TRANSPIRAÇÃO
Bruce Springsteen & The E Street Band - London Calling/Live In Hyde Park (duplo DVD)
Steve Van Zandt está com um facies de peixe-balão e aquela pinta de fazer coagular o sangue do mais maligno Drácula que foi aperfeiçoando durante a sua vida paralela como Silvio Dante, nos “Sopranos”. Clarence Clemmons, o único saxofonista do mundo capaz de tocar com uma banda de rock sem que, do palco, comecem imediatamente a escorrer Amazonas de óleo, é um discreto (porém, contundente, quando necessário) faraó. Max Weinberg, após diversos anos à ilharga de Conan O’Brien, cada vez menos foge a ser visto como o atinado chefe de família, profissional de seguros, de dia, e baterista, à noite (mas, claro, com horários flexíveis).
E, se não existisse, Soozie Tyrell teria de ser inventada: não apenas porque o timbre do seu violino circula já na corrente sanguínea da E Street Band mas também pela não menos importante razão de que o seu glamour de loira cabeleireira suburbana é – na ausência de Patti Scialfa – o perfeitíssimo contraponto do bravo operário metalúrgico Springsteen, mouro de trabalho e jóia de rapaz que, mesmo já entrado nos sessenta, dá o litro como muitos de vinte não conseguem.
Perdoem-me se volto a citar Tiago Guillul mas, depois de três horas ininterruptas de concerto, em Hyde Park, com pôr-do-sol e tudo pelo meio, faltam-me as forças: “Sempre os mesmos acordes. Sempre os mesmos xilofones sentimentais. Sempre as mesmas capas péssimas em subtis variações de auto complacência. Sempre os mesmos optimismos insufláveis ianques. Sempre as mesmas queixinhas de classe média. Sempre a mesma coisa. Bruce Springsteen não sabe fazer maus discos". Este duplo DVD (um quase-greatest hits ao vivo) não só não é mau como é, deveras, óptimo. A intensidade pode ser, objectivamente, medida pelo alastrar das manchas de transpiração na camisa de Bruce: começam no segundo tema e, ao quinto, já está ensopada. E ainda faltam mais vinte e cinco.
(2010)
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21 August 2010
30 September 2008
EM LOUVOR DA IVY LEAGUE
Damon & Naomi - More Sad Hits
Mais uma outra contribuição para a tese que se deverá ocupar com a demonstração de como ao sistema universitário norte-americano (e à ilustre Ivy League em particular) devemos uma importantíssima parcela da melhor pop. A saber – e recuando no tempo –, em 1986, o guitarrista Dean Wareham, o baterista Damon Krukowski e a baixista Naomi Yang (que se haviam conhecido na Dalton School, de Nova Iorque), já como estudantes da universidade de Harvard, constituíram os Galaxie 500. Krukowski não possuía bateria própria mas resolveu o assunto pedindo emprestada a do colega de curso Conan O’Brien (sim, esse) e, por entre núvens de Velvet Undergound e Jonathan Richman, edificaram um razoável culto indie que se concluiria com a separação da banda em 1991. Damon e Naomi, inicialmente contra vontade mas espicaçados pelo produtor Mark Kramer, retomaram o percurso e, com este More Sad Hits (1992, agora reeditado e remasterizado), criaram o chamado “minor classic” de melancolia psicadélica, algo como uns Mazzy Star ainda mais assombrados e narcotizados e com maior diversidade tímbrica, em canções com títulos como “This Car Climbed Mt Washington” ou “Boston’s Daily Temperature”. Dezasseis anos depois, sem uma ruga.
(2008)
Damon & Naomi - More Sad Hits
Mais uma outra contribuição para a tese que se deverá ocupar com a demonstração de como ao sistema universitário norte-americano (e à ilustre Ivy League em particular) devemos uma importantíssima parcela da melhor pop. A saber – e recuando no tempo –, em 1986, o guitarrista Dean Wareham, o baterista Damon Krukowski e a baixista Naomi Yang (que se haviam conhecido na Dalton School, de Nova Iorque), já como estudantes da universidade de Harvard, constituíram os Galaxie 500. Krukowski não possuía bateria própria mas resolveu o assunto pedindo emprestada a do colega de curso Conan O’Brien (sim, esse) e, por entre núvens de Velvet Undergound e Jonathan Richman, edificaram um razoável culto indie que se concluiria com a separação da banda em 1991. Damon e Naomi, inicialmente contra vontade mas espicaçados pelo produtor Mark Kramer, retomaram o percurso e, com este More Sad Hits (1992, agora reeditado e remasterizado), criaram o chamado “minor classic” de melancolia psicadélica, algo como uns Mazzy Star ainda mais assombrados e narcotizados e com maior diversidade tímbrica, em canções com títulos como “This Car Climbed Mt Washington” ou “Boston’s Daily Temperature”. Dezasseis anos depois, sem uma ruga.
(2008)
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