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03 February 2023

O EIXO SOMBRIO DO MUNDO


Em Superstars: Andy Warhol e os Velvet Underground (Assírio & Alvim, 1992) – extenso dossier incluindo entrevista quadripartida e dicionário sobre os VU, publicado por “Les Inrockuptibles” aquando da reunião histórica da banda para a abertura da exposição Andy Warhol System, Pub, Pop Rock, a 15 de Junho de 1990, na Fundação Cartier, em Paris – John Cale, por entre um desfile de memórias agridoces, aqui e ali, vai deixando cair uma ou outra confissão que ajudam a iluminar melhor o percurso dele e da banda. Por exemplo, logo a abrir, ele que, enquanto jovem, tocara com a National Youth Orchestra do País de Gales, estudara no Goldsmiths College, de Londres, aproximara-se de John Cage, do Fluxus e do Theatre Of Eternal Music de La Monte Young, dispara: “Não existe qualquer futilidade no rock’n’roll. Na vanguarda, sim. O rock’n’roll é demasiado urgente para ser fútil e é isso que ele tem de fantástico”. Tudo começara quando, aos 15 anos, num cinema de Gales, assistiu a Rock Around The Clock. Para ele que, até ali, “imaginara o rock’n’roll como algo semelhante à música de Stravinsky”, o choque fora tremendo: “Fiquei terrivelmente confuso: queria mesmo dedicar-me à música de vanguarda ou atirar-me ao rock’n’roll?”, conta ele, agora, ao “New York Times”. (daqui; segue para aqui)

20 December 2022

Elvis Presley - "Money Honey"
 
(sequência daqui) "Money Honey", de Elvis Presley, por exemplo, onde este é apenas referido de passagem: “A arte é um desacordo. O dinheiro é um acordo. Eu gosto de Caravaggio, tu gostas de Basquiat. Gostamos ambos de Frida Kahlo e Warhol não nos aquece. A arte alimenta-se destas disputas. É por isso que não pode existir uma arte nacional. Quando essa tentativa ocorre, apercebemo-nos do limar das arestas, da tentativa de incluir todas as opiniões, do desejo de não ofender ninguém. Demasiado depressa, transforma-se em propaganda ou comercialismo rasteiro. Não que haja algo errado com o comercialismo mas, como tudo que tem a ver com dinheiro, baseia-se num salto de fé mais abstracto do que o abstraccionismo geométrico de Frank Stella”.
 
 
Frank Sinatra - "I'm A Fool To Want You"

No fundo, tudo poderia reduzir-se a poucas regras: 1) “Se uma canção nos emociona, isso é o que importa. Não tenho de saber o que ela significa. Já escrevi sobre tudo nas minhas canções. E não me preocupo nada com isso”; 2) “Conhecer a biografia de um artista não nos ajuda especialmente a compreender uma canção. Aparentemente, o que Frank Sinatra sentia por Ava Gardner é a matéria de ‘I’m A Fool To Want You’ mas isso são apenas banalidades. O que importa é como uma canção nos faz sentir acerca de nós próprios”; 3) “Uma forma de avaliar um autor de canções é reparar em quem são os intérpretes que as cantam. Outra é verificarmos se elas continuam a ser cantadas”. (segue para aqui)

20 November 2022

MONSTERPIECE
Há 5 anos, Peter Buck decidiu comprar um dos 75 retratos de uma série sobre Lou Reed que Luke Haines colocara à venda. Inesperadamente, Haines propos-lhe gravarem um álbum a meias. Sem nunca se terem encontrado fisicamente, assim nasceriam as dez canções de Beat Poetry For Survivalists (2020), mui peculiar objecto em cujas esquinas Andy Warhol, Liberace, os Ramones, Captain Beefheart e Maria Callas se cruzavam. Supostamente, não teria sucessor. Mas, com os constrangimentos pandémicos a pesar, o ex-R.E.M. e o ex-Auteurs/Black Box Recorder/Baader Meinhof optaram por dar uso útil ao muito tempo disponível e reactivar a colaboração: “Apercebi-me que, com o Luke, não há limites. Tudo o que lhe enviava ele concluía. Era o Verão de 2021 em Portland, com incêndios, ondas de calor e protestos, e dei comigo a pensar ‘Será que preciso realmente de escrever mais uma canção bonitinha em Mi menor com um riff de guitarra catita?...’ Que se lixe, não era esse o meu estado de espírito na altura”, contou Buck à UCR“. (daqui; segue para aqui)

24 October 2022

A FABULOSA BESTA


Horas antes de subir ao palco do Coliseu de Lisboa, no qual, em 1993, se apresentaria pela primeira vez em Portugal, no bar do hotel onde ficara instalada, Marianne Faithfull recordava os primeiros passos, em meados dos anos 60, de modo muito pouco nostálgico: “Nessa altura, eu tinha um tremendo desprezo pela música pop. Quando jovem, artisticamente, era uma enorme snob. Queria ser actriz, tinha uma excelente voz que me fazia pensar numa carreira na ópera, queria dedicar-me a qualquer coisa séria. E, não sei muito bem como, acabei por ser desviada (de certo modo, por engano) para a pop. Agora, sinto-me muito satisfeita e reconhecida por isso. Mas, na altura, o que cantava parecia-me puro lixo. Em certa medida, foi só quando comecei a entender o Andy Warhol que realmente compreendi que a pop também era arte. Até aí, não passava de matéria descartável, pronta para usar e deitar fora”. (daqui; segue para aqui)

18 August 2021

 
(sequência daqui) Por essa altura, os Goon Sax tinham só ainda dois álbuns publicados – Up To Anything (2016) e We’re Not Talking (2018) – e era preciso um imenso salto de fé para crer que o que escutávamos era, realmente, “apenas uma coincidência” e não míticas, secretas e inéditas gravações perdidas dos autores de Liberty Belle and the Black Diamond Express (1986), algures entre Before Hollywood (1983) e Spring Hill Fair (1984). Poderão ter começado, confessa Louis, como “uma piada estúpida e divertida destinada a durar nem seis meses e que ainda hoje me custa a acreditar que se tenha tornado uma coisa séria que continua a existir” mas, chegados ao terceiro álbum, Mirror II, aquilo em que deveremos realmente concentrar-nos é na afirmação final de Robert: “Eles têm apenas 20 anos e, de certeza, vão ainda mudar muito”. Entregues nas mãos de John Parish (e quem, dos Dry Cleaning a PJ Harvey, Aldous Harding, This Is The Kit, Jesca Hoop ou Chrysta Bell, não lhe passou já pelas mãos?) que os conduziu até Bristol, aos Invada Studios de Geoff Barrow (Portishead), não sairam propriamente irreconhecíveis mas o "pool" genético ampliou-se largamente. A começar logo pelo título, segundo Riley Jones, o momento em que uma decisão de acaso ganhou um novo sentido: “Estava a ler The Philosophy Of Andy Warhol e, às tantas, ele diz algo perfeito: ‘Estou certo que, se olhar para um espelho, não verei imagem nenhuma. As pessoas estão sempre a dizer que sou um espelho. Mas, se um espelho olha para outro espelho, o que há para ver?’ O título (Mirror II), de início, era totalmente arbitrário mas passou a significar essa reflexão sobre os reflexos e o modo como, permanentemente, nos influenciamos uns aos outros e nos fazemos ver como verdadeiramente somos”. (segue para aqui)

03 June 2021

PERSONAL ANARCHY
 
 
O mistério do cérebro perdido de Ulrike Meinhof. A história fantástica de Jack Parsons, pioneiro aero-espacial, espião e ocultista da seita de Aleister Crowley. O Situacionismo e a guerrilha urbana. A "sci-fi" neo-swiftiana sobre uma comunidade hiper-libidinosa de mutantes de 6 centímetros. Uma discografia – em nome próprio ou sob as designações de The Auteurs, Baader-Meinhof e Black Box Recorder – com perto de 30 títulos, entre os quais The Oliver Twist Manifesto (2001), Das Capital (2003), 9 1/2 Psychedelic Meditations on British Wrestling of the 1970s & Early '80s (2011), Adventures In Dementia (2015), British Nuclear Bunkers (2015) e o inédito e confidencial The State Funeral of Winston Churchill (2005). Três livros – Bad Vibes: Britpop and My Part in Its Downfall (2009) Post Everything: Outsider Rock and Roll (2011) e o “psychedelic cookbook”, Outsider Food And Righteous Rock And Roll (2015) – e uma extensa lista de canções pelas quais, em estados variáveis de desfiguramento, desfilam Andy Warhol, Liberace, Ramones, Jacqueline du Pré, Captain Beefheart, Donovan, Maria Callas, Valerie Solanas, Nick Lowe, Klaus Kinski, Gene Vincent, Lou Reed, Peter Hammill, Marc Bolan, Bruce Lee, Roman Polanski e os futuristas russos. É, pois, inteiramente legítimo afirmar que, no imenso caldo de cultura pop/rock, não existe quem, sequer remotamente, se assemelhe a Luke Haines, adepto confesso da “personal anarchy” e supremo praticante da modalidade. (daqui; segue para aqui)

"Ex Stasi Spy"

22 March 2021

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (LXVII)


(clicar na imagem para ampliar; a "perca" - a "bold" e tudo - em vez de "perda" é indesculpável...; ver também aqui)

27 February 2021

VINTAGE (DLIX)

Nico & Marc Almond - "Your Kisses Burn"

"Nico was a mysterious figure, enigmatic with that great musical and artistic connection to The Velvet Underground and Warhol, which were things I was obsessed about at school. And of course that wonderful intriguing voice, icy and remote yet warm at the same time. She made a sound I’d never heard before - maybe some sort of a gothic punk Marlene Dietrich. The first time i heard her music was with The Velvet Underground, but I bought Desertshore, The Marble Index and The End and liked them more. There was also her musical association with Brian Eno, which made her more intriguing" (aqui)

07 April 2020

ASSIM SOBREVIVE-SE MELHOR


Em Março de 2013, Luke Haines escreveu uma canção de 2 minutos, “apenas com três notas, um riff imbecil e duas palavras repetidas 72 vezes: Lou Reed”. Viria a ser a nona faixa de New York In The '70s (2014). Na capa, um pastiche de Haines sobre a fotografia (por Oliviero Toscani) de Reed para Lou Reed Live (1975). Durante três anos, manter-se-ia fiel ao propósito de pintar 72 variações em torno dessa imagem, em acrílico sobre tela, que coloca à venda por 49£ cada. Em Abril de 2017, na sala de espera de um consultório médico, recebe uma mensagem de Peter Buck (ex-R.E.M.) que pretende adquirir uma delas. Por 99£. Não tendo nada a perder, aproveita o pretexto para lhe propor gravarem um álbum a quatro mãos. Buck acha piada à ideia mas responde que, naquele momento, tem a agenda demasiado preenchida e não irá ser possível. 


Quatro meses depois, porém, cai-lhe na caixa de email uma "demo" tosca de Buck com uma sequência de acordes sobre as batidas de uma "drum machine" Univox da qual Haines extrai uma melodia e um texto acerca de Jack Parsons, engenheiro e pioneiro aeroespacial, ocultista da seita de Aleister Crowley e íntimo do farsante L. Ron Hubbard, fundador da Cientologia. Nunca se haviam encontrado antes – nem se encontrariam até à conclusão das dez canções de Beat Poetry For Survivalists – mas, via-email, com a contribuição adicional de Scott McCaughey e Linda Pitmon (na verdade, Haines mais três quintos dos Filthy Friends), estava dado o tiro de partida para a materialização musical de uma “mutual admiration society”: Buck considerava Haines o melhor "songwriter" do Brit Pop e Baader Meinhof (álbum de Luke, de 1996), um clássico, e o criador dos Auteurs confessava que, para ele, só existiam três bandas: The Fall, Go-Betweens e R.E.M.. Naturalmente, Beat Poetry... é coisa singularíssima: preparem-se para canções sobre estações de rádio pós-apocalípticas que só difundem a obra de Donovan, e assistam ao desfile de Andy Warhol, Liberace, os Ramones, Jacqueline du Pré, Captain Beefheart e Maria Callas, por entre guitarras ácidas, tablas, glockenspiel e flautas de bisel. Assim sobrevive-se melhor.

04 October 2019

06 October 2018

When Andy Warhol Made a Batman Superhero Movie (1964)



(daqui; ver também aqui)

12 June 2018

CORRIGIR A NATUREZA 


No princípio, foi "The Ostrich". Em 1964, num estúdo manhoso da Pickwick Records, em Long Island, Tony Conrad (cineasta experimental, compositor, companheiro de La Monte Young no Theatre Of Eternal Music), Walter de Maria (escultor, músico, pioneiro da Land Art) e John Cale, juntaram-se a Lou Reed (então “staff songwriter” da Pickwick) para a interpretação dos dois temas – "The Ostrich"/"Sneaky Pete" – do único single dos Primitives, banda que apenas entraria para a História por aquilo a que viria a dar origem: via Reed/Cale, os Velvet Underground, e, muito mais imprevisivelmente nos insondáveis caminhos da genealogia musical, também a música “ambiental”. Entre 1964 e 1968, de Maria gravara “Cricket Music” e “Ocean Music” em que articulava percussões tribais com registos de sons “naturais” (grilos e as ondas do mar). Foi, justamente, em “Ocean Music” que Tony Conrad pensou quando, para o filme Coming Attractions (1970) – realizado com a mulher, Beverly Conrad, em torno da "drag queen-superstar" de Warhol, Francis Francine –, lhe ocorreu sonorizá-lo de modo semelhante.



Não se dirigiu, porém, a Walter de Maria mas sim a Irving Teibel, fotógrafo, designer gráfico e interessado pela "musique concrète" e electrónica que descobrira durante a sua estada como militar, em Stuttgart, na Alemanha. Várias expedições para gravar os sons do oceano na Costa Leste, não deixaram Teibel satisfeito: o mar que a fita magnética recolhera não estava à altura do que o seu ouvido imaginara. A natureza precisava de ser corrigida e isso aconteceria nos Bell Labs com a colaboração de um gigantesco computador IBM 360: imaculado e infinitamente terapêutico, The Psychologically Ultimate Seashore (1969), lado A do primeiro dos 11 volumes da série “Environments”, estava, enfim, pronto para o mundo. Mais de meio século após a "musique d’ameublement" de Satie e uma década antes de Brian Eno, Irv Teibel anunciava “The music of the future isn’t music” e confirmá-lo-ia com Ultimate Thunderstorm (trovões, ventania e aguaceiros), English Meadow (olá Virginia Astley), ou Ultimate Heartbeat (para uma sessão de sexo feliz – nada de maratonas, 20 minutos chegam), não esquecendo The Altered Nixon Speech, no qual, demonstrando as infinitas possibilidades da manipulação sonora, fazia Richard Nixon “confessar” tudo sobre Watergate. Numa iniciativa da arquivista Numero Group, podemos (re)escutar tudo agora, através de uma aplicação para iPhone e iPad. E nunca lhe ficaremos suficientemente gratos.