PÉROLAS IMPERFEITAS
A culpa foi dos críticos. E, neste caso, daqueles já longínquos dos séculos XVII/XVIII que, quando confrontados com criações musicais menos conformes às regras da época, as recusaram e procuraram desacreditar. O primeiro terá sido o anónimo que, no "Mercure de France" de Maio de 1734, se queixava de, na ópera Hippolyte et Aricie, de Rameau, a única novidade ser "du barocque", isto é, a "ausência de melodias coerentes, as dissonâncias constantes, e as frequentes mudanças de tonalidade e compasso". O termo, "barroco", fora buscá-lo à língua portuguesa na qual, por via do latim - verrūca/verruga - se transformara num sinónimo de "pérola imperfeita". Em 1768, na Encyclopédie, também Jean-Jacques Rousseau se pronunciaria: "Música barroca é aquela cuja harmonia é confusa e sobrecarregada de modulações e dissonâncias. O canto é agreste e pouco natural, a entonação difícil e o movimento limitado". (daqui; segue)
John Randolph Marr - "Raggedy Ann"