
The Gentle Waves - The Green Fields Of Foreverland
Looper - Up A Tree
Pronto, já descobri. Levou tempo mas, finalmente, cheguei lá. Depois de muito reflectir acerca do que levaria tanta gente adulta e respeitável (?) a ajoelhar perante a música dos Belle & Sebastian, acabei por compreender. E a beleza da coisa é que o que me fez perceber tudo não foi voltar a escutar pela vigésima vez os álbuns deles (bom, sejamos honestos, também não os ouvi assim tanto, um homem não é de pau...) mas sim, numa linguagem de guerra, o contacto com os "danos colaterais" por eles produzidos. A saber, os projectos divergentes de Stuart David e Isobel Campbell, Looper e The Gentle Waves, cujos respectivos álbuns acabam de ser publicados.

Como se suspeitaria, The Green Fields Of Foreverland (estão a ver, logo no título, o espírito da coisa?) é dedicado à "vovó Gallacher" e (parece que sou bruxo) "ao velho e muito amado cão". Não sei se a avózinha achará graça à companhia mas depois, tudo segue bucolicamente por aí fora naquela estética Laura Ashley muito florida e "naïve", cheia de "luas prateadas" e "lugares encantados", inanidades de adultos que nunca cresceram o que, convenhamos, é das coisas mais patéticas que existem. A música, não percamos demasiado tempo com ela, é perfeitamente a condizer, algures entre a Sœur Sourire e o Donovan hippie-betinho.
Os Looper também não andam muito longe daí (todo o enredo se centra numa paixão platónica entre um moço tímido e uma donzela idem, idem, que só se comunicam por carta — atenção, por carta, escrita à máquina, nada de e-mails, que aqui não são de modernices) mas, apesar de tudo, têm aquilo a que, se estivermos generosos e de bom humôr, se poderia chamar "uma ideia".

O que mais incomoda nem sequer é isso. É que, aqui pelo meio, há uma leitura transviada do terceiro álbum dos Velvet Underground. De onde só ficou "a ingenuidade" (e quanto não teríamos a dizer sobre "a ingenuidade", mas não temos tempo) e a perversão foi pelo cano abaixo. E a perversãozinha é, de facto, o que interessa. Ou não é? (1999)