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15 November 2024

Instrumentalizar a polícia em operação de propaganda = aumentar o sentimento de segurança dos cidadãos.

 Costumava haver uma diferença entre Estado de direito democrático e totalitarismo. Costumava.

14 November 2024

EXÍLIO MEDITERRÂNICO

 
Hydra é uma das ilhas Sarónicas do Mar Egeu na qual, mui civilizadamente, por lei, automóveis e outros veículos motorizados sáo proíbidos, apenas sendo autorizado o transporte por meio de burro, mula e cavalo. A aproximá-la um pouco mais do estatuto de micro-paraíso terrestre (ainda que não a salvo da marabunta turística) existe ainda a população de umas largas centenas de amistosos gatos vadios que se deixam venerar por locais e visitantes. Não espanta, pois, que, a convite de Lawrence Durrell, tenha sido escolhida como refúgio por Henry Miller (que a classificou como ""wild and naked perfection") enquanto escrevia O Colosso de Maroussi (1941) ou por Leonard Cohen que lá - na companhia da amantíssima Marianne Ihlen - comporia "Hey, That's No Way To Say Goodbye","'Bird on the Wire", e "So Long, Marianne". Terá sido, talvez, em busca da mesma inspiração de que se alimentaram tão ilustres antecessores que Nuala Kennedy e Eamon O’Leary optaram pelo aprazível exílio mediterrânico em Hydra, transformando uma oficina de tecelagem do século XVIII com vista para o oceano em estúdio de gravação do álbum que tomaria o nome da ilha. (daqui; segue para aqui)

27 October 2024

 
(sequência daqui) JL - Na sua video-participação nas Norton Lectures - Spending The War Without You: Virtual Backgrounds, 2020), a certo ponto, faz questão de, mais uma vez nos deixar o sangue gelado ao mostrar-nos de modo muito caricaturalmente aterrador a aproximação do perigo: “Nos meus piores pesadelos que podem ser muito gráficos, a iCloud desfaz-se e toda a informação precipita-se sobre nós. Nas noites mais difíceis, vejo Trump, os filhos e todos os seus amigos como Noé e a família, prestes a embarcar na nova Arca, um imenso navio de cruzeiros chamado Princess Ivanka. No último minuto, aparece Mark Zuckerberg na sua prancha de surf eléctrica, mesmo a tempo de iniciar o novo emprego dirigindo, organizando e personalizando todas as experiências no caminho para nenhures”. O que contém a sua Arca? 

    LA - The Ark aborda a questão da sobrevivência - o modo como nós, enquanto cultura, lidamos com as crises e o que significa sobreviver num mundo tecnológico. Não apenas a sobrevivência física mas também cultural e emocional. Usamos muita tecnologia para contar essa história. Mas a tecnologia nunca foi o ponto essencial. Importante é o modo como a usamos para reflectir a experiência humana, para observar como ela transforma as nossas relações e a forma como olhamos para o mundo. A arca é um símbolo poderoso de preservação, um veículo que transporta tudo quanto é importante para um futuro incerto. Jogámos com aquela ideia: o que devemos salvar e o que deveremos deixar para trás? Trata-se de criar uma experiência viva e imersiva. Não era apenas uma performance mas uma forma de convidar as pessoas para este mundo que construimos no qual elas poderão reflectir sobre as suas ideias de sobrevivência e que significado poderá isso ter. É, afinal, tudo uma consequência do modo como nos movemos através do tempo. Há quem pense que, no prazo de 4 anos, será já demasiado tarde para sobrevivermos ao desastre climático. A outra metade das pessoas nos EUA acha que é indispensável tornarmos a América grande outra vez. Como no passado. Mas em que ficção do passado estarão a pensar? É muito diferente pensar no passado quando se tem 77 anos ou quando se tem 17. 

    JL - Conhece, por acaso, Uma História do Mundo em Dez Capítulos e Meio, do escritor inglês, Julian Barnes, cujo primeiro capítulo conta a história da arca de Noé mas apenas na última linha ficamos a saber quem é o narrador? 

    LA - A sério? Sempre as dúvidas, sempre as perguntas... Vou ter de investigar.

21 October 2024

vhm numa casca de noz

"As portas que abriam os romances mudaram de sítio, recuando hoje para lugares suspeitos ao serviço de uma ficção muitas vezes retumbante, autocomplacente e viscosa. As tramas avançam voltadas para dentro, sonham-se a si próprias, semeando aqui e ali pequenos costumes narcísicos e novelos biográficos suficientemente dissimulados para consolar as massas mais acríticas. (...) Perdem-se, assim, entre frases delicodoces, pequenas genuflexões e motivos que menorizam qualquer leitor, oferecendo um ardil xaroposo em contínua decomposição de açúcares, que nada mais provoca do que o enfileirado movimento de moscas e formigas". (Valter Hugo Mãe - O literato como pastor evangélico; sugerido nesta caixa de comentários)

14 June 2024

O CEO da Vaticano S.A. não só não leu o livro do Frédéric Martel como, aparentemente, não se recorda que O Nome da Rosa, de Umberto Eco - sobre o tema que, agora, o leva a ser tão fofinho e divertido -, foi considerado pelo Vaticano como "a narrative calamity that deforms, desecrates and offends the meaning of faith"
 
 
Edit (15/06/2024) - O riso

23 February 2024

Estava a ver que nunca mais... isto, com os Dauerling à bulha, tem logo outra graça!

"Expresso"

18 January 2024

(sequência daqui) "A música folk é História preservada. Conta a história de uma classe que nunca deteve o poder. Que nunca escreveu os livros. Penso ter sido Frank Harte quem disse: 'Quem tem o poder escreve a História, quem sofre escreve as canções'. Continuar a cantar estas canções é mantermo-nos em contacto com a história das classes trabalhadoras e manifestar-lhes solidariedade no presente", disse também Flynn a "The Thin Air". E isso poderia ser integralmente transposto para abordar CYRM, dos ØXN, colecção de 6 canções maioritariamente sob uma perspectiva feminina e retratando uma espécie de eternas trevas mentais medievais, nas quais a selvajaria exercida sobre mulheres supostamente possuídas por demónios ou outras entidades malignas é regra. Fruto da maravilhosa promiscuidade estética de Dublin, a banda é constituída por Radie Peat (voz dos Lankum), Eleanor Myler (Percolator), Katie Kim e John ‘Spud’ Murphy (produtor dos Lankum). ØXN designa uma variedade de touros castrados usados como bestas de carga na velha Irlanda e CYRM um maligno encantamento feminino. Reforçando a faceta das coincidências significativas, o grupo teve origem no fatídico dia 6 de Janeiro de 2021, quando, ao mesmo tempo que, em Washington DC, uma multidão de bárbaros enfurecidos assaltava o Capitólio, Peat, Kim e Myler celebravam o Nollaig na mBan (Natal das Mulheres irlandês) actuando na mesma torre militar de vigia debruçada sobre o Atlântico onde os Lankum gravaram False Lankum. "Cruel Mother", "The Trees They Do Grow High", e "Love Henry" injectam o soro de misoginia, vingança, perda e assombração de raiz tradicional e "The Wife of Michael Cleary" (de Maija Sofia) e "The Feast" (inspirado pelo romance de Nick Cave, And The Ass Saw The Angel), são a demonstração concreta da linha contínua que une o Mal de todas as épocas. Os 13 arrasadores minutos finais de "Farmer in the City", extraída de Tilt, de Scott Walker (1995), não autorizam espaço nem tempo para que um único soluço possa ocorrer.