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27 November 2019

AMOR, SEXO, CULPA, REDENÇÃO E ÊXTASE (II)
 

Apesar de esse primeiro volume ser contemporâneo do Howl, de Allen Ginsberg, a afinidade com a "beat generation" era problemática: “Eu escrevia poemas cheios de rimas, muito burilados, e eles tinham-se revoltado abertamente contra essa forma poética que associavam às elites literárias opressivas. Sentia-me próximo deles e, mais tarde, cruzei-me com eles aqui e acolá ainda que nem por sombras possa afirmar que fiz parte daquele círculo”. E, na mesma entrevista de 1994, em Madrid, explicar-me-ia: “Estive próximo da 'beat generation' e, apesar de não ter realmente, feito parte dela, conheci Ginsberg, Kerouac e Corso. Antes, também me dava com outros a que chamávamos os ‘boémios’: frequentava os seus cafés em Montreal, embora não fosse um deles. Depois, apareceram os hippies que não me interessaram especialmente, em particular, quando começaram a poluir os rios e a deixar lixo por todo o lado quando iam para o campo adorar deus e a natureza! Eram péssimos campistas! Eu que fui escuteiro posso dizê-lo!... No momento em que rebentou a guerra do Vietname, embora ninguém goste de guerra, como a minha mãe tinha vindo da Rússia e sofrido a experiência comunista, compreendi que o comunismo não era uma expressão benigna e que o Ocidente lhe devia resistir. Por isso, nunca participei daquela retórica em que ‘América’ se escrevia com um k e era descrita como um país fascista. Não era, tinha recebido os meus familiares quando chegaram como refugiados e eu tinha-lhe uma dívida de gratidão. Por isso, em relação a todos os movimentos que têm surgido, tenho-me aproximado mas nunca alinhei com nenhum”. Talvez o maior problema de Cohen com a "beat generation", fosse, justamente, o facto de ser uma geração: “Quem se casa com o espírito da sua geração corre o risco de ficar viúvo na seguinte”, disse, uma vez. Ou, como refere a folk singer Julie Felix, em Marianne & Leonard – Words of Love, “a sensação de nunca pertencer a coisa alguma” era parte da sua natureza”.

Com Allen Ginsberg

Em Dezembro de 1959, Leonard Cohen viaja para Londres, onde se predispõe a escrever a sua “obra-prima”. Mas Beauty At Close Quarters apenas, em 1963, será publicado como The Favourite Game após, por determinação do editor, Jack McClellan, ter sido podado em metade da sua extensão original (“Qualquer pessoa com um bom ouvido perceberá que destruí orquestras inteiras para encontrar uma única linha melódica”, dirá mais tarde). Compra uma máquina de escrever Olivetti verde, e, na Burberry’s, de Regent Street, uma (futuramente famosa) gabardina azul. “Estar em Londres, naquele tempo, foi uma revelação. Era uma outra cultura, uma espécie de terra de ninguém entre a Segunda Guerra Mundial e os Beatles”. (Philip Larkin, doze anos mais velho, em "Annus Mirabilis", de 1967, confirmá-lo-ia: “Sexual intercourse began in nineteen sixty-three (which was rather late for me), between the end of the ‘Chatterley’ ban and the Beatles' first LP”). Um conhecido – Jacob Rothschild, futuro 4º barão de Rothschild – fala-lhe de uma ilha grega, Hidra, que abrigava uma comunidade de expatriados, artistas, boémios e escritores vindos de todo o lado.

Com Marianne Ihlen, em Hidra

Com um único dia de paragem em Atenas, deixa-se cativar instantaneamente por aquele lugar onde enxerga burros no lugar dos automóveis, gatos dormindo ao sol sobre os rochedos, o azul do mar e o branco das casas caiadas, pescadores de esponjas e de peixe. Como escreve Sylvie Simmons: “O ritual, as rotinas e a austeridade da vida na ilha satisfaziam-no muitíssimo. Havia naquela existência qualquer coisa de monástico, à parte o facto de se tratar de monges privilegiados; a colónia artística de Hidra antecipara-se aos hippies em meia década, no que toca ao amor livre”. Ginsberg e Gregory Corso passaram por lá, mas também um obscuro romancista norueguês, Axel Jensen, e a mulher, Marianne Ihlen. “Leonard apaixonara-se por Hidra assim que vira aquela ilha. Era um lugar, disse, onde ‘tudo o que víamos era belo, todos os recantos, todos os candeeiros, tudo aquilo em que tocávamos, tudo’. O mesmo aconteceu quando viu Marianne pela primeira vez. ‘Marianne«, escreveu ele numa carta a Irving Layton, ‘é perfeita’. Marianne, a quem a avó profetizara ‘Vais conhecer um homem que fala com uma língua de ouro’ sucumbiu também. Era “um sentimento que tentei recriar centenas de vezes, sem êxito: aquela impressão de ser um homem adulto, ao lado de uma mulher linda com quem gostamos de estar, e de termos o mundo inteiro diante de nós, aquele momento em que temos o corpo bronzeado do sol e estamos prestes a embarcar num navio”. No filme de Nick Broomfield, Nancy Bacal, a amiga de Montréal, dissera: “Ficaram todos em Westmount. Então, nós fomo-nos embora”. Marianne, de outro àngulo, acrescenta: “E ali estávamos nós, dois refugiados fugindo de algo que eu sabia que, um dia, iríamos ter de enfrentar”. Leonard fecha o círculo: “As pessoas à minha volta sofriam. Eu estava sempre a partir, sempre a tentar fugir”. (continua)

05 February 2014

William Burroughs (5.02.14 – 2.08.97)

William Burroughs and Jack Kerouac in New York, 1953

Burroughs sitting at a table with typewriter, 1959

 Burroughs in the Beat Hotel, Paris, 1959

Allen Ginsberg, Gregory Corso, and William Burroughs, in Boulder, Colorado, 1994

Burroughs' apartment in a converted YMCA building, which he called The Bunker, on the Lower East Side of Manhattan, 1977

Burroughs and Joe Strummer of The Clash in The Bunker, 1980

Burroughs in 1965

Burroughs on the set of The Naked Lunch, directed by David Cronenberg

(mais aqui)

19 December 2012

“All of it’s acting, really”
 

Charlie Is My Darling/The Rolling Stones Ireland 1965 - Real. Peter Whitehead (DVD) 

Peter Whitehead, ex-aluno do departamento de cinema da Slade School Of Art, em 1965, tinha ainda filmado apenas um documentário educativo sobre ciência (The Perception Of Life) e Wholly Communion – registo da International Poetry Incarnation, um encontro, no Royal Albert Hall, de poetas da "beat generation" (Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso) e satélites situacionistas (Alexander Trocchi) – e não era ainda o herói contracultural em que se transformaria com Tonite Let’s All Make Love In London (1967) e Daddy (1973, com Niki de Saint Phalle). Bastou Wholly Communion, porém, para atrair a atenção de Andrew Loog Oldham, manager dos Rolling Stones, no exacto momento em que estes, com “(I Can’t Get No) Satisfaction”, haviam destronado os Beatles dos tops britânicos e se preparavam para um digressão de dois dias pela Irlanda.




Oldham desafiou-o a filmar a banda, em palco e nos bastidores, tendo como referência A Hard Day’s Night, dos Beatles, e Whitehead olhou-os como, por essa mesma altura (mas só dois anos mais tarde o saberíamos), D.A. Pennebaker observava Dylan, em Dont’Look Back. Charlie Is My Darling (alusão a uma melodia tradicional irlandesa), contudo, ficaria, durante quase cinco décadas, inédito – versões apócrifas de 30 e 50 minutos circularam quase confidencialmente – para ser redescoberto, agora: a preto e branco, durante 62 minutos, Mick Jagger augura que os Stones durarão, no máximo, mais ano e meio; nas salas de Dublin e Belfast, o eficaz quinteto de rock/blues desencadeia tumultos; nos camarins, os Glimmer Twins macaqueiam Elvis e Fats Domino; cá fora, desmontam o jogo (“All of it’s acting, really”), e, no longínquo universo neo-realista que era a Irlanda dos anos 60, assistimos, em directo, ao parto do mundo que conhecemos hoje. 

19 November 2009

MY SAD AND FAMOUS SONGS



Leonard Cohen - Live At The Isle Of Wight 1970

“Sempre senti uma certa irmandade com o que se passa em todas as épocas. Mas a verdade é que nunca estive (e continuo a não estar) no centro dos acontecimentos. Senti-me próximo da 'beat generation' e, apesar de não ter feito, realmente, parte dela, conheci Ginsberg, Kerouac e Corso. Antes deles, também me dava com aqueles a quem chamávamos os ‘boémios’, frequentava os seus cafés em Montreal, embora não fosse um deles. Os hippies não me interessaram especialmente, em particular, quando começaram a poluir os rios e a deixar lixo por todo o lado, quando iam para o campo adorar Deus e a Natureza. Eram péssimos campistas! Eu, que fui escuteiro, posso dizê-lo...”, disse-me Leonard Cohen, vinte e quatro anos depois de ter actuado no festival da ilha de Wight, perante uma matilha de meio milhão de hippies raivosos contra a feroz "exploração capitalista" que lhes cobrava a exorbitância de meia dúzia de libras por seis dias (de 26 a 31 de Agosto) em que escutaram, ao vivo, Kris Kristofferson, Gilberto Gil, John Sebastian, Joni Mitchell, Miles Davis, Sly & The Family Stone, Family, os Who, os Pentangle, Richie Havens e Jimi Hendrix, entre outras menoridades (porém, maioridades, à época) como Donovan, Moody Blues, Doors, Chicago, Ten Years After, Emerson, Lake & Palmer, Free, Jethro Tull e tutti quanti.



O p.o.v.o. revolucionário estava em fúria, uivava perante os portões fechados, mas, pelas quatro da matina, um Leonard Cohen acabado de acordar, severamente encardido – ao lado de Corlynn Hanney, Susan Musmanno e Donna Washburn, impecavelmente maquilhadas -, e uma banda de country-folk capaz de humilhar toda a seita "psych" contemporânea, pouco depois de ver acrescentadas labaredas amotinadamente reais ao palco a que, antes, Hendrix lançara fogo musicalmente metafórico, domesticou, facilmente, as hostes. “They gave me some money for my sad and famous songs, they said the crowd is waiting, hurry up or they’ll be gone, but I could not change my style and I guess I never will, so I sing this for the poison snakes on Devastation Hill”. "Devastation Hill" (nome oficial: "Desolation Row") era o nome do acampamento dos "radicais livres", que o documentário de Murray Lerner (DVD e CD gémeos) ilustra em toda a sua suja realidade. Levaram com Diamonds In The Mine. E com quase todo o Cohen de rasgar as veias da época – entre Songs Of Leonard Cohen e Songs Of Love And Hate. E calaram-se. Como deviam. Hoje, os mesmos, acham-no um "cantor de charme".

(2009)

29 March 2008

MÁQUINAS DE SONHAR



Tuxedomoon - Bardo Hotel Soundtrack

Eles iludem-nos. No “booklet” do álbum, muito confessionalmente, contam-nos: “Os Tuxedomoon têm muitas musas, uma das quais é o dogma de S. Francisco na segunda metade do século XX que, na imaginação popular, aparece com a aura da Florença do Renascimento: um lugar de misticismo, caldos culturais exóticos, empreendimentos inspirados e um optimismo ingénuo mas encantador, uma cidade que era, então, tão bela que muitos preferiam ser, aí, pobres, do que ricos noutro sítio qualquer. Parece bastante apropriado que os Tuxedomoon aí se tivessem manifestado e que lá, e nos quartos do Bardo Hotel, nos tivéssemos reencontrado, vinte e cinco anos mais tarde”. Procurem: não existe nenhum Bardo Hotel em S. Francisco. Mas existiu, em Paris, no nº 9 da Rue Gît-le-Coeur, o “Beat Hotel”, espelunca da “rive gauche”, onde, entre 1957 e 1963, Allen Ginsberg, William Burroughs, Gregory Corso e Brion Gysin experimentaram pleromas lisérgicos, inventaram “cut-ups” e “dream machines”, escreveram Kaddish, Naked Lunch e The Last Museum.



É neste “último museu” – o derradeiro romance de Gysin – que o decrépito “Beat Hotel” é encenado enquanto “Bardo Hotel” e manifestação física da mesma demanda espiritual perseguida pelo Bardo Thodol (O Livro dos Mortos) do budismo tibetano, do qual, em 1964, fechando provisoriamente o círculo Oriente/Ocidente, antiguidade/modernidade e metafísica/(al)química, Timothy Leary, Ralph Metzner e Richard Alpert ofereceriam a versão “aggiornata”, The Psychedelic Experience. Era, nessa altura, cândido e inocente o mundo que o filme de George Kakanakis procura reconstituir, com a banda sonora dos Tuxedomoon, regressados à vida, após o surrealismo elegante, decantado no laboratório de improbabilidades de Cabin In The Sky (2004). Depois de nos iludirem, eles, Tuxedomoon, dizem-nos a verdade: Bardo Hotel compõe-se de fragmentos/extractos/uma construção de elementos sonoros e derivas visuais. É uma estrutura ‘free-form’, constantemente desenvolvida, desconstruída e remisturada com o único objectivo de criar um corte, uma fissura, um espaço para quem vê poder livremente imaginar. (...) Bardo Hotel é uma ausência de rumo, uma técnica de passagem rápida através de ambientes diversos”. Sim, exactamente o que Blaine L. Reininger, Steven Brown, Peter Principle e Luc Van Lieshout confirmam, superiormente, em prosaicos (ou nem tanto) violinos, saxofones, clarinetes, trompetes, fliscornes, guitarras, baixos, harmónicas e processamentos informáticos vários. (2006)

11 July 2007

TOM WAITS: AUTOBIOGRAFIA EM PEQUENAS PRESTAÇÕES, DITOS DE ESPÍRITO E SABEDORIA (II)



"Fiz umas coisas de rock. Andei com um grupo chamado The Systems. Tocava guitarra-ritmo e cantava. Tocávamos coisas do Link Wray. Acabei por sair da banda. O baterista tinha lábio leporino e o guitarrista tocava com uma guitarra feita em casa. Éramos só nós os três. Num certo sentido, acabámos por ser pioneiros.

(...)

"Quando era puto, era bastante normal. Costumava ir ao estádio dos Dodgers. Era um grande fã dos Dodgers. Fiz tudo o que era habitual como andar pelos parques de estacionamento, vandalizar automóveis, gamar cenas de lojas de conveniência, o costume.

(...)

"Aproximei-me pela primeira vez de um palco num pequeno clube de San Diego. Era um clube de folk onde ouvi bluegrass até ao vómito. Era o porteiro e ouvi todo o tipo de grupos. Aceitei o emprego porque acreditava que acabaria por tocar ali. Era uma questão de ascensão social. Era preciso engolir aquilo tudo até ter a certeza que, quando chegasse a minha vez, não iria fazer figura de parvo.

(...)

"Nighthawks At The Diner foi o resultado de passar oito meses na estrada, é uma sucessão de diários de viagem. Quando se anda pela estrada a tocar em clubes, é difícil não frequentar bares durante a tarde. Há muito tempo para matar antes dos concertos. Depois, anda-se pelos clubes a noite toda, fica-se a pé até de madrugada e vai-se para os cafés. Deixa de ser uma coisa que se faz para se transformar naquilo que somos.

(...)



"Durante muito tempo, tive de fazer as primeiras partes dos concertos e só a pouco e pouco comecei a ser o artista principal. É outro mundo. Costumava fazer a abertura dos Mothers Of Invention ou de Cheech And Chong. Atiravam-me de tudo. Havia noites em que chegava para fazer uma salada de frutas.

(...)

"Sei lá quando comecei a escrever... Deve ter sido muito cedo, quando comecei a preencher impressos. Primeiro o apelido, depois o nome próprio, sexo... 'ocasionalmente', coisas desse género. Depois foram cartas, requisições, paredes de casa de banho.

(...)

"Sou o tipo de gajo capaz de te vender o olho do cu de uma ratazana por uma aliança de casamento.

(...)

"Tenho uma águia tatuada no peito. Só que, num corpo destes, parece-se mais com um tordo.

(...)



"Reconhecem-me mais frequentemente quando estou num bar a conversar com uma miúda bonita. Aparece um fedelho qualquer e baba-se em cima do meu ombro.

(...)

"Há um álbum fascinante que saiu em 1957 na Hannover Records, Kerouac/Allen. É Jack Kerouac a contar histórias com o Steve Allen, em fundo, ao piano. Esse álbum sintetiza praticamente tudo. Foi daí que retirei a ideia de fazer também algumas peças de 'spoken word'.

(...)

"Para dizer a verdade, não leio muito, nem sequer apaixonadamente. Gosto de John D. McDonald, Damon Runyon, Carson McCullers, Charles Bukowski, Hubert Selby Jr., John Rechy, o gang da Grove Press...E também Gregory Corso, Ed Sanders, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e, às vezes, Larry McMurtry".

1976

(2007)
TOM WAITS: AUTOBIOGRAFIA EM PEQUENAS PRESTAÇÕES, DITOS DE ESPÍRITO E SABEDORIA (I)



"Na verdade, sou de San Diego. Nasci em Whittier, na California, de onde também é o presidente Nixon. Por sinal, ele ia, às vezes, à nossa igreja. Mas isso foi há muito tempo, ele já passou essa fase...

(...)

"Costumava escrever muitas canções country na KSON, a grande estação de rádio country de San Diego. Mas já não me dizem muito. Tenho um baú cheio delas mas tentei explorar outras direcções. Tocava guitarra mas, ultimamente, tenho-me dedicado mais ao piano. Muitas vezes, escreve-se a pensar noutro artista. De facto, quando escrevi 'San Diego Serenade', estava a pensar no Ray Charles".

1973

"Há ocasiões em que bebo bastante, não jogo bilhar nada mal e a minha ideia de um bocado bem passado é uma noite de terça feira no Manhattan Club de Tijuana. Agora, vivo na zona de Silver Lake, em Los Angeles, e sou um angeleno dedicado sem a mínima vontade de me mudar para uma cabana no Colorado. Gosto do nevoeiro, do trânsito, de pessoas esquisitas, de engarrafamentos, de vizinhos barulhentos, de bares cheios de gente e passo a maior parte do meu tempo no carro, a caminho do cinema".

1974



"Sei o que funciona e o que não funciona puramente por tentativa e erro. As pessoas que gostam de mim estão à espera de uma certa narrativa tipo-estou-me-a-cagar que faço há alguns anos. Tenho consciência do género de personagem que sou em palco. É aquela diferença que existe entre acendermos um cigarro no nosso quarto e fazê-lo em cima de um palco.

(...)

"Apesar de eu ter crescido no Sul da Califórnia, Jack Kerouac impressionou-me imenso. Foi em 1968. Comecei a usar óculos escuros e assinei a 'Downbeat'... já com um certo atraso. Quando Kerouac morreu em 1969, em St. Petersburg, na Florida, era um homem velho e amargo... Interessava-me mais o estilo do que todo o resto. Descobri Gregory Corso, Lawrence Ferlinghetti... o Ginsberg ainda faz umas coisas de vez em quando".

1975


"Tive milhares de automóveis. O primeiro foi aos catorze anos. É uma espécie de tradição americana. Tirar a carta é como o Bar-Mitzvah.

(...)

"Nasci em Los Angeles, de muito tenra idade, no banco de trás de um táxi, no parque de estacionamento do Murphy Hospital, em Whittier, na Califórnia. Desde muito cedo, tive de tomar decisões difíceis. A primeira foi ter de pagar, para aí, um dólar e oitenta e cinco cêntimos que o taxímetro marcava para poder sair. Ainda não usava calças e tinha-me esquecido do dinheiro no outro 'babygrow'. Assim que saí do táxi fui à procura de emprego. O primeiro que encontrei foi numa das enfermarias da maternidade. Acabaram por me despedir o que me desiludiu bastante com o mercado de trabalho.

1976

(2007)