do jornal 'i', com quem trabalhei alguns anos no DN. Ao Tiago um muito obrigado pela colaboração.

In The Aeroplane Over The Sea, dos Neutral Milk Hotel, Live at the Fillmore East, pelos Allman Brothers (em vinil), ou os primeiros álbuns dos Galaxie 500. Tudo a preço de saldo, que é como quem diz 5 dólares o mais caro, coisa boa, coisa de aproveitar. Nada de Jimi Hendrix, grunge nem vê-lo. Os lugares comuns eram-no noutra terra qualquer, não ali. Tudo indie, tudo com prefixo "alt", para termos a certeza que nada de previsível iria acontecer. Ou isso ou os clássicos, com a Motown a gritar de todos os cantos da loja, mais a América tradicional, sulista e com tempero de churrasco logo atrás. The Wall of Sound - o nome ficava-lhe bem.

Seattle está recheada de lojas de discos e tem em quase todos os guias a Holy Cow Records como chão sagrado a pisar pelos peregrinos em visita. Passámos por lá, "então como vai", paragem obrigatória, claro que sim. Mas nada como deixar o óbvio e dar uma de nativo. Assim sendo, melhor subir, com Capitol Hill no horizonte. Sobre o centro da cidade, o bairro faz-se na colina sobre os arranha-céus de gente financeira, com cafés, livrarias, bicicletas, lojas de tatuagens e menus vegetarianos por toda a parte. No meio de tudo isto, é difícil não dar com a Wall of Sound: cartazes dos Black Mountain, LCD Soundsystem e Arcade Fire (ainda lá estava o poster de "Funeral", dois anos depois!), neons que gritam rock-jazz-funk-soul-metal e clientes com orgulho nas compras, a deixar a loja com os discos na mão, "ponham os olhos nisto, aprendam alguma coisa".

E nós a entrar sem piscar os olhos, a revirar prateleiras, a contar o tempo para o rendez-vous, que a viagem não se fazia em modo solitário, com horas marcadas para entrevistas e etc. Já tenho; mas que preço é este?; e vão cinco; isto cabe na mala?; não fazia ideia que isto estava editado em CD; o que é isto que está a tocar?. Felicidade às rodelas, de sobra. Tivemos que voltar, só podia. Éramos mais na segunda visita, haveríamos de repetir a viagem num regresso à cidade, anos mais tarde, já com Kendrick Lamar e Ty Segall como estrelas maiores na parede. A Wall of Sound é uma sala de estar, tem café à mão, cadeiras sofás e candeeiros onde importa. Estava prestes a mudar, com latas de tinta e materiais afins, prontos para surpreender. Se esta não é uma boa razão para voltar, há sempre os discos. Combinado.

quarta-feira, abril 17, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Hugo Moutinho

Iniciámos este mês no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Hugo Moutinho, hoje ligado à editora Discotexas e à loja de Lisboa da Louie Louie e, na hora de trabalhar diretamente com a música, também conhecido como Mr Mitsuhirato. Ao Hugo Moutinho um muito obrigado pela colaboração.


Imagino que toda a gente se lembre do primeiro disco que comprou com o seu dinheiro e onde. Eu comprei o Heroes do David Bowie na Tubitek.

Sendo do Porto, a Tubitek era a Meca dos discos para quem gostava do novo e do velho, com uma selecção de discos que agradava a gregos e troianos, fossem eles fãs de música clássica, de rock progressivo, do 1º dos Tops ou, como eu, um miúdo “mid teen” à procura de tudo o que não conhecia, fossem os discos do Bowie, dos Smiths (o Hatfull of Hollow foi possivelmente o quarto ou quinto LP que lá comprei), dos Velvet Underground ou dos New Order.

Era uma pequena grande loja que tinha tudo para todos os gostos. Se vendia ou era relevante de alguma maneira a Tubitek tinha nos escaparates. E tinham pessoas atrás do balcão que sabiam o que vendiam. Todos sabiam um pouco de tudo e um ou outro tinha uma especialidade. E uma paciência enorme para partilhar conhecimento a quem tinha vontade de aprender. Dominavam o mercado dos discos no Porto (e não só) e apesar da baixa ter outras lojas discos a Tubitek, no fundo, não tinha concorrência à altura. Foi assim durante uns anos e só deixei de lá ir com regularidade quando me mudei para Lisboa. Não assisti ao fecho (no final dos anos 90) mas a forma como foi perdendo clientela ….

Quis o destino que uns anos depois de sonhar em trabalhar numa loja de discos me encontrasse atrás do balcão de uma das poucas lojas que por cá existem. E apesar de comprar uns quantos discos na loja onde trabalho, a vontade de procurar o que não tenho noutras lojas mantém-se.

Sempre que vou a Londres, a Music Exchange é uma das paragens obrigatórias. Apesar de serem mais do que uma cadeia de lojas de discos (vendem igualmente livros, roupa ou DVDs em segunda mão em lojas independentes umas das outras) o tempo é dividido entra Notthing Hill, Soho e Camden Town. Os empregados nem sempre têm a simpatia na ponta da língua mas os discos que têm à venda fazem esquecer qualquer indelicadeza. Todo o espaço disponível está ocupado com discos e não há canto onde não se queira enfiar o nariz.

De todas as lojas, aquela em que perdia mais tempo era a de Camden Town. No piso da entrada, a oferta de singles recentes e antigos era gigante e rivalizava com a secção de 12” Disco da cave. Quando lá estive a última vez tinha fechado e estava em obras. No preciso momento em que espreitei para ver se eram obras de remodelação, dois homens erguiam uma placa para substituir a da Music Exchange. Estava a nascer mais uma loja Mr Pretzels… Por todo o lado as lojas vão desaparecendo lojas de discos mas em Inglaterra, por exemplo, os números são assustadores.

No Record Store Day deste ano é editado em DVD Last Shop Standing, um documentário sobre a ascensão, queda e renascimento das lojas de discos independentes, baseado no livro de Graham Jones. Até lá “let’s look at the trailer”:

terça-feira, abril 16, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Teresa Lage

Iniciámos este mês no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras da Teresa Lage, da RFM, e coautora do livro 'Beatles em Portugal'. À Teresa um muito obrigado pela colaboração.


Ao contrário de muitos dos novos "hipsters" nunca gostei de discotecas pequeninas de discos de vinil. Talvez por ter nascido nos anos 60 num Portugal, onde, durante anos, as discotecas pequeninas e as lojas de electrodomésticos eram os únicos sítios onde conseguíamos comprar discos
Não é por isso de admirar que em 1977, aos 16 anos, na minha primeira visita a Londres, ao entrar numa megastore da HMV, me tenha sentido no paraíso. Uma loja gigante com discos novos, velhos, com andares dedicados aos diferentes estilos de música... Estantes só com discos dos Beatles... Um verdadeiro paraíso dedicado à música! Como se isto não bastasse essa loja ficava numa cidade forrada de posters de Elvis Costello onde a música parecia ser, estranhamente, mais importante que a política. Este era para mim, em 77, um mundo bem diferente do mundo de revolução que se vivia diariamente em Portugal.
Por cá, nos anos 70, os discos que nos chegavam eram poucos e desactualizados, às vezes com atraso de um ano. Para arranjar um album que descobrira há meses na revista Rock e Folk, tinha de, nos intervalos das aulas, manifestações e estados de sítio, percorrer, na avenida de Roma, as discotecas Sinfonia, Valentim de Carvalho. Mas, se quisesse mesmo aquele disco, o melhor era procurar na Audi Roma ou na discoteca do Carmo o LP importado... Ou pedir a alguém que fosse a Londres e, arriscando pagar mais direitos na alfândega, me trouxesse os "discos pedidos".
Hoje, as megastores que eram para nós um paraíso, estão a desaparecer substituídas por outros paraísos como a amazon, itunes e spotify... Mas para quem se apaixonou por aquelas lojas gigantes cheias de musica... o seu desaparecimento terá sempre o sabor de um paraíso perdido.

segunda-feira, abril 15, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Pedro Adão e Silva

Iniciámos este mês no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Pedro Adão e Silva, professor universitário, comentador politico (no Expresso, SIC Notícias e TSF) e autor do programa Zona de Conforto, na TSF. Ao Pedro um muito obrigado pela colaboração.


Estou convencido que ninguém começa a comprar e a ouvir discos na idade adulta. Como todos os outros prazeres que perduram, o da música tem de começar bem cedo e as memórias mais marcantes são, também, as que chegam com as primeiras descobertas. As lojas de discos de que guardo melhores memórias, e que funcionam como medida de todas as outras, são as que percorri na adolescência. Umas, com muita frequência, outras, esporadicamente, mas o suficiente para deixarem marcas indeléveis.

À nostalgia dos lugares corresponde também uma outra: a de uma forma de procurar e comprar música que já não regressa. Da experiência táctil de percorrer com os dedos filas intermináveis de vinis e, não menos relevante, do tempo sem fim que tinha para explorar as poucas novidades que chegavam e o fundo de catálogo, onde buscava uma promoção inesperada. Comprar um disco era o culminar de uma longa peregrinação, que implicava poupar todo o dinheiro recebido para depois ficar semanas a fio a ouvir o mesmo álbum, vezes sem conta. Hoje, entre democratização do acesso e o crescimento exponencial da oferta, essa relação afetiva, feita de escutas prolongadas e insistentes, foi sendo reinventada.

Em parte também por isso, as lojas de discos de que mais gosto já não existem. Faziam parte de um mundo que se perdeu. Já o vício dos discos continua cá e quando penso nele, sei reconhecer os lugares exatos onde o construí. Nas idas tímidas à Contraverso, espaço de todas as descobertas, onde um miúdo, com umas notas no bolso, se sentia naturalmente constrangido por aquela música que ainda não conhecia, mas que queria conhecer toda – e com vergonha de fazer perguntas que expusessem toda a ignorância. Ainda hoje, sou capaz de ser devolvido ao dia em que, aí, comprei o primeiro CD – e em que comecei a abandonar o vinil – o Guitars and Other Machines dos Durutti Column, acabado de sair. A primeira visita a Nova Iorque, ainda na adolescência, e o espanto com as megastores, e com os discos bem mais baratos, mas também com algumas pequenas lojas em downtown onde me perdi tardes inteiras (com uma tolerância infindável da família que queria ver a cidade); as idas a Londres, as luzes fortes e as prateleiras infindáveis da HMV e o regresso a Lisboa com o que me parecia meio-catálogo da 4AD debaixo do braço.

Ainda assim, continuo a encontrar ecos esparsos desse mundo em desaparecimento. Em Lisboa, na Flur, que combina esse olhar para o passado com um ambiente moderno, fruto da luminosidade que contrasta com os cantos escuros onde ficavam as lojas do passado. Ou, como aconteceu, há semanas, em Austin, no Texas, onde regressei subitamente a esse passado na Waterloo. Uma loja que parece transportada desde outro tempo: novidades, segunda mão, fundo de catálogo, vinis a perder de vista e muito memorabilia para nostálgicos, numa loja cheia de gente, a provar que são muitos aqueles para quem não basta receber discos, via correio, encomendados pela net. Por mais que retiremos cuidadosamente o plástico envolvente, leiamos todo o inlay e coloquemos a pequena rodela a tocar, a experiência de ouvir um disco não é a mesma. Nada se compara à audição de um disco que avistámos primeiro numa prateleira e comprámos, por vezes num impulso.

sexta-feira, abril 12, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com João Mascarenhas

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do João Mascarenhas, da Stealing Orchestra. Ao João um muito obrigado pela colaboração.

A primeira loja de discos, onde passava todos os dias, antes de me ir enfiar num salão de jogos ver "os grandes" jogar Ghost' n' Goblins, era em Famalicão, onde vivi 5 anos. Não me lembro do nome, lembro-me que 95% da loja eram electrodomésticos e que o dono, um senhor simpático de óculos e barba, me ajudou a completar a colecção em vinil dos The Clash, a minha banda preferida quando tinha menos de 15 anos. Comprar em vinil naquela altura não era um capricho elitista. Era o que havia. Isso ou cassetes. Nunca comprei uma única cassete. Roubei uma uma vez numa loja em Bragança, dos The Cure ao vivo. Mas nunca lhes liguei nenhuma. E nunca mais voltei a roubar cassetes, nem discos, nem nada. Acho eu. Com o dono da loja em Famalicão conheci por exemplo os Nine Inch Nails, provavelmente em 1990, quando ele me mostra o Pretty Hate Machine e me diz "és capaz de gostar disto". Gostei, mas depois nunca mais quis saber. Muito choninhas. Preferia os Ministry, cujos discos comprei quase todos na Vandoma.

A segunda loja foi a Bimotor. Nessa altura já viva no Porto e ia lá comprar música industrial, electrónica, techno e metal, já em CD. Os tipos que lá trabalhavam também já me conheciam bem e me recebiam sempre de forma simpática. Ou acho eu que sim. Agora que sei o que é estar atrás dum balcão consigo olhar para trás e sim, eu era um desses clientes chatos que ficam horas a ver coisas. E quando se vê discos demora-se muito tempo.

Estas foram as duas lojas que mais me marcaram, porque a fase mais forte da nossa aprendizagem musical é a adolescência. É aí que tudo é novo e há um mundo inteiro por descobrir. Depois crescemos e já não somos surpreendidos a toda a hora. Mas vai acontecendo e todos os anos saem discos bons. Destaco para já, de 2013: Kongh - Sole Creation, Guapo - History of The Visitation, Rhye - Woman, Czarface - Inspectah Deck + 7L & Esoteric e Bonobo - The North Borders.

Hoje compro menos discos, não digo porque para não me prenderem, mas quando compro é na Louie Louie. Vou lá às vezes buscar os discos da minha vida em vinil. O ultimo foi o Mëkanïk Dëstruktïẁ Kömmandöh dos Magma. Agora sim por capricho.

quinta-feira, abril 11, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Pedro Gonçalves

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Pedro Gonçalves, copywriter e crítico de música da Time Out. Ao Pedro um muito obrigado pela colaboração.
PS. Bem que me lembro das 'maratonas' dentro das grandes lojas em Oxford St, sempre a dividir o olhar entre o ponteiro do relógio a avançar para a hora marcada, as estantes de discos ainda por ver e a mão-cheia que se ia avolumando... Já agora, guardo também boas memórias da Rhythm Records, de onte foi sobretudo trazendo alguns singles ao longo dos anos...

Rhythm Records
(Camden High Street, Camden Town, Londres)

Escolher a cidade de Londres para recordar uma loja de discos desaparecida não é seguramente um acto de originalidade. Mas para quem, como eu, alimentou até dada altura da sua educação musical a ideia de que tudo o que era importante vinha de Inglaterra, a escolha é praticamente instantânea. (Vejamos: em Alta Fidelidade, o livro de Nick Hornby, a loja Championship Vinyl é em Londres; por insondáveis motivos, o filme mudou-a para Chicago).

Nunca fui, ao contrário de muitos melómanos que conheço e estimo, um rato de lojas de discos. Sempre as adorei (recordas-te, Nuno Galopim, de invasões bárbaras às lojas de Oxford Street em que marcávamos encontro para a saída algumas horas depois de entrarmos?), mas nunca cultivei grande fidelidade por nenhuma. Nem em Lisboa, muito menos em qualquer outra parte do mundo. Havendo objectos de desejo para venda, da Bimotor (Lisboa) à Virgin dos Campos Elíseos (Paris), dos armazéns do EuroClube (Lisboa) à feira no Electric Ballroom (Camden Town, Londres) onde comprei a edição original do single This Charming Man, dos Smiths, sempre valeu praticamente tudo.

Em Londres, fiz boa parte da vida de consumidor compulsivo de discos nos locais menos hip que se possa imaginar. Não era necessário ir para longe de Piccadilly Circus para saciar o apetite voraz por música nova (mais do que por música velha). Num curto raio de acção, que se estendia até Oxford Street, tínhamos a Tower Records, a Virgin Megastore e a recentemente muito propalada HMV. Várias, até. Enormes, com vários pisos, secções carregadas de vício, novidades de que em Portugal se ouvia remotamente falar. Mas depois houve o dia em que, em passeio numa Camden Town feita caricatura pós-pós-punk e berço e epicentro da britpop, entrei numa loja do lado esquerdo da Camden High Street, para quem vai do metro em direcção ao Lock Market.

A Rhythm Records ficava no local onde em tempos havia funcionado a Honest Jon's, lendária loja londrina entretanto instalada na Portobello Road (que deu também origem à editora de que Damon Albarn é cabecilha) e cuja história merece recomendação de leitura (James Lavelle, fundador da Mo'Wax, trabalhou ali na adolescência, por exemplo). Era uma pequena loja com piso térreo e cave. Cave, naturalmente. Um retiro separado do mundo por uma escada em caracol e milhares de discos, novos e em segunda mão, que em pleno apogeu da britpop a ignorava olimpicamente, ao contrário do que sucedia no piso da entrada.

Uma porta, uma pequena montra e um letreiro com o nome da loja faziam a ligação com o mundo exterior. No rés-do-chão encontrava-se sobretudo pop e rock, tudo quanto é novidade indie em destaque, a par da imensa herança cultural britânica, dos progressivos aos mods. Era o lado solar da Rhythm Records. Descendo as escadas, a música era outra. Era dirigida a outras curiosidades, algo que ainda vinha dos princípios dos fundadores da Honest Jon's – Dave Ryner, sócio da Honest Jon's, abriu a Rhythm Records depois de terminar a sociedade com Jon Clare em 1982. Dividia-se em espaços, como nichos de especialidade, onde entre outras coisas era possível mergulhar na apetecível História da música jamaicana, entre outras histórias mais obscuras.

Não posso dizer que fui grande financiador da Rhythm Records nos seus 20 anos de existência. Era ponto de paragem recorrente nas viagens, mas sobretudo fornecedor cirúrgico, ao contrário das tais lojas maiores de onde saíamos com pazadas de sacos. E, curiosamente, aquilo que me acorre logo à lembrança quando penso no que lá comprei não é um disco, mas um poster. Um poster de Body Movin', single dos Beastie Boys de 1998, de imaginário cinematográfico vintage. É esse poster, ainda hoje numa parede de minha casa, que ilustra esta prosa. Comprado no comércio tradicional de discos.

quarta-feira, abril 10, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Abel Soares Rosa

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Abel Soares Rosa, autor de livros sobre a discografia dos Beatles e dos Rolling Stones em Portugal e também do blogue Beatles Forever!. Ao Abel um muito obrigado pela colaboração.
Londres 77,

No tempo em que a música voltou a ser rebelde, fiz a viagem da minha vida, fui a Londres... 8 dias com os finalistas do Liceu Pedro Nunes, contava ainda com a companhia de amigos (e muitas amigas...) do Colégio Nuno Alvares em Tomar.

Foi glorioso, as olheiras não cabiam na Portela, 8 dias sem dormir, ao fim do terceiro, sublimes Van Der Graaf Generator ao vivo na Round House, ainda a corrida ao Marquee e Samantha’s, todos os dias!

Levava as poupanças de um ano, a Troika ainda não tinha invadido, a colecta familiar funcionou, só ia ao Hard Rock Café original e aos Wimpies, às lojas Jean Machine, e claro entrava naquelas sublimes discotecas de King’s Road, Notting Hill (Portobello Road), Soho, Wardour Street, Oxford Street, Carnaby Street, Berwick Street... nunca mais de lá saía! Enchia o saco (com o target mod) e depositava eufórico no banco do meu quarto (triplo, cabine de duche no meio do dito, andares separados pela alcatifa...) do Hotel Julius Cesar em Marble Arch. Na época as restrições na alfândega eram terríveis, acreditam que tudo quanto era bicho careta do Liceu, trazia toneladas de discos meus? Quando cheguei ao aeroporto de Lisboa parecia a Feira do Disco...

Comprei nessa viagem muitos dos discos da minha vida, podia referir centenas, mas duas merecem o top, a Rebel Music dos Sex Pistols e o famoso Never Mind The Bollocks, em pleno auge do punk, a foto que envio é a montra da Virgin original onde tal preciosidade foi adquirida, mas outra grande referência da minha vida musical, também foi feliz nessa viagem,  todos os LP dos Beatles, as edições originais inglesas (Mono e Stereo) compradas em várias das catedrais do Vinil londrino...


Outra das minhas lojas de Discos preferidas era a Intoxica (Portobello Road), do meu quase amigo Bill, ao longo da vida comprei por lá muitos discos e fiz outras tantas trocas magníficas. Bill era um especialista em Bob Dylan. Agora acho que só está Internet. Fiquei muito entusiasmado com uma edição de Moçambique (que não conhecia) de Highway 61 Revisited... Na ponta da troca lá veio mais uma raridade do Bowie, The Man Who Sold The World, a célebre capa com o vestido.

Esses dias londrinos foram a minha passagem iniciática para o rock’n’roll, a Virgin de finalistas do liceu... A demanda dos discos e das lojas que marcavam a diferença, a paixão da música.

terça-feira, abril 09, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Jorge Manuel Lopes

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Jorge Manuel Lopes, da revista Time Out. Ao Jorge um muito obrigado pela colaboração.


A minha ideia de loja de discos perfeita é um espaço vasto, com discos (e livros, DVDs e o resto) do chão ao tecto e a maior variedade que humanamente seja possível. Um local essencialmente utilitário que encarne a diversidade de escolha e da democracia dos afectos. O absoluto oposto da loja de discos a la Alta Fidelidade, clube elitista em que se escarnece de quem entra e pede o disco “errado”.

As melhores lojas de discos onde entrei foram no estrangeiro. Apenas porque foi em cidades como Londres, Paris, Dublin, Estocolmo ou Miami que encontrei (o pretérito é, infelizmente, mais do que adequado) os maiores espaços com a maior diversidade. Nenhuma suplanta a há muito finada Tower Records de Piccadilly Circus, enclave americano no coração londrino, monumento labiríntico cuja memória olfactiva ainda preservo e onde comprei demasiados CDs, livros, jornais e revistas, em raides diurnos e nocturnos, sóbrio ou antes pelo contrário, para me lembrar de um em especial. Ao nível da Tower só a HMV de Oxford Street, com a incontornável parede onde se expunham os CD-singles do top 30 daquela semana. A única Virgin com lugar seguro na memória é a dos Campos Elísios, a minha primeira megastore (Natal de 1990), onde comprei What’s Going On (e Gala das Lush) ainda em vinil, por conveniência e não como statement.

Quando viajo, raramente me ocorre procurar música em lojas-boutique-gourmet. O que, na prática, significa que neste momento dificilmente encontraria loja que me interessasse. Há anos que compro os discos quase todos na Amazon. Pelas mesmas razões que antes me levavam às megastores. É na Amazon ou na iTune Store que sobrevivem as noções de middle ground e de grande público. Que prosperem por muito tempo, porque sem grande público não se geram grandes ideias.

segunda-feira, abril 08, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Isilda Sanches

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Isilda Sanches, da rádio Oxigénio. À Isilda um muito obrigado pela colaboração.


Onde cresci não havia lojas de discos. O mais parecido eram as bancas das feiras que nunca tinham nada que me interessasse. Os discos que eu queria, desde que me lembro de querer discos, estavam nas listas da Gema Records, que os meus irmãos levavam nas férias.
A primeira loja de discos em que entrei foi a Discoteca do Carmo, em 1983 ou 1984, numa visita a Lisboa. Fiquei fascinada enquanto o meu irmão comprava, acho que um disco dos Cure. Durante os anos de faculdade, já em Lisboa, passava regularmente pela discoteca Arco Iris para comprar clássicos em Nice Price. Foi assim que a minha coleção de discos cresceu.
Mas a verdadeira mitologia das lojas de discos começou com a Contraverso e uma imensidão de nomes que desconhecia, mas que queria descobrir só porque estavam ali. A Contraverso tinha uma certa aura de sociedade secreta, parecia que era preciso ter acesso a conhecimento especial para merecer comprar os discos. Normalmente as idas eram planeadas e cronometradas. Lia as critica, poupava o dinheiro e treinava o espirito para não cair na perigosa tentação de comprar mais discos do que podia. As conversas esotéricas que só os geeks de lojas de discos têm, tornavam a ida as idas à Contraverso numa experiencia de risco, porque, como se sabe, um disco leva a outro e falar com pessoas, ou ouvir pessoas falar, em lojas de discos faz desabar qualquer contenção orçamental. Apesar disso, admito que também tenho um lado de geek de lojas de discos e já passei muitas horas em conversas mais ou menos esotéricas sobre discos e bandas e musica. Na Torpedo, do terminal do Rossio, onde passava quase todos os dias antes de apanhar o comboio, na Lollipop do Rui Miguel Abreu e do Rui Vargas, onde ia muitas vezes passar tardes de sábado só porque sim, na Bimotor quando ia buscar discos para a XFM, hoje na Flur, que é parte da familia.
Todas elas têm história, mas as que mais me ficaram na retina ficam em Zurique na Suiça. Lojas de segunda mão, cheias de pérolas esquecidas em caixotes por cima e debaixo de mesas, obscuridades do mundo inteiro em múltiplos exemplares, verdadeiras rodelas de história que apetece comprar às caixas. Quando a oferta é muita eu tendo a bloquear mas, mesmo sem conseguir comprar nada, passei longas horas a vasculhar nos caixotes. A foto é de uma delas, a Zero Zero, mas também podia ser da Recordjunkie.

sexta-feira, abril 05, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com John Gonçalves

Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de John Gonçalves, dos The Gift. Ao John um muito obrigado pela colaboração. 
Também passei várias vezes por estas lojas. Tenho gratas memórias desta velha Tower ainda nos oitentas. Da última vez que por lá passei estranhei a falta dos discos naquela esquina (assim como foi bizarra a sensação de ver o lugar onde conheci o CBGB, que fica pouco mais adiante, na Bowery, a albergar uma loja de roupa). Vale-nos a Other Music, que sobrevive, e onde comprei a edição em vinil do mais recente Panda Bear a solo. Também é a minha loja de eleição em Nova Iorque (se bem que confesso que não resisto à Rebel Rebel e demais lojas de vinil no Village, ali bem perto).


Corria o ano 2000 e nessa tarde de final de Outubro fui, como em tantas outras vezes, às minhas duas lojas favoritas de New York.

Na esquina da Broadway com a East 4th Street, entrei na Tower Records e aí me deliciei com tudo o que eram novidades de música, cinema, livros, séries e outros elementos da cultura pop que sempre me fascinavam.

Nessa tarde comprei o Sopthware Slump dos Grandaddy e andei 50 metros para a Other Music que ainda hoje é a minha loja de eleição em New York. Ao chegar, vi um poster com a capa do disco Whoa, Nelly de Nelly Furtado no vidro e o empregado hipster de serviço, convenceu-me a comprar esse disco dizendo que "Nelly era a mais recente coqueluche da folk indie pop canadiana".

Hoje duvido que alguém ouse recomendar Nelly Furtado na Other Music, nem tão pouco Grandaddy na Tower, mas por razões diferentes - a loja já não existe!

Apesar do ar hipster e/ou arrogante de algum dos empregados da Other Music me ter irritado um ou outro dia ao longo destes últimos 13 anos, sempre encarei esse facto como parte do élan de pequena loja indie, cartilha aliás popularizada no filme High Fidelity ou antes, no livro de Nick Hornby.

Aí encontrei muitas das "next big thing indies" que fizeram depois furor no mundo discográfico, descobrindo vários discos, cartazes e/ou recomendações de muitos concertos nos vários palcos da cidade, especialmente a partir de 2008.

Estas duas lojas nunca foram concorrentes, mas sim complementares e continuo a frequentar a Other Music pensando muitas vezes de forma nostálgica na sólida Tower Records que fechou há uns anos, dando lugar a lojas doutros negócios! 

Ambas as lojas eram duas faces da mesma moeda e deveriam conviver juntas por muitos mais anos.

Se me convidassem no ano 2000 a escolher qual das duas lojas poderia encerrar primeiro, eu não hesitaria em dizer que essa loja seria a Other Music, embalado pelo nome gigante, pela solidez, tamanho e diversidade da Tower Records.

Enganava-me e o encerramento desta Tower Records apenas prova que o presente e futuro das lojas de discos está nos nichos e na maneira como se consegue fidelizar/renovar o público dentro duma estética definida e na modernização dos seus serviços.

Parabéns à Other Music pela sobrevivência da loja tradicional em New York, pelas newsletters semanais que me envia com as novidades que posso comprar online em Alcobaça ou no Rio de Janeiro e Parabéns à Tower Records pela educação de muitos dos ainda clientes da pequena grande loja no numero 15 da East 4th Street, NY ou através do site othermusic.com.

quinta-feira, abril 04, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Vítor Junqueira

Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Vítor Junqueira, autor do blogue Juramento Sem Bandeira e do livro Narradores da Decadência, sobre os Mão Morta. Ao Vítor um muito obrigado pela colaboração (e pela sugestão de uma loja que não conhecia e que tenho de visitar quando voltar a passar por Bruxelas).


Julgo que não tenho uma loja de eleição. Adoro estar na Select-a-Disc, em Londres, na Wah Wah e na Revolver, em Barcelona, na Louie Louie e na Magic Bus, em Lisboa. Ao ar livre da Feira da Ladra ou nos ridículos oito m2 de loja do vendedor da minha rua. Não importa o tamanho do espaço ou tampouco a quantidade de discos, quando nela encontramos o que procuramos ou até o que não sabíamos que procurávamos. Ou quando a conversa com quem lá trabalha nos fazem sentir a pertença a um pequeno mundo de lunáticos. Um mundo a gozar dos seus últimos dias num universo de streamings. E, atenção, o streaming é bom, porque, ao fim, o que queremos é música a encher-nos os ouvidos, cabeça e corpo, certo?

Mas vou falar de uma loja em particular, a minha última descoberta de eleição, respondendo assim ao repto do Nuno. De cada vez que vou a Bruxelas, procuro por lojas de banda desenhada (outra paixão de lunáticos) e de discos. Estas últimas, infelizmente, andam a desaparecer. Boas lojas encontrei noutras alturas que agora estão de grades corridas para sempre. Como em Londres. Na última vez, passava pela Rue du Midi, muito perto do Manneken Pis (o pequeno miúdo que passa noite e dia a esvaziar a bexiga) e dei de caras com a Le Dépôt. No piso térreo, fiquei imediatamente doido com a quantidade estupidamente massiva de BD espalhada pelas várias salas da casa, em primeira ou em segunda mão, francófona ou flamenga, atual ou com várias décadas a fazerem amarelecer as páginas. Mas havia mais. Numas periclitantes escadas de madeira, a meio de uma das salas interiores, começava a adivinhar-se o que havia lá em cima. Cada degrau servia já de escaparate para os discos. Imensos. Nas salas de cima, repetia-se o cenário de caos razoavelmente controlado que havia encontrado em baixo. “Caos”, porque se fica assustado com as quantidades em exposição, preenchendo todos os escaparates, todos os buracos, todo o espaço que exista e que não ponha em causa a circulação. “Controlado”, porque depois de instalados, começamos a perceber a lógica da coisa. E é tão fácil ficar ali horas a respirar o pó das capas, a esquecermo-nos de que o chão pode ir abaixo a qualquer instante, sob o peso de tanta discaria. Por ali se encontra música de todo o mundo. Repito, é mesmo todo o mundo. Não é como nas lojas de Londres. Temos rock inglês e americano, sim, mas também música da Indonésia, do Chile, do Zimbabué, de há 20 ou de há 50 anos atrás. Bandas sonoras, library music, discos infantis, peças de teatro ou de rádio, um mundo, tudo em ótimo estado de conservação. Mint/Mint. E, claro, encontramos também música portuguesa: de entre a sacada de BD e de discos que trouxe, guardo com muito carinho uma edição catalã do Contra a ideia da violência a violência da ideia, do Luís Cília. Se andarem por Bruxelas, visitem a Le Dépôt e, já agora, porque também é obrigatória, a The Collector Record & Movie Gallery, ali muito perto, mesmo ao lado da Bolsa.

quarta-feira, abril 03, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Álvaro Costa

Foto: Mike Dillon / Wikipedia
Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Álvaro Costa, divulgador da cultura pop com trabalho sobretudo na rádio e televisão  e com quem partilhei muitos serões de rádio. O Álvaro fala-nos na mítica Tower Records, que morava no Sunset Strip, em Los Angeles, ali mesmo ao lado da livraria Book Soup ou do Viper Room. Foi por sugestão dele que, de resto, visitei esta loja, onde me lembro de ter comprado o Medazzaland dos Duran Duran e um álbum dos Dandy Warhols. Ao Álvaro um muito obrigado pela colaboração.

Lembrei -me do meu professor de Linguística. O famoso Herr Franco, para  quem a cadeira se assemelhava ao mapa de metro de Hamburgo. E de Kristeva ou Ferdinand de Saussure. Signficados ou significantes? 
Tower Records. E basta! Significado: loja de discos, brand pop, cadeia supermercado cultural. O pequeno grande negócio "mom and pop" que se torna um império. America.
Signifcante: Tower! e basta. Monumento pop. Faz me falta o cheiro a cartolina doce e novinha em folha. As estrelas vivas ou mortas que desciam as colinas. Vampiros pop chamados Manzarek, Depp, Kiedis, Walken, Morrison. Faz-me falta as filas à meia noite. Os concertos inesperados. As revistas acabadas de sair de um forno elétrico. Os livros de pop cultura que amontoava como se fossem o ultimo helicóptero a sair de Saigão. E as k7s às mãozadas. Roda da fortuna cujos ponteiros alimentados ao dólar à onça apontavam os caminhos de Oz da poplândia. E o parque de estacionamento mais rock and roll da showbizlândia? Sim, Tower!


terça-feira, abril 02, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Ricardo Saló

Iniciámos esta semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Ricardo Saló, referência maior da crítica musical entre nós, divulgador na rádio (hoje na Antena 2) e autor da compilação 'Sta. Apolónia Soul Station' (2002). Ao Ricardo um muito obrigado pela colaboração.


As minhas lojas mais marcantes foram a Contraverso, a Discoteca do Carmo (a 'little shop of wonders' situada na rua do mesmo nome, por onde entrou, em Portugal, toda a new-wave, mais o John Cale, a Nico e o Eno), as inúmeras lojas que havia na zona da Avenida de Roma, nos anos 60 (marcantes para eu ficar 'lost in music' para o resto da vida), uma inacreditável loja de vão de escada, na Calle dels Tallers, Barcelona, onde um tipo vendia todos os discos que povoavam os meus sonhos (os quais lhe comprei em troca de todo o dinheiro que povoava a minha carteira...), as lojas soul e/ou reggae de Soho, Londres, a Tower Records, de Picadilly (Londres, período 86/89), a Virgin Records, de Tottenham Court Road (Londres 1986), a HMV, de Oxford Street (Londres, de 1989 em diante), uma pequena loja de Times Square (na qual se combatiam, verbalmente, de manhã à noite, duas gerações da música negra, ao nível do pessoal da loja - fanáticos do som clássico da Motown versus gente capaz de morrer pela SugarHill e pela Sleeping Bag) e a loja da Sexta Avenida, onde rebuscava a secção de bandas sonoras e, a dada altura, reparei que a figura que fazia o mesmo, a mau lado, era Sean Connery - 'James Bond is downstairs!', exultavam as empregadas da loja). Disco? Talvez o segundo dos Rockers Hi Fi (Mish Mash).

segunda-feira, abril 01, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Luís Pinheiro de Almeida


Hoje iniciamos no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Outrora muitas, em tempos maiores, não estão a desaparecer por completo, mas é verdade que hoje são poucas e começam a adaptar-se aos novos tempos. O vinil, os cultos, o circuito de coleção e dos discos usados são realidades já com expressão no presente em lojas portuguesas. Ao contrário de Londres, outrora a capital europeia das lojas de discos (e onde hoje o clima se aproxima do semi-desértico) as capitais nórdicas encontraram novos rumos com novas soluções (novamente o vinil, os cultos, mas também a criação de eventos) e podem dar-nos uma ideia de futuro possível. Para já, e num momento em que a era das discotecas de bairro já parece coisa da história antiga e a das grandes lojas terminou, deixamos aqui relatos na primeira pessoa dessas vivências entre discos.

Começamos com as memórias de Luís Pinheiro de Almeida, autor do livro Beatles em Portugal. Ao Luís (com quem andei por algumas lojas de discos nos noventas) um muito obrigado pela colaboração.


No meu tempo…

Bom, no meu tempo, que começa nos anos 60, em Coimbra, as lojas de discos chamavam-se discotecas.

A primeira discoteca onde terei entrado foi a Olímpio Medina, em Coimbra, onde, puto de 15 anos, de capa e batina, roubei o primeiro disco dos Beatles, She Loves You, no dia 18 de Abril de 1964

Mas discotecas a sério só em Lisboa, já a década de 60 ia avançada: muitos EPs na Casa Gouveia Machado, o primeiro LP dos Doors na Sol & Dó, muitos singles na Sinfonia (Live In The Sky, Dave Clark Five, Games People Play, Joe South, Love At First Sight, Baker Street Philharmonic, Amor Novo, Luís Rego), um EP inglês de Bob Dylan exposto ao sol como se fosse um jornal no exterior na Tabacaria Canasta no dia 14 de Dezembro de 1966 (One Too Many Mornings).

Lisboa era mesmo um viveiro: Compasso (Chase, Carlos Mendes, You’re So Vain, Carly Simon, Le Lac Majeur, Mort Shuman, All Those Years Ago, George Harrison), Apolo 70 (Part Of The Union, Strawbs, Smoogin’, Smoog, (I Can’t Get No) Satisfaction, Trittons, Junior’s Farm, Paul McCartney and Wings, Have I The Right, Dead End Kids), Drugstore Sol a Sol (Magical Mystery Tour, Beatles), Melodia, Discoteca do Carmo (Double Fantasy, John Lennon), Universal (When A Man Loves A Woman, Percy Sledge), Valentim de Carvalho (Tous Les Garcons Et Les Filles, Françoise Hardy, I Get A Kick Out Of You, Gary Shearston), Grande Feira do Disco, Frineve (Sê Um GNR, GNR), Livraria Barata (alguns de Zeca Afonso), Concorrente (Ode To The Beatles, Quarteto 1111, Pop Corn, Popcorn Makers, El Camino, Juan Carlos Caceres), Coop Bancários (Johnny B Goode, Peter Tosh), Livraria Ler, Estabelecimentos Electro-Ouro Lda.

E a capital portuguesa chegou a ter megastores como a da Valentim de Carvalho, no Rossio, e a Virgin, onde agora está a Loja do Cidadão, nos Restauradores.

Mas o que importa para aqui são as discotecas inglesas e essas – oh meu Deus! – eram o êxtase total: mexer naqueles discos, sujar as mãos com o pó, descobrir as novidades, comprar os grandes êxitos, arriscar no desconhecido.

E quando elas, as discotecas, era mais sofisticadas, até se comia lá dentro um muffin de chocolate e um capuccino para não perder pitada…


Recordo muitas, muitas, as várias HMVs, Virgins, Our Prices e Towers espalhadas por toda a cidade de Londres, mas também a Rhythm Records (provavelmente a que mais me enchia o olho e esvaziava a carteira), Sister Ray, Music & Video Exchange, Rough Trade, Revival Records, Harlequin Records, Selfridges, Sounos, I Was Lord Kitchener’s Valet e Gear, estas três últimas na Carnaby Street dos anos 60.

Até as lojas em Heathrow eu percorria para uma última aquisição.

Mas deixem-me recordar duas discotecas londrinas, ambas já desaparecidas, que sempre trago no coração pela história que ostentam.

Uma, Chelsea Drugstore, em King’s Road, que os Rolling Stones celebrizaram em You Can’t Always Get What You Want e Stanley Kubrick em A Clockwork Orange. Foi o primeiro drugstore britânico, abriu em Julho de 1968 e fechou em Maio de 1971. Hoje é um McDonald’s.

Comprei lá muitos discos na Páscoa de 1970. Do que tenho apontado, lembro: Everybody Get Together (Dave Clark Five), That Same Olf Feeling (Pickettywich), Let’s Work Together (Canned Heat) , Travellin’ Band (Creedence Clearwater Revival) e Bridge Over Troubled Water (Simon and Garfunkel).

A segunda, provavelmente a mais famosa e a mais histórica, a HMV no 363 de Oxford Street (foto grande mais acima).

Foi aqui, no dia 08 de Maio de 1962, que Brian Epstein passou as chamadas “Decca Tapes”, dos Beatles, para acetato. Foi aqui também que o mesmo Brian Epstein se encontrou com Sid Coleman, da companhia de publishing da EMI, Ardmore & Beechwood (primeiro publishing dos Beatles), que, por sua vez, serviu de intermediário para o conhecimento com George Martin, da Parlophone. E o resto é história…

E foi aqui, também, que eu, sem o saber, comprei no dia 30 de Março de 1970 o que viria a ser o último single dos Beatles, Let It Be. Onze dias depois, Paul McCartney anunciava formalmente a dissolução do Beatles.

Esta primeira loja da HMV foi inaugurada no dia 21 de Julho de 1921 pelo compositor Edward Elgar e fechou em Abril de 2000.

Hoje, no local da discoteca, está, ou estava há poucos anos, uma Foot Locker, mas também a célebre placa azul que assinala os edificíos históricos da Grã-Bretanha, descerrada por George Martin no dia 26 de Abril de 2000.