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sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Novas edições:
Vários Artistas, Acid House Anthems


Vários Artistas
“Acid House Anthems”
Sony Music
4 / 5

As efemérides, sobretudo quando passam por números “redondos”, têm aquele condão de nos fazer falar de novo de algo que passou. Não estamos necessariamente a falar de nostalgia, que nem todos os olhares pelo passado vivem dessa perspetiva que fala de saudade e ponto final (afinal conhecer o que passou pode ajudar-nos a saber quem somos e para onde podemos ir). Em 2013 passam 25 anos sobre aquele 1988 em que, escutando ecos de novidade que chegavam da mesma Chicago que um ano antes tinha colocado a house no mapa das atenções de todo o mundo, Londres viveu o seu “segundo verão do amor” (que projetaria para Ibiza e, depois, muitas outras paragens) e serviu de capital para a expressão e exposição de um fenómeno que teria repercussões maiores na história não apenas da música de dança mas na própria forma da cultura pop/rock se relacionar com estes universos, que definitivamente deixaram de ser exclusivo da noite e rapidamente conquistam outros espaços de criação e de visibilidade. Apesar de algumas incertezas quanto à exatidão da sua origem, a designação acid house pode dever muito ao efeito revelador de Acid Trax, um máxi single que o projeto de Chicago Phuture (onde militava DJ Pierre) editou em 1987, revelando sobre uma estrutura diretamente nascida em clima house um mundo de efeitos inebriantemente contagiantes para os quais contribuiu o sequenciador Roland 303, que em pouco tempo se transformaria numa das “vozes” maiores da música de dança criada nos meses seguintes. Uma série de novos máxis ainda editados em 1987, apresentando temas como Washing Machine (Mr. Fingers), Dream Girl (DJ Pierre) ou Land of Confusuion (Armando) ajudou a focar uma abordagem formal à house, e criou uma linha da frente que em breve despertou entusiasmos em Londres (com sede maior nas noites do clube Shoom) e, à chegada dos meses quentes de 1988, teve expressão ainda mais evidente nas noites de Ibiza (das quais emergiria a primeira derivação do género, o ballearic). Acid House Anthems conta-nos, em 50 temas, a história do que então se passou. Recua a estes temas fundadores e mais ainda, lembrando sugestões ainda nascidas em terreno house que habitam as fundações desta música, incluindo temas-chave de Steve Silk Hurley, Frankie Knuckles, Coldcut, Bomb The Bass ou Raze, com o belíssimo Break 4 Love). O alinhamento acompanha depois a explosão de acontecimentos de 1988 entre peças que lançam ideias (como um Voodoo Ray de A Guy Called Gerald ou Oochy Koochy de Baby Ford) e as primeiras manifestações de evidente sucesso comercial que chegam depois de We Call It Acieed dos D-Mob ter alcançado o número um na tabela de singles do Reino Unido e colocado em patamar de sucesso pop temas como, por exemplo um Acid Man de Jolly Roger. Esta antologia – à qual falta apenas um texto de contextualização – explora depois das consequências diretas do fenómeno recordando criações que, assimilando os ensinamentos do acid house, projetaram depois ideias mais adiante, como um Pacific State dos 808 State (que abre alas a uma noção chill out que outros aprofundariam pouco depois), Loaded dos Primal Scream ou W.F.L. dos Happy Mondays (que encetariam determinantes diálogos com a cultura indie), Infinity de Guru Josh (um dos hinos da muito episódica vaga de “keyboard wizzards” de inícios dos noventas) ou canções como The Sun Rising dos Beloved ou Talking With Myself dos Electribe 101 (que levam a boa-nova a terrenos pop). Um olhar de relance pelo alinhamento nota ausências de nomes como Lil’Louis, Adamski, Humanoid ou figuras que passaram pela órbita do movimento como os KLF ou S’Express e até mesmo aquele que foi o derivado pop mais célebre da época, The Only Way Is Up, de Yazz. Ao mesmo tempo há aqui temas cuja presença neste alinhamento se explica talvez mais por um contexto de época que por uma afinidade com os trilhos acid house. Big Fun, dos Inner City, é na verdade uma ponte entre a house e o techno. Only Love Can Break Your Heart, dos St. Etienne, é um exemplo de um momento em que a pop escutou com outra intensidade o apelo dos ritmos de dança. O contagiante Promissed Land, de Joe Smooth, é um exemplo de assimilação de heranças R&B pela cultura house. E a remistura de Come Home, dos James, por Andrew Weatherall, um perfeito disparate. Mesmo assim o alinhamento de Acid House Anthems representa um dos mais amplos olhares sobre esse movimento com raízes em 1987, que floresceu em 1988 e ainda hoje projeta ideias. Vamos ouvir falar mais vezes de acid house este ano...

quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Em conversa: Kevin Saunderson

Pioneiro do techno, Kevin Saunderson passou na última semana por Lisboa. E hoje deixamos aqui uma conversa com o músico, DJ e produtor que foi originalmente publicada na edição online do DN com o título 'Uma canção é sempre uma canção'.

É um dos mais reconhecidos pioneiros da música de dança feita com eletrónicas. É mesmo visto como um dos pais do tecnho... Como se vive com o peso desta herança? 
Continuei a viver a música. A música está no meu sangue. A música foi evoluindo por vários caminhos... Não foi difícil...

Qual foi o peso da tecnologia na evolução desta música? 
A tecnologia é decisivamente importante nesta música. Mas há um lado humano que devemos considerar. Porque o verdadeiro impacte desta música tem a ver com as emoções. E foi assim que as coisas evoluíram para lá de Detroit.

O que havia para fazer de Detroit o berço do techno? Porque nasceu esta música ali e não outra cidade? 
Aquele foi o tempo para aquela música nascer. Havia uma figura que seguíamos e que nos inspirou. Era um DJ de rádio [o DJ Charles Johnson] que conhecíamos como Electrifyin' Mojo. Era único. Tocava música de uma forma bem diferente do que era tradicional. Isso ajudou bastante. Mais que qualquer outra coisa.

O que o atraía mais na música que ele apresentava? O seu apelo futurista? 
Era o som.... O som! Era aquele som que me atraía. Fazia pensar no que seria o futuro... Era muito sintético. Era um som que não era necessariamente uma música de dança. Era um som com uma forma diferente. Era definido por outras linhas, criava toda uma nova sensação...

Por algum tempo foi um fenómeno local. Mas como chegou depois ao resto do mundo? 
Era um som tão poderoso, tão único... Definiu novos caminhos para a música. Era DJ friendly... Abriu caminho a novas experiências

O apelo da canção, no caso dos Inner City [banda que Kevin Saunderson formou em 1987 e com a qual teve êxitos monumentais em 1988 ao som de Big Fun e Good Life], teve algum peso na globalização do techno
Foi mesmo muito importante. Abriu os ouvidos das pessoas e também das editoras discográficas.

Foi frustrante o quase silêncio que vos era votado antes dos Inner City? Já havia vários discos editados, mas a sua visibilidade não era de todo a mesma... 
Não seria exatamente frustrante porque nem era uma coisa pessoal. Para mim era música. E gostava daquilo que estava a fazer. E os discos até apareciam nas lojas... Mas não falaria de frustração.

O que mudou com os Inner City? 
Muita coisa, de facto. E foi muito rápido. Mas a coisa seguiu o seu caminho. Mas nunca deixei o contacto com os movimentos underground, que continuavam a existir. Mas a música era a que era e eu mantive-me o mesmo. Era importante ter mais visibilidade.

O final dos anos 80 foi marcante para a música de dança. Já havia música de dança antes. Até mesmo o disco. Mas porque só então ganhou o respeito transversal, visibilidade e volume de vendas que então mereceu? 
As coisas exigem tempo. Muitas vezes ouvimos uma faixa vezes sem fim e o tempo faz com que as coisas soem depois de maneira diferente. O tempo para a tecnologia evoluir, para o som evoluir... O disco ainda se ouvia muito, e eu gostava de disco... Mas era uma coisa muito sincopada... E sugeria sensações diferentes.

O cinema de ficção científica terá tido algum peso na abertura do interesse das pessoas a este som mais sintético? 
Não sei... Não creio que tenha tido. Para mim era mais o fazer daquelas canções com aqueles elementos. Trabalhar com caixas de ritmos e sequenciadores. E depois, ainda por cima, não havia regras. Eu não era músico, não sabia nada de solfejo... Mas sabia o suficiente para poder experimentar. Para me poder transformar num produtor. Porque sentia a música. E essa maneira se sentir abriu o caminho para explorar aquelas ferramentas, compreender aquilo com que estava a trabalhar, podendo assim fazer música com o que mais me inspirava. E soar como nada mais soava.

Ia a discotecas? Ou ouvia mais música na rádio? 
Ouvia mais música na rádio. Também fui ao Garage quando passei por Nova Iorque... Mas fui lá umas quatro ou cinco vezes. E em Detroit mal saía à noite. Pelo menos para clubes.

Quais foram os primeiros sons de música eletrónica que se recorda de escutar na rádio? 
Acho que foi nos inícios dos anos 80... Com os Cybotron [projeto de Juan Artkins e Rick Davis]. E foi por essa altura que comecei a ouvir também coisas como os Kraftwerk e New Order. Nem podia acreditar que se fazia música como aquela. Tão cool! Tão refrescante e relaxante ao mesmo tempo...

Mas nem toda a gente reagia assim. Houve um tempo em que a música electrónica era encarada com ceticismo por algumas pessoas... 
Eram pessoas com medo da tecnologia. Não a compreendiam. E chamavam-lhe nomes feios. Que não era música... Era uma reação de medo a algo que sentiam como uma ameaça. Mas era apenas música. Quando as pessoas dizem que a música não é como dantes lembro sempre que muita coisa aconteceu pelo caminho. Respeito as opiniões, mas a história faz-se assim. E, no fim, uma grande canção é sempre uma grande canção.

sábado, fevereiro 25, 2012

Inner City, 1987

Assinalando a passagem de Kevin Saunderson por Lisboa evocamos Big Fun, o tema que em 1987 apresentou o seu projeto Inner City e que se afirmaria num momento marcante de exposição do techno, que então nascia em Detroit, a outras latitudes. Aqui fica, 25 anos depois, a memória do teledisco.