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28 July 2022

A PERICLITANTE SOBRIEDADE
 

Quando um fulano chega aos 60 anos com mais de uma dúzia de álbuns no currículo e confessa que o penúltimo foi, provavelmente, “o único que gravei sóbrio”, acrescentando “desde os 20 anos, criei discos nos mais variados estados de consciência”, há que prestar alguma atenção. Especialmente, se a discografia em causa lhe valeu os títulos de “England’s greatest living songwriter” (cortesia da “Uncut”) e “lost genius (“NME”). A personagem em causa é Michael Head, notório desde há 4 décadas à frente dos Pale Fountains, Shack, The Strands e The Red Elastic Band - ainda que o ponto de partida historicamente rigoroso tenha sido com os eternamente ignorados Ho Ho Bacteria, assim nomeados a partir do graffito num WC de Liverpool descoberto por Julian Cope, dos Teardrop Explodes. Andavam por lá esses, os Echo & The Bunnymen, Mighty Wah e diversos outros mas Head só tinha ouvidos para os veteranos Love e para os novíssimos Aztec Camera. (daqui; segue para aqui)

"Broken Beauty"

25 August 2020

CHEGAVA A CONFUNDIR-SE COM ELES
 

Quando – buscando, talvez, elevar a auto-estima das 8 101 almas locais – alguém procurar descobrir notáveis oriundos de Princes Risborough, no Buckinghamshire, não há-de ser extraordinariamente difícil chegar ao nome de Edward Stone, pioneiro descobridor das propriedades terapêuticas da aspirina, em 1763. Uns quantos degraus abaixo e, se a intenção for encontrar figuras do mundo da música, escavando bem, poder-se-á chegar a Jay Kay, o semi-luso criador dos Jamiroquai. Mas só por uma enorme sorte se tropeçaria alguma vez nos irmãos Martin e Paul Kelly que, com Johnny Wood e Spencer Smith, primeiro como Episode Four e, depois, sob o nome de East Village, (não) colocariam Princes Risborough no mapa. Não é injusto dizer que, se não o fizeram de propósito, parece bastante.

(álbum integral aqui)

Puristas picuinhas de uma qualquer autenticidade pop, eram o tipo de banda que, quando em busca de um baterista, achou boa ideia colocar um anúncio cifrado no “Melody Maker”: “Wanted – Zeke, De Freitas, Ruffy”. Isto é, só quem conseguisse passar o teste identificando os moços dos tambores dos Orange Juice, Echo & The Bunnymen e Aztec Camera, demonstrando assim possuir credenciais para fazer parte do clube, teria uma hipótese. Olhando, de relance, fotos da época, passariam facilmente pelos Jesus & Mary Chain e, na capa do primeiro single, "Cubans In The Bluefields" (1987), o torso de Johnny Wood surge regulamentarmente uniformizado de blusão de cabedal e abraçando uma guitarra Epiphone, símbolo do selo de aprovação-Orange Juice. Os episódios seguintes são tão curtos (quatro anos) quanto complicados, culminando, inevitavelmente, na separação, ao vivo, em palco, no preciso momento em que iriam publicar o primeiro álbum, Drop Out. Hotrod Hotel, uma compilação de singles e demos agora reeditada em vinil, mostra-os tal como eram: uma bela bandinha revisionista de guitarras que sonhava tanto com os Byrds, Buffalo Springfield et alia (“All that’s gone, all that’s pure, all that’s sacred”) que, por vezes, chegava a confundir-se com eles.

28 October 2019

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (LX)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(última linha: "seu ofício de 'songwriter'"; 
clicar na imagem para ampliar)

Nota: é incrível como em tão curto espaço se pode escrever tanta asneira...

"When Love Breaks Down" (ok, o video é terrível...)

06 January 2018

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XLII)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)


31 May 2016

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XXX)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)


Nota: é impressionante como - especialmente no primeiro parágrafo - foi possível estar tão tremendamente errado.

29 January 2014

REGICIDAS


Gastem algum tempo útil no YouTube e procurem as “Ralph’s Balcony Sessions”. No total, são vinte videoclips mas, se preferirem apanhar logo a ideia geral, podem começar pelo último: a canção é "Choices" e Ralph (na única vez fora da varanda/"balcony" do seu 15º andar em Londres), uma espécie de jovem Richard Thompson, passeia-se num jardim dedilhando a guitarra acústica e cantando as primeiras estrofes. Pouco a pouco, vários outros vão-se-lhe juntando – um quarteto de cordas e outro de sopros, teclado, guitarras, bateria, gente dos To Kill A King, Bastille, We Were Evergreen, Youth Imperal, Title Sequence, Professor Penguin, Emily Wood, no final, à volta de duas dezenas – e contribuindo para as sucessivas alterações de mood e o formidável crescendo final de uma elegia que começa por “I never took away your crutch, just became it day by day, blood filling up our boots, this is how the summer ends”. São todos eles, se quiserem, a segunda vaga daquele sobressalto londrino que, entre diversos outros em pausa ou ainda na sombra, nos ofereceu a preciosa Laura Marling, projectou os Mumford & Sons para o primeiro plano norte-americano e, por instantes, logo rápida e desgraçadamente desperdiçados, nos fez escutar The First Days Of Spring (2009), dos Noah & The Whale. 



Mas o que, agora, importa são os To Kill A King, de Ralph Pelleymounter, e Cannibals With Cutlery, álbum de estreia, publicado em Fevereiro do ano passado e reeditado com quatro faixas adicionais em Outubro – mais outro caso de pepita que não foi registada pelos radares na devida altura. Coisa particularmente indesculpável uma vez que a presença da banda na Net não é, de todo, preguiçosa (para além das “Balcony Sessions” – em que, um a um, os convidados que se reúnem em "Choices" vão desfilando pela varanda, interpretando temas dos TKAK –, uma apreciável colecção de outros óptimos vídeos e um site bem activo) mas, sobretudo, porque tão magnífica música não merece passar despercebida. Pensem no que poderiam ser uns National britânicos (imaginam-nos a cantar “I must make more friends, they'll be hanging at my funeral, just to make my parents proud”?) com as mesmas e simultâneas complexidade e urgência. Recordem, aqui e ali, a riqueza orquestral de The First Days Of Spring e a destreza de escrita dos primeiros Aztec Camera. O país que viu nascer Manuel Buíça não está autorizado a ignorar To Kill A King.

03 April 2012

VINTAGE (LXXVIII)

Aztec Camera - "All I Need Is Everything"



Tears, just like the jewels, 
Adorn their corporate crown, 
Weigh on me worthless and I, 
Shake them down and leave now, 
And have no royal things. 

You, would consecrate the ground, I paced in pain, 
And though those pavements, 
Caught your sorrow stains, 
They fall from me and I say, 
Maybe don't fall for anything, 
That says it's never gonna, 
Give you everything. 

 I wish myself into your arms, 
To know that all I need is everything. 

The size of the sea, and the sun in my eyes, 
And the line in my head, 
Yearning for more, only for more. 
These days are are bright as the days 
I have seen In the wildest of dreams, 
Yearning for more, only for more. 

I wish myself into your arms, 
To know that all I need is everything. 

Hold back the night, I am tired of my sight 
That won't see anymore, 
More than today, threatening to stay. 
Hold back the night, I am tired of my sight 
That won't see anymore, 
"Show me you care", is "Show me the door".

02 April 2012

CANAL DE HISTÓRIA PUNK

 
















Os Passos Em Volta - Até Morrer 



  














Kimo Ameba - Rocket Soda 

















Pega Monstro - Pega Monstro

Aos dezassete anos, Arthur Rimbaud tinha claramente definido um programa de vida: “através de um longo, prodigioso e progressivo desregramento dos sentidos” tornar-se “vidente”, isto é, poeta. Três anos depois, publicara já Le Bateau Ivre, Une Saison En Enfer e Illuminations – a totalidade da obra poética a que se deverão acrescentar as anteriores Poésies (1869–1873) –, encerrara definitivamente a sua aventura literária e escancarara as portas do infinito a Dylan Thomas, Allen Ginsberg, T.S. Eliot, Van Morrison, Cesariny, Bob Dylan, Patti Smith, Salinger, Hector Zazou, Sérgio Godinho, Leo Ferré ou Godard (para nos ficarmos por uma lista muito abreviada). Assombrado por David Bowie, Roddy Frame contava dezasseis anos quando gravou os primeiros singles, com os Aztec Camera, e dezanove por altura da edição do formidável primeiro álbum, High Land, Hard Rain. Foi também aos dezasseis anos que Laura Marling se mudou para Londres e integrou a tripulação dos Noah & The Whale – aos vinte e um, já havia registado o magnífico trio, a solo, Alas, I Cannot Swim (2008), I Speak Because I Can (2010) e A Creature I Don’t Know (2011). E o rol de grandes, pequenos e médios talentos adolescentes poderia alongar-se indefinidamente.



É por estes e por outros que não poderia ser mais insuportavelmente condescendente e paternalista lançar bênçãos e hiperbólicos louvores sobre álbuns como as estreias das Pega Monstro, Kimo Ameba e Os Passos Em Volta (a salva inicial de lançamento da indie, Cafetra Records), em virtude de, alegadamente, se tratar de manifestos sonoros de “como os putos se sentem hoje”. Porque “os putos de hoje” (como “os putos” de sempre) sentem-se de mil e uma formas diferentes, não vêem unanimemente a necessidade de se exprimir numa versão lowest of the lo-fi do rock de garagem e não vivem todos devastados por tempestades metafísicas da ordem de grandeza de “Tenho uma afta na boca, já não como ananás, tenho uma afta na boca, como é que fui capaz?” ou “Hoje em dia faz tudo tão mal, não comas peixe, carne ou vegetal”.



A pátria poderá ser um penico, Lisboa um dedal e a pirâmide demográfica estar dramaticamente invertida mas, seguramente, existem ainda sub-20 capazes de produzir música que nos poupe ao patético espectáculo de avaliações críticas de gente adulta com os joelhos a tremer de emoção perante bandas com o potencial de, comparativamente, elevarem os Sex Pistols ao estatuto da Filarmónica de Berlim. E a cláusula-insolência punk/atitude-DIY, para além de já velhota e para lá do período fértil, quando expressa por catraiada urbana universitária ou pré, em termos de “não quero ir à escola, não quero virar lixo como os tios” (os tios que, provavelmente, cantavam “We don’t need no education”...) e “se isto não é música, então faz tu uma canção, se eu desafino, canta lá tu ó meu cabrão”, soa bastante, como dizer?... postiça. A chinfrineira será muito catártica, duas ou três gerações acima imaginarão que regressaram ao pátio do liceu mas, por Rimbaud!, não se alucinem genialidades onde só há uma emissão do Canal de História Punk de festa de finalistas. 

23 February 2012

VINTAGE (LXIV)

Aztec CAmera - "Oblivious"



From the mountain tops down to the sunny street,
A different drum is playing a different kind of beat
It's like a mystery that never ends,
I see you crying and I want to kill your friends

I hear your footsteps in the street,
It won't be long before we meet,
It's obvious
Just count me in and count me out and
I'll be waiting for the shout,
Oblivious

Met Mo and she's okay, said no one really changed,
Got different badges but they wear them just the same
But down by the ballroom I recognized that flaming fountain
In those kindred caring eyes

I hope it haunts me 'til I'm hopeless,
I hope it hits you when you go,
And sometimes on the edge of sleeping
It rises up to let me know it's not so deep,
I'm not so slow

They're calling all the shots, they'll call and say they phoned,
They'll call us lonely when we're really just alone
And like a funny film, it's kinda cute
They've bought the bullets and there's no one left to shoot


(2012)

29 July 2011

AZTEC CAMERA
(sequência daqui)


"Walk Out To Winter"



"All I Need Is Everything"

(2011)
ESCOLHAS DE VERÃO
(por obrigação contratual)
















The Jesus And Mary Chain - Upside Down: The Best Of The Jesus And Mary Chain

O futuro do pop/rock poderá ser incerto mas é indiscutível que está carregado (talvez, sobrecarregado fosse a palavra mais adequada) de passado. E, na avalanche de reedições que se acotovelam por uns segundos de atenção, esta dupla cápsula do tempo contendo a destilação dos dilúvios eléctricos de Glenn Branca, submetidos à disciplina-Velvet Underground e projectados na Wall of Sound spectoriana realizada pelos irmãos Reid, até é das mais valiosas.



















Stealing Orchestra - Deliverance

A música da Stealing Orchestra costumava corresponder de uma forma mais exacta à tradução portuguesa (Fim de Semana Alucinante) do título do filme de John Boorman – Deliverance – por que optaram para nomear o seu último álbum. Depois das vertiginosas colagens em montanha russa dadaísta, aportaram, agora, a um lugar de compromisso entre samplagem e instrumentos reais, com Rodrigo Leão e Ana Deus a bordo da nave.

















ABBA - Super Trouper (Deluxe Edition)

Por esta altura, já não deve ser indispensável recorrer às desculpas esfarrapadas do culto-kitsch dos anos 70 para legitimar o facto de se gostar (muito) da música dos ABBA. De Stephin Merritt a Elvis Costello, não falta quem lhes louve a valia propriamente musical e, se o tópico kitsch for chamado à conversa, sê-lo-á apenas como tempero adicional. Super Trouper, em toda a sua glória (enriquecida de imagens e outros extras), fala por si.



















Smix Smox Smux - Os Gloriosos Smix Smox Smux Derrotarão Os Exércitos Capitalistas

Iconografia maoísta, apelos insureccionais do género “Vai para a rua, faz barulho, diz-lhes que não estás contente, que o deles está seguro e o futuro não é teu pai” em cadência dançante, oximoros sob a forma de manifesto revolucionário ("Pinochet Guevara") e, reforçando o epicentro bracarense, Adolfo Luxúria Canibal a reavivar o rubro da hemoglobina que tinge a bandeira deste punk tão ingénuo quanto feroz.

















Aztec Camera - Walk Out To Winter/The Best Of Aztec Camera

Se tudo tivesse corrido bem, neste momento, Roddy Frame poderia, muito facilmente, encontrar-se numa situação equivalente – com a devida distância geracional considerada – à de Richard Thompson: um (quase) "elder statesman" da pop britânica, culto selecto mas confortável. A verdade é que os anos pós-Aztec Camera não lhe foram favoráveis e, sem nunca ter, realmente, descido abaixo do seu (exigente) nível, o que a memória e este duplo guardam é a obra inicial.