Showing posts with label The High Llamas. Show all posts
Showing posts with label The High Llamas. Show all posts

05 March 2024

 RAREFACÇÃO
 
 
Sentados na relva de um parque onde humanos e cães se passeiam preguiçosamente, Thomas Jean Henri e Claire Vailler esperam 20 segundos até que o ruído de um avião que sobrevoa a zona se dissipe. Nos 4 minutos seguintes, apenas a voz, quase só um suspiro, de Claire e o dedilhado da guitarra acústica de Thomas pairam à beira da inexistência, cerzindo palavras ("For ever and ever we toil in love, to push the waves aside, for ever and ever we dance, fearlessly") sobre a coreografia transparente de "Melodies Of Love". No segundo vídeo, gravado num estúdio de rádio de Bruxelas, Thomas e Kate Stables (This is the Kit) ocupam-se da mesma canção: ele, sentado ao piano, no qual apenas desenha uma introdução e coda minimais e, no resto, alimentando na guitarra a delicada voz luminosa de Kate que se apropria inteiramente da canção. O terceiro é um "lyric video" sobre uma paisagem de montanha, a preto e branco, ainda uma outra abordagem de "Melodies Of Love" envolvida pelo sinuoso e labiríntico arranjo para cordas de Sean O’Hagan (Microdisney, Stereolab e High Llamas). (daqui; segue para aqui)
 
"Melodies Of Love" (feat. Kate Stables)

26 July 2021

 UM NOVO FÔLEGO
 
 
O lendário DJ britânico John Peel, admirador incondicional dos Microdisney, dizia que a voz de Cathal Coughlan – com Sean O’Hagan, o motor criativo da banda – era de tal modo sedutora que o ouviria com prazer cantar a lista telefónica (num tempo em que as listas telefónicas ainda existiam). E, citando Napoleão, definia a música do grupo irlandês como “um punho de aço dentro de uma luva de veludo”. O aço não terá sido suficientemente forte ou o veludo tão macio quanto necessário para evitar que, após 5 notáveis álbuns – especialmente, The Clock Comes Down The Stairs (1985) –, em 1988, os Microdisney se tivessem separado. O’Hagan fundaria os High Llamas, e Coughlan, durante meia década, daria vida aos Fatima Mansions. Mas as proverbiais disputas contratuais iriam impedi-lo de voltar a gravar até 2000, quando publicaria o primeiro álbum a solo, Black River Falls. O quarto e último, Rancho Tetrahedron, datava já de há 11 anos, pelo que pode dizer-se que Song of Co-Aklan é, na verdade, um novo fôlego, sob a máscara de Co-Aklan (Coughlan em escrita fonética), um avatar embrionário. (daqui; segue para aqui)

02 February 2021

Cabane - "Take Me Home Pt.2" 
(feat. Bonnie "Prince" Billy & Bostgehio)
(ver também aqui)
 
(sequência daqui) Em 35 minutos e 10 aguarelas pontilhistas, todos desmontam a armadilha preferida da perfeição que consiste em fazer-nos crer na sua impossibilidade de existir – ela está aqui, pronta a ser descoberta a cada capítulo desta sucessão de haikus envoltos em névoa que pairam sobre uma cabana-grande-como-uma-casa, “um lugar temporário onde nos abrigamos das intempéries”, concebido “como um espelho, como imagens que se reflectem, se opõem e se respondem”, nas vozes sobrenaturalmente complementares de Will Oldham e Kate Stables. Construída laboriosamente ao longo de 5 anos (“Tinha ficheiros verdes, vermelhos e amarelos no meu computador e, à medida que os trabalhava, esperava que alguns se elevassem à cor superior. Por vezes, voltava ao dossier vermelho na esperança de poder salvar algum e temia que algum verde tivesse sido despromovido a vermelho”, conta Thomas a respeito do seu semáforo criativo), é uma delicada peça de folk de câmara para interiores – desdobrada em componentes de video e fotografia – de um frágil impressionismo luminoso e detalhado que, para se nos colar à pele, não precisa que se diga quanto, aqui e ali, faz pensar em Paul Simon ou no olhar de Robert Kirby sobre Nick Drake.

22 December 2020

GEOMETRIA VARIÁVEL


“Will Oldham (Bonnie ‘Prince’ Billy), é o fantasma, a escuridão, a morte, a perda, as memórias. Kate Stables (This Is The Kit) é a luz, a benignidade, o calor. A soma dos dois é Cabane”, sintetiza o belga Thomas Jean Henri, quando fala acerca do seu álbum Grande Est La Maison. Mas, nesse esforço de síntese, deixa de fora vários outros elementos essenciais dessa “experiência colectiva de geometria variável” tão simples de imaginar que custa a acreditar nunca ninguém ter pensado nela antes: os arranjos de Sean O’Hagan (o futurista de antiquário que já distribuiu cores pelas paletas dos Microdisney, Stereolab e High Llamas) para quarteto de cordas, vibrafone, piano eléctrico Wurlitzer, a episódica "drum machine" de Andy Ramsay (Stereolab), as cinco vozes das Bostgehio e a colaboração nos textos de Caroline Gabard e Sam Genders. (...). (daqui; segue para aqui)

"Sangokaku" feat. Bonnie Prince Billy & Kate Stables (ver aqui)

02 December 2019

FUTURISMO DE ANTIQUÁRIO

  
Uma das melhores qualidades do maravilhoso e aleatoriamente promíscuo mundo "online", é a possibilidade de, andando em busca de uma coisa, se descobrir mil outras que nem sonhávamos existirem, por vezes, francamente mais interessantes do que o alvo de pesquisa original. Por exemplo, a propósito de Radum Calls, Radum Calls, de Sean O’Hagan, após a constatação do quase confidencial número de navegantes que acharam interessante prestar-lhe alguns segundos de atenção, tropeçarmos, no YouTube, numa extensa conversa por Skype, entre O’Hagan e Van Dyke Parks e, logo a seguir, saltitando de link em link, desenterrar das catacumbas da Net, a página de um ignoto Clay The Scribe que começa por explicar que soube da existência dos High Llamas através de uma entrevista com Pharrell Williams em que este nomeava como sua “favourite fellatio song”, "The Flower Called Nowhere", dos Stereolab (juntando os pontinhos para quem não esteja, imediatamente, a associar os nomes às pessoas: O’Hagan, ex-membro dos miseravelmente esquecidos Microdisney e fundador dos High Llamas, é também elemento volante dos Stereolab). 



E, aí mesmo, encontrarmos uma bem saborosa troca de ideias na qual Sean fala da necessidade que, nos anos 90, sentiu de criar música que não celebrasse apenas os Beach Boys mas também Ornette Coleman, Robert Wyatt, John Cale, Kevin Ayers, e o minimalismo de John Adams, da veneração por Villa Lobos, Rogério Duprat, Wally Scott (arranjador de Scott Walker) e Jean-Claude Vannier (orquestrador de Serge Gainsbourg), e do seu modus operandi composicional: primeiro, fragmentos rabiscados em cassetes, "minidiscs" ou iPads, depois, trabalho de estúdio sobre a ideia quase em bruto e, por fim, as vozes. Um utilíssimo "briefing" para o que iremos escutar no seu segundo álbum a solo desde há 29 anos: uma quase ofensiva superabundância de ideias e pistas de decifração que, traduzida para uma orquestra de câmara de sintetizadores analógicos, caixas de ritmos, orgãos Bontempi, cravo, clavas, sopros, a harpa de Serafina Steer e secções de cordas de finíssimo veludo, dá origem a uma espécie de amável futurismo de antiquário que tanto faz pensar nuns XTC de libré, como num Tom Jobim contratado pela Disney para substituir Henry Mancini na banda sonora de uma história serenamente psicadélica acerca de fantasmas nostálgicos dos anos de ouro de Covent Garden, lavadores de janelas de Nova Iorque e donzelas iranianas em fuga da revolução islâmica. E, sim, faz tudo sentido.

30 April 2019

CORES A EXPLODIR NO CÉU


Houve um riquíssimo – e injustamente menosprezado – filão da música do século XX redescoberto à beira do novo milénio que, embora, à época, tenha produzido descendência apreciável, não chegou a ser exaustivamente garimpado. Os Stereolab, Broadcast, Saint Etienne, High Llamas, Pizzicato Five, Tipsy, Combustible Edison, Pram ou Oranj Symphonette, quais intelectuais renascentistas, poderão ter arregalado os ouvidos perante as três dezenas de volumes recheados de tesouros da série Ultra Lounge (e as muitas outras reedições que recolocaram no mapa Les Baxter, Martin Denny, Ray Coniff, Yma Sumac, Arthur Lyman, e Juan Garcia Esquível enquanto legítimos herdeiros de Bach, Telemann, Debussy ou Satie e antecedentes directos de Cage, Chet Baker e Brian Eno) mas, no vastíssimo universo easy listening/lounge/muzak/exotica/elevator music, muito ficaria ainda por explorar. Acrescente-se ainda a recuperação das obras dos pais fundadores da electrónica – Raymond Scott, Robert Moog, Louis e Bebe Barron –, o encontro com as excentricidades sonoras de Gravikords, Whirlies & Pyrophones (1998), a reavaliação de inúmeras bandas sonoras para "gialli" e eternos residentes nos rodapés da história do cinema – a magnífica recolha Crime & Dissonance, de Morricone, mas também Fabio Frizzi, Krzysztof Komeda, Gene Moore – e o poço sem fundo da "library music", e ficar-se-á com uma razoável ideia da inesgotável matéria-prima pronta para centrifugação laboratorial. 



Foi justamente por aí que Le SuperHomard, banda francesa de Avignon (ou, mais exactamente, Christophe Vaillant, compositor, Julie Big, voz, e acólitos), se orientou, criando uma descendência contemporânea para tão glorioso passado. Situando-se algures no ponto em que uma reinvenção dos ABBA às mãos de membros avulsos dos Saint Etienne e Stereolab se cruzaria com a suave troca de genes entre uns Black Box Recorder menos perversos e um Syd Barrett um segundo antes de se evadir para os anéis de Saturno (eles chamam-lhe “pop retro-futurista” e confessam-se também em dívida relativamente a Morricone. François de Roubaix, Love), Meadow Lane Park é um garboso exercício de "space age bachelor pad music" angélica, um luminoso modernismo sonoro imaginado sob o signo de Vasarely. "Paper Girl" diz tudo: “Take a page, draw a happy face inside a heart, picture you, picture me, picture everyone, draw the lines of fireworks exploding in the sky, red and blue, pink and green, cover all the white”.

06 September 2008

SANS TROPHÉE ET SANS GLOIRE
(revisão daqui)



Stereolab - Dots And Loops




Mono - Formica Blues

"Se levarmos em conta o número de grupos pop que foram influenciados simultaneamente pelas peças para orgão de Steve Reich, pelos Neu, por Martin Denny, Françoise Hardy e pelo marxismo, não é muito arriscado dizer que os Stereolab percorrem uma trajectória singular". Quem o afirma é Mike Barnes no número de Outubro da "Wire" e tem toda a razão. O grupo de Tim Gane e Laetitia Sadier poderá praticar aquilo a que já chamaram "post-easy groove" mas a verdade é que a sua peculiar combinação de "muzak cool" com "space age pop" condimentada com partículas de drum'n'bass e um aroma de minimalismo subtraido aos Young Marble Giants precedeu de vários anos o actual fascínio pelo "easy listening".



Dots And Loops, o último álbum, é talvez aquele onde todo o catálogo de referências dos Stereolab melhor se articula e desenvolve: partindo da particular sensibilidade gaulesa transmitida por Laetitia (leia-se: como se a língua francesa fosse o idioma "easy" internacional), tudo se organiza em torno das componentes minimais da música - "dots and loops", precisamente - convertidas em delicadas miniaturas de neon que tanto se aventuram por um psicadelismo amável como vivem confortavelmente aconchegadas pelos arranjos de cordas e sopros de Sean O'Hagan (dos High Llamas), animadas pelos desenhos repetitivos de marimbas reichianas ou convivendo com os influxos conjugados de John McEntire (dos Tortoise) e dos germânicos Mouse On Mars. E depois, haverá muitos grupos que, num épico "space lounge" de quinze minutos ("Refractions In The Plastic Pulse"), se atrevam a cantar coisas como "Ce qui est n'est pas clos, du point de vue le plus essentiel, ce qui est ouvert est à être dans une action sans fin, sans trophée et sans gloire"?


Stereolab + Stan Brakhage

No salão ao lado dos Stereo, actuam os Mono. Isto é, Martin Virgo (compositor, programador e multiinstrumentalista com currículo ao lado de Björk e dos Massive Attack) e a "chanteuse" Siobhan De Maré, praticantes de um trip hop orquestral que se alimenta em simultâneo de um retropop francófilo (por outras palavras, Gainsbourg, Gainsbourg e Gainsbourg com Siobhan no papel de Jane Birkin), de "samples" de John Barry, Isaac Hayes, Roy Budd, David Sylvian e Gil Evans e de ocasionais acrobacias rítmicas "junglistas".



A atmosfera é irrepreensívelmente elegante e transpira aquele tipo de "ennui" pós-moderno que se poderia encontrar nuns Portishead chiques, parisienses e em dieta rigorosa de Moet et Chandon. Formica Blues, o título, explica realmente tudo acerca de um álbum que é, ao mesmo tempo, uma sofisticada peça de "period music" e de modernismo luxuoso, sem nenhuma contradição nos termos. Já agora, de passagem, não nos admiremos demasiado com a inesperada (?) persistência da estética "easy". Não foi Dickon Hinchcliff, o violinista dos Tindersticks, que confessou que aprendeu tudo sobre arranjos para cordas num manual de Henry Mancini?

(1997)

25 August 2008

A LEI DA CONSERVAÇÃO DA MATÉRIA

 


   Stereolab - Chemical Chords 

Pode, evidentemente, dizer-se que, agora, é fácil. Mas, de facto, apetece fazer em sentido inverso o caminho-das-pedrinhas que desvenda a lógica da trajectória musical dos Stereolab. Começando, naturalmente, por este Chemical Chords, ponto de chegada em momento daquela glória pop a que uma banda como a de Tim Gane e Laetitia Sadier (e, agora, também, crescentemente do ex-High Llama, Sean O’Hagan) alguma vez poderia legitimamente aspirar: lounge estival efervescente, arranjos de sopros e cordas entre o “easy listening” e o lego-barroco, tudo cirurgicamente dirigido ao objectivo confessado por Gane – escrever “purposefully short, dense, fast pop songs”.

  

Recue-se, então, passo a passo, nos já quase vinte anos de carreira dos Stereolab. Como diria o também químico Lavoisier, “nada se perdeu e tudo se transformou” nesta aplicação musical da lei da conservação da matéria à estética de composição molecular da dupla Gane/Sadier: da “motorika” do Krautrock às relíquias da electrónica, de Bacharach aos Young Marble Giants, dos Velvets à “chanson”, à sombra tropicalista ou às antevisões “modernistas” de Robert Moog, Esquível ou Martin Denny, tudo acabou por configurar um voluptuoso organismo pop, requintado e sedutor, falso magro, de cérebro bem activo. (2008)

06 May 2008

ARQUEOLOGIA FUTURISTA


Peter Thomas Sound Orchester (Neo Astronautic Sound) - Warp Back To Earth 66/99

Uma parte muito interessante da pop contemporânea assemelha-se bastante ao que se poderia chamar uma espécie de arqueologia futurista. Ao contrário da pura atitude "retro" que se limita a mimetizar as estéticas do passado transpondo-as tal e qual para a actualidade, os arqueólogos futuristas desenterram literalmente os tesouros esquecidos para, a partir dos fragmentos deles, construir novos edifícios de uma idade pós-pós-moderna onde a realidade anulou o conceito de tempo e a legitimidade de todos os impulsos sonoros é equivalente desde que musicalmente eficazes e funcionais.
Warp Back To Earth 66/99, acabado de publicar, é um dos mais eloquentes exemplos do género. Os principais instigadores da conspiração foram os Pulp que, ao utilizarem um "sample" de "Space Patrol" em This Is Hardcore, redescobriram o ignorado Peter Thomas, um até aqui obscuro compositor alemão de bandas sonoras dos anos 60.



Foi o bastante para que a editora Bungalow congeminasse o projecto deste álbum duplo onde 29 temas de Peter Thomas servem de material reciclável destinado à concepção do "neo astronautic sound", condensado em 17 reelaborações de grupos músicos e remisturadores actuais como os Stereolab, Tipsy, John McEntire, High Llamas, Momus, Coldcut, Stock, Hausen & Walkman, St. Etienne ou Yoshinori Sunahara. De acordo com a versão "oficial", a história é um bocadinho mais "sci-fi": "Em 1966, o compositor Peter Thomas — hoje com 73 anos de idade — abandonou o planeta Terra para acompanhar musicalmente as viagens aventureiras da Space Patrol Orion. Os seus sons, demasiado bizarros e futuristas para a época, não tinham sido devidamente apreciados e compreendidos. Por esse motivo, o seu regresso atrasou-se exactamente 33 anos. Poucas pessoas valorizavam o se trabalho e ninguém quis cobrir os custos do seu bilhete de volta. Mas, agora, as coisas mudaram. Estamos a poucos passos do novo milénio e a Terra está a ser povoada por uma nova geração de pessoas e músicos que veneram este pioneiro musical e criativo excêntrico — e não apenas músicos alemães. O trabalho de Peter Thomas é hoje reconhecido por todo o mundo (e mesmo nas galáxias mais longínquas) ao nível de outros como Henry Mancini, Esquível, John Barry, Ennio Morricone e, especialmente, Gator Gnulp do planeta Org".



O texto não refere sob o efeito de que substâncias o autor estava quando o escreveu mas devem ter sido mais ou menos as mesmas que as dos músicos no momento em que, a partir dos 29 "soundbytes" seleccionados (de um total de 2734, como precisa o livrete), montaram uma épica odisseia espacial em modelo "cadavre exquis". Vagueando entre os planetas "E-Z", "Techno", "Ambient" e uma dúzia de asteróides situados no espaço sideral que os envolve, Warp Back To Earth é verdadeiramente educativo: para a superior ilustração de quem o escuta, oferece ainda num segundo CD os 29 extractos dos temas originais de Peter Thomas (surpreendentemente modernos, intrigantes e inspiradores) como material de estudo comparativo e deleite auditivo geral. No Além digital onde paira a alma de Hal 9000, esta é a música que lhe ocupa os tempos livres durante toda a eternidade.

(2002)

31 December 2007

MÚSICA 2007 - III (CD & DVD)
(a classificação, por ordem decrescente, deverá ser vastamente relativizada)



11 - Richard Thompson - Sweet Warrior
12 - Danny Cohen - Shades of Dorian Gray
13 - Jesca Hoop – Kismet
14 - Don’t Look Back - Realização D. A. Pennebaker (DVD)
15 - Sonic Youth - The Destroyed Room (b-sides and rarities)
16 - Eleni Mandell - Miracle Of Five
17 - The High Llamas - Can Cladders
18 - Andrew Bird - Armchair Apocrypha
19 - Vincent Delerm - Les Piqûres D’Araignée
20 - June Tabor – Apples

(2007)

14 December 2007

FORMA E SUBSTÂNCIA



The High Llamas - Can Cladders

Os High Llamas foram, seguramente, a única banda que – tirando partido do trampolim da reavaliação do “easy-listening” que ocorreu a meia da década de 90 – soube inventar uma linguagem própria, digerindo e assimilando completamente os diversos ingredientes mais apetecidos pelo palato requintado do seu fundador, o ex- Microdisney, Sean O’ Hagan. A saber, Brian Wilson, muito Brian Wilson, Burt Bacharach, Steely Dan, a bossa-nova, Esquível e os mais acetinados fios de que se teceram as várias tapeçarias daquilo a que, nos anos 50 e 60 se chamou “exotica”.


(de Hawaii)

Quatro anos após o sumptuoso Beet, Maize & Corn e colaborações avulsas (nomeadamente com os Stereolab e na reencenação londrina, no Barbican, de Tropicália Ou Panis Et Circencis, o manifesto do Tropicalismo brasileiro), Can Cladders é outro intrincado exercício matemático de pormenores, uma minuciosa arquitectura instrumental-vocal em tons pastel, um “lounge-pop” de ourives para quartetos de cordas, órgão, vibrafone, piano, harpa, banjo, coros femininos de mel e madeiras. Poder-se-à argumentar (com inteira razão) que se trata apenas de um triunfo da forma sobre a substância. Mas é também, sem dúvida, um dos mais belos triunfos da forma sobre a substância. (2007)