Showing posts with label Umberto Eco. Show all posts
Showing posts with label Umberto Eco. Show all posts

14 June 2024

O CEO da Vaticano S.A. não só não leu o livro do Frédéric Martel como, aparentemente, não se recorda que O Nome da Rosa, de Umberto Eco - sobre o tema que, agora, o leva a ser tão fofinho e divertido -, foi considerado pelo Vaticano como "a narrative calamity that deforms, desecrates and offends the meaning of faith"
 
 
Edit (15/06/2024) - O riso

21 February 2022

AFINAL, O QUE É UMA HISTÓRIA?
 
Laurie Anderson parece já ter feito tudo mas tem sempre alguma coisa por fazer. Após mais de uma dezena de álbuns (e o dobro disso em colaborações com outros artistas – William Burroughs, John Giorno, Peter Gabriel, Lou Reed, Marisa Monte, John Zorn, Kronos Quartet...) e outros tantos filmes, videos e "audiobooks", a criação de espectáculos de música/"spoken word"/"performance art" e exposições, a participação enquanto curadora (e em inúmeros júris) de festivais de cinema, e a criação de instrumentos (o "tape-bow violin" e o "talking stick"), em 2003, aceitou ser a primeira (e, até agora, única) artista residente da NASA, de que resultaria o espectáculo The End Of The Moon: “À superfície, é o meu relatório sobre o período que lá passei. As actividades que mais me interessaram lidavam com grandes extensões temporais, podem levar até 10 000 anos a serem concluídas. Há a tendência para se pensar em intervalos de tempo muito curtos ou para se considerar apenas o futuro e esquecer o imenso passado que temos para trás. Interessaram-me as formas muito diversas como ali o tempo é abordado”, explicou-nos, na altura. Quase duas décadas depois, o Charles Eliot Norton Professorship of Poetry da Universidade de Harvard, convidou-a a ser a responsável de 2021 pelas Norton Lectures, uma iniciativa anual sobre “poesia no sentido mais amplo”, na qual ela iria acrescentar o nome a tão ilustres antecessores como T. S. Eliot, Robert Frost, Igor Stravinsky, Jorge Luis Borges, Leonard Bernstein, Umberto Eco, Luciano Berio ou Agnés Varda. (segue para aqui)

28 December 2021

 
 
(sequência daqui) "Se um desejo de felicidade e de inocência suscitava nas almas devotas a ideia do paraíso terrestre, para os miseráveis e famélicos de todos os tempos a imagem das delícias de Cocanha sempre suscitou desejos mais terrenos de sair da penúria e satisfazer apetites mais animalescos e imperiosos. Os vários relatos dirigem-se muitas vezes aos deserdados, anunciando que também para eles é chegada a hora de viver à vontade. A lenda da Cocanha não nasce em ambientes impregnados de misticismo, mas entre as massas populares que passam fome há séculos. A liberdade de que se goza em Cocanha é tal que, como no Carnaval, as coisas podem ser viradas de pernas para o ar e um aldeão pode zombar de um bispo. De facto, associado à lenda da Cocanha, temos o tema do mundo às avessas, com homens puxando um arado guiado por um boi, um moínho ao contrário, onde o moleiro usa a canga no lugar do asno, um peixe que pesca o pescador ou animais que admiram seres humanos em jaulas" (Umberto Eco - História das Terras e Lugares Lendários)

21 March 2021

O "Ur-Fascismo" (VIII)
"O Ur-Fascismo ainda paira à nossa volta, às vezes em trajos civis. Seria tão confortável para nós se alguém assomasse à cena do mundo e dissesse: "Quero reabrir Aushwitz, quero que as camisas negras tornem a desfilar em parada pelas praças italianas!" Mas, ai, a vida não é assim tão fácil. O Ur-Fascismo ainda pode voltar sob as vestes mais inocentes.O nosso dever é desmascará-lo e apontar a dedo cada uma das suas novas formas - diariamente, em todo o mundo". (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)

03 March 2021

O modus operandi do fascismo

(clicar na imagem para ampliar)

"O Ventas do Chaga pode montar uma campanha de ódio contra uma minoria, toda ela assente na mentira 'os ciganos vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado', afirmação desmentida pelo estudo do Alto Comissariado para as Migrações, mas o Ventas não pode ser desmascarado e chamado mentiroso porque se enquadra na categoria de 'ataque a opositor político' na 'gestão do ensino público pelo Governo'" (aqui)

02 March 2021

O "Ur-Fascismo" (VII)
"13. O Ur-Fascismo assenta num 'populismo qualitativo'. Numa democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto dos cidadãos só está dotado de um impacto político do ponto de vista quantitativo (seguem-se as decisões da maioria). Para o Ur-Fascismo, os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e o 'povo' é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime a 'vontade comum'. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode possuir uma vontade comum, o líder pretende ser o seu intérprete. (...) O povo é, assim, só uma ficção teatral. (...) No nosso futuro perfila-se um populismo qualitativo TV ou Internet, em que a resposta emotiva de um grupo seleccionado de cidadãos pode ser apresentada e aceite como a 'voz do povo'. Devido ao seu populismo qualitativo, o Ur-Fascismo tem de opor-se aos 'putrefactos' governos parlamentares. Uma das primeiras frases pronunciadas por Mussolini no parlamento italiano foi: "Eu poderia transformar esta sala surda e pardacenta numa caserna para os meus manípulos'. De facto, arranjou logo um alojamento melhor para os seus manípulos, mas pouco tempo depois liquidou o parlamento. Sempre que um político lança dúvidas sobre a legitimidade do parlamento por já não representar a 'voz do povo', já podemos dizer que cheira a Ur-Fascismo" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)

22 February 2021

O "Ur-Fascismo" (VI)

"7. Aos que estão privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que o seu único privilégio é o mais comum de todos, o de terem nascido no mesmo país. É esta a origem do 'nacionalismo'. Além disso, os únicos que podem fornecer uma identidade à nação são os inimigos. Assim, na raiz da psicologia Ur-Fascista está a obessão da conspiração, possivelmente internacional. Os partidários têm de se sentir assediados. O modo mais fácil de fazer emergir uma conspiração é o de fazer um apelo à xenofobia. Mas a conspiração também tem de vir de dentro: costumam ser os judeus o melhor bode expiatório, dado que apresentam a vantagem de estarem ao mesmo tempo dentro e fora" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)

14 February 2021

O "Ur-Fascismo" (V)

"4. Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar a crítica. O espírito crítico faz distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica entende o desacordo como instrumento de avanço do conhecimento. Para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição

5. O desacordo é também um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e procura o consenso explorando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou prematuramente fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascista é, portanto, racista por definição.

6. O Ur-Fascismo nasce da frustração individual ou social. Tal explica  porque uma das características típicas dos fascismos históricos foi o apelo às classes médias frustradas, sentindo mal-estar por qualquer crise económica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. No nosso tempo, em que os velhos 'proletários' estão a transformar-se em pequena burguesia (e os 'lumpen' se auto-excluem da cena política), o fascismo irá encontrar nesta nova maioria a sua audiência" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)

02 February 2021

O "Ur-Fascismo" (IV)
"3. O irracionalismo depende também do culto da acção pela acção. A acção é bela em si, e portanto tem de ser realizada antes de e sem qualquer reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso a cultura é suspeita na medida em que se identifica com comportamentos críticos. Da afirmação atribuida a Goebbels ("Quando oiço falar de cultura, saco logo da pistola") ao uso frequente de expressões como "Porcos intelectuais", "Convencidos", "Snobs radicais", "As universidades são covis de comunistas", a suspeita em relação ao mundo intelectual tem sido sempre um sintoma de Ur-Fascismo. Os intelectuais fascistas oficiais empenharam-se principalmente em acusar a cultura moderna e a intelligentzia liberal de ter abandonado os valores tradicionais" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)

04 January 2021

O "Ur-Fascismo" (III)

"2. O tradicionalismo implica a rejeição do modernismo. Tanto os fascistas como os nazis adoravam a tecnologia, enquanto os pensadores tradicionalistas costumam rejeitar a tecnologia como negação dos valores espirituais tradicionais. Contudo, embora o nazismo tivesse orgulho nos seus sucessos industriais, o seu louvor da modernidade era só o aspecto superficial de uma ideologia assente no 'sangue' e na 'terra' (Blut und Boden). A rejeição do mundo moderno estava camuflada como condenação do modo de vida capitalista, mas dizia principalmente respeito à negação do espírito de 1789 (ou de 1776, obviamente). O Iluminismo e a época da Razão eram vistos como o início da depravação moderna. Neste sentido, o Ur-Fascismo pode definir-se como 'irracionalismo'". (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)