05 March 2024
26 July 2021
02 February 2021
22 December 2020
“Will Oldham (Bonnie ‘Prince’ Billy), é o fantasma, a escuridão, a morte, a perda, as memórias. Kate Stables (This Is The Kit) é a luz, a benignidade, o calor. A soma dos dois é Cabane”, sintetiza o belga Thomas Jean Henri, quando fala acerca do seu álbum Grande Est La Maison. Mas, nesse esforço de síntese, deixa de fora vários outros elementos essenciais dessa “experiência colectiva de geometria variável” tão simples de imaginar que custa a acreditar nunca ninguém ter pensado nela antes: os arranjos de Sean O’Hagan (o futurista de antiquário que já distribuiu cores pelas paletas dos Microdisney, Stereolab e High Llamas) para quarteto de cordas, vibrafone, piano eléctrico Wurlitzer, a episódica "drum machine" de Andy Ramsay (Stereolab), as cinco vozes das Bostgehio e a colaboração nos textos de Caroline Gabard e Sam Genders. (...). (daqui; segue para aqui)
02 December 2019
30 April 2019
06 September 2008
(revisão daqui)
Stereolab - Dots And Loops
Mono - Formica Blues
"Se levarmos em conta o número de grupos pop que foram influenciados simultaneamente pelas peças para orgão de Steve Reich, pelos Neu, por Martin Denny, Françoise Hardy e pelo marxismo, não é muito arriscado dizer que os Stereolab percorrem uma trajectória singular". Quem o afirma é Mike Barnes no número de Outubro da "Wire" e tem toda a razão. O grupo de Tim Gane e Laetitia Sadier poderá praticar aquilo a que já chamaram "post-easy groove" mas a verdade é que a sua peculiar combinação de "muzak cool" com "space age pop" condimentada com partículas de drum'n'bass e um aroma de minimalismo subtraido aos Young Marble Giants precedeu de vários anos o actual fascínio pelo "easy listening".
Dots And Loops, o último álbum, é talvez aquele onde todo o catálogo de referências dos Stereolab melhor se articula e desenvolve: partindo da particular sensibilidade gaulesa transmitida por Laetitia (leia-se: como se a língua francesa fosse o idioma "easy" internacional), tudo se organiza em torno das componentes minimais da música - "dots and loops", precisamente - convertidas em delicadas miniaturas de neon que tanto se aventuram por um psicadelismo amável como vivem confortavelmente aconchegadas pelos arranjos de cordas e sopros de Sean O'Hagan (dos High Llamas), animadas pelos desenhos repetitivos de marimbas reichianas ou convivendo com os influxos conjugados de John McEntire (dos Tortoise) e dos germânicos Mouse On Mars. E depois, haverá muitos grupos que, num épico "space lounge" de quinze minutos ("Refractions In The Plastic Pulse"), se atrevam a cantar coisas como "Ce qui est n'est pas clos, du point de vue le plus essentiel, ce qui est ouvert est à être dans une action sans fin, sans trophée et sans gloire"?
Stereolab + Stan Brakhage
No salão ao lado dos Stereo, actuam os Mono. Isto é, Martin Virgo (compositor, programador e multiinstrumentalista com currículo ao lado de Björk e dos Massive Attack) e a "chanteuse" Siobhan De Maré, praticantes de um trip hop orquestral que se alimenta em simultâneo de um retropop francófilo (por outras palavras, Gainsbourg, Gainsbourg e Gainsbourg com Siobhan no papel de Jane Birkin), de "samples" de John Barry, Isaac Hayes, Roy Budd, David Sylvian e Gil Evans e de ocasionais acrobacias rítmicas "junglistas".
A atmosfera é irrepreensívelmente elegante e transpira aquele tipo de "ennui" pós-moderno que se poderia encontrar nuns Portishead chiques, parisienses e em dieta rigorosa de Moet et Chandon. Formica Blues, o título, explica realmente tudo acerca de um álbum que é, ao mesmo tempo, uma sofisticada peça de "period music" e de modernismo luxuoso, sem nenhuma contradição nos termos. Já agora, de passagem, não nos admiremos demasiado com a inesperada (?) persistência da estética "easy". Não foi Dickon Hinchcliff, o violinista dos Tindersticks, que confessou que aprendeu tudo sobre arranjos para cordas num manual de Henry Mancini?
(1997)
25 August 2008
Pode, evidentemente, dizer-se que, agora, é fácil. Mas, de facto, apetece fazer em sentido inverso o caminho-das-pedrinhas que desvenda a lógica da trajectória musical dos Stereolab. Começando, naturalmente, por este Chemical Chords, ponto de chegada em momento daquela glória pop a que uma banda como a de Tim Gane e Laetitia Sadier (e, agora, também, crescentemente do ex-High Llama, Sean O’Hagan) alguma vez poderia legitimamente aspirar: lounge estival efervescente, arranjos de sopros e cordas entre o “easy listening” e o lego-barroco, tudo cirurgicamente dirigido ao objectivo confessado por Gane – escrever “purposefully short, dense, fast pop songs”.
Recue-se, então, passo a passo, nos já quase vinte anos de carreira dos Stereolab. Como diria o também químico Lavoisier, “nada se perdeu e tudo se transformou” nesta aplicação musical da lei da conservação da matéria à estética de composição molecular da dupla Gane/Sadier: da “motorika” do Krautrock às relíquias da electrónica, de Bacharach aos Young Marble Giants, dos Velvets à “chanson”, à sombra tropicalista ou às antevisões “modernistas” de Robert Moog, Esquível ou Martin Denny, tudo acabou por configurar um voluptuoso organismo pop, requintado e sedutor, falso magro, de cérebro bem activo. (2008)
06 May 2008
31 December 2007
(a classificação, por ordem decrescente, deverá ser vastamente relativizada)
11 - Richard Thompson - Sweet Warrior
12 - Danny Cohen - Shades of Dorian Gray
13 - Jesca Hoop – Kismet
14 - Don’t Look Back - Realização D. A. Pennebaker (DVD)
15 - Sonic Youth - The Destroyed Room (b-sides and rarities)
16 - Eleni Mandell - Miracle Of Five
17 - The High Llamas - Can Cladders
18 - Andrew Bird - Armchair Apocrypha
19 - Vincent Delerm - Les Piqûres D’Araignée
20 - June Tabor – Apples
(2007)
14 December 2007
The High Llamas - Can Cladders
Os High Llamas foram, seguramente, a única banda que – tirando partido do trampolim da reavaliação do “easy-listening” que ocorreu a meia da década de 90 – soube inventar uma linguagem própria, digerindo e assimilando completamente os diversos ingredientes mais apetecidos pelo palato requintado do seu fundador, o ex- Microdisney, Sean O’ Hagan. A saber, Brian Wilson, muito Brian Wilson, Burt Bacharach, Steely Dan, a bossa-nova, Esquível e os mais acetinados fios de que se teceram as várias tapeçarias daquilo a que, nos anos 50 e 60 se chamou “exotica”.
(de Hawaii)
Quatro anos após o sumptuoso Beet, Maize & Corn e colaborações avulsas (nomeadamente com os Stereolab e na reencenação londrina, no Barbican, de Tropicália Ou Panis Et Circencis, o manifesto do Tropicalismo brasileiro), Can Cladders é outro intrincado exercício matemático de pormenores, uma minuciosa arquitectura instrumental-vocal em tons pastel, um “lounge-pop” de ourives para quartetos de cordas, órgão, vibrafone, piano, harpa, banjo, coros femininos de mel e madeiras. Poder-se-à argumentar (com inteira razão) que se trata apenas de um triunfo da forma sobre a substância. Mas é também, sem dúvida, um dos mais belos triunfos da forma sobre a substância. (2007)