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quarta-feira, janeiro 03, 2024

Bradley Cooper
* 10 filmes de 2023 [5]

* BRADLEY COOPER
Maestro

Dir-se-á que, tal como em Assim Nasce uma Estrela (2018), Bradley Cooper faz um filme cuja "base" é a matéria musical. Sem dúvida, quanto mais não seja porque Leonard Bernstein é um dos grandes compositores do século XX, alheio a hierarquias académicas que dividem a música em "séria" ou "ligeira". Mas o essencial é incomparavelmente mais rico e complexo: trata-se de expor a música, não como "produto" de um criador, mas sim corpo e alma desse ser humano que lhe dá vida. Uma grande história de amor, eis o resumo possível — com a sublime Carey Mulligan, convém não esquecer, ao lado do admirável actor/realizador.


* * * * *
Mark Cousins
Nanni Moretti
Nuri Bilge Ceylan
Jafar Panahi

terça-feira, dezembro 26, 2023

A cultura é uma guerra

Bradley Cooper em Maestro:
relançando a herança de Leonard Bernstein

A lição de Leonard Bernstein transcende a sua vida e o seu tempo: a arte de escutar a música envolve valores que continuam a marcar-nos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 dezembro).

Uma das proezas equívocas da nossa cultura democrática nasce de um perverso recalcamento. A saber: deixámos que a noção de “entretenimento” fosse tomando o poder no nosso espaço cultural, a ponto de, por indiferença ou cinismo, aceitarmos que tudo aquilo que “entretém” está isento de qualquer necessidade de reflexão. Mais ainda: aos produtos que se reivindicam como bandeiras de algum “divertimento”, ou como tal são promovidos, supõe-se não ser legítimo pedir qualquer tipo de responsabilidade social.
A questão é suficientemente perversa, insisto, para que tomemos a devida atenção, de modo a não atrair mais uma gritaria de “opiniões” sobre o que é “bom” e o que é “mau”. “Eu acho que…” passou a ser a palavra-passe para que as possíveis trocas de ideias sejam reduzidas a paradas de narcisismo.
Trata-se apenas de dividir as águas, ou melhor, de reconhecer que as águas se dividem. Qualquer “produto cultural” (a expressão está viciada pela instrumentalização financeira do marketing mais demagógico) liga-se com valores de comunicação e narrativa que, com maior ou menor consciência, definem uma determinada visão do mundo — e não há nada de mais cultural do que a incompatibilidade desses valores gerada e, mais do que isso, expressa nas diferenças entre tais “produtos”.
Se quisermos resumir de forma esquemática, porventura sugestiva, o que está em jogo, talvez possamos dizer que aqueles que celebram os filmes de Jean-Claude Van Damme face aos que enaltecem a obra de Alfred Hitchcock poderão até partilhar algumas palavras (“divertimento”, “evasão”, “espectáculo”); o certo é que através de tal partilha não estão a dizer o mesmo, não se reconhecem nas mesmas ideias. Na verdade, estão em guerra — guerra cultural, entenda-se, sem vítimas humanas, mas enraizada numa brutal clivagem de valores.
Lembrei-me de tudo isto ao ver esse filme maravilhoso que é Maestro, de e com Bradley Cooper, evocando a vida e a obra de Leonard Bernstein (1918-1990). Não pude deixar de sentir que a figura de Bernstein vive em mim através de memórias calorosas, partilháveis, não tenho dúvidas, com muitas pessoas da minha geração: no começo da adolescência, tocado por um envolvente fascínio, pude descobrir Bernstein a apresentar alguns dos seus Concertos para Jovens (produzidos pela CBS, entre 1958 e 1972).
Escusado será esclarecer que não assisti a esses concertos com os mesmos propósitos ou ideias que, melhor ou pior, me levam a reavivar a respectiva memória. Nem saberei muito bem como descrever, apenas descrever, a minha postura face a tão peculiares acontecimentos audiovisuais. De uma coisa, agora, tenho a certeza: Bernstein falava para mim (cândida ilusão de espectador imberbe…) sem me impor qualquer valor único, muito menos compulsivo, em torno da música que tinha para apresentar. Na prática, a única solicitação que formulava às suas audiências podia (e pode) resumir-se num imperativo tão firme quanto delicado: escutem!
Como quem diz face a um filme: vejam! Sem esquecer que os filmes também se escutam… No caso de Bernstein, não se tratava de uma atitude de especialista “detentor” de um conhecimento para sempre cristalizado, mas sim do método de alguém capaz de reconhecer que qualquer passagem de saber — envolvendo curiosidade e prazer — começa na criação de dispositivos educacionais exigentes, sempre em aberto, alheios a visões paternalistas de crianças e adolescentes. Sobretudo sem receio de lhes fazer sentir que, face à desordem do mundo, há ou pode haver uma ordem do conhecimento que, longe de qualquer pedagogia banalmente “liberal”, saiba assumir, expor e problematizar os valores que a fundamentam.
Há outra maneira de dizer isto. Assim, no plano social ou, se quiserem, nos circuitos que nos ligam, aquele que enaltece Van Damme não é assim tão diferente do que prefere Hitchcock. Porquê? Porque ambos são responsáveis pela circulação de valores que, eles próprios, integram, protagonizam ou reforçam. Daí advém, aliás, um outro vício democrático que importa questionar: a responsabilidade da valorização dos “produtos culturais” não é descartável, existe sempre, sendo sempre geradora de diferenças impossíveis de anular em nome de um qualquer ecumenismo pueril. Escutar e ver, dar a ver e dar a escutar, exige muito trabalho.

sexta-feira, dezembro 15, 2023

Leonard Bernstein
ou a felicidade da música

Bernstein gravou o seu West Side Story, de 1957, num álbum de 1984

Na história de Leonard Bernstein, a actividade de maestro cruza-se com o trabalho de compositor, sendo West Side Story uma referência central em que se ligam a experiência de palco e o espectáculo segundo Hollywood — este texto, a propósito da estreia de Maestro, foi publicado no Diário de Notícias (7 dezembro).

Leonard Bernstein (1918-1990) e Felicia Montealegre (1922-1978) tiveram três filhos: Jamie, Alexander e Nina. Não é, evidentemente, por acaso que, no final do genérico de Maestro, Bradley Cooper agradece o apoio que deles recebeu para a concretização do seu filme. Mais, muito mais, do que o reconhecimento de uma mera caução “factual”, tal agradecimento pode ser interpretado como um laço emocional que prolonga o misto de entrega e celebração com que Bernstein viveu a música — e para a música.
Os filhos de Bernstein fizeram questão em agradecer publicamente, através de uma carta, a “alegria de coração aberto” com que Cooper tratou as memórias do pai. Para Bernstein, compor ou dirigir uma orquestra nunca foi o resultado de um mero apuramento técnico (que, obviamente, nunca lhe faltou), antes a procura de um entendimento humano da música capaz de mobilizar o público para lá de qualquer clivagem simplista entre a sensibilidade “erudita” e a cultura “popular”.
Há um sinal de tudo isso no facto de, na sua vasta discografia, encontrarmos uma singularíssima revisitação daquela que continua a ser a sua obra mais conhecida: West Side Story, com letras de Stephen Sondheim — foi um musical da Broadway estreado em 1957, depois um filme de 1961 co-dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins (que tinha coreografado a produção do palco), e ainda uma nova versão cinematográfica, estreada há dois anos, com assinatura de Steven Spielberg. O certo é que, durante mais de duas décadas, Bernstein nunca dirigiu o seu West Side Story. Aconteceu em 1984, em estúdio, para a Deutsche Grammofon, numa gravação com um elenco de luxo, liderado por Kiri Te Kanawa e José Carreras, respectivamente como Maria e Tony — um verdadeiro clássico “instantâneo” que, além de filmado para um documentário da BBC (The Making of West Side Story), arrebatou um Grammy para Melhor Álbum de Teatro Musical [video do filme].


A sua afirmação como maestro, a começar pela inesperada estreia no Carnegie Hall no dia 14 de novembro de 1943 (momento emblemático que o filme encena), aconteceu em paralelo com o trabalho de compositor. No cinema, e não só. Assim, a par da composição de West Side Story, Bernstein foi escrevendo a opereta Candide, inspirada na obra de Voltaire (publicada em 1759) avaliando os êxtases e limites da ideia de felicidade. A ligação a Hollywood passaria também por On the Town (Um Dia em Nova Iorque), com Frank Sinatra e Gene Kelly (que repartia a realização com Stanley Donen), tendo como base o seu musical estreado, na Broadway, cinco anos antes. Tudo isto em esquecer, claro, a banda sonora de visceral dramatismo que compôs para Há Lodo no Cais (1954), de Elia Kazan, com Marlon Brando [video: On the Waterfront Suite, Orquestra da Televisão e da Rádio de Espanha, maestro Christian Lindberg].
Notável especialista de Gustav Mahler (a integral das sinfonias existe numa edição da Sony Music com data de 2020), foi também, no pequeno ecrã, um invulgar divulgador da música através dos lendários Concertos para Jovens, originalmente transmitidos pela CBS, entre 1958 e 1972. Tais programas envolvem a afirmação de um princípio democrático previamente enunciado por um criador do cinema, Roberto Rossellini (1906-1977): a obrigação de, no plano cultural, o espaço televisivo assumir a sua vocação eminentemente pedagógica.

sexta-feira, março 04, 2022

A caminho dos Oscars

Adriana De Bose em West Side Story:
a caminho do Oscar de melhor actriz secundária

Os prémios da Academia de Hollywood serão entregues a 27 de março. Com 12 nomeações, O Poder do Cão lidera a corrida aos Oscars referentes à produção de 2021, num ano em que, curiosamente, vários filmes, a começar por West Side Story, são testemunho de uma invulgar riqueza musical — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 fevereiro), com o título 'Os Oscars têm uma música própria'.

Música, eis a questão. Nas nomeações dos Oscars referentes à produção de 2021 encontramos, por exemplo: Billie Eilish, candidata na categoria de melhor canção, com No Time to Die, tema-título do último filme de James Bond (composto com o irmão, Finneas O’Connell). Ou ainda o baterista da banda The Roots, Questlove: o seu Summer of Soul, dando nova vida aos registos do Harlem Cultural Festival de 1969, surge entre os que podem ganhar a categoria de melhor documentário. Isto sem esquecer que Jonny Greenwood, membro dos Radiohead, volta a integrar os nomeados a melhor banda sonora graças à sua partitura para O Poder do Cão, de Jane Campion.
É caso para dizer que ecoa, aqui, uma música muito própria, de tal modo os prémios da Academia de Hollywood conseguem congregar aquela que é a maior estrela pop da actualidade, Billie Eilish, claro, com memórias do património musical afro-americano e o experimentalismo de Greenwood. Foi ele que compôs também a música de Spencer, de Pablo Larraín, porventura o mais “esquecido” dos grandes filmes de 2021, embora esteja representado por uma nomeação, na categoria de melhor actriz, para a admirável Kristen Stewart.
Enfim, não esqueçamos a renovada presença de Steven Spielberg. O seu West Side Story, com sete nomeações, possui o fulgor de um verdadeiro panfleto — musical, justamente. A recriação da obra de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim — que deu origem ao primeiro West Side Story (1961), assinado por Robert Wise e Jerome Robbins — repõe na linha da frente um género nem sempre muito reconhecido na história moderna dos Oscars. E se é verdade que todas as apostas são sempre um exercício superficial, por vezes fútil, não é menos verdade que podemos supor que na comunidade de Hollywood todos ou quase todos acreditam que Ariana DeBose, a “Anita” escolhida por Spielberg, tem garantida a estatueta de melhor actriz secundária.
Enfim, a musicalidade de tudo isto não esgota a sedutora pluralidade das nomeações, este ano com um luso-canadiano também em destaque: graças ao seu excelente trabalho em Nightmare Alley, de Guillermo Del Todo, Luís Sequeira é um dos candidatos ao Oscar de melhor guarda-roupa. E também não diminui, de modo algum, a proeza de O Poder do Cão, líder na estatística das nomeações: encontramo-lo em nada mais nada menos que 12 categorias, incluindo, além de melhor filme, as de realização, actor (Benedict Cumberbatch), actor secundário (duas vezes: Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee) e actriz secundária (Kirsten Dunst). Uma coisa é certa: nenhum filme tem nomeações que lhe permitam obter o “quinteto dourado” dos Oscars — filme+realização+actor+actriz+ argumento —, essa conjugação mágica que só aconteceu três vezes (a última data de 1992, com a consagração de O Silêncio dos Inocentes).
Aliás, O Poder do Cão pode simbolizar também as evidências e ambivalências do confronto que, de uma maneira ou de outra, passou a marcar todo o território cinematográfico. A saber: a tensão entre o circuito tradicional das salas e as plataformas de “streaming”. Assim, O Poder do Cão é o emblema perfeito da produção multifacetada da Netflix e da sua ambição (muito legítima, entenda-se) de conseguir, finalmente, arrebatar o Oscar de melhor filme.
Até ao dia da cerimónia destes 94ºs prémios das Academia (27 de março), iremos, por certo, compreendendo melhor o modo como estas nomeações reflectem o estado convulsivo, afinal eminentemente criativo, em que vive a produção cinematográfica. Inclusive nas suas curiosas “contradições”. Exemplo? Repare-se no quinteto de nomeadas para o Oscar de melhor actriz: Jessica Chastain (The Eyes of Tammy Faye), Olivia Colman (A Filha Perdida), Penélope Cruz (Mães Paralelas), Nicole Kidman (Being the Ricardos) e a já citada Kristen Stewart. Que têm em comum? Pois bem, nenhuma delas está nos dez títulos que concorrem para melhor filme — não é inédito, mas não acontecia há 16 anos.

segunda-feira, dezembro 27, 2021

10 filmes de 2021 [1]


Steven Spielberg

Um musical gerado num contexto industrial dominado e, em muitos aspectos, atrofiado pelos super-heróis da Marvel e afins? É verdade. E, para mais, um musical apostado em reavivar a mágoa romântica do original de Leonard Bernstein/Stephen Sondheim, estreado na Broadway em 1957 (importa relembrar que o filme de Spielberg não é um remake do filme de 1961, assinado pela dupla Robert Wise/Jerome Robbins). Verdadeiro ovni de 2021, nele encontramos a energia de um cinema sem barreiras formais, ligando a música com o fresco social, as atribulações do quotidiano com a parábola política e, por fim, o melodrama com a tragédia — sem igual, isto é, literalmente, um objecto de esplendorosa solidão criativa.
 

terça-feira, abril 27, 2021

"West Side Story", primeiras imagens

De que falamos quando falamos de West Side Story? Pois bem, do musical de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim estreado em 1957 na Broadway, da adaptação cinematográfica de 1961 com assinatura de Robert Wise e Jerome Robbins e, finalmente, da versão de Steven Spielberg, agora agendada para 10 de dezembro (depois de ter estado prevista para 18 de dezembro de 2020) — as primeiras imagens aí estão, 90 segundos de puro deslumbramento.

sexta-feira, outubro 16, 2020

Nova Iorque na Antena 3

Nova Iorque, Nova Iorque, imagens e sons, cinema e música, imaginário e imaginação, história e mitologia — tudo isso está no especial da Antena 3 assinado pelo Nuno: chama-se "Da noite para o dia", contando com participações de Isilda Sanches, Rui Miguel Abreu e do autor deste post. Em tom de complemento audiovisual (escutando, está explicado...), atrevo-me a acrescentar um objecto, novaiorquino, hélas!, que poderia ter como subtítulo: 'À procura da perfeição'.

sábado, agosto 25, 2018

No centenário de Leonard Bernstein

Nome próprio: Louis. Pela Wikipedia, ficamos a saber que foi uma escolha da avó, embora não reconhecida pelos pais que sempre o chamaram de Leonard — e foi esse o nome que legalmente adquiriu, aos 15 anos, já depois da morte da avó. Nasceu a 25 de Agosto de 1918, faz hoje 100 anos: Leonard Bernstein (falecido a 14 de Outubro de 1990) é um dos monumentos da música do século XX. Lembremos o seu génio através da música de um dos compositores visceralmente associados ao seu labor de maestro: Gustav Mahler — eis um notável registo da Sinfonia nº 8 de Mahler, com Bernstein a dirigir a Filarmónica de Viena.


>>> Site oficial de Leonard Bernstein.

domingo, junho 24, 2018

* Bergman + Bernstein
— SOUND + VISION Magazine, FNAC [hoje]


Cinema e música cruzam-se nas celebrações do centenário de Ingmar Bergman e Leonard Bernstein, ambos nascidos em 1918 — propomos uma viagem, com imagens e sons, pelas suas obras fascinantes.

* FNAC (Chiado) — hoje, 24 Junho, 18h30

segunda-feira, junho 04, 2018

"West Side Story" por Steven Spielberg?

[ 1961 ]
Steven Spielberg vai refazer West Side Story: será que podemos antecipar uma nova idade para o cinema musical? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Junho), com o título 'Spielberg reinventa o musical'.

Refazer West Side Story em cinema? É verdade. A notícia já tem quase seis meses e, em boa verdade, para além do anúncio da abertura do casting, pouco se sabe sobre o projecto. A conjuntura histórica poderá favorecer uma associação mais ou menos nostálgica, já que este é o ano em que se assinala o centenário do nascimento do autor da música de West Side Story, Leonard Bernstein (nascido a 25 de Agosto de 1918). Seja como for, no cerne de todas as expectativas está o nome do realizador: Steven Spielberg.
Para o autor de Tubarão (1975), Os Salteadores da Arca Perdida (1981) e A Lista de Schindler (1993), o musical de Arthur Laurents, com partitura de Bernstein e letras de Stephen Sondheim, não será uma referência abstracta. Em 1957, quando West Side Story se estreou nos palcos da Broadway, Spielberg tinha 11 anos. Mais do que isso, para a sua geração, a admirável versão cinematográfica de 1961, assinada por Robert Wise e Jerome Robbins, acabou por se consolidar como um título mítico (consagrado com dez Oscars, incluindo o de melhor filme do ano).
Tony Kushner
Como é que Spielberg irá recriar West Side Story? Sabe-se que o casting para os quatro papéis principais — assumidos no filme original por Natalie Wood, George Chakiris, Rita Moreno e Richard Beymer — aposta na descoberta de novos talentos, sem nome feito no cinema. Sabe-se também que a adaptação terá assinatura de Tony Kushner, o dramaturgo de Anjos na América (lembremos a notável série a que deu origem, em 2003) que já trabalhou com Spielberg nos argumentos de Munique (2005) e Lincoln (2012). E espera-se que Spielberg nos ajude a relançar uma velha expectativa: será possível refazer o musical como um dos géneros nucleares da produção de Hollywood?
Convenhamos que o cepticismo domina. Temos assistido à “ocupação” de Hollywood por entidades como a Marvel, impondo um modelo (de produção e marketing) que secundariza quase tudo o que não envolva algum super-herói a destruir arranha-céus digitais... Mesmo um filme com chancela de Spielberg dificilmente conseguirá, por si só, reconverter tais opções industriais.
Repare-se no apagamento a que foi sujeito um filme como O Grande Showman, de Michael Gracey (agora disponível numa excelente edição em Blu-ray). A sua reinvenção do musical clássico, integrando formas narrativas vindas da área dos telediscos, não bastou para lhe conferir a evidência mediática que merecia. Nem mesmo o protagonismo do brilhante Hugh Jackman ajudou... E, no entanto, quase todos o reconhecem como Wolverine.

>>> Abertura de O Grande Showman.


>>> Alguns clássicos do musical [NYT].

domingo, junho 11, 2017

Uma digna herdeira de Bernstein


Ao ser nomeada para a direcção da Baltimore Symphony Orchestra (BSO) em 2007, Marin Alsop tornou-se a primeira mulher a dirigir uma das grandes orquestras norte-americanas. Grande admiradora de Leonard Bernstein (não apenas como músico mas também pela sua personalidade), a maestrina tem vindo a construir uma obra igualmente sem barreiras e agradavelmente versátil e apresentando já uma importante discografia tem ganho merecida exposição à escala global. Essa herança de Bernstein revela-se, por exemplo, no modo como a compositores europeus como Mahler, Dvorák ou Bartók a sua atenção tem focado frequentemente as grandes referências da música americana, desde Samuel Barber ou Aaron Copland a Philip Glass, John Adams, John Corrigliano e Michael Daugherty não esquecendo naturalmente o seu antigo mestre. De já nos deu, via Naxos, uma magnífica interpretação de Chichester Psalms (em 2003), de um conjunto de obras mais curtas como Serenade, Facsimile e Divertimento (em 2205) sua Missa (em 2009) e, mais recentemente, a Sinfonia N.º 3 'Kaddish' (em 2015), estes dois últimos discos gravados com a Baltimore Symphony Orchestra. Agora, uma edição que junta, com a mesma orquestra, as duas primeiras sinfonias de Bernstein, completa mais um ciclo dentro do corpo de uma obra à qual certamente irá regressar.

Sinfonia N.º 1 - Jeremiah, de Leonard Berstein (1918-1990), composta em 1942, é uma obra intensa que, se por um lado traduzia uma atenção do músico ao contexto de tempo, lugar e vivência cultural que o envolvia (captando na tradição do teatro musical uma marca de identidade da mesma forma como Gerswhin havia assimilado o jazz alguns anos antes), por outro vincava a assombração de alguém que, de ascendência judaica, não deixava de reflectir sobre um tempo de perseguição e morte que se vivia, então já em plena II Guerra Mundial.

Composta entre 1948 e 1949, a Sinfonia N.º 2 - The Age of Anxiety é uma obra para piano solista e orquestra e tem o seu título inspirado por um poema de W. H. Auden's dedicado a Serge Koussevitzky, maestro e compositor que foi durante largos anos o diretor artístico da Boston Symphony Orchestra. Nesta gravação Marin Alsop conta com o pianista Jean-Yves Thibaudet como solista.

sexta-feira, agosto 28, 2015

Cécile McLorin Salvant, "Look at Me"

É mesmo a sério: depois de WomanChild, a americana Cécile McLorin Salvant aí está com For One to Love, reafirmando a sua radiosa conjugação de composições pessoais com recriações de referências do mais depurado classicismo. Numa galeria de doze faixas, encontramos, assim, cinco novas composições, a par, por exemplo, de The Trolley Song (Hugh Martin/Ralph Blane), cantada por Judy Garland no musical Meet Me in St. Louis/Não Há como a Nossa Casa (1944), de Vincente Minnelli, e Something's Coming (Sondheim/Bersntein), tema de West Side Story aqui recriado numa verdadeira jam session de mais de 10 minutos. O álbum pode ser escutado na NPR; este é o teledisco, simples e sedutor, de Look at Me, uma das peças compostas pela própria cantora.

terça-feira, dezembro 23, 2014

Os melhores discos de 2014 (N.G.)


Se ainda houvesse dúvidas o concerto no Cinema São Jorge trataria de as dissipar. O impressionante fôlego irado e seguro com o qual Mike Hadreas animou a alma do seu terceiro álbum não só o confirmou como um dos grandes cantautores do nosso tempo como lhe deu o disco do ano. Em tempo de fazer balanços, o melhor de 2014 está cheio de discos que marcaram um ano rico em boas gravações e ideias. Entre encontros e reencontros, entre a linha da frente da invenção e uma relação não nostálgica com a memória vale a pena guardar uma mão-cheia de álbuns, entre os quais aquele que assinala o reencontro de Beck com o espaço da orquestra (que lhe deu essa obra-prima chamada Sea Change) e a estreia (finalmente) a solo de Dean Wareham num disco onde a novidade das canções traduz uma tranquila familiaridade com a sua voz e uma escrita amadurecida. Se estes são dez discos eleitos, da produção de 2014 vale a pena não esquecer nomes como os de Angel Olsen, TV on The Radio, Aphex Twin, Fujiya & Myiagi, Leonard Cohen, Brian Eno (que em dois álbuns se aliou este ano a Karl Hyde), Damon Albarn, Andrew Bird, Eels, Tori Amos ou Blonde Redhead. Mas dez são dez, e a que se segue é a lista “oficial”...

1 Perfume Genius, ‘Too Bright’
2 Beck, ‘Morning Phase’
3 Dean Wareham ‘Dean Wareham’
4 Ariel Pink ‘Pom Pom’
5 Owen Pallett ‘In Conflict’
6 St Vincent ‘St Vincent’
7 Caribou ‘Our Love’
8 Teleman ‘Breakfast’
9 The Notwist ‘Close to the Glass’
10 Neneh Cherry ‘Blank Project’


Nacional


Vivi os dias do ‘boom’ do “rock português” de 1980 e 81 e também o frenesi criativo que nascia semana após semana no palco do Rock Rendez Vous, mas o que temos assistido nos últimos anos entre nós mostra um fulgor de ideias, talentos e vontade de fazer (e ouvir) como nunca. Se as tabelas de vendas estão ensopadas pelo mais do mesmo e os concursos de “talentos” dão mediatismo por 15 minutos, a melhor nova música que se faz entre nós passa por outros discos e outros palcos. Precisava de uma lista bem mais extensa para um retrato mais fiel de um ano que fez perder de conta os discos e nomes que mostraram como por aqui a coisa mexe (e bem). Não posso deixar de assinalar o melhor disco de Norberto Lobo até à data, as fulgurantes estreias de Sensible Soccers, Bruno Pernadas e do projeto Jibóia, e as provas de solidez reforçada da obra de Legendary Tigerman, Rita Redshoes ou Clã. Birds are Indie, Xinobi e You Can’t Win Charlie Brown fecham o top 10. Mas nomes como os de Sérgio Godinho, Mão Morta, Walter Benjamin (em despedida), Real Combo Lisbonense, Capicua, B Fachada, Capitão Fausto, Dead Combo ou António Zambujo fazem também parte da história de um ano que, assinalou ainda as Bodas de Ouro da carreira de Carlos do Carmo.

1. Norberto Lobo ‘Fornalha’
2. Sensible Soccers ‘8’
3. Bruno Pernadas ‘How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge’
4. Jibóia ‘Badlav EP’
5. The Legendary Tigerman ‘True’
6. Birds are Indie ‘Love is Not Enough’
7. Xinobi ‘1975'
8. Rita Redshoes ‘Life is a Second of Love’
9. Clã ‘Corrente’
10. You Can’t Win Charlie Brown ‘Diffraction/Refraction’


Reedições / antologias



Gravadas em 1967, as ‘basement tapes’ registadas por Bob Dylan juntamente com os músicos com quem tinha andado pela estrada meses anos (e que no ano seguinte se estreariam em disco como The Band) começaram a dar sinais de vida quer em versões de nomes como Julie Driscoll ou os Byrds ou em bootlegs. Em 1975 um duplo álbum deu-lhes finalmente uma voz oficial. Mas só agora, 47 anos depois, a música que ali ganhou forma (e que não só transformou Dylan como lançou as bases daquilo a que hoje chamamos ‘americana’) chegou, sem filtros nem silêncios, a todos nós. O 11º volume das Bootleg Series de Dylan traz-nos um tesouro histórico – talvez o mais importante que esta série de edições de arquivo já nos deu a conhecer. É o mais significativo dos lançamentos de material antigo que este ano chegou a disco, partilhando esta importante fatia da oferta editorial ao lado da mais representativa antologia alguma vez criada para a música de Bowie, a reedição (com extras) do melhor disco de Grace Jones, o reencontro com o primeiro álbum a solo de Max Richter ou a caixa com as edições em mono dos álbuns dos Beatles, agora em novas prensagens em vinil.

1. Bob Dylan ‘The Complete Basement Tapes’
2. David Bowie ‘Nothing Has Changed’
3. Grace Jones ‘Nightclubbing’
4. Max Richter ‘Memoryhouse’
5. The Beatles ‘Beatles in Mono’
6. The Velvet Underground ‘The Velvet Underground’
7. Underworld ‘Dubnobasswithmyheadman’
8. Tears For Fears ‘Songs From The Big Chair’
9. Pixies ‘Doolittle 25’
10. The The ‘Soul Mining’


Clássica



A música do século XXI – mesmo continuando inexplicavelmente invisível em muitas frentes de programação por estes lados – consegue arrebatar atenções por aqui, e dominar parte significativa do panorama dos melhores discos na área da música “clássica” de 2014. Obras posteriores à chegada do novo século por compositores como Max Richter, John Adams, Bryce Dessner, Johnny Greenwood, Nico Muhly e António Pinho Vargas dão conta da atenção dos discos para com a música que está a nascer no nosso tempo. Do melhor de 2014 há ainda a assinalar a continuação do esforço de justa (re)descoberta de Weinebrg (agora com uma importante contribuição de G. Kremer) e o fim da integral sinfónica de Shostakovich por Petrenko, com a “sua” orquestra de Liverpool. Mas o melhor de 2014 (em disco) foi mesmo a belíssima gravação de West Side Story, de Bernstein, pela San Francisco Symphony, dirigida por Michael Tilson Thomas, correspondendo à primeira vez que a obra teve uma apresentação integral em versão de concerto. 

1. L. Bernstein ‘West Side Story’, San Francisco Symph + M Tilson Thomas 
2. Max Richter ‘Retrospective’
3. M. Weinberg, ‘Mieczyslaw Weinberg’, Kremerata Baltica + G Kremer 
4. Steve Reich ‘Radio Rewrite’
5. Philip Glass ‘Heroes Symphony’, Sinfonieorchester Basel + D R Davies
6. John Adams, ‘City Noir’ St Louis Symphony + D Robertson 
7. Bryce Dessner + Johnny Greenwood ‘St Carolyn By The Sea / Suite from ‘There Will Be Blood’ Copenhagen Phil + A de Ridder
8. D. Shostakovich, ‘Symphony No 13 – Babi Yar’, Liverpool Phil. Orchestra + V Petrenko 
9. Nico Muhly ‘Two Boys’ Metropolitan Opera and Chorus + D Robertson
10. António Pinho Vargas ‘Requiem’ Orq. e coro Gulbenkian + J Carneiro e F Eldoro

sábado, setembro 13, 2014

Cinco filmes de Robert Wise (2)


West Side Story - Amor sem Barreiras 
(1961)

Um dos maiores musicais de todos os tempos, nasceu originalmente para o palco da Broadway (apesar de ter estreado em Washington DC) em finais dos anos 50, juntando a música de Leonard Bernstein, as letras de Stephen Sondheim, as coreografias de Jerome Robbins e o texto de Arthur Laurents. Um quinto elemento entraria em cena pouco depois quando Robert Wise foi chamado para levar esta expressão urbana atual e nova-iorquina do Romeu e Julieta de Shakespeare para o grande ecrã.

Se a música e as danças não eram mais a surpresa - apesar de ter sido o filme a dar-lhes uma definitiva projeção global - a versão cinematográfica de Robert Wise junta interessantes pontos de vista, nomeadamente num trabalho de fotografia notável, uma montagem que valoriza a ligação à música e na forma como sugere uma certa teatralidade cénica nos espaços de exteriores nos quais decorre grande parte da ação. A direção artística é, de resto, um dos valores acrescentados da versão no grande ecrã, valendo a pena sublinhar a excelência da banda sonora registada com novo elenco para uma edição em disco que acompanhou a estreia do filme.

Podem rever aqui o trailer.

sexta-feira, setembro 12, 2014

Um reencontro com 'West Side Story' (3)


O maestro Michael Tilson Thomas apresenta, com a San Francisco Symphony, a primeira gravação da totalidade da música de ‘West Side Story’ feita num palco fora de uma produção teatral. Tal como o fizera Bernstein por ocasião da sua estreia em 1957, procurou nas vozes de atores cantores parte da alma que faz desta obra um caso ímpar de relacionamento entre várias referências. Este texto é parte de um artigo publicado na edição de 30 de agosto do suplemento Q. do DN com o título Um novo episódio na vida de ‘West Side Story’. 

A estreia em palco faz de algumas das canções de West Side Story clássicos quase instantâneos. Maria, America e Somewhere, por exemplo, ganham quase o estatuto de standards, surgindo desde então em gravações por uma multidão de vozes e pelas mais diversas abordagens, algumas mesmo algo inesperadas (como a citação a America que surge nos primeiros compassos de Don’t Tread on Me dos Metallica ou a leitura eletrónica que os Pet Shop Boys fizeram de Somewhere, que editaram inclusivamente como single em 1997). O álbum com a gravação do elenco da peça original chegaria ao fim dos anos 50 como o 48.º mais vendido de toda a década nos EUA. Editado quatro anos depois, o disco com a banda sonora da adaptação ao cinema iria ainda mais longe, tendo sido o 25.º com maiores vendas dos anos 60 também nos EUA. 

Esta adaptação ao cinema, da qual resultou um dos maiores filmes musicais de todos os tempos, contou uma vez mais com o trabalho exigente do coreógrafo Jerome Robbins, que inclusivamente coassinou a realização com Robert Wise. Talvez mais ainda que o impacte da produção original nos palcos, a adaptação ao cinema estreada em 1961 (e que a nós chegou com o título Amor sem Barreiras) inscreveu definitivamente West Side Story entre os momentos maiores da história da música do século XX. A suite sinfónica criada a partir das danças que escutamos numa das primeiras sequências de West Side Story transportou também esta música para o cânone orquestral, com vários episódios de sucesso (como, por exemplo, em Fiesta!, o álbum de referência na discografia de Gustavo Dudamel com a Orquestra Sinfónica Juvenil Simon Bolívar).

As várias edições discográficas existentes da totalidade da obra traduziram até aqui ora a expressão direta do que Robert Wise levou ao grande ecrã ou uma sucessão de produções em palco, a mais recente datando de 2009, numa versão apresentada na Broadway e que venceu o Grammy para Melhor Musical.

Ao trabalhar com atores cantores Tilson Thomas recuperou nesta sua abordagem o encantamento por uma abordagem vocal única que o próprio Bernstein sentiu quando preparara em 1957 a estreia de West Side Story. Depois de uma vida em palco, a versão de concerto de West Side Story, dirigida por Tilson Thomas, é um marco na história desta obra. À San Francisco Symphony, juntamente com as vozes de Cheyenne Jackson (que passou pelas séries Glee e 30 Rock), Alexandra Silber (com experiência nos palcos do West End londrino) ou Jessica Vosk (que cantou em Kristina, um dos musicais dos ex-Abba Benny Andersson e Björn Ulvaeus), juntam-se a Michael Tilson Thomas naquele que é o mais importante episódio na vida de West Side Story desde a experiência em estúdio que o próprio Bernstein gravou para a Deutsche Grammophon em 1984.

quarta-feira, setembro 10, 2014

Um reencontro com 'West Side Story' (2)


O maestro Michael Tilson Thomas apresenta, com a San Francisco Symphony, a primeira gravação da totalidade da música de ‘West Side Story’ feita num palco fora de uma produção teatral. Tal como o fizera Bernstein por ocasião da sua estreia em 1957, procurou nas vozes de atores cantores parte da alma que faz desta obra um caso ímpar de relacionamento entre várias referências. Este texto é parte de um artigo publicado na edição de 30 de agosto do suplemento Q. do DN com o título Um novo episódio na vida de ‘West Side Story’. 

As ideias fundadoras de West Side Story surgiram ainda em finais dos anos 40. O coreógrafo Jerome Robbins desafiara Leonard Bernstein para que, juntos, pensassem uma versão atualizada da história de Romeu e Julieta, situando-a em bairros degradados de Nova Iorque. E desde logo chamam Arthur Laurens para trabalhar um argumento. Mas a carreira de Bernstein como maestro toma então dianteira sobre o seu trabalho como compositor e a ideia fica adiada por uns anos até que, em 1955, uma notícia lida num jornal reanima o projeto. Publicada pelo Los Angeles Times, a notícia referia um caso de violência entre gangues rivais em San Bernardino, do qual resultara um morto. Estava ali o ponto de partida para uma história que ia levar a delinquência juvenil aos palcos do teatro. No outono de 1956, Stephen Sondheim é chamado para escrever as letras das canções. E no Inverno de 57 Bernstein está focado na composição.

“A equipa criativa estava à procura de algo que tivesse um tema universal. E não foi certamente a primeira vez que algo assim foi feito”, comenta Tilson Thomas, agora que chega a disco a sua abordagem ao musical. “West Side Story vem na tradição de espetáculos como Show Boat ou Porgy & Bess ou South Pacific – outras obras que abordaram questões sociais relevantes e controversas. Gosto de pensar que esta é uma tradição que remonta ao teatro Yiddish, cheio de risos mas que também tocava questões sociais e políticas. West Side Story não é uma paródia como Of Thee I Sing ou Let’Em Eat Cake dos Gershwin, que abordam questões sérias de um modo slapstick”, refere na entrevista que acompanha a edição do novo disco.

Numa série de textos e palestras que apresentou nos primeiros anos da década de 50, Bernstein refletira sobre o desenvolvimento das sensibilidades estéticas e intelectuais do público norte-americano. Num deles defendeu a busca de novas formas de expressão do teatro musical (em Whatever Happened to That Great American Symphony?, em 1954) como algo que iria substituir a sinfonia. Talvez se tenha equivocado quanto ao fim da sinfonia, já que obras posteriores de compositores como Philip Glass, John Adams, Arvo Pärt ou Henryk Gorécki deram claras provas contrárias. Mas sobre o desenvolvimento do teatro musical refletiu novamente em American Musical Comedy (Omnibus, 1956), texto em que “insistiu na importância de obras que integrassem as formas artísticas vernaculares norte-americanas” com “sequências musicais alargadas, contraponto e orquestração”. Para Bernstein o novo teatro musical “teria o seu lugar ao lado da revista e da comédia musical, da opereta e da grande ópera, combinando elementos de cada uma sem se restringir aos seus modelos”. (5)

West Side Story parece corresponder a uma materialização desta linha de pensamento. Bernstein juntou à sua formação clássica uma sensibilidade pelo discurso rítmico latino-americano, ecos do jazz e criou o que Barry Seldes descreve em Leonard Bernstein – A Intervenção Cívica de Um Músico Americano como uma “partitura norte-americana verdadeiramente urbana”. Neste seu estudo biográfico sobre Bernstein o autor aponta em West Side Story “o revezamento do jargão de rua com um misto da linguagem da chalaça e da injúria; as jovens porto-riquenhas cantando as grandes contradições da sociedade norte-americana; a euforia e depois o desespero dos namorados perseguidos pelo azar e condenados à infelicidade”, elementos que, diz, se juntam aos “gestos soltos de Robbins para elevar o nível do teatro norte-americano”.

(5) in Leonard Bernstein – A Intervenção Cívica de Um Músico Americano, de Barry Seldes (Bizâncio, 2010), pág. 103.

segunda-feira, setembro 08, 2014

Um reencontro com 'West Side Story'


O maestro Michael Tilson Thomas apresenta, com a San Francisco Symphony, a primeira gravação da totalidade da música de ‘West Side Story’ feita num palco fora de uma produção teatral. Tal como o fizera Bernstein por ocasião da sua estreia em 1957, procurou nas vozes de atores cantores parte da alma que faz desta obra um caso ímpar de relacionamento entre várias referências. Este texto é parte de um artigo publicado na edição de 30 de agosto do suplemento Q. do DN.

A 3 de agosto de 1957, Leonard Bernstein (1) escrevia a Felicia, a sua mulher, confirmando que assinara um contrato com a New York Philharmonic (à qual ficaria associado vários anos como maestro e com a qual registaria uma série de gravações marcantes na sua discografia). Ao mesmo tempo dava conta dos avanços nos ensaios de um musical, com o título West Side Story, que estava já em contagem decrescente para a estreia, em Washington DC, algumas semanas depois. Havia ainda problemas a resolver mas o maestro e compositor confessava que estava ali, garantidamente, um espetáculo. E possivelmente um grande espetáculo. Dias depois, numa outra carta, dava a entender que muitos figurões da capital estariam na estreia, entre eles Richard Nixon (que era então vice-presidente). E depois dessa noite tão esperada, que decorreu a 20 de agosto no National Theatre, o Washington Post falou de West Side Story como “um comentário ímpar à vida”, sublinhando que “a violência não tem sentido, mas a música de Leonard Bernstein faz-nos sentir que não a compreendemos”. Já o Daily News referia que a peça abria “um novo espaço nos palcos norte-americanos”... (2) Quando, em setembro, a mesma produção chega à Broadway – ao palco do Winter Garden Theatre –, as críticas, mesmo sem serem unânimes, reconhecem que o trabalho teve grande impacte. Os prémios obtidos no ano seguinte, a edição em disco da banda sonora gravada pelo elenco desta produção original e a adaptação ao cinema em 1961, sob realização de Robert Wise, tornaram uma peça musical, temática e coreograficamente inovadora um fenómeno popular, cativando públicos em vários comprimentos de onda. Mas nem todos com ela tiveram um caso de amor à primeira vista.

Michael Tilson Thomas (3) é filho de um diretor de cena com experiência na Broadway e, depois, trabalho feito em Hollywood. Nos seus dias de infância havia gentes do teatro e do cinema em casa. O cenário parece por isso o ideal para que em West Side Story o homem que hoje dirige a San Francisco Symphony tivesse encontrado um espaço de interesse e familiaridade... Mas a verdade é que o maestro que agora assina uma das mais importantes gravações daquela que muitos tomam como a obra-prima de Leonard Bernstein como compositor na verdade chegou mesmo a trocar uma gravação em disco, com o elenco original do musical que amigos dos seus pais lhe deram quando fez 14 anos. Com o LP na mão voltou à discoteca de bairro onde havia sido comprado e trocou-o por uma gravação de Três Peças para Orquestra de Berg por Hans Rosbaud. Estavam mais em sintonia com o seu gosto de então, confessaria mais tarde.

A sua relação com esta música de Bernstein começaria a mudar alguns anos depois quando, já no segundo ano da faculdade, West Side Story era o LP (de um amigo) que se escutava enquanto ele e outros colegas pintavam o apartamento onde iam viver esse ano. Quando terminaram as paredes, aquela música tinha finalmente entrado na sua vida. Um passo seguinte chegou em Jerusalém, onde um dia viu a adaptação do musical ao cinema numa sessão ao jeito das que fizeram de Rocky Horror Picture Show um caso de culto. Ou seja, com a plateia a cantar e, como ele mesmo recorda numa entrevista que podemos ler no booklet do novo disco, metade dos que ali estavam divididos entre Jets e Sharks, os gangues rivais de que nos fala a peça (e o filme). Algum tempo depois descobriu as Danças Sinfónicas a que Bernstein deu vida própria para lá de West Side Story. E ao dirigi-las (chegaria mesmo a gravá-las com a London Symphony Orchestra) encetou um relacionamento mais profundo com a partitura.

Apesar da extrema popularidade não apenas do filme e dos discos, mas das diversas presenças em palcos de teatro desde 1957 e, claro, a frequente presença das Danças Sinfónicas em programas sinfónicos, até aqui nunca a música de West Side Story havia sido apresentada na íntegra fora de uma produção teatral. “Para tocar a música de West Side Story é preciso seguir diversos protocolos, que determinam várias combinações de números que é preciso fazer, mas nunca uma apresentação completa do espetáculo”, explica o maestro, que defende assim que o que fez desta experiência um caso único foi o facto de ter conseguido obter de todos aqueles que detêm os direitos desta obra a autorização para a tocar na íntegra e, depois, gravar. Tilson Thomas tomou por guia de referência a gravação em estúdio que o próprio Bernstein havia registado em 1984 (4). Adverte que, de um ponto de vista purista, deixou de fora segmentos de trechos repetidos que serviam para mudanças cénicas, mas garante que, aqui, está agora “a totalidade do retrato dramático desta obra”. Relativamente a essa versão de 84, na qual os papéis principais couberam a José Carreras e Kiri Te Kanawa, Tilson Thomas sublinha o facto de Bernstein ter então usado um arranjo mais luxuriante (com a partitura apresentada num novo arranjo, assinado por Johnny Green). Ao passo que, na versão que levou a palco (e agora a disco) com a San Francisco Symphony, retomou a orquestração original da versão que estreou na Broadway em 1957, tendo-lhe dado um pouco mais de “carne”, ou seja, juntou o dobro das cordas.

Michael Tilson Thomas defende que uma obra como West Side Story cabe perfeitamente no repertório de uma orquestra americana. De resto, acredita que qualquer instrumentista de uma orquestra americana deve ter um conhecimento “e gosto” pela música de vários estilos populares norte-americanos, sejam eles o jazz, a Broadway, a folk ou os blues. Relativamente ao canto o maestro recorda que a música de Bernstein não foi necessariamente escrita para vozes vindas da música pop ou do jazz, apesar de muitas já terem interpretado estas canções. “Mas apesar de a partitura fazer exigências operáticas, também não é uma música para cantores de ópera per se”, adverte ainda, regressando à gravação de 1984, com cantores de ópera, para lembrar que, aí, o seu compositor terá procurado registar uma versão definitiva da obra e que o elenco usado teria a ver “com os desejos de Bernstein e talvez a agenda da editora”. Para esta sua nova abordagem Tilson Thomas quis trabalhar com atores que cantassem, procurando assim uma aproximação às raízes naturais – na Broadway – desta música.

(1) Leonard Bernstein (1918-1989) Um dos maiores maestros e compositores norte-americanos e figura marcante no panorama musical global do século XX. A um trabalho na composição juntou importante labor como maestro (o que amplificou substancialmente a sua discografia). Foi um grande comunicador e um dos primeiros a usar a televisão para falar de música clássica. 
(2) in Leonard Bernstein, de Humphrey Burton (Doubleday, 1994), pág. 273. 
(3) Michael Tilson Thomas (n. 1944) Maestro, compositor e pianista norte-americano. É presentemente o diretor musical da San Francisco Symphony e da New World Symphony Orchestra. 
(4) A Deutsche Grammophon editaria esta gravação em 1985.

domingo, julho 27, 2014

Uma estreia na vida de 'West Side Story'

Foto: Art Streiber / San Francisco Symphony
A San Francisco Symphony, sob direção de Michael Tilson Thomas, acaba de editar uma gravação histórica de West Side Story, musical com música de Leonard Bernstein e libreto de Stephen Sondheim (e na origem também uma célebre – e premiada – coreografia de Jerome Robbins). Trata-se do registo da primeira versão de concerto apresentada desta obra que vai a caminho dos 60 anos de vida.

Quando tinha 14 anos o jovem Michael Tilson Thomas recebeu de presente uma gravação de West Side Story... Não era bem o que queria escutar na altura e, na loja de discos, trocou o LP por gravações de obras de Berg. O tempo colocaria a música de Leonard Bernstein a cruzar-se com a sua vida em várias ocasiões, do dia em que pintou um apartamento (precisamente ao som de West Side Story) ao encontro, com orquestra, com a suite que o compositor desenvolveu a partir das danças sinfónicas criadas para este mesmo musical. Agora coube-lhe um episódio marcante na história desta obra (há quem diga a maior) de Bernstein. Desde que estrada em palco em 1957 (e com expressão no cinema em 1961), West Side Story conheceu várias produções em palco. Mas nas salas de concerto a sua presença foi ficando por conta das ‘danças sinfónicas’. Até que, no ano passado, todos os detentores dos direitos da obra concederam ao maestro e à San Francisco Symphony que dirige, a honra de apresentar pela primeira vez a versão de concerto de toda a obra. E é assim que surge este disco.

A história das gravações de West Side Story é também ela essencialmente feita das gravações de algumas das produções levadas a palco, às quais se junta a das vozes que escutámos na versão cinematográfica e uma outra, então entendida como “definitiva” dirigida em estúdio pelo próprio Bernstein, com José Carreras e Kiri Te Kanawa como protagonistas. O West Side Story, que Tilson Thomas agora apresenta na editora da própria San Francisco Symphony, é não apenas um momento histórico na vida desta música, como representa uma interessante procura de uma aproximação às raízes teatrais da obra, o que não deixa de ser curioso sendo que representa, depois da abordagem de Bernstein para a Deutsche Grammophon em 1984, uma leitura assinada por uma orquestra... clássica. As diferenças entre esta nova gravação e a de Bernstein encontram-se por um lado na dimensão da orquestra, com substancialmente mais cordas que o ensemble reunido em estúdio que procurava simular o que seria o volume de músicos possíveis de juntar num fosso de orquestra, distribuindo-se também os sorpros por mais instrumentistas (nas versões em palco há casos de duplicações, ou seja, músicos que têm de fazer mais que uma das partes, por vezes até de mais que um instrumento). As vozes, que Bernstein em 84 procurou no mundo do canto lírico (e de estrelas do catálogo da editora), são aqui entregues a atores-cantores, também eles contudo de estudos feitos e vozes absolutamente notáveis. E assim, mesmo a caminho dos 60 anos de vida, esta adaptação da alma conflituosa do velho romance de Romeu e Julieta às ruas da Nova Iorque de meados dos anos 50 respira ainda o mesmo viço que fez dos Jets e dos Sharks os gangues mais musicalmente ginasticados da história.



Vídeo com imagens de concerto e entrevistas com alguns dos cantores e com o maestro Tilson Thomas.

domingo, abril 13, 2014

Três meses, três discos (clássica)


Continuando a fazer um balanço do que marcou os três primeiros meses do ano, hoje passamos pelas edições de discos de música clássica. Em comum os três títulos que destaco partilham o facto de serem lançados pela mesma editora – a Deutsche Grammophon – um deles sendo contudo uma antologia. Começo por destacar o álbum que tem como protagonista Bryce Dessner, músico que até aqui conhecíamos sobretudo através do seu trabalho nos The National e que a uma obra sua junta uma outra de Johnny Greenwood, guitarrista dos Radiohead que tem também trabalhado em música para cinema.

Sobre este disco escrevi aqui: “Apesar de uma certa tradição autodidata que domina muitas das histórias pessoais de tantos músicos em terreno pop/rock, a verdade é que tanto Bryce Dessner como Johnny Greenwood têm formação clássica. Bryce tem na verdade um mestrado em música em Yale e durante a sua formação encontrou importantes referencias em obras de figuras como Morton Feldman ou Steve Reich. Além do trabalho com os The National tem também colaborado com os Bang on a Can e o Kronos Quartet. O seu St Carolyn by the Sea (título inspirado pela escrita de Kerouac), que aqui se apresenta em gravação pela Orquestra Filarmónica de Copenhaga, dirigida por Andre de Ridder é uma obra orquestral de grande fôlego que cruza heranças que cão dos românticos a espaços da música orquestral do século XX (de Bartók a Glass) e, sem abdicar da presença da guitarra (na verdade há duas guitarras em cena – interpretadas por si e pelo seu irmão Aaron – e são mesmo a medula desta obra originalmente encomendada como um concerto para duas guitarras elétricas para a American Composer’s Orchestra) nem de um interesse pela melodia, expressa personalidade e demarca-se dos territórios habitualmente por si visitados nos The National. Johnny Greenwood, por seu lado, explora aqui uma derivação direta do seu trabalho de composição para cinema, apresentando uma suite baseada na música intensa e cromaticamente rica, herdeira tanto de Ligeti como de Predrecki, que criou para o filme Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson.”

Depois vale a pena assinalar a estreia mundial de The Passion Acording To The Other Mary, uma obra coral nova de John Adams, numa gravação pela Los Angeles Philharmonic, sob direção de Gustavo Dudamel.

Deste álbum disse aqui que: “A obra tem como base um libreto assinado por Peter Selllars, colaborador regular de John Adams (peça central em Nixon in China, a primeira ópera do compositor, estreada em 1987). Sellars juntou textos de origens diversas, passando por autores como Dorothy Day, Louise Erdrich, Primo Levi, Rosario Castellanos, June Jordan, Hildegard von Bingen ou Rubén Darío, além claro está das palavras do Velho e do Novo Testamento. A oratória foca atenções na Paixão de Cristo, mas procura um ponto de vista algo diferente escutando sobretudo as vozes de duas mulheres (...), nomeadamente Maria Madalena e Marta, a irmã de Lázaro. Musicalmente a oratória segue os caminhos estimulantes que a música orquestral e vocal de Adams tem seguido nos últimos anos, aliando um belíssimo trabalho do canto a uma noção de espaço acolhedor (e capaz de suportar intenções dramáticas) na cenografia ao seu redor, apesar de pontualmente revisitar ecos mais próximos das heranças minimalistas da sua obra nos oitentas no modo como usa ocasionalmente figuras repetitivas. Num dos momentos de clímax dramático uma aproximação a formas ligetianas contribui para novo alargamento das linhas e cores com que a música de Adams aqui se renova e desafia”.

A terceira referencia surge com o primeiro volume de uma recolha antológica das gravações de Leonard Bernstein para a editora, numa caixa com 59 CD e um DVD.

E sobre esta caixa escrevi aqui: “Há antologias e antologias... Mas esta bate as demais aos pontos. Não apenas pela dimensão (inclui 59 CD, um DVD, um livro, e tudo isto numa caixa com as dimensões da capa um álbum de vinil), como também pelo protagonista que coloca na berlinda e a vastidão de obras (épocas e formas) que as gravações aqui documentam. Apresentada como The Leonard Bernstein Collection – Volume One, esta caixa antológica enceta assim uma revisão do catálogo que o compositor e maestro norte-americano registou no período em que esteve ligado à Deutsche Grammophon (sendo importante referir aqui que outra etapa significativa do seu percurso discográfico foi registada pela Columbia Records, etiqueta hoje integrada na Sony Music).”

domingo, março 30, 2014

Um olhar maior sobre Bernstein


Há antologias e antologias... Mas esta bate as demais aos pontos. Não apenas pela dimensão (inclui 59 CD, um DVD, um livro, e tudo isto numa caixa com as dimensões da capa um álbum de vini), como também pelo protagonista que coloca na berlinda e a vastidão de obras (épocas e formas) que as gravações aqui documentam. Apresentada como The Leonard Bernstein Collection – Volume One, esta caixa antológica enceta assim uma revisão do catálogo que o compositor e maestro norte-americano registou no período em que esteve ligado à Deutsche Grammophon (sendo importante referir aqui que outra etapa significativa do seu percurso discográfico foi registada pela Columbia Records, etiqueta hoje integrada na Sony Music).

Os primeiros 15 CDs são dedicados a Beethoven, recuperando gravações das suas sinfonias, de três dos seus cinco Concertos Para Piano, aberturas, versões orquestradas de quartetos de cordas, a Missa Solene e a ópera Fidelio.

O segundo corpo maior desta recolha foca obras do próprio Bernstein, entre as quais as suas sinfonias, alguns bailados (como Fancy Free, Dybukk ou On The Town), canções, a suite criada a partir da música que compôs para Há Lodo no Cais, de Elia Kazan, elementos da Missa, a opereta Candide, a ópera A Quiet Place (que integra Trouble In Tahiti), a White House Cantata e a música de West Side Story. O DVD acrescenta um ponto de vista a esta última obra, levando-nos aos bastidores de uma gravação.

A caixa passa ainda por obras de Lizst, Britten, Brahms (as quatro sinfonias e concertos), Bizet (uma Carmen), Bruckner, Debussy, Dvorák, Elgar, Haydn, Franck, Roussel, Hindemith, Arrigo Boïto e pelos norte-americanos Aaron Copland e Del Tredici, Roy Harris e William Howard Schuman.

De fora fica, para já, a importantíssima contribuição de Bernstein para a (re)descoberta da obra de Mahler, que possivelmente será assim uma peça central num eventual segundo volume, ainda não anunciado. 

A diversidade de registos sublinha as qualidades raras do maestro. Mas a coexistência de exemplos de direção de orquestra com a presença de obras da sua autoria deixa claro que nem só de um grande maestro se deve falar quando se fala de Bernstein. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores compositores do século XX e um dos que mais soube mostrar como foi do diálogo entre géneros e das vivências entre referencias distintas que viveu a cultura na idade da comunicação. Ele sendo assim uma das suas maiores vozes.